GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ [72] ~ EU SEMPRE VOU TE AMAR

Um conto erótico de Lucas
Categoria: Gay
Contém 5436 palavras
Data: 24/09/2025 20:28:49
Assuntos: conto, Gay, Historias, Romance

— Lucas? Meu Deus, o que aconteceu com você?

Quando olhei para Carlos, foi como se tudo o que eu tivesse passado tivesse se dissolvido em questão de segundos. Era ele. Era o Carlos. Aquele rosto que eu conhecia desde a infância, marcado agora pela preocupação genuína, pelos olhos ainda inchados de sono, mas completamente despertos pela urgência do momento. Eu sabia que ele poderia largar qualquer coisa, e havia largado, eu sabia que ele poderia me ajudar seja no que fosse.

Carlos, além de ser meu ex-namorado, sempre foi meu melhor amigo. E por mais que existisse toda aquela mágoa por parte minha, toda aquela ferida ainda aberta pelo que ele havia feito quando me trocou por Raul, eu sabia que ele jamais seria capaz de me abandonar quando eu realmente precisasse. Era uma certeza que transcendia nossas brigas, nossos términos, nossa história complicada. Era algo que vinha de muito antes de qualquer romance, vinha da pureza de uma amizade construída ao longo de anos, desde quando éramos apenas dois moleques descobrindo o mundo juntos.

E eu não pensei em ninguém mais quando peguei meu telefone naquela madrugada desesperadora. Era o Carlos que eu queria e era dele que eu precisava naquele momento de tensão, de raiva e de humilhação. Não importava que estivéssemos brigados, não importava que ele estivesse com Raul, não importava nossa história conturbada, Carlos era minha âncora quando tudo desmoronava.

— Oi, Carlos. Que bom que você veio — falei com a voz cabisbaixa, tentando segurar as lágrimas que insistiam em voltar.

Carlos não disse nada por alguns segundos. Simplesmente me observou ali, sentado naquele meio-fio, com as roupas amarrotadas, o rosto inchado de tanto chorar, os cabelos bagunçados, o olhar perdido. E então ele fez exatamente o que eu precisava: me abraçou. Foi um abraço apertado, demorado, carregado de tudo que as palavras não conseguiriam expressar naquele momento. Um abraço que disse "eu estou aqui", "você não está sozinho", "vai ficar tudo bem".

— Eu estou aqui, sempre vou estar aqui por você, para sempre — disse Carlos, me olhando nos olhos com uma seriedade e ternura que me fizeram desmoronar novamente em lágrimas. — Vem, vamos pro meu carro.

Entrei no carro em silêncio, coloquei o cinto, Carlos colocou o dele, e a música tocava baixinho no rádio — algo suave, instrumental, que criava uma atmosfera de aconchego dentro daquele espaço pequeno e seguro. Eu não disse nada, e Carlos também não disse nada. Ficamos em silêncio por um certo tempo, até que ele quebrou aquela quietude respeitosa:

— Para onde te levo? Quer conversar? Falar alguma coisa?

— Pode ser para minha casa, ou sei lá, qualquer canto — falei, olhando pela janela do carro, vendo a cidade ainda adormecida passar por nós. As lembranças das cenas que Luke tinha feito comigo começaram a voltar como flashes dolorosos, e aquilo apertou meu coração como um punho fechado.

— Você tem compromisso hoje? Alguma coisa séria? Podemos passar o dia juntos? Estou com um lugar em mente, acho que você vai gostar.

— Não tenho nada. E mesmo que tivesse, estou pouco me lixando para tudo agora.

— Então topa passar o dia comigo? A gente conversa se você quiser, claro. Sem pressão.

— Tudo bem. Só preciso de um banho e me deitar por um tempo.

— Certo! Vai ficar tudo bem — disse Carlos, alisando minha cabeça com uma delicadeza que me fez fechar os olhos e, pela primeira vez em horas, sentir um pouco de paz.

Ali, naquelas palavras simples, com a música baixinho no fundo e Carlos respeitando meu espaço, não querendo saber de detalhes, não me pressionando com perguntas, eu vi o quão incrível Carlos era. O quão ele me respeitava como pessoa, como ser humano em sofrimento. E como ele era completamente diferente do Luke.

A diferença era gritante, quase cruel na sua clareza. Onde Luke era possessivo, Carlos era cuidadoso. Onde Luke exigia explicações e se irritava com meu silêncio, Carlos oferecia exatamente o que eu precisava: espaço para respirar, tempo para processar, presença sem invasão. Era como comparar uma tempestade destrutiva com uma brisa suave e reconfortante.

Como todos sabem, minha vida sempre foi um verdadeiro dilema entre Luke e Carlos. Quando eu não estava com um, estava com o outro, e isso começava a me irritar um pouco, essa constante oscilação entre dois amores tão diferentes. Mas claro que naquele momento eu não estava com esse tipo de pensamento filosófico sobre relacionamentos. Meu pensamento era ódio puro por Luke. Não queria saber dele, não queria ter notícias dele, não queria nunca mais cruzar seu caminho. Luke, para mim, havia morrido naquela noite.

Eu nunca havia me sentido, tão humilhado, em toda minha vida. E naquele momento específico da minha existência, eu era claramente a vítima, Luke era o vilão, e Carlos... bem, Carlos era uma peça no tabuleiro que eu não sabia ao certo o que representava. O que eu sabia sobre Carlos naquele momento? Que ele ainda estava com Raul, afinal, ouvi a voz dele no fundo do telefone quando liguei para Carlos às quatro da manhã. Mas Carlos foi capaz de largar Raul, de sair da cama dele, para vir me buscar sem saber de absolutamente nada sobre o que havia acontecido.

E ali, diante do silêncio respeitoso que eu fazia, Carlos me respeitava completamente. E isso era exatamente o que eu precisava naquele momento: colo, abraço, um banho quente, e que ninguém me fizesse perguntas invasivas. Eu não sabia se seria capaz de contar tudo para Carlos naquele momento, as feridas ainda estavam muito abertas, muito cruas.

Fiquei olhando pela janela, observando a paisagem urbana gradualmente dar lugar a uma estrada mais aberta. Carlos havia pegado a direção das serras, mas eu estava em estado de choque, incapaz de perceber exatamente o caminho que ele fazia ou para onde estava me levando. Sabe quando a gente fica em completo silêncio, olhando para o nada, mas pensando em tudo e nada ao mesmo tempo? Era exatamente isso. Como se eu estivesse flutuando fora do meu próprio corpo, observando tudo de uma distância segura.

Era como se eu estivesse em estado de choque, mas ainda mantinha meus sentidos, minha percepção das coisas. Eu só estava ali, existindo, respirando, deixando Carlos me levar para onde quer que ele achasse melhor. Não questionei nada, para onde íamos, quanto tempo levaríamos, se ele havia avisado alguém. Fechei os olhos e acabei adormecendo enquanto olhava a estrada se desenrolar à nossa frente.

Acordei pouco tempo depois com os primeiros raios de sol tocando meu rosto através do vidro do carro. O céu estava ganhando tons de laranja e rosa, aqueles matizes suaves do amanhecer que sempre me tranquilizavam. Ao redor, via-se uma paisagem completamente diferente da cidade, pastos verdes se estendendo até onde a vista alcançava, algumas vacas pastando tranquilamente, cercas de madeira dividindo propriedades, e ao longe, o contorno suave das montanhas cobertas por uma neblina matinal que criava um cenário quase cinematográfico.

Me assustei um pouco ao perceber que não fazia ideia de quanto tempo Carlos tinha dirigido, nem onde estávamos exatamente.

— Onde a gente está? Para onde estamos indo? — perguntei, esfregando os olhos e tentando me orientar.

— Shiiiu, relaxa. Confia em mim — disse Carlos, me olhando com aquele sorriso que sempre teve o dom de me tranquilizar, mesmo nos piores momentos.

— Confio sim, mas onde estamos? E para onde vamos?

— Relaxa. Você disse que tinha o dia livre, então vamos para um canto que não tem sinal de nada. Eu acho que isso é o que você precisa agora — se isolar de tudo e todos, até mesmo de mim, se você quiser — Carlos piscou o olho para mim, num gesto que misturava carinho e cumplicidade.

Fechei os olhos novamente, deixando aquela sensação de segurança me envolver. No fundo, eu confiava completamente em Carlos, e ele parecia ler meus pensamentos com uma precisão assustadora. Eu realmente não queria contato com ninguém naquele momento, nem família, nem amigos, nem especialmente Luke.

Logo comecei a reconhecer o caminho. As curvas específicas da estrada, aquelas árvores particulares, a forma como as montanhas se desenhavam no horizonte... Carlos estava me levando para sua casa de campo nas serras, onde havíamos passado aquele final de semana inteiro regado de amor e sexo, completamente isolados do mundo, sem sinal de celular ou qualquer distração externa.

Após quase uma hora de viagem contemplativa, chegamos ao destino. Como eu havia suspeitado, era sua casa nas serras. Carlos me olhou e disse, com uma simplicidade que escondia todo o cuidado por trás daquela decisão:

— Chegamos.

— Sabia que era aqui. No caminho reconheci o lugar.

— Tudo bem para você? A casa está um pouco bagunçada, mas eu sabia que você ia gostar de estar aqui novamente.

Entramos na casa, e ela estava praticamente da mesma forma que eu havia visto da outra vez. Mas agora, minha percepção era completamente diferente. Se antes eu havia ficado deslumbrado com a beleza e o luxo do lugar, agora eu via tudo através das lentes da necessidade, precisava de abrigo, de paz, de um lugar para me recompor.

A casa continuava sendo bonita, imponente, aninhada entre as montanhas verdejantes. A construção em pedra e madeira ainda se integrava perfeitamente à paisagem natural, com grandes janelas oferecendo vistas deslumbrantes do vale abaixo. O jardim continuava exuberante, com flores silvestres e árvores frutíferas perfumando o ar matinal com seus aromas doces e reconfortantes.

Dentro, a sensação de amplitude e aconchego permanecia a mesma. O teto alto com vigas de madeira aparente, a grande lareira de pedra dominando a sala de estar, os sofás confortáveis e tapetes felpudos, tudo criava uma atmosfera de refugio perfeito para o que eu estava precisando naquele momento.

Mas desta vez, eu não estava ali como turista maravilhado. Estava como alguém em busca de cura, de um lugar seguro para processar a dor e tentar entender o que havia acontecido comigo.

Carlos segurou minha mão e me levou para o quarto. Perguntou se eu queria tomar um banho, e eu disse que sim, sentia necessidade física de lavar não apenas a sujeira, mas simbolicamente tudo o que havia acontecido naquela noite horrível.

— Vou ligar para meu pai para avisar onde estou — disse Carlos. — Quer que eu avise alguém que você está comigo? Sua família, algum amigo?

— Não precisa — respondi, sentindo um peso no peito. — Meu pai não se importa que eu passe um final de semana todo fora, minha mãe está morando em outra cidade... A única pessoa para quem eu deveria dar satisfação seria Luke, mas esse não merece saber nada de mim. E eu não quero saber nada dele.

Carlos ficou em silêncio, respeitando minha decisão, e eu fui tomar meu banho. A água quente me aliviou um pouco o estresse físico, mas não conseguiu lavar as lembranças que insistiam em voltar. Fechei os olhos debaixo do chuveiro e tudo voltou como um filme em câmera lenta: os gritos de Luke, os tapas, a humilhação no motel, a sensação de abandono na estrada escura.

Minha memória ainda estava fresca, dolorosamente nítida. Afinal, apenas algumas horas atrás eu havia sido agredido e humilhado pelo Luke. Havia conhecido um lado dele, talvez o pior lado dele, que me feriu de uma forma tão profunda que seria impossível esquecer. Era como se uma cicatriz invisível tivesse se formado na minha alma, uma marca que eu sabia que carregaria para sempre.

Fiquei debaixo do chuveiro por bastante tempo, olhando fixo para o azulejo da parede, sentindo o jato de água cair sobre meu corpo como uma tentativa da natureza de me purificar, de me lavar não apenas por fora, mas também por dentro.

Quando saí do banheiro, enrolado numa toalha macia e absorvente, Carlos estava sentado numa poltrona próxima à janela, escrevendo em uma espécie de caderno. Não dei muita importância naquele momento, achei que pudesse ser algo relacionado ao trabalho ou alguma anotação pessoal.

Ele perguntou se eu queria comer alguma coisa, e eu disse que não. Pedi emprestado um short e uma camiseta, me vesti e anunciei que queria me deitar. Carlos, sempre atencioso, respondeu:

— Vou deixar você descansar. Qualquer coisa você me chama, está bem? Talvez eu saia para comprar algo para fazer para a gente almoçar, mas vou esperar você dormir primeiro. Quer tomar algum remédio? Alguma coisa para a dor ou para te ajudar a relaxar?

— Aceito algum remédio se tiver. Minha cabeça está explodindo — falei com a voz baixa e cabisbaixa, sentindo como se meu crânio fosse estourar de tanta tensão acumulada.

Carlos saiu e logo voltou com um copo de água gelada e dois comprimidos.

— Toma — ele estendeu, me olhando com uma ternura que quase me fez chorar novamente.

— Obrigado — falei, engolindo os remédios de uma vez. — Carlos, fica aqui comigo até eu dormir, pode ser?

— Claro, fico sim! — ele respondeu sem hesitar, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Carlos se deitou comigo na cama, por cima das cobertas, e ficou alisando minha cabeça em completo silêncio. Não disse nada, não fez perguntas, não tentou forçar conversas. E nossa, aquele silêncio foi tão reconfortante, tão terapêutico! Eu sabia que Carlos devia estar se perguntando mil coisas na sua cabeça, eu pelo menos, se estivesse no lugar dele, estaria louco de curiosidade e preocupação. Mas ele respeitou completamente meu silêncio e, acima de tudo, entendeu que eu precisava exatamente daquilo.

Fechei os olhos e, pela primeira vez em muito tempo, consegui ver com clareza o quanto eu fui bobo e imaturo por ter perdido Carlos da minha vida. Me senti a pior pessoa do mundo por ter aceitado ser tratado da forma que Luke me tratou. E então, ali, deitado no peito do homem que eu sabia que amava de verdade, eu desabei.

Comecei a chorar. Não um choro silencioso e controlado, mas um choro devastador, desesperado. Comecei a gritar de dor, foi um choro tão forte e profundo que eu achei que já tivesse chorado tudo que tinha para chorar naquelas últimas horas. Achei que não tinha mais lágrimas, mas era um tolo engano meu, eu tinha muitas ainda, oceanos inteiros de lágrimas represadas.

Carlos me abraçou forte, daquele jeito que só ele sabia fazer, um abraço que dizia tudo sem precisar de palavras, que me fazia sentir a pessoa mais protegida do mundo, um abraço que me deu conforto e paz exatamente no momento em que eu mais precisei disso.

Eu falo que a cena traumática com Luke nunca sairia da minha mente, e isso é verdade. Mas aquele momento ali com Carlos, sendo cuidado, sendo amado incondicionalmente, sendo respeitado na minha dor, era uma das coisas mais lindas que eu já havia sentido em toda minha vida. E nada, absolutamente nada de tudo o que vivi até os dias de hoje, quando relato minha história, eu nunca vivenciei algo parecido. Nunca senti nada por ninguém parecido com o que eu sentia ali por Carlos.

Em meio ao choro catártico e ao silêncio acolhedor, acabei adormecendo. O choro havia sugado todas as minhas forças, e acho que o remédio que Carlos me deu também contribuiu para que eu finalmente conseguisse descansar. Por bastante tempo, mergulhei num sono profundo, reparador, longe de pesadelos ou lembranças dolorosas.

Ainda meio grogue pelo sono e pelo efeito do medicamento, lembro vagamente que Carlos tentou sair da cama em algum momento, mas eu segurei sua mão.

— Não me deixa, por favor — murmurei, ainda de olhos fechados.

— Está bem, está bem. Não vou sair até você dormir completamente. Preciso só dar uma saída rápida depois.

— Não me deixa sozinho. Eu te amo — falei meio grogue, sem filtros, deixando escapar o que meu coração gritava.

— Também te amo — Carlos respondeu sussurrando, como se fosse um segredo sagrado entre nós.

— Não vai embora...

— A gente precisa comer, e eu quero terminar uma coisa que estava escrevendo — Carlos continuou sussurrando, com uma voz que era pura ternura. — Mas você é incrível. Pode ficar tranquilo, eu saio, mas volto antes de você perceber. Só vou embora mesmo quando ouvir seu primeiro ronco.

— Eu não ronco... — protestei, já mais sonolento.

Lembro que falei mais algumas coisas desconexas e finalmente apaguei completamente. Não sei por quantas horas dormi, não sei quantos sonhos tive. Meu corpo estava pesado, como se estivesse se recuperando não apenas do cansaço, mas de um trauma profundo.

Abri os olhos lentamente e fui me lembrando de tudo: da conversa com Carlos quando eu já estava meio grogue, de como tinha chegado ali, do silêncio reconfortante, da dor que havia me trazido até aquele lugar. Carlos estava ali ao meu lado, olhando para mim com uma expressão de pura ternura, alisando meu cabelo como se eu fosse algo precioso que precisava de cuidado.

Abrir meus olhos e ver essa cena, Carlos ali, cuidando de mim mesmo enquanto eu dormia — me fez esboçar um sorriso. Era a primeira vez que eu sorria de verdade desde a noite anterior. Finalmente me aproximei, nossos rostos se encontraram, e dei um beijinho carinhoso no Carlos.

— Obrigado por tudo! — falei, sentindo meu coração se expandir de gratidão.

— Está melhor? Se sentindo bem? — perguntou ele, passando a mão no meu rosto com uma delicadeza que me arrepiava.

— Sim. Que horas são?

— 16h.

— Sério? Eu dormi isso tudo?

— Digamos que sim. Te dei um remédio para dormir, você precisava descansar de verdade. Está com fome? Comprei umas coisas para fazer aquela massa que você gosta.

— Não sei... Acho que não quero comer nada agora.

— Ah, mas vai comer sim, senhor! — Carlos disse com um tom brincalhão mas firme. — Eu vou me levantar e fazer nossa comida, porque você pode não estar com fome, mas eu estou aqui deitado desde que fiz as compras, e estou morrendo de fome.

— Por que você não foi comer?

— Eu prometi que estaria do seu lado quando você acordasse, e eu não sabia que horas seria essa. Então dormi um pouco, acordei, fiquei olhando você, voltei a dormir, mas ficava acordando de tempos em tempos para ver se você estava bem.

— Você é incrível. Obrigado por cuidar de mim tão bem.

— Não faço mais que minha obrigação. Eu te amo, Lucas. Sempre vou te amar.

Carlos se levantou, e eu fiquei ali deitado, olhando para o quarto, pensando em tudo e nada ao mesmo tempo. Era como se minha mente estivesse tentando processar lentamente tudo que havia acontecido, mas ao mesmo tempo buscando se proteger de lembranças muito dolorosas.

Carlos foi fazer nossa comida, e eu aproveitei para ir no banheiro, tomar outro banho — sentia necessidade de me lavar novamente —, escovar os dentes, me sentir mais humano. Quando saí para a cozinha, Carlos cozinhava com um sorriso no rosto, com uma alegria genuína, e o cheiro já havia invadido toda a casa. E obviamente, aquele aroma delicioso despertou minha fome.

— O cheiro está bom! Acho que vou querer um pouco — falei, sorrindo pela segunda vez no dia.

— Eu sabia que você não ia resistir.

— Você me conhece muito bem.

— Desde a quinta série, você sabe — disse Carlos, sorrindo de uma forma que me lembrou exatamente por que eu me apaixonei por ele.

Ficamos conversando enquanto ele preparava o almoço. Eu pensava em como dizer a Carlos o que havia acontecido, e se eu realmente queria contar tudo. Ali estava uma outra realidade, um mundo paralelo de paz e cuidado. Mas se eu não contasse, estaria guardando toda aquela dor só para mim, e isso certamente me corroeria por dentro.

Depois que comemos — e a comida estava realmente deliciosa, Carlos sempre foi um excelente cozinheiro, conversamos sobre coisas aleatórias, triviais, seguras. E então fomos para a sala, e eu senti que era o momento. Respirei fundo e decidi contar tudo para Carlos.

Narrei cada detalhe: como tudo começou com a ligação do Vinícius, a reação desproporcional de Luke, como ele me deixou na estrada, como me buscou de volta, o motel, a violência, a humilhação, o abandono final. Carlos ouvia tudo com uma expressão que era visivelmente desconfortável — sua mandíbula ficava tensa, suas mãos se fechavam em punhos, seus olhos brilhavam com uma mistura de raiva e tristeza.

Contei as barbaridades que Luke tinha feito, expliquei o contexto, tentei ser o mais honesto possível, e no final acabei chorando novamente. Carlos me abraçou forte e disse, com uma convicção que me tranquilizou:

— Vai ficar tudo bem. Esquece esse cara para sempre, isso é o que você deve fazer.

— Eu sei, eu sei. Não quero mais papo com Luke. Para mim, ele morreu.

— Eu queria muito acreditar nisso, mas eu te conheço. Sei que uma hora ou outra você vai perdoar, e não duvido nada de você voltar para ele.

Aquelas palavras me atingiram como um soco no estômago, porque no fundo eu sabia que Carlos tinha razão. Mesmo depois de tudo, mesmo com toda a dor, havia uma parte de mim que ainda sentia algo por Luke.

— Carlos, você acha que eu seria capaz de fazer isso? Eu não me odeio tanto assim.

— Eu não duvido, mas enfim, isso não é um problema agora. Eu quero você bem, você precisa ficar bem!

— Eu já estou bem. Estou aqui com você, e isso está sendo incrível. Você está sendo incrível, Carlos. Eu não sei nem como agradecer.

— Você não precisa me agradecer. Eu fiz isso, e faço, porque eu te amo e nunca vou te abandonar.

— Obrigado.

Nos abraçamos, e Carlos perguntou se eu queria voltar para Natal. Disse que não — não estava preparado para encarar a realidade lá fora. Ele perguntou se eu topava dormir ali, e eu disse que sim, que seria perfeito.

Carlos pegou uma garrafa de vinho e duas taças, brindamos ao momento, à nossa reencontro, à superação. Ele colocou uma música — era um forró suave, daqueles que embalaram nossa adolescência, e então me chamou para dançar.

Já tínhamos tomado algumas taças, e eu finalmente estava sorrindo e conseguindo esquecer temporariamente tudo que havia acontecido. Ficamos dançando na sala, Carlos me conduzia com uma habilidade natural, cheirava meu pescoço, passava a mão em mim, fazia os passos clássicos — dois para lá, dois para cá —, me girava com delicadeza.

E então, finalmente, ele me beijou.

Foi um beijo calmo, respeitoso, quase hesitante no início, como se ele estivesse testando minha reação, certificando-se de que eu estava realmente preparado para aquilo. Quando ele percebeu que eu fui me entregando, que comecei a passar a mão em seu corpo musculoso, que me permiti sentir novamente, ele foi intensificando o beijo.

O que começou como um beijo leve e cuidadoso se transformou gradualmente num beijo cheio de fúria e desejo reprimido, onde sua língua encontrava a minha, onde meus pensamentos se concentraram unicamente ali — naquela sala, naquele beijo, naquele corpo que conhecia tão bem.

Carlos era exatamente tudo o que eu precisava naquele momento. A música embalava nossos beijos, criando uma trilha sonora perfeita para aquele reencontro. Logo tomei a iniciativa, comecei a tirar seu short, tirei o meu, e nos jogamos no sofá da sala, ficando apenas de cueca, sem conseguir tirar a língua da boca um do outro.

Carlos era quente, nosso beijo tinha o encaixe perfeito, era o gosto de saudade misturado com vinho, era exatamente aquilo que eu precisava para esquecer temporariamente toda a dor. E ali, sob o chão macio da sala, fizemos amor, comi o Carlos com carinho e cuidado, apesar de todo o desejo e fogo eu não estava no clima para um sexo pesado, e o Carlos parecia muito bemm entender isso.

Foi um sexo completamente diferente de tudo que eu havia experimentado recentemente. Era calmo e ardente ao mesmo tempo, carinhoso mas intenso, cheio de familiaridade mas também de redescoberta. Toquei Carlos de diversas maneiras, relembrando cada centímetro do seu corpo, cada reação, cada gemido. E depois ficamos deitados em completo silêncio, apenas respirando, apenas existindo naquele momento perfeito.

— Botei seu celular para carregar, e aqui tem wifi, esqueci de te dizer, caso você queira olhar alguma coisa. O meu segue desligado desde que saímos de Natal — Carlos quebrou o silêncio, sempre prático e cuidadoso.

— E o Raul? Você disse alguma coisa para ele?

— Não, só disse que tinha que sair. Ele sabe que foi você que me ligou, mas não disse mais nada. Só avisei meu pai que eu vinha para cá, e pronto. Eu não queria saber de nada nem de ninguém. Estava e ainda estou preocupado com você. Só você importa agora para mim.

— Obrigado por tudo. Não sei nem como agradecer.

Nos levantamos, e pedi a senha do wifi. Confesso que fiquei curioso, não vou mentir. Eu esperava, no fundo do meu coração machucado, que talvez houvesse algum pedido de desculpas do Luke. Sei que muitos podem querer me julgar por isso, depois de tudo que Carlos estava fazendo por mim, mas enfim... não sei ao certo descrever esse sentimento quando peguei o celular. Foi algo estranho, contraditório. Eu queria me punir por sequer pensar nisso enquanto estava com Carlos, mas eram coisas que, como Carlos disse corretamente, somente anos de terapia seriam capazes de me ajudar a entender.

Peguei meu celular, e meu coração acelerou quando começaram a chegar as mensagens e ligações perdidas pelo WhatsApp. Eram mensagens de grupos, do Matias, do grupo da família, colegas da faculdade, Juliette, Raul... não parava de chegar. O barulho das mensagens chegando fez Carlos me olhar com curiosidade.

Quando tudo carregou, confirmei o que eu já meio que esperava: não havia nada de Luke. Tinha várias mensagens e ligações da Juliette, eu já podia imaginar o que poderia ser, provavelmente Luke havia procurado ela ou contado alguma versão dos fatos, mas optei por não abrir nem ver naquele momento.

Carlos chegou perto e perguntou se estava tudo bem. Disse que sim, que não tinha nada de mais nem nada urgente. E então resolvi abrir a conversa com Raul. Tinha algumas ligações e mensagens: "Cadê o Carlos?", "Onde vocês estão?", "Oi", "...", todas com um certo intervalo de tempo entre elas.

Vi que Raul estava online. Uma ideia maliciosa passou pela minha cabeça e mandei uma mensagem para o Carlos “Liga daqui a dez minutos”

Em meio a todo aquele caos emocional, resolvi que iria me vingar um pouco de Raul. Afinal, ele havia sido parte ativa na destruição do meu relacionamento com Carlos, e agora Carlos estava aqui, cuidando de mim quando eu mais precisava. Fui até Carlos, puxei ele para um beijo intenso e disse:

— Vem, vamos pro quarto.

Ficamos deitados, nus, fazendo amor com uma paixão renovada, eu estava cavalgando lentamente no pau do Carlos, sem dúvida a melhor parte do sexo com o Carlos era nossa Versatilidade, quando meu telefone tocou. Eu estava por cima de Carlos e atendi propositalmente ofegante.

— Alô — falei com a voz claramente ofegante, sabendo exatamente o efeito que isso causaria.

— Cadê o Carlos? — a voz de Raul do outro lado soava tensa, desconfiada.

— Aí, para um pouco amor... Está aqui comigo, você quer falar com ele? — falei, gemendo um pouco mais alto intencionalmente.

— O que vocês estão fazendo?

— Isso, Carlos, aí mete, vai... — gemi alto, olhando para Carlos com um sorriso malicioso. — Só conversando. Vou passar para ele.

Carlos já me olhava, imaginando quem era, quando peguei seu rosto e comecei a gemer ainda mais alto de propósito. Não sei o que Carlos disse para Raul, mas a conversa não durou mais que poucos segundos. Eu estava satisfeito momentaneamente, Raul ia ter exatamente o que ele procurou. Aquele seria só o começo da minha pequena vingança.

— Você não devia ter feito isso — disse Carlos, me olhando com uma mistura de reprovação e diversão.

— Ele fez muito pior — respondi, sentindo uma satisfação momentânea.

— Você é um safado, mas não quero saber disso agora. Só me importo com você.

Terminamos de fazer amor, ficamos deitados em silêncio por alguns minutos, apenas curtindo a intimidade e a conexão que sempre existiu entre nós. Era como se, por alguns momentos, todo o resto do mundo tivesse desaparecido.

E então Carlos quebrou o silêncio com algo que mudaria completamente o rumo daquela noite:

— Lucas, eu te trouxe aqui por um motivo específico. Na real, eu já tinha esse plano em mente há um tempo. Eu sabia que em algum momento de nossas vidas a gente iria vir aqui novamente, só não sabia que seria tão rápido.

Ele fez uma pausa, como se estivesse reunindo coragem para continuar.

— Enfim, eu faço terapia, você sabe. E um dos exercícios que minha psicóloga passou foi escrever tudo o que eu penso sobre você, entre outras coisas. Era para ser um processo de elaboração, de fechamento. E ela me deu duas opções: eu te entregava, ou jogava fora. Guardar não era uma opção, ela foi bem clara sobre isso.

Carlos se levantou da cama, foi até o guarda-roupa e voltou com o caderno que eu havia visto ele escrevendo quando acordei.

— Ela disse que se eu guardasse, eu estaria mantendo esperança, e isso não seria saudável para o meu processo. E então... eu menti para ela. Disse que tinha rasgado tudo, que me sentia livre. Mas tudo aconteceu exatamente como ela previu, eu não deveria ter guardado.

Ele segurou o caderno com as duas mãos, como se fosse algo precioso e perigoso ao mesmo tempo.

— Isso aqui é um diário meu, com algumas coisas que lembrei sobre nós, algumas coisas que eu queria te dizer e não tive oportunidade, e tem também coisas que acho que você nem sabe sobre mim, sobre como eu me senti em vários momentos. Eu quero te dar. Eu sei que isso vai fazer bem para mim, sei que talvez faça bem para você também. E eu preciso que você entenda tudo o que eu fiz, preciso que você entenda todo o amor que tenho por você.

Carlos respirou fundo, claramente nervoso.

— Não é algo muito longo, tem algumas passagens rápidas e outras mais detalhadas, mas acho que você vai entender quando ler. Eu terminei de escrever hoje, com os últimos acontecimentos, antes de saber tudo o que Luke tinha feito com você. Então... é isso.

E então lá estava eu, com um diário de Carlos nas mãos. Um "exercício" que sua psicóloga havia sugerido, mas que se transformou em algo muito maior. Talvez eu finalmente fosse entender Carlos por completo, entender por que ele me largou para ficar com Raul, entender seus medos, seus sentimentos, sua versão de toda nossa história.

Era uma oportunidade única, mas confesso que tive um pouco de medo. Medo do que poderia descobrir, medo de como aquilo mudaria minha percepção sobre tudo que vivemos juntos. Mas eu aceitei, peguei seu diário sabendo que aquilo poderia ser transformador, para o bem ou para o mal.

Carlos resolveu sair, me deu um beijo longo nos lábios e disse que ia para a sala.

— Qualquer coisa, você me chama, está bem? Não tenha pressa, leia no seu tempo.

Confesso que por um momento me passou um medo imenso, mas eu precisava daquilo. Eu precisava entender Carlos, nossa história, nossos erros, nossos acertos. Precisava compreender como chegamos até ali e o que realmente significava tudo que vivemos juntos.

Abri o diário, vendo a caligrafia familiar de Carlos na primeira página, e soube que estava prestes a mergulhar na perspectiva dele sobre nossa história — uma história que eu achava conhecer completamente, mas que talvez fosse muito mais complexa do que eu imaginava.

Os próximos capítulos serão narrados por Carlos... Continua...

[Nota do Autor]

Bom, pessoal, chegamos num momento da história que ela vai voltar algumas casas atrás. A ideia inicial era escrever tudo na visão do Carlos, mas percebi que isso consumiria muito tempo e deixaria a narrativa bem mais longa do que planejado.

Por isso, vou resumir algumas passagens e focar nos pontos essenciais da perspectiva dele. Se alguém quiser alguma coisa específica da visão do Carlos, ou se ficou alguma ponta solta que vocês gostariam de ver desenvolvida, deixem nos comentários que posso considerar abordar nesses capítulos narrado pela visão do Carlos.

O próximo capítulo (ou capítulos - ainda não sei quantos serão) narrado pelo Carlos vai demorar um pouco para sair. Vou entrar num ritmo de trabalho intenso nas próximas semanas, então não vou ter um dia certo para postar. Mas fiquem tranquilos - voltarei assim que possível, porque quero fazer esses capítulos do Carlos fundamentais para o desenvolvimento da história.

Esses capítulos da perspectiva dele são cruciais para vocês entenderem várias nuances que ficaram pelo caminho, algumas decisões que podem ter parecido sem sentido, e principalmente para compreenderem a complexidade dos sentimentos dele ao longo de toda essa jornada.

Obrigado a todos que acompanharam até aqui. A história está longe de acabar, e as revelações que vêm pela frente vão explicar muita coisa que vocês devem estar se perguntando desde os primeiros capítulos.

Até breve!

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Comentários

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Adorei o capítulo, perfeito. A melhor opção para Lucas seria ficar com Carlos mesmo, os dois já se feriram em medidas proporcionais, a única coisa que não funciona para nenhum dos dois é a monogamia.

Continuo achando que o que Carlos fez com Lucas foi pesado, não a traição, mas a manipulação e mentirada toda. Mas é passível de negociação. Além de que, Lucas também já fez Carlos sofrer muito antes.

Sei que Lucas volta para Luke outras vezes, talvez até por pena de alguma tentativa de suicídio, isso é bem típico de pessoas como o Luke, mas essa relação é muito perigosa.

Enfim, me resta aguardar e confiar no meu escritor preferido, Lukas sempre acaba me convencendo com sua escrita poderosa.

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Só de pensar que não haverá capítulos tão cedo, tá uma tristeza kkkkk

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Capítulo maravilhoso!!!! Gostei muito de ler o Carlos de novo, e gostei mais de saber que os próximos caps vão ser dele! Pena que você falou vai demorar :( só tenta não demorar uma eternidade, que essa história é o meu xodó do momento ❤️

A cena dele sacaneando com a cara do Raul KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK aposto que ele não se importou, só vê o Carlos como um sugardaddy

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