Eu sou Manoel, dono do mercadinho na rua da feira. Bigode grisalho, mãos calejadas de contar troco. Minha vida era arroz, feijão, freguesa pechinchando. Até aquela noite. Fim de tarde, esqueci o maço de cigarros no balcão e voltei. Abri a porta do depósito e o mundo caiu. Minha Clara, minha menina de 21 anos, certinha, de cabelo preso e nota dez na faculdade, tava lá, de quatro no chão. A saia levantada, um tatuado chamado Léo socando nela por trás, com força. O cheiro de farinha e sexo me bateu na cara. Ela me viu, parou por um instante, mas o olhar dela… Deus, aquele olhar. “Fica quieto, pai… tá gostando?” ela sussurrou, mordendo o lábio. Eu quis gritar, quis correr, mas meu corpo não obedeceu. Minha mão, quase sem querer, abriu o zíper. Comecei a me tocar, olhando minha filha gemer. Eu era o pai, mas ali, no escuro, virei outra coisa. Um bicho.
Os meses seguintes foram um inferno. Eu atendia no balcão, mas minha cabeça tava no depósito. Clara voltou pra faculdade, me mandava mensagens curtas: “Tô estudando, pai, e tu?” Cada uma era um soco. A cidade começou a falar. Dona Zilda, a fofoqueira, viu Clara saindo dos fundos naquela noite, cabelo bagunçado, e espalhou que eu tava “endemoniado”. Eu varria o chão, contava moedas, tentava esquecer. Mas não dava. No feriado, Clara voltou. Vestido curto, olhos que queimavam. Trouxe uma amiga, Marina, cabelo roxo, tatuagens, piercing no lábio. “Ela é divertida,” Clara disse, e eu senti o chão tremer. À noite, ouvi risadas no depósito. Abri a porta: Clara deitada nos sacos de farinha, Marina entre as pernas dela, beijando. Minha filha olhou pra mim, sorriu. “Quer assistir de novo, pai? Ou quer entrar?” Antes que eu pudesse dizer não, Marina puxou meu cinto, Clara abriu minha calça. Eu me rendi. As duas me levaram pro inferno, e eu fui, gemendo, suando, com farinha grudada na pele. Clara mandava, eu obedecia.
São João chegou, e o mercadinho nunca mais foi o mesmo. Clara voltou com Marina e um tal de Thiago, barba rala, olhar de quem sabe demais. Eu senti ciúmes, mas tava preso. À noite, no depósito, luz vermelha de Natal, funk tocando baixo. Clara na mesa, Marina entre as pernas dela, Thiago fumando maconha parede. “Entra, pai,” ela disse. Eu entrei. Thiago se juntou, e depois veio Zé, o mecânico da esquina, que sempre olhava Clara com fome. Ela quis um “sanduíche”. Eu deitei no colchão, ela montou em mim, Zé entrou por trás. Marina ria, provocava, lambia. O depósito virou um caos de carne, gemidos, caixas tombadas. Quando acabou, Clara beijou minha testa. “Não pensa demais, pai.” Zé riu: “Melhor que puteiro.” Mas Dona Zilda viu as luzes acesas e chamou o pastor. Eu mandei ele embora. “Aqui não tem demônio, pastor. Só gente.” Só gente.
Outro São João, e Clara voltou sozinha. Sem Marina, sem Thiago, só ela, de vestido curto, salto alto. “Hoje sou eu e tu, pai,” ela disse. Tranquei a porta, puxei ela contra os sacos de arroz. Rasguei o vestido, beijei com raiva. Ela gemia: “Tá mais homem agora.” Eu meti, forte, cada estocada um ano de espera. Ela ajoelhou, lambeu tudo, engoliu tudo. Depois sentou na minha cara, mandando eu lamber até ela tremer. Quando gozamos, ela deitou no meu peito. “Vou embora, pai. Pro Sul. Trabalho novo.” Meu coração parou. “E eu?” Ela riu, me beijou, lento, triste. “Mantém o clube aberto.” E saiu, deixando um vazio que doía mais que a culpa.
Clara foi pro Sul, mas o mercadinho não parou. Marina voltou, trouxe a prima. Zé trouxe Valdir, dono da oficina. Até o professor dela, Dr. Paulo, veio, de gravata, querendo mais. O depósito virou templo: colchão grande, luz vermelha, som baixo. Eu comandava – abria cerveja, trancava a porta. Mas Clara ainda mandava, mesmo de longe. “Volto no próximo feriado,” ela escrevia. Eu a aguardava, mas agora era eu quem chamava os outros. Zé, Valdir, Marina, a prima, até um caminhoneiro que parou na cidade. O clube crescia. Às vezes, eu olhava pro depósito vazio e via Clara, de quatro, sorrindo. “A gente é família,” eu murmurava. A porta dos fundos ficou aberta, esperando ela. Sempre esperando.