Entre Olhares e Silêncios - O inicio de um desejo

Um conto erótico de Ruiva do escritório
Categoria: Heterossexual
Contém 1088 palavras
Data: 28/09/2025 12:39:35

Tenho 23 anos. Sou ruiva — não aquele ruivo apagado, mas uma faixa viva entre cobre e fogo, que insiste em escapar do rabo de cavalo nas horas erradas e pintar minhas mãos de um calor próprio quando fico nervosa. Trabalho em comunicação há dois anos; conheço cada canto deste prédio, cada cheiro que se instala depois das reuniões: café frio na caneca de plástico, toner aquecido da impressora, um limpador cítrico que insiste em apagar qualquer vestígio de nós.

Ele se chama Lucas. Digo o nome assim, simples, porque usar qualquer outro tornaria impossível fingir que aquilo não é importante. Lucas tem um tique discreto de empurrar os óculos pela ponta do nariz quando está concentrado, e uma voz que me pega sempre pela clavícula — não uma voz alta, mas aquela que vibra no tórax e sobra calor. É o tipo de homem que sabe ajustar o colarinho da camisa sem olhar, que tem o relógio preso no pulso esquerdo e as mãos grandes do tipo que dominam caixas de papelão e conversas ao mesmo tempo.

Há meses a tensão entre nós cresce em camadas tão finas que é preciso olhar bem de perto para notar. Não houve uma única cena dramática; foram milhares de pequenos incêndios: a caneta que cai e a mão dele que a ajuda, prolongando o contato; a mensagem urgente que aparece no meu telefone e que ele responde com um emoji que não é profissional; o café que esqueço no balcão e que ele, sem perguntar, troca por outro, morno, com aquele toque de açúcar perfeito. São migalhas que construíram um sabor perigoso.

Sei as coisas que não devo saber. Sei que ele gosta do vinil rangente que toca nas playlists antigas do escritório, que prefere o canto da janela para fazer ligações e que, quando sorri, há um pequeno afundamento na bochecha esquerda — um detalhe que ninguém mais parece notar. Eu, porém, anotei tudo. Curiosamente, quanto mais me obrigo a racionalizar, mais as imagens inversas se enchem de cor: o riso dele se transformando em promessa; o modo como a luz atravessa as persianas e recorta o contorno de seu rosto, deixando as íris em sombras vívidas.

Sempre fui muito boa em dizer não. Sempre fui boa em disfarçar. No entanto, há noites em que aprendo que boa é apenas um adjetivo inútil quando um olhar atravessa a sala e se agarra a você como se quisesse te puxar. É assim quando ele passa pela minha mesa e, por um instante, o espaço entre nós parece uma proposição. Não diz nada; não precisa. O silêncio é cúmplice.

Hoje, decidi ficar depois do expediente. Não fui por acidente — fiquei de propósito. Inventei um relatório que precisava revisar, um texto que exigia “só mais uma leitura”. As luzes comuns foram diminuindo, uma por uma, até que apenas as luminárias pessoais soltavam uma claridade íntima. O prédio tem aquela acústica que transforma passos em tambores suaves e os fios da climatização em um canto contínuo, quase um terceiro personagem que observa tudo sem intervir.

O ar cheira a papel envelhecido e a um leve resíduo de perfume — o mesmo que ele usa, uma mistura amadeirada com um cítrico seco que me surpreende sempre que passa. Sento-me, apoio o queixo nas mãos e percebo que minhas mãos tremem ligeiramente. Há um calor sob a pele, um formigamento que se aloja atrás das costelas.

Então ele aparece. Não há anúncio, apenas a porta da sala do diretor que se entreabre e sua silhueta preenchendo o espaço. Àquela distância, o resto do escritório parece um cenário quase teatral. Ele está de costas para a luz do corredor; a gravata está mais frouxa do que de manhã, como se o dia tivesse conversado tanto com ele quanto eu. Quando se aproxima, sinto o ar deslocar-se, uma promessa de chuva no ar quente de verão.

“Você ainda está aqui?” Ele pergunta, e o tom é casual — mas seu olhar não é. Seu olhar escaneia meu rosto como se estivesse redescobrindo o mapa de minhas linhas: o arco das sobrancelhas, a curva da mandíbula, as sardas que interrompem meu nariz. Sorrio, e o sorriso é uma arma que aperfeiçoei sem querer.

“Acabei de chegar,” respondo, e a mentira tem a textura de algo que pode ser verdadeiro se for repetida o suficiente. Ele se aproxima o suficiente para que eu sinta o cheiro do seu perfume como se fosse uma mão pousando na minha nuca. Há um magnetismo no modo como ele chega perto: sem pressa, sem invasão — apenas uma presença tão evidente que tudo ao redor se dissolve.

“Nós deveríamos ir,” ele diz, e há cuidado na voz, um cuidado que me faz pensar em guardiões e também em cúmplices. Seus dedos, quando chegam à minha cadeira, encostam-se ao tecido — um contato mínimo, mas o suficiente para enviar eletricidade através dos míseros centímetros que nos separam.

Meu pulso acelera. É a regra do proibido que vibra entre nós: a empresa, a imagem, o que poderiam dizer. Ainda assim, cada restrição é apenas um verniz que o desejo raspa com delicadeza. Penso em como seria impossível restringir essa situação a uma só palavra: atração. É mais vasta, é um risco com curva fechada, é um anúncio silencioso de que algo pode acontecer se permitirmos.

Ele me observa por um segundo que parece uma eternidade e, então, muda o ângulo do corpo, encostando o ombro no batente da porta. A sombra desenha um risco escuro que acompanha o contorno de seu perfil. “Quer um café?” pergunta, tentando ao menos criar uma dispersão formal para o que se passa entre nós.

O corredor respira; as paredes parecem guardar segredos. E ali, naquela penumbra que cheira a toner e a limpeza, enquanto a cidade lá fora se curva para a noite, sei que algo já começou — mesmo que ainda não saibamos como chamá-lo. Sinto nas pontas dos dedos uma expectativa que exige resposta.

Ele ergue a mão, ligeiro, como se para afastar um fio imaginário do meu rosto. A sombra do gesto toca minha pele e, no mesmo instante, entendo: este não é o fim de um dia de trabalho. É apenas o começo de uma história que não pretende ser contada às nove da manhã.

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Essa é a primeira parte dessa historia de romance proibido. Se você gostou deixe um comentário, ainda tenho muitas histórias para contar aqui!!

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