Domingo de manhã chega, e quando eu acordo parece que o mundo tombou em cima de mim. eu estou com uma enxaqueca monstruosa e meu corpo parece que foi atropelado por um caminhão. Assim que eu abro os olhos, a luz parece que esfaqueia eles e eu rapidamente jogo um braço em cima deles, para bloquear a claridade.
Sinto o braço de Felipe apertar mais forte a minha cintura, e ele substitui meu braço pelas suas mãos, me dando um selinho longo na têmpora.
- Amor, eu vou abaixar as persianas e pegar remédio para dor de cabeça, você quer alguma coisa a mais? – ele fala quase sussurrando
- Você pega o mais forte?
- Qual?
Quando eu passo o nome, e digo que não pode ser com estomago vazio, ele se apressa para escurecer o ambiente, e corre para a cozinha. Eu nunca o vi correr tanto dentro de casa quanto nas últimas 24h.
Eu foco em respirar lentamente, e em tentar me mexer o mínimo possível, cada centímetro parece ser um novo caminhão.
- Aqui – ele me entrega dois comprimidos com um copo de vitamina (a traidora, mas eu não reclamo, era o melhor que ele podia fazer tão rápido).
- Obrigada
- Nunca por isso amor – responde me dando outro selinho
Ficamos deitados mais um bom tempo, comigo deitada em seu peito e Felipe mexendo no meu cabelo.
- Amor? – pergunto
- Oi
- Acho melhor pular o Brunch hoje, você vai ficar chateado?
- Lógico que não Juliana. Vou fazer algo para comer, você quer ir comigo? Podemos tentar usar uma venda, ou você fica no sofá, ou então.... eu ..... – Ele parece perdido. Me dá a sensação de que a última coisa que Felipe que é ficar longe de mim.
- Pode ir Fê, eu vou ficar paradinha aqui.
- Certeza?
- Humhum
Acordo com alguém fazendo uma massagem no meu couro cabeludo – Felipe. Ele me ajuda a ficar sentada na cama, me apoiando na cabeceira, e puxa uma bandeja de café. Tem torrada, mingau com morango, chá de camomila, frutinhas e uma rosa.
- Ela é linda
- Você é linda
- Sem café?
- Café faz mal para dor de cabeça
- Mas você sempre toma café
- Hoje vamos tomar chá, sem discussão. – Ele fala colocando um pouco de dominância na voz. O que me faz rir um pouco, e a minha cabeça lateja mais forte. Eu solto um gemido de dor, e a cara de Felipe se contraí como se eu tivesse esfaqueado ele.
Ele se coloca atrás de mim, encostado na cabeceira e eu entre suas pernas. O contato de peles, faz com que meu corpo fique quente do modo mais perfeito do mundo, e eu me apoio totalmente no seu peito.
A ideia de ter que me mexer para comer é horrível, só de pensar, faz com que a dor piore. Mas eu não tenho coragem para pedir que ele me alimente. Ontem já fui carente o suficiente. Fico parada pensando em como vou conseguir comer sem me mexer.
- Ju?
- Hum
- O que foi?
- Hum?
- Você não começou a comer. Quer outra coisa?
- Não, é que.... – Eu paro de falar.
- Ju?
- Eu não quero me mexer
- Ah, tranquilo bebê
Felipe puxa a bandeja do meu colo, e coloca do nosso lado, e começa a me alimentar. Eu como as pequenas porções que ele me dá, e a sensação de ser um passarinho retorna. Pronto, agora eu tenho um novo desejo eterno, ser alimentada por ele.
Quando acabamos de comer, ele me leva no colo até o banheiro e tem o cuidado de colocar uma toalha na frente da janela, para diminuir a claridade. Sou depositada no vaso e ele me dá um selinho antes de sair.
Assim que eu acabo de escovar os dentes, a porta se abre e ele está lá, com um sorriso lindo, me puxando para o seu colo e andando a curta distância até a cama.
- Você sabe que eu sei andar né?
- Sim eu sei – responde me dando um beliscão leve na bunda
Deitamos novamente e eu adormeço com ele fazendo carinho em mim.
Na hora do almoço tudo se repete, só mudando o cardápio, que agora virou sopa de legumes batidinha e iogurte grego com uva de sobremesa. Desta vez ele até fez suco de maracujá. Depois de uma nova rodada de pílulas, deitamo-nos novamente, mas desta vez eu não consigo dormir, mesmo após Felipe fazer cafuné e uma massagem nos meus pés. Mesmo acordada, falar ainda incomoda, então eu fico calada, só apreciando ser cuidada por ele.
O fato dele demonstrar de novo e de novo o quanto é apreciativo, o quanto ele gosta de cuidar de mim, sempre me surpreende, mesmo sendo algo corriqueiro na nossa vida, nunca vai ser algo corriqueiro para mim.
Felipe demostra seu amor de modos grandes e pequenos, seja fazendo um pedido de noivado presencial, tentando conquistar meus pais, seja me mandando docinhos em dias que eu estou muito estressada, ou garantindo que eu me lembre de comer nos dias de stress.
Eu só sei que tenho muita sorte de tê-lo na minha vida, e até hoje eu não consigo descobrir o que fiz de tão certo para ganhar sua atenção. Felipe me satisfaz em todos os aspectos que eu quero, e até nos que eu não sei que queria (como ser alimentada feito um passarinho, e receber mensagens me lembrando de tomar agua).
Meu coração está tão cheio de amor, que parece que vai explodir se eu não fizer alguma coisa, e eu sei o que tenho que fazer.
- Fe?
- Oi
- Obrigada – falo tentando transparecer toda a gratidão que eu tenho dentro de mim
- Pelo que? – ele pergunta claramente curioso.
- Por existir, por me amar, por ser você.
Ele não responde, não diz nada, apenas vira e me dá o beijo mais carinhoso que já recebi. Como se ele colocasse ali todo o amor que temos.
O cafuné retorna, e eu consigo dormir.
-X-X-XX-X-X-X—X-X-X-X-X—X-X-X—X-X-X-X-
Ainda está claro quando eu acordo novamente, com ele me dando selinhos na testa.
- Desculpa te acordar, mas está na hora do remédio.
- Já?
- Já
Tomo minhas pílulas com um copão de água, e percebo que finalmente me sinto como um ser humano de novo
- Fe?
- Oi – ele responde sussurrando, ele passou o dia todo falando do jeito mais silencioso possível.
- A dor melhorou. Bastante
O sorriso dele é tão grande que se eu não tivesse melhor antes, iria ficar agora.
- Eu quero um banho. Sinto como se tivesse uma camada de nhaca em mim.
- Chuveiro ou banheira?
- Chuveiro. Mas.....
Ele fica em silencio, me esperando completar a frase com paciência
- Pode ser sozinha? Preciso .... eu.... eu preciso
- Shhhh – ele me abraça e me dá um beijo na testa – Claro que você pode ficar sozinha amor. Enquanto você toma banho, eu vou fazer a janta. Salmão com batatas?
- Perfeito. – eu começo a ir em direção ao quarto e sou surpreendida por ele
-Ju? – ele me chama meio incerto
- Oi
- Nada não – responde rápido. Não, não vou aceitar isso. Eu volto até ele, que também esta em pé e o abraço. Forte
- Pode falar.
- Voce deixa eu pentear seu cabelo?
- Logico! – porque ele pareceu inseguro com algo tão bobo?
Meu banho acaba sendo mais longo do que esperava, eu lavo junto com o meu corpo todo o desespero que eu senti ontem. Não sei o que diabos aconteceu, o que me levou ao pânico tão extenso que senti, nem o que rolou depois. Preciso conversar com Felipe.
Ele faz questão de estudar, praticar e entender tudo o que ele ou eu queremos praticar. É um dono completo, que se preocupa com as pequenas coisas, e toma todo o cuidado possível para que as sejam o mais suaves possível. Claro acidentes e incidentes acontecem, mas posso ter certeza de que será apenas 1x, e que não foi por desleixo dele.
Posso confiar nele para saber o que rolou ontem depois do uso da minha palavra de segurança, sei que a culpa foi totalmente minha, eu nunca contei para ele o que aconteceu comigo, e nem sei se tenho coragem de contar, mas sei que ele vai conseguir colocar minha cabeça no lugar.
Prova disso é quando eu saio do banho, ele está me esperando sentado na cama, com uma camiseta dele, um short de pijama meu e uma escova e creme de pentear. Ele me chama com os dedos e eu chego perto dele, para receber um beijo carinhoso, e deixar que ele me vista. Me sinto acolhida pela roupa que ele escolheu, me sinto pequena nela.
Sendo uma mulher gorda sempre foi impossível eu me sentir pequena, acolhida fisicamente por alguém. Sempre fui grande demais, pesada demais, sempre demais. Mas não com Felipe. Ele consegue me levantar, me carregar, me conduzir, garantir que eu me sinta protegida. Ele acha que eu não sei, mas ele tem roupas que usa em tamanhos maiores, só para poder transferi-las para mim e eu me sentir bem. Essa camiseta é uns 2 números maior que ele e com certeza ele já usou bastante, porque o tecido é molinho, e tem o cheiro do perfume dele.
Quando estou vestida, ele me manda fica sentada na ponta do colchão, e começa a pentear e estilizar meu cabelo, com tanto cuidado, que todos os nós saem “magicamente”, sem absolutamente nenhum puxão. Ele consegue ser melhor que eu nisso, quando ele me finaliza, me sinto mais bonita, mais confiante.
- Vem, vamos jantar – ele ordena, e eu sigo. É isso que eu estava precisando, ordens e estrutura. FELIPE,
-X-X-XX-X-X-X—X-X-X-X-X—X-X-X—X-X-X-X-
Depois de comermos, vamos para o sofá da sala, e ele novamente me puxa para o seu colo.
- Você quer conversar Ju? Está bem? Se não podemos adiar isso o quanto você precisar.
- Tou sim
- A dor passou?
- Humhum, mas estou me sentindo meio de ressaca – recebo um beijo leve depois de terminar de falar.
- Tem certeza? A última coisa que quero é te estimular de mais agora. Já fiz merda esse fim de semana, e amanhã você tem apresentação no curso de Italiano, não quero que você perca por não estar bem
- Você não fez merda Fê. Eu que fiz
- Não, você nunca mais vai falar isso Juliana – ele manda bravo
- Mas eu fiz Fê
- Não fez não, você fez o que eu te fiz prometer fazer. Você fez o certo amor
- Tá
- Tá não. Eu quero uma promessa Juliana, você nunca mais vai falar que dizer uma palavra de segurança foi um erro, ou que o que aconteceu ontem foi culpa sua. Entendeu
- Sim, senhor, eu prometo – digo, abaixando a cabeça
- Não Juliana, você vai prometer para mim, seu marido, e companheiro que vai passar o resto da vida junto com você. E vai fazer isso olhando no meu olho amor.
- Sim Felipe, eu prometo que falar a palavra de segurança foi a coisa certa a fazer – digo com mais convicção. Eu não acredito nisso, mas vou deixá-lo repetir até entrar na minha cabeça dura. – Mas teve mais coisa, e eu tenho culpa nisso.
- Mais coisa?
- É
Ele me dá outro beijo, e vai até a cozinha pegar mais chá. E desta vez, quando se senta, é de frente para mim. Ele me cobre com um cobertor, e fica na mesinha de centro, puxando meus pés para o seu colo. Quando ele se abaixa e dá um beijo referencial em cada dedo, lagrimas surgem nos meus olhos.
- Eu juro que estou bem, amanhã vou continuar os remédios, menos o relaxante muscular, e tenho um dia leve no hospital. Vou conseguir cantar minha musiquinha tranquilamente. – Falo com um sorriso no rosto. Felipe fez questão que eu pegasse uma escola de Italiano completa, para me incentivar a aprender a língua que eu estava empacada.
- E eu vou estar na primeira fila amor.
- Eu sei – respondo, e é verdade, eu tenho certeza de que toda vez que eu precisar, ele estará lá. Por quanto tempo eu não sei, mas enquanto ele estiver comigo, Felipe estará REALMENTE COMIGO. Isso é tão certo na minha cabeça quanto que o sol é azul.
- Vamos conversar? – ele pergunta baixinho
- Vamos
- Aqui? Ou no colo?
- Qual o melhor? – falo, pedindo silenciosamente para ele tomar as rédeas da situação.
- Assim, para que eu consiga ver sua expressão o tempo todo. Vamos conversar, mas se em algum momento eu te ver estressada, super estimulada, ou qualquer coisa que eu não goste a gente vai parar.
- Ta bom
- E eu preciso que você prometa ser honesta Ju. O mais honesta que conseguir.
- Prometo – ele me entrega uma caneca fumegante e dá um selinho na ponta do meu nariz.
- Você teve um Drop ontem Ju.
- Isso você já falou – falo meio ..... petulante?
- Quando falei que a culpa foi minha, é porque é minha responsabilidade te colocar e te retirar seguramente do subspace. E ontem eu falhei nisso.
- A culpa não foi sua – eu repito baixinho.
- Deixa eu acabar e depois você me conta a sus “participação” nisso – ele diz fazendo aspas com os dedos, como se em momento nenhum acreditasse que a culpa foi minha.
-Para sair seguramente dele a gente faz um after care. Ele serve para você e para mim, para garantir que nós dois saibamos que acabou a cena em que estávamos, e que agora é a vida normal que vamos seguir.
- Você é o rei do after care
- Obrigada – ele diz sorrindo, como se essa reafirmação fosse muito importante para ele.
- Quando você se submete a mim, seu corpo entra em um estado de entrega tão profundo, que seu mecanismo de luta e fuga é acionado, e o que te impede de lutar ou fugir é a sua necessidade que eu tome o controle para mim. A sua confiança em mim é o que permite que você entre no subespace tão rápido. Você se entrega tanto amor, é tão lindo, é a maior honra da minha vida. Você entra nele em segundos, basta um olhar meu e eu já vejo em seus olhos a portinha da submissão abrindo.
- Eu confio minha vida em você Felipe – respondo com verdade. Ganho outro beijo no pé
- Ontem, você não saiu de um modo seguro, foi como se você pulasse por uma janela, ao invés de sair, comigo, pela porta. Sua mente “saiu correndo” dele.
Ele para e dá um gole no seu chá. Eu vejo que ele não precisa de bebida e sim de tempo, então fico quietinha esperando-o se sentir pronto.
- O stress da sessão foi tão forte que você ao invés de se entregar entrou em estado de fuga, mas não foi uma fuga física, algo te impediu de simplesmente sair andando da situação. Eu imagino que foi seu desejo de me agradar, de ser obediente. É por isso que eu só te amarro quando tenho certeza de que nós dois estamos plenamente ok com o que faremos.
Eu aceno, para garantir que ele saiba que eu estou ouvindo
- Essa “fuga” – novamente as aspas – mais o abalo emocional intenso fez com que você desligasse, que sua cabeça preferisse ficar off do que continuar a viver a realidade. Você sabe melhor do que eu isso, é o pico da adrenalina e da endorfina caindo.
- Humhum, tem outros hormônios ligados ao prazer e a dor envolvidos, e sistema parassintético, mas de modo geral são eles mesmo – eu respondo. Ele me olha com a admiração que sempre está lá quando eu digo algo técnico. Admiração e orgulho
- Essa queda repentina é chamada de DROP no mundo kink – faz sentido, drop é literalmente queda.
- E isso que me fudeu?
- Sim, foi isso. É comum o choro, a carência, até mesmo raiva, violência e coisas assim. Graças a Deus você ficou no lado “leve” da situação.
- Leve?
- Sim amor, leve. Você só ficou mais necessitada de contato físico, um pouco chorona, mudanças de humor leves e com os hormônios malucos. Eu acho que a enxaqueca veio do stress extremo, mas pode ser também por causa do choro.
- E agora acabou?
- Não tem como saber, algumas pessoas podem ficar assim por horas ou dias, e ele pode vir na hora, ou até mesmo depois de algum tempo do pico de stress.
- Caralho – agora ele dá uma mordida no meu dedo. Leve, mas o suficiente para me fazer revirar os olhos.
- O mais importante depois que acontece é receber muito carinho e atenção, e no seu caso, muito contato físico. Seu after care sempre requer isso.
- É por isso que você está sempre agarrado em mim depois?
- Sim, e porque EU preciso de tanto contato físico quanto você. – Isso me faz sorrir.
- Tem casos, mais extremos que precisa até ir receber atendimento médico. – Meus olhos se arregalam. Eu nunca mais quero ver um médico depois de fazer sexo.
- A única coisa que eu não entendi, foi o motivo do seu stress tão grande. Eu espero algo assim, quando estamos brincando com algum limite, ou algo mais pesado.
- Eu sabia que ser uma cadelinha era complicado para mim. Por isso falei que é a culpa é minha. Eu sabia que não queria, e não falei nada. Esperei dar merda.
- Você sabia?
Aceno com a cabeça
- Por quê?
Isso faz com que eu abaixe a cabeça, e pare de olhar ele. Estou com vergonha. 100% de vergonha. Ele se levanta, e com um gesto cuidadoso levanta meu rosto.
- Ju, você não precisa ter vergonha de mim, nunca, por nada. Estamos nessa juntos, para sempre.
Lagrimas caem do meu rosto, ele limpa com o polegar e me dá um abraço.
- Eu fiquei desesperada Felipe, minha mente foi em um lugar tão ruim, mas tão ruim, que na hora eu queria estar morta para não sentir
Ele aperta o abraço a ponto de doer.
- Eu só pensava que .... que.... – Eu não consigo completar minha frase. Eu não quero contar absolutamente nada a ele. Nadinha. Não quero de jeito nenhum. Mas sei que ele merece saber, ele merece saber o porquê eu entrei nesse estado de fuga tão rápido e tão profundamente.
- Shhhhh, fica tranquila amor, respira comigo
Eu obedeço. Pra dentro, pra fora, pra dentro, pra fora.
- Você não precisa me falar nada, nadinha mesmo. Quando você quiser eu vou estar aqui, sempre.
- Sério?
- Sério. – Ele diz com uma voz absoluta
- Tá – eu respondo. Mas será que isso não vai deixar ele bravo? Será que ele não vai achar que eu estou escondendo algo dele?
- Eu só preciso de uma coisa Ju.
- O que?
- Que se caso algo assim aconteça de novo, você fale novamente LIMÃO, que você me avise que não está segura. Eu fiquei tão orgulhoso amor, mas tão orgulhoso, que mesmo em seu estado de pânico e fuga você lembrou que pode confiar em mim. Você sabe instintivamente que eu sempre vou te ouvir.
- Eu sei Fê. Sei mesmo. Eu sei também que podia ter pedido para diminuir, ou parar, ou que eu podia ter falado que eu não queria. Mas o pânico veio tão rápido, como um raio, foi algo que em um minuto eu tava ok, e no seguinte minha mente estava travada.
- O importante é você comunicar que não estava bem, e você comunicou.
- Tá
Ele se afasta e me dá outro beijo na testa. Ele parece que está nessa vibe hoje.
- Você não precisa me falar o que te levou lá hoje Ju, eu juro que não vou ficar decepcionado ou bravo com isso. Mas se acontecer de eu fazer alguma coisa que te gatilhe novamente, ou que você ache que vai, ou que te lembre de algo não legal, você pode me falar? Não precisa ter explicação nem nada. Só me avisa que não quer.
- Mas eu não sabia que não queria, bem eu sabia, na hora eu percebi que não ia ser legal, mas não imaginei que era tão grande assim. Eu não sabia, eu juro que não sabia
- Tudo bem – ele me dá outro beijinho – as vezes as coisas nos pegam de surpresa. E quando isso acontecer vamos lidar com elas. Juntos.
- Mas eu prometo que se perceber que algo tem potencial de fazer isso, eu aviso. JABUTICABA? – pergunto, querendo saber se é para falar a palavra de segurança que significa com calma.
- Não, não precisa. Você vai me olhar, e independente de qualquer coisa e falar ISSO NÃO, e pronto, é isso não. JABUTICABA é para ir com calma, dar mais tempo para você se acostumar com algo. Se você não quer algo, estando em uma lista de limites ou não, é só falar que não, e é não. Tudo bem?
- Tudo bem
Ficamos abraçados por bastante tempo, um sentindo o batimento cardíaco do outro, e deixando que ele nos acalme. O tumtumtum do coração dele é um lembrete para mim de que ele está comigo, aqui, e que me prometeu que isso vai ser para sempre. Felipe nunca quebrou uma promessa comigo, e eu rezo todo dia para esta não ser a primeira.
Quando vamos para a cama, me surpreendo que ela está arrumadinha. Não sei quando ele arrumou tempo para esticar os lençóis e passar perfume neles, mas sei que fez isso por mim. Eu o abraço mais forte
Assim que minha cabeça bate no travesseiro eu começo a pensar que um dia quero ser honesta sobre o que aconteceu no meu passado, e que eu tenho que pensar sobre outras coisas que podem me causar os gatilhos que Felipe falou.
Mas isso é uma conversa para outro dia, hoje eu só quero me aconchegar nele e dormir em seus braços.