Já estava de saída do quarto, quando resolvi dar uma ajeitada melhor no cabelo, a aparência dele naquele momento, o que Júlia havíamos feito momentos antes. Também lembrei do meu celular que vibrava incessantemente e pedi que minha gatinha conferisse se era alguma emergência, porque não queria descer com ele.
E foi então que... Os olhos que antes brilhavam de felicidade, lacrimejam em tristeza. O corpo que há pouco tremia, explodindo em gozo, agora tremia de nervoso. A respiração que há minutos era ofegante de prazer, tornava-se curta e pesada.
Meu estômago revirou e, em segundos, mil coisas atravessaram minha mente de maneira desordenada. O que poderia ter acontecido para deixá-la naquele estado? Uma notícia ruim em relação aos meus pais? Meus irmãos?
Quando eu me preparava para perguntar, minha esposa respondeu parcialmente os meus questionamentos em uma pergunta.
— Quem é Maitê do Tinder, Lorena? — Júlia perguntou, com um tom de voz sério e enfurecido.
Maitê é um nome bonito e eu até conhecia duas, porém não tinha contato e muito menos intimidade. E DO TINDER? Só poderia ser uma brincadeira! Nunca sequer baixei esse aplicativo.
Mas como seria uma brincadeira se Júlia estava na minha frente visivelmente cheia de raiva? Não havia sinais de que ela estava me zoando ou algo do tipo, o olhar era de decepção, de chateação, de tristeza.
— Amor, eu não sei do que você está falando... Eu não sei quem é Maitê do Tinder? Nunca usei esse aplicativo e as pessoas que conheço com esse nome, não vejo há tempos — Falei e fui me aproximando aos poucos.
— E quem é essa mulher seminua no seu Whatsapp mandando não sei quantas mensagens? — Juh perguntou, deixando as lágrimas caírem.
Nesse momento, Júlia jogou o aparelho na cama, para que eu entendesse ao que ela se referia.
E foi então que eu gelei inteira.
Havia mesmo um contato chamado Maitê 🔥❤️ (Tinder) no meu celular.
— Calma... Eu não conheço essa mulher, nunca vi na minha vida. Te juro! — Soltei as palavras desesperadamente.
— Me explica então como esse contato está salvo NO SEU CELULAR — Júlia disparou, se afastando de mim
— Eu não sei, amor... Vem cá... Bora ver isso... Praticamente, implorei. Peguei rápido o celular e me aproximei dela novamente.
— Não acredito que isso está acontecendo, meu Deus... — Juh disse e já desabou no meu peito.
Acredito que ela não fez isso por querer, mas por estar devastada com a possibilidade da traição. Ela só caiu sobre mim.
— Tem que existir uma explicação, calma — Eu pedi, torcendo para que ela caísse do céu.
Abri a conversa e... Não era um contato, era um grupo. Um grupo com meus irmãos! Loren alterou o título do The Loren's para Maitê 🔥❤️ (Tinder).
Ela simplesmente não tinha o que fazer e resolveu causar confusão no casamento de Lorenzo e no meu. E lendo as conversas eu fiquei com mais raiva ainda do tonto do meu irmão que passou o sufoco dele e ao invés de me poupar, trocando imediatamente o nome daquele troço, ficou lá discutindo por horas e deu no que deu.
Eu mandei um áudio desaforado, ofendi até a milésima geração da família deles, que por uma infeliz coincidência, também era a mim, mas naquele momento, não vinha ao caso. E eles que já haviam discutido por horas e já achavam graça da situação, ao perceberem que eu estava puta da vida.
— E você ainda diz que prefere ter irmãos como eles do que os seus — Falei para Juh.
— Qual você acredita ser mais provável a gente achar engraçado daqui a algum tempo, eles te trollando ou Iury chutando o quebra-cabeça que passamos horas montando? — Ela me questionou.
— Pqp, viu?! Brincadeira de doente essa... — Falei.
— Me dá um abracinho? — Juh pediu e eu fui até ela novamente.
Comecei a rir e ela quis saber o porquê.
— Para onde você ia pelada assim? — Perguntei, rindo mais ainda.
— Aí tá vendo... Você vai acabar me deixando maluca — Júlia disse, em tom bem humorado e se dirigiu ao banheiro.
— Você deveria estar brava com eles! — Falei, saindo do quarto.
— Eu estou é feliz que meu casamento não acabou e não existe uma Maitê do Tinder nos seus contatos — Ela respondeu e eu ri.
Desci com nossos filhos e jantamos com meus sogros e meus cunhados. Lana e Iury estavam bem quietos, interagindo normalmente apenas com Mih e Kaká, que estavam bastante empolados contando tudo que fizeram no Haras.
Havia uma bandeja preparada por eles dois para Júlia e Milena e Kaique ficaram encarregados de levar. Nós não demoramos muito a subir e logo já estávamos no quarto.
Eles não se importaram em repetir cada vírgula sobre a tarde diferente que tiveram e ainda fizeram questão de lembrar que em dois dias estariam de férias e que adorariam passar pelo menos uma semana na casa dos avós.
Falei que em casa veríamos a possibilidade, eu achava uma boa ideia, porém não sabia a posição de Juh referente ao assunto depois da confusão.
Em determinado momento, achei de bom tom tirar uma foto deles três na cama, Milena estava ajeitando o canudo na boca de Juh. Mandei no grupo dos meus irmãos, sem legenda alguma, eu sabia o que estava fazendo. Bloqueei a tela e passei o restante da noite longe dele.
Quando a gente já se preparava para dormir, Júlia deitou contra meu peito e começamos a conversar sobre o que rolou.
— Você ficou chateada por eu ter caído feito um patinho? — Ela perguntou.
Não precisei pensar muito para responder.
— Não, foi algo bem convincente. Quando você me mostrou eu fiquei me perguntando como aquele havia sido salvo, porque eu não fazia ideia de quem era aquela pessoa. Cheguei até a procurar o seu celular gravando, de tão absurdo que foi tentar imaginar — Expliquei.
— Nossa, foi uma sensação terrível... Ao mesmo tempo que não parecia real, estava ali na minha frente com foto e nome — Ela comentou.
— Tenho uma dúvida, gatinha... Por que você não abriu logo a conversa? — Questionei, curiosa.
— Não sei, amor. Acredito que foi por medo do que eu poderia encontrar — Ela me respondeu.
— Eu também fiquei... Eu sabia que não tinha feito nada de errado, mas se alguém tivesse conseguido salvar um contato no meu aparelho, não seria impossível plantar uma conversa torta — Falei, enquanto fazia carinho em seu cabelo.
— Ainda bem que não foi real, que você não me traiu, que eu não tenho chifres e tudo não passou de uma brincadeira idiota — Juh disse, apressadamente, como se quisesse encerrar o assunto.
Eu ri da forma bem humorada que ela falou e trocamos alguns beijinhos.
— Vixe, tem algumas ligações de Loren, será que aconteceu alguma coisa? — Júlia me informou ao conferir seu celular.
— Não deve ser nada — Tentei, atirando-o para o lado e voltando a beijá-la.
Com delicadeza, Juh cessou o beijo e ligou para saber o que era. Loren atendeu muito rápido e parecia preocupada com o estado de saúde de Júlia, que não entendia o porquê até a foto ser citada.
— Que foto é essa, amor? — Ela me perguntou, rindo.
— Ué, eu não disse nada, só mandei uma foto sua se alimentando — Expliquei, tentando parecer inocente.
— Parecia que você tinha passado mal e os meninos estavam cuidando de você. Puta merda, que susto! — Minha irmã exclamou.
— Bom... Mas poderia ter acontecido isso mesmo... Brincadeira podre essa sua, viu?! — Disse-lhe.
— Foi mesmo, eu fiquei desesperada — Juh concordou.
— Desculpa, gente, sei lá o que passou na minha cabeça. Vi na time line e resolvi testar — Ela falou.
— Beleza, semana que vem eu contrato um GP e coloco na sua porta em um horário que Victor esteja em casa — Comentei.
— Nem pensa nisso, zoa de outro jeito — Minha irmã se apressou em dizer.
— Ela não vai fazer isso!!! — Juh afirmou.
Eu fiz uma expressão de que não tinha certeza, mas obviamente não era algo que eu faria.
Desligamos e também tinha umas mensagens de Sarah e Lorenzo, mina gatinha enviou um áudio explicando que estava tudo bem e voltamos ao nosso mundinho.
Geralmente, ela dorme primeiro que eu, mas nesse dia acabei apagando primeiro, sentindo o cheirinho gostoso do pescoço dela e recebendo o melhor cafuné do mundo. No outro dia, despertei com ela da mesma maneira, parecia que eu só havia piscado, porque permanecemos na mesma posição, mas agora ela sorria angelicalmente.
Não consegui não comparar ao dia anterior onde eu fui dormir tranquila e acordei atordoada, com a cabeça cheia e insatisfeita. Já naquele dia, tive uma noite completamente atordoada e acordei extremamente bem.
Mas aquele sorrisinho lindo roubou a cena, foquei em apreciá-la da mesma maneira que minha gatinha fazia comigo.
— Vamos fazer uma oração para eu agradecer a Deus por ser casada com uma muiezinha tão linda? — Falei, e ela riu, apertando o abraço.
— Sabe o que eu estava pensando? — Juh perguntou.
— Não, me diga, meu amor — Pedi, roubando um selinho.
— Na primeira vez que você veio aqui... Por mais que eu desejasse que a gente desse certo, nunca que, naquele tempo, eu conseguiria supor que teria você deitada aqui, casada comigo, com meus pais sabendo, apoiando e nos amando. Com dois filhos e nos preparando para o terceiro... Eu sou muito feliz com você, com a nossa família, com a maneira que me sinto protegida nos seus braços e em acordar todos os dias ao seu lado — Ela disse, e a cada palavra, eu me encantava mais com seu sorriso.
— Eu nunca vi como impossível, de longe parecia uma missão difícil. Contudo, de perto, vivendo dia a dia ao seu lado, eu soube que seria fácil. Pelos seus posicionamentos, por suas atitudes, por conhecer seu coração. Quando eu sugeri vir como sua amiga, lembro muito bem da senhorita dizendo que seria loucura... Mas realmente era, porém, a nossa loucura. A loucura mais linda que já embarcamos. A loucura mais sã em forma de decisão, decisão de amar. Eu não me arrependo de nada do que fizemos para chegar até aqui, nem por um segundo, porque, tudo nos fortaleceu. Eu te escolho todos os dias, meu amor, e sempre vou escolher você... — Disse-lhe, e a abracei o mais forte que consegui.
— A gente sempre prometeu uma para outra que seria leve e eu consigo enxergar essa leveza até nos dias mas difíceis... Obrigada por me amar, por me fazer, em cada detalhe, sentir esse amor, porque eu te amo exatamente assim e o que me mais me faz feliz na vida é saber que o meu amor te toca — Ela falou, quase chorando.
— AAAAAAAAAA, acordamos com altas declarações, assim eu não aguento — Brinquei, para distraí-la e Juh sorriu — Eu também te amo, meu amor, amo tanto que às vezes tenho medo desse meu coração não suportar! — Exclamei e já a beijei.
Eu ainda pretendia correr, então fui para uma ducha rápida e minha gatinha me acompanhou. Lá ela me disse que queria correr comigo e eu dei a ideia de chamar Kaká e Mih também.
Como eu imaginava, eles adoraram a ideia e partimos. Fizemos o mesmo percurso que eu fiz sozinha no dia anterior e no final, também nos jogamos na cachoeira.
— Dá até vontade de passar as férias aqui também — Falei com Juh, vendo Milena e Kaique brincarem de saltar de uma pedra.
— Eu hein, Deus é mais, tá repreendido! — Júlia exclamou.
Comecei a rir muito da maneira que ela se expressou, eu havia esquecido dos anjos dos meus cunhados.
— Mas por falar em férias... — Juh começou dizendo, ficando de frente para mim e me agarrando pela cintura — Já sabe quando vai ser a sua?
— Huuuuum, você pode escolher um dos seus três meses — Falei, dando um beijinho nela.
— Só um? Af! — Ela exclamou e eu ri, confirmando com a cabeça.
— Se eu escolher janeiro, você vai trabalhar no Natal? —Juh quis se certificar.
— Não, só apareço lá no Natal se acontecer alguma emergência, mas isso se estende a qualquer dia do ano — Falei e ela fez uma careta.
— Tá, escolho janeiro — Respondeu, voltando a sorrir.
— Beleza, vou te pegar janeiro todo — Brinquei, dando um tapinha de leve em seu bumbum.
— Paraaaa, os meninos! — Juh chamou a minha atenção, entretanto, o sorrisinho não saiu de seus lábios em momento algum.
Fomos para casa caminhando, os três molengas não aguentaram o pique da mãe aqui. Mas foi divertido demais, Milena e Kaique são muito criativos e tudo vira uma brincadeira com eles.
Então não foi um retorno comum, do nada tinha Mih em uma árvore, Kaká subindo em cerca com medo de uma vaca e eles dois sendo escarreirados por galinhas. Tudo vira comédia com nossos filhotes!
— Imagina futuramente a gente fazendo a mesma coisa, só que carregando um bebezinho nos braços — Juh falou, de maneira tímida.
— Se for menina, o nome será Maitê — Brinquei e levei um empurrão.
— Fique aí brincando — Ela disse, mas com bom humor no tom de voz.
— Vai ser incrível, gatinha... E vou torcer para vir outra menininha, porque meu sonho é ter uma miniatura sua — Falei, voltando a abraçá-la.
— Tento não ficar pensando muito pra não ter uma crise de ansiedade, mas não vejo a hora — Ela confessou.
— Eu sei, porque eu também quero muito — Fiz questão de deixar claro.
Não desejava que, de alguma maneira, ela tivesse receio de conversar comigo sobre.
Ao chegar na casa dos meus sogros, todos já estavam na mesa. Nos cumprimentamos normalmente, Juh, Iury e Lana de maneira mais seca, porém nada que fizesse nossos filhos notar um climão no café da manhã.
Ao olhar para trás, me deparei com o quebra-cabeça montado, com apenas uma peça faltando ser colocada. Resolvi não comentar sobre, mas pelo visto, algo iria acontecer ali.
Continua... 👀