Mariana carregava a vida como quem carrega um fardo invisível, pesado, mas tão habitual que já se confundia com a própria carne. Os dias escorriam, um após o outro, numa ladainha de roupas sujas, filhos que desafiavam a paciência e um sexo que, de tanto se repetir, virara rito, quase um protocolo sem alma. Onde estavam os sonhos da juventude, as promessas sussurradas ao pé do ouvido nos primeiros anos de casamento?
Diluíram-se, talvez, na espuma da máquina de lavar, no grito agudo de uma birra infantil, no silêncio ensurdecedor de um corpo que se entrega por obrigação.
Mas hoje, ah, hoje o destino teceu uma trama diferente. O ônibus, o mesmo de sempre, com o motorista que ela, secretamente, paquerava. Tony. Um nome que soava a promessa, a um desvio possível na rota monótona. Há dois anos, duas vezes por semana, o ritual se repetia: um "Oi" tímido, um "Bom dia" que se enchia de sorrisos e uma malícia contida, até o tchauzinho final, um aceno que ele esperava, paciente, no ponto de sua descida. Pequenos furtos de vida, roubados à rotina.
Calhou que o ônibus estava quase vazio. Uma dádiva dos deuses, pensou Mariana, sentando-se no primeiro banco, logo atrás dele. Pelo espelho retrovisor, os olhares se cruzavam, sorrisos cúmplices, uma dança silenciosa que só eles entendiam. E Mariana, com uma audácia que ela mesma desconhecia, desabotoou um botão da camisa, deixando à mostra o decote. Tony, no espelho, mordeu os lábios. Um arrepio percorreu a espinha de Mariana, um calor que há muito não sentia.
Na segunda metade da viagem, o ônibus era um santuário para os dois. Os poucos passageiros, exilados nos bancos do fundo, alheios à revolução que se operava ali, na frente. Mariana, então, num gesto de libertação, desabotoou a calça, abriu o zíper. A calcinha branca de renda, um segredo até então, revelou-se. E estava molhada, ensopada, um mar de desejo que a inundava. Tony olhou, incrédulo, e a condução do ônibus se fez mais lenta, quase um balé. Mariana aceitou aquilo como uma declaração de amor profano, um convite mudo. Queria apenas checar o volume sob a calça azul-marinho dele, a prova concreta de que não estava sozinha naquela vertigem.
Ousada, sim, Mariana era ousada. Abaixou mais a calça, e a calcinha de renda, agora uma segunda pele, deixava transparecer uma xaninha gordinha, recém-depilada, pulsando vida. Com um dedinho, ela tocou, tirou um pouco do melzinho e o levou à boca, chupando-o vagarosamente, os olhos fixos nos dele, no espelho. Cinco minutos. Cinco minutos de eternidade, de pura e desavergonhada existência, até a descida dela. Recompôs-se, o coração em festa, e antes de descer, na catraca, sussurrou: "A calça tá volumosa, hein?".
Ele pediu o número dela. Ela passou o aparelho, ele gravou o dele. Um pacto selado, um futuro que se abria. No trabalho, a mensagem chegou, rápida, certeira: "Calcinha branca de renda eu adoro e tiro com a boca." Mariana sorriu, um sorriso que há muito não era só dela. Enquanto trabalhava, a mão tocava a calça, fortuitamente, mas com um propósito. Já planejava a próxima lingerie, um sutiã de renda preto que deixaria os bicos dos seios à mostra, e uma calcinha preta de renda, com dois lacinhos, fáceis de desatar, para revelar a xaninha.
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