Eu me esforcei muito para recuperar meu corpo e minha autoestima, e, nos últimos dias, já me sentia bonita ao me olhar no espelho. Mais algumas semanas de treino e eu tinha certeza de que voltaria a ser a mulher que eu era antes. Meu plano estava dando certo; eu iria recuperar meu corpo e finalmente ter Fernanda aos meus braços como antes.
Minha rotina era totalmente calculada. Eu levantava assim que Fernanda saía para trabalhar, cuidava de algumas coisas do dia a dia e ficava de papo com nossa babá ou ligava para Ingrid para conversar um pouco. Ela sempre me dava bons conselhos, mas achei melhor não contar a ninguém o que estava fazendo, nem mesmo para minha melhor amiga. Tinha vergonha de falar sobre o assunto, e como estava quase resolvido, não via necessidade de comentar. Nossos assuntos eram mais sobre a Sophia. Ela era pediatra e muito boa, por sinal; eu levava todas as suas orientações e conselhos a sério. Como dizem por aí, é melhor prevenir do que remediar.
Sophia sempre acordava por volta das sete da manhã. Eu a amamentava e depois aproveitava para curtir minha filha. Depois do almoço, eu a amamentava novamente e, assim que ela dormia, saía para a academia. Às vezes, ela nem dormia, mas como era muito calma e raramente chorava, eu a deixava com a babá. Eu pegava pesado nos meus treinos e depois ia para a boate resolver tudo que tinha pendente. Não demorava muito, exceto nos dias em que recebia vários vendedores de uma vez.
Depois, voltava para casa, tomava banho, ficava com minha filha até ela dormir e também dormia. Eu chegava muito cansada, mas, graças a Deus, dormia quase a noite toda. Às vezes, Fernanda me acordava para amamentar Sophia, mas era rápido e logo ela dormia novamente. Tive sorte de não ter muito trabalho com minha filha; ela era muito quietinha e até seu choro era calmo, isso quando chorava. Ingrid disse que era raro uma criança assim, que dormia à tarde e não dava trabalho à noite.
Porém, nesse tempo, notei Fernanda cada vez mais distante, quase não me dava atenção. O tempo que tínhamos era quando ela chegava do trabalho ou aos domingos. Porém, ela chegava e não ficava quase nada comigo e com Sophia; era basicamente banho, janta e cama. No domingo, ela dormia quase o dia todo. A gente mal conversava. Quando assumi o trabalho da boate durante o dia, achei que isso mudaria, mas não mudou. Ela parecia nem enxergar minhas mudanças. Eu já não me importava dela me ver no banho, usava roupas curtas dentro de casa, mas ela parecia não me notar. Isso me deixou frustrada. Eu tinha me esforçado tanto e ela não deu a mínima.
Sophia completou seis meses e Ingrid disse que era bom eu já tentar ampliar sua alimentação além do leite materno. Ela me indicou alguns alimentos; o primeiro que tentei foi uma sopinha e um suplemento infantil misturado ao leite da mamadeira. Ela não quis muito a sopinha, mas adorou a mamadeira. Depois de uma semana em que Fernanda só sabia trabalhar e dormir, decidi que era hora de voltar a trabalhar à noite na boate. Ela ficaria com Sophia à noite, achei que assim poderia dormir todas as noites e ter mais tempo para mim.
Trabalhei no final de semana e tanto eu quanto Fernanda dormimos bastante durante o dia. Tivemos poucas interações. Na segunda-feira, quando ela chegou, tomou banho, jantou e logo foi dormir. Aquilo me deixou bastante frustrada, mas eu também estava cansada da academia e preferia dormir cedo. Na terça, acordei bem desanimada; meu esforço não tinha surtido o efeito esperado, Fernanda nem me notava. Pensei em ligar para Ingrid e abrir o jogo com ela, contar tudo, mas não liguei porque Sophia acordou e fui ficar com ela. Acabei indo para a academia e, em vez de voltar para casa, decidi ir à boate. Diego estava no bar, e fui conversar com meu amigo um pouco para tentar me alegrar.
Cheguei e fui para o balcão, pedi uma coca e fiquei de papo com Diego. O movimento estava devagar por ser uma terça-feira; até comentei que achava melhor voltar a abrir o bar só de quarta ou quinta em diante. Ele disse que o movimento nas terças e quartas era menor mesmo. Continuamos nossa conversa por um bom tempo, até que Diego saiu para atender um cliente. Nessa hora vi uma pessoa vindo na minha direção, um homem de uns 35 anos mais ou menos, bem bonito e com um sorriso no rosto. Ele chegou até mim; se apresentou como Robson, disse que trabalhava em uma nova marca de energético e queria saber se poderia vir algum dia para mostrar o produto. Perguntei como ele sabia que eu era a dona, e ele respondeu que já tinha visto fotos minhas e que era difícil esquecer um rosto bonito como o meu. Abri um sorriso maior do que deveria; receber um elogio depois de tanto tempo fez um bem danado ao meu ego, que andava bem ferido.
Falei que ele poderia sim vir me mostrar o produto, indiquei os horários que ele poderia vir. Ele agradeceu e perguntou se podia beber uma cerveja. Respondi que poderia sim. Ele se sentou próximo a mim, pediu uma cerveja para Diego e perguntou se eu queria uma. Disse que não podia, que tinha uma filha de seis meses e ainda estava amamentando, por isso estava evitando beber qualquer coisa alcoólica. Ele ficou espantado e perguntou se era verdade que eu era mãe de uma criança tão nova. Confirmei e perguntei o porquê do espanto. Ele disse que era difícil acreditar, já que eu tinha um corpo tão bonito. Agradeci e disse que tinha me esforçado na academia para recuperar meu corpo de antes.
Continuamos a conversar, e ele era muito divertido, fazia piadas bobas, mas engraçadas. Ele também não perdia a oportunidade de me elogiar; aquilo fazia um bem danado para o meu ego. É gratificante alguém reconhecer nosso esforço, e ainda mais na minha situação. Por causa disso, fui me soltando e, depois de um tempo, parecia que eu o conhecia há muito tempo. Estava tão envolvida na conversa que não percebi a hora passar, só me dei conta quando Diego disse que estava na hora de fechar. Robson perguntou se não podia tomar uma saideira antes de eu ir, e eu disse que podia sim. Pedi a Diego para pegar a última, e depois poderia ir para casa, pois eu fecharia a boate.
Diego se foi; eram quase vinte horas e eu continuei conversando com Robson, me divertindo com suas histórias engraçadas. Acabei pegando mais duas cervejas para ele, o papo estava tão bom que não vi problema. Só percebi a hora quando meu celular tocou; era Fernanda, provavelmente preocupada comigo. Achei melhor não atender, mandei uma mensagem avisando que já estava indo para casa, mas não disse onde e com quem eu estava, arrumei uma desculpa para evitar problemas. Falei com Robson que precisava ir, que minha esposa já estava preocupada com meu atraso. Achei legal que ele reagiu normalmente com essa informação; provavelmente era algo normal para ele, e isso fez ele ganhar pontos comigo. Nos despedimos, e ele perguntou se eu não podia passar meu número, que tinha adorado conversar comigo e queria manter contato. Não vi problemas; ele parecia ser gente boa, poderia ser um bom amigo no futuro.
Cheguei em casa e, para variar, Fernanda estava dormindo. Tomei um banho, olhei para minha filha no berço e ela dormia como um anjo também. Fui me deitar e, antes de dormir, recebi uma mensagem de Robson me desejando boa noite e dizendo que amou me conhecer, que além de eu ser uma mulher linda, era muito interessante. Não respondi, mas dormi com um sorriso no rosto por causa daquele elogio.
Acordei no outro dia e Fernanda já tinha ido trabalhar. Fiz minha rotina de sempre, mas antes do almoço resolvi dar bom dia para Robson e agradecer pela mensagem de boa noite. Ele logo respondeu e começamos a trocar mensagens, e isso durou até a hora que saí para ir à academia. Quando me despedi avisando que tinha que ir malhar, ele perguntou se eu ia todo dia e eu disse que não, mas que gostava. Ele disse que estava no shopping bebendo um suco e que era bobeira eu ir todo dia, que eu tinha um corpo lindo e não precisava malhar todos os dias. Era muito melhor ir jogar conversa fora com ele do que treinar a tarde toda. Pensei no que ele falou; realmente, eu estava me matando na academia. Ele foi o único que elogiou meus resultados. Resolvi ir conversar com ele; pelo menos assim eu iria rir um pouco.
Depois que perguntei em qual shopping ele estava, fui direto para lá. Achei ele na praça de alimentação, me sentei com ele e pedi um suco. Ele estava com aquele sorriso no rosto; eu tinha que admitir, ele era um homem bonito. Mas isso não me importava; o que me importava era que ele me fazia sorrir e me elogiava muito. Eu me sentia muito bem junto dele; era tudo que eu precisava naquele momento. Alguém que me elogiava, que me fazia feliz. Não foi diferente naquela tarde; me diverti com ele e acabei falando algumas coisas pessoais da minha vida, sobre minha família. Contei que meu casamento não estava passando por um bom momento. Ele contou que nunca se casou e que tinha terminado um namoro há cinco meses.
Enquanto conversávamos, vi uma garota na mesa ao lado olhando diretamente para minha mão. Depois, ela falou algo baixinho com uma amiga que estava com ela. A amiga olhou para minha mão, depois para minha cara e só balançou a cabeça. Não entendi o motivo até olhar para minha mão. Minha aliança era larga e tinha algumas pedras brilhantes; com certeza era isso que elas tinham visto. Provavelmente, já pensaram besteira; uma mulher casada ali, no maior papo com um homem que não era seu marido. Aquilo me deixou desconfortável; mesmo sem estar fazendo nada de errado, acabei ficando incomodada com a situação. Tirei a mão de cima da mesa e coloquei no meu colo, fiz aquilo por instinto.
Continuei conversando com Robson. Falamos mais de assuntos pessoais, bem diferente do que da outra vez, em que só jogamos conversa fora. Mas, ainda assim, não vi o tempo passar e quase perdi a hora de ir à boate. Perguntei se ele não queria ir para apresentar os produtos, e ele disse que não, que começava a trabalhar só de sexta-feira em diante. Então na sexta ele iria e talvez já esticasse a noite na boate.
Saí dali com um ótimo humor e fui para a boate. Recebi alguns revendedores e depois fui para casa. Fernanda estava no banho; pensei em entrar para tomar banho com ela, mas mudei de ideia. Não queria forçar uma situação, e ela não parecia nem um pouco interessada em mim. Acabei desistindo e fui olhar minha filha, que estava no berço. Peguei-a e a levei para a sala para amamentá-la. Fernanda não apareceu na sala. Depois de um tempo, fui ao quarto e a encontrei dormindo na nossa cama. Aquilo me deu raiva; ela nem falou comigo, nem jantou, só sabia dormir. Fui para o meu banho e me senti totalmente frustrada.
Na quinta-feira, acordei bem para baixo, mas logo cedo Robson me mandou um vídeo muito divertido que me arrancou alguns sorrisos. Acabou que passamos o dia trocando mensagens, mas fui para a academia, apesar de ele quase me convencer a faltar de novo. Mas não faltei e depois da academia, fui para a boate. Resolvi tudo que tinha para resolver, terminei um pouco tarde, mas mesmo assim fiquei sentada no meu escritório pensando na vida. Precisava conversar com Fernanda; não tinha como continuar daquele jeito. Precisávamos resolver isso, e uma boa conversa, como fazíamos antigamente, iria ajudar. Mas achei melhor deixar isso para o final de semana, quando teríamos mais tempo para conversar tranquilamente, isso se Fernanda não passasse o tempo todo dormindo.
Pensei em ir para casa, mas recebi uma mensagem do Robson me convidando para jantar com ele. Disse que já estava um pouco tarde, mas ele insistiu e acabei aceitando. Ele disse que iria marcar uma reserva e me mandou o endereço. Eu sinceramente não queria ir para casa; sempre que entrava lá, meu humor piorava. Mesmo com um pouco de saudades da minha filha, resolvi ir jantar com Robson; ele sempre melhorava meu humor e eu não queria chegar em casa mal humorada para não correr o risco de discutir com Fernanda.
Ele passou o endereço do restaurante e eu conhecia o lugar; não era dos melhores, mas era um bom restaurante. Resolvi tomar um banho rápido e colocar uma roupa mais adequada. Me arrumei e fui para o jantar. Assim que entrei, informei ao garçom que talvez tivesse uma reserva. Eu não sabia o nome completo do Robson; mandei mensagem para ele perguntando. Ele me passou seu nome completo e disse que iria se atrasar alguns minutos por causa do trânsito, mas logo chegaria. Informei o nome ao garçom e ele confirmou a reserva, me guiando até uma mesa em um canto mais reservado. Achei aquilo meio estranho; o ambiente tinha a luz um pouco mais baixa, a mesa era pequena e tinha velas. Era típico de um jantar romântico; aquilo me incomodou, mas resolvi esperar o Robson para falar com ele. Poderia ser uma confusão do restaurante.
Me sentei e fiquei esperando ele chegar. Olhei rápido ao redor e vi alguns casais no local; aquilo me deixou desconfortável, igual ao que aconteceu no shopping. Instintivamente, abaixei minha mão assim que lembrei das garotas olhando minha aliança. Naquele momento, fiz algo que não deveria: tirei a aliança e coloquei na minha bolsa. Fiquei de cabeça baixa, evitando olhar ao redor; me senti uma criminosa. Foi então que percebi que não deveria estar ali. Robson era um cara legal, mas acho que não deveria ter aceitado jantar a sós com ele; não era certo.
Fui me levantar, mas Robson chegou todo arrumado e se sentou.
Robson— Desculpe a demora. Peguei um trânsito horrível.
Sabrina— Tudo bem. Na verdade, eu já estava de saída. Acho que esse jantar foi um erro. Me desculpe.
Robson— Como assim? O que houve?
Sabrina— Olha, de fora, isso parece um jantar romântico. Não sei se foi um erro do restaurante ou seu, mas não posso fazer isso.
Robson— Fui eu que pedi essa mesa. A gente tem se dado tão bem, pensei em termos um jantar mais íntimo e, depois, quem sabe esticar a noite em outro lugar.
Sabrina— Você só pode estar brincando. Robson, eu sou casada e amo minha esposa. Eu te acho um homem legal, mas como amigo, só isso.
Robson— Você sorriu para todas as minhas cantadas, me deu ideia a semana toda. Como eu não ia entender errado? Poxa, seu casamento está acabado. Se não estivesse, você não estaria aqui comigo.
Sabrina— Meu casamento não está acabado; só estamos em um mal momento. Só vim porque achei que você era um amigo.
Robson— Como não está? Você nem usa mais sua aliança. Porque você na tenta ter um relacionamento de verdade, com um homem, e não isso que você tem?
Quando ele falou aquilo, meu sangue ferveu. Peguei o copo de água que estava bebendo e joguei na cara dele, o chamei de babaca e saí dali sem olhar para trás. Não podia acreditar no quanto eu tinha sido estúpida. Fui para meu carro e segui direto para casa. Estava com muita raiva de Robson e de mim mesma por ser idiota o suficiente para ser feita de boba por um babaca como ele.
Antes de entrar em casa, respirei fundo e tentei agir normalmente para Fernanda não notar. Abri a porta e agradeci a Deus por ela não estar na sala. Juro que se ela tivesse dormido, dessa vez eu não iria me chatear. Resolvi ir à cozinha beber um copo de água e, quando passei pela copa, vi algo que partiu meu coração. A mesa estava arrumada para um jantar a dois. Tinha um buquê de flores ao lado de uma das cadeiras; provavelmente, Fernanda ficou me esperando para jantar comigo, até tinha comprado flores. Nem fui para a cozinha, fui direto para o quarto para ver se ela ainda estava acordada; talvez ainda desse tempo para a gente ter o nosso jantar.
Quando entrei no quarto, a vi sentada na beirada da cama, limpando o rosto. Com certeza, ela estava chorando; aquilo me deu um aperto no peito que fez meus olhos marejarem na hora. Fui me aproximar e foi aí que vi duas malas ao seu lado.
Sabrina— Amor, desculpe, eu me atrasei na boate. Para que essas malas?
Fernanda— Não sou mais seu amor, não precisa mais mentir para mim. Eu vou embora; só não fui antes porque não quero fazer com você, o mesmo que fizeram comigo no passado, mesmo você merecendo. Sei que para você não faz diferença, mas queria te avisar antes de ir.
Aquilo não podia ser verdade; eu não estava entendendo direito o que estava acontecendo, mas algo me dizia que meu casamento estava acabando ali, naquele momento.
Continua…
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper