Capítulo 9 - A Vingança. Final.

Um conto erótico de O.S.N
Categoria: Heterossexual
Contém 1936 palavras
Data: 30/09/2025 17:15:49

Quase 4 meses haviam se passado desde a prisão de Marcela. Meu plano toda fora concluído com êxito mas a mácula na minha alma e no meu coração ainda estavam lá. Nada mais séria como antes.

Tia Maria, a figura materna que me mostrou o que é ser mãe, teve diversas complicações. Ela me excomungava, se negava a aceitar que eu bancasse os tratamentos das sequelas do infarto e depois AVC que teve. Tive que usar a Valéria para que ela acreditasse que uma fundação de pesquisa a estava usando e custeando seu tratamento. Ela se ressentia de mim mas não me odiava. Após os tratamentos, tivemos um raro momento a sós onde ela não me xingou:

- Eu queria dizer que me arrependo do que fiz, tia, mas eu nunca menti pra você. Você é a mulher a quem mais estimo em toda a minha vida porque a senhora me deu o amor que todo filho merece mas eu nunca tive. O que eu fiz foi pelo que me foi tomado. Quando André partiu, ele destruiu a única família que já amei... Eu não vou mais incomodar a senhora mas gostaria que não fizesse tão mal juízo de mim. Porque eu ainda te amo e continuarei te amando como minha mãe...

Eu via a confusão em seus olhos através dos meus. Sentia-os marejados e o fim do discurso minha voz embargava. Queria abraçar aquela mulher e dizer que ficaria tudo bem mas eu nunca menti pra ela e não ia começar a fazê-lo no fim. Antes que ela pudesse tomar qualquer atitude, me levantei e saí. Eu seria um constante lembrete de que seus filhos não estariam mais com ela. Ela seria a eterna lembrança do que eu já fui. Essa foi a última vez que vi a Tia Maria.

Encontrei com Mario e Lívia em um evento no teatro municipal e eles foram uma bela visão. Estavam felizes. Os olhos brilhavam quando se olhavam e dilatavam em sinal de desejo. Pareciam ainda adolescentes. Cochichando e se acariciando em meio ao evento. Ela, sempre bem vestida. Em um vestido carmim de fenda alta e ele em um impecável terno de alfaiataria. Mario havia ficado mais elegante por causa de Lívia e agora eles eram um casal poderoso. Não no sentido mafioso mas no sentido de ser um casal que poderia fazer o que quisessem. Me mantive afastado. Evitei que me vissem e saí sem ser notado.

Daniel e Valeria ainda me viam pois me davam relatórios de tempos em tempos sobre a saúde de Tia Maria. Eles não se casaram. Diziam que não tinham tempo mas pelo menos pro mais importante, eles ainda conseguiam reservar alguns momentos: um para o outro. Faziam viagens periodicamente já haviam visitado todo o brasil e planejavam fazer um mochilão pela Europa.

Quase um ano depois, meu telefone toca. Eu escutava água do chuveiro caindo e vou atendê-lo após aquele barulho desconfortável me tirar da letargia. O banheiro parecia uma nuvem ambulante de vapor. Fui até o telefone e me surpreendi por quem era. Luciana. Nos falamos rapidamente para marcar um encontro. Ela pediu que fosse na Colombo. Não a confeitaria do centro. A do Forte de Copacabana. Eu já sabia ainda era a favorita dela

No horário marcado estava lá. Sentado em uma mesa tomando meu café e curtindo a brisa de um dia quente de verão. Ela Não tardou em aparecer. A vi chegando de longe. Seus cabelos vermelhos agora cortados em um Chanel moderno, uma calça leve que, a menor brisa, colava o pano em sua pele e marcava todos os seus contornos. É uma regata branca básica que delineada os seios. Os mamilos denunciavam a falta de soutien mas, até onde eu lembre, ela nunca curtiu.

Chegou até mim com um sorriso difícil de decifrar. Talvez esperançoso, ou lúdico... O importante é que não era triste. E eu fiquei verdadeiramente feliz em vê-la. Me levantei e estendi a mão pra ela, que foi solenemente ignorada. Meu pescoço foi enlaçado e ela me abraçou e me beijou a face. Afundou seu rosto em meu peito. Além de pego desprevenido, confesso que aquele cheiro me trouxe boas lembranças. Apontei a cadeira para que sentasse e ergui a mão chamando um atendente. Assim que chegou, ela não me deixou fazer o pedido:

- um café puro pra ele é um tchai pra mim - disse me olhando sorridente.

Eu estava surpreso. Não somente pela atitude mas também pela novidade nos gostos. Ela sempre teve o paladar meio infantil e agora pedia com propriedade. Como se sempre tomasse isso.

- é bom te ver. Você parece feliz e... Tem mais alguma coisa...

- dona de mim. Pela primeira vez na vida, eu me sinto dona de mim. - disse me olhando de uma maneira diferente. Tinham muitos sentimentos misturados naquele olhar.

- por que agora, Luciana? Já faz quase 1 ano. Por que esse encontro agora? - disse com real interesse.

- nos devemos isso. Eu nunca soube o que me levou àquilo. Mas agora eu sei. - disse com uma seriedade subita.

Apenas a observei enquanto nossas bebidas chegavam, como quem dá sinal verde para começar.

- primeiro, vamos por as cartas na mesa. Eu não vim aqui querendo retomar nosso relacionamento mas vim aqui querendo você, algo novo, nosso e dessa vez, verdadeiro. - ela pigarreou quando viu meu cenho se enviesando.- eu sempre fui a filha perfeita: nunca dei trabalho! carinhosa, educada, prestativa. Também fui a aluna perfeita: atenciosa, aplicada, participativa. Uma amiga maravilhosa: empática, cuidadosa... E uma esposa perfeita. Sempre ao seu lado. Em tudo e em todos os sentidos.

Aquilo me causou um leve desconforto como quando alguém tenta fazer parecer que você fez ou exigiu algo que não fez. Me empertiguei na cadeira e ela continuou:

- Eu fui muitas coisas pra todo mundo, menos pra mim. Eu era perfeitinha demais, previsível demais... E isso me consumia por dentro. - ela respirou fundo. Aquele respiro antes de um mergulho longo - quando eu flagrei Marcela e Murilo pela primeira vez, aquilo me deu um asco tão grande!! Eu ia contar até perceber que aquilo me excitou... - dizia sem vergonha alguma como se aquilo fosse normal.

Me empertiguei na cadeira e talvez ela tenha entendido esse gesto de maneira errada, e continuou:

- não Alda forma como imagina. Eu também confundi. Me excitava o fato de ter aquele segredo. Algo sujo. Eles vieram até mim e Marcela me seduziu... Eu nunca havia estado com outra mulher até aquele momento. E foi algo surreal mente devasso e sujo. E eu senti de novo aquela excitação. Murilo só completou aquela coisa por causa de Marcela mas não era o sexo que me dava prazer. Esse prazer, nunca me faltou em casa - sorriu.

Ela sorvia mais um tanto do tchai. E depois continuava:

- depois da confusão... Depois que demos um tempo, eu tava perdida. Eu realmente não sabia o por que havia feito isso. E essa conversa só acontece agora por conta de meses de terapia. Tudo que aconteceu foi porque eu não queria mais ser a perfeitinha! Não queria mais fingir pra ninguém e ser eu mesmo! Uma pessoa normal com falhas e acertos! Mas eu nunca tive espaço pra isso... Nem com você! - disse me encarando, séria.- eu fiz a maior imbecilidade que poderia pra mostrar pra todos que eu não era a Barbie Perfeitinha... É isso acabou causando... - seus olhos começaram a marejar mas ela respirou fundo e sacudiu a cabeça, balançando seus cabelos e espalhando aquele perfume adocicado.

Apenas a observei e tomei mais um gole do meu café. Observei a hora e a encarei novamente, aguardando que continuasse.

- você sempre foi perfeito, Lipe. - e dessa vez me olhava com grande carinho e até admiração - você sempre foi gentil... De todas as formas! Com todas as pessoas... Sempre inteligente e tudo o que construiu não negão isso! É muito difícil estar ao seu lado... Parece sempre que eu tinha que me mostrar digna de estar ali, tinha que estar sempre a sua altura... E eu me senti diminuída incontáveis vezes... Ignorada por pessoas que se aproximavam de você. Mas agora... - estendendo o braço pela mesa pra tocar a minha mão.

Aquele toque me dava arrepios mas não tirei a mão.

- Agora eu sei quem eu sou, Felipe. Agora sei da minha força e quero de volta o que eu perdi quero nós dois mas dessa vez sem sombras, andando lado a lado.

Recolhi a mão a deixando desarmada. Ela me olhava enquanto Bebiano meu café. Olhava mais uma vez para o meu relógio e voltava a encara-la. Antes de começar a falar, eu ri. E ela percebeu nesse instante, que o que vinha não seria bom

- que baboseira estapafúrdia foi essa? Queria perder o rótulo de perfeitinha? Brigasse com seus pais, roubasse alguém, batesse em uma criança, chutasse um cachorro... Olha, essa foi criativa! - quase escutei sua máscara trincando.

- eu nunca pedi nada de você além de fidelidade e lealdade. Eu te amaria de qualquer jeito. O que me importava era quem eu achava que você era... Eu gostava de quem eu era quando estava contigo. Eu nunca te pedi nada e sempre te apoiei em tudo então não me venha dizer que EU exigia algo de você. - olhava pra ela ainda sim com certa pena.

- Luciana, eu realmente não sei o que esperava dessa conversa mas vou aproveitá-la. - pensei que estaria furioso mas de verdade, eu não sentia nada. - eu queria te agradecer. Naquele dia, você matou a minha Luciana pra mim e matou também o seu Felipe pra você. Eu era bobo demais, complacente demais... Preferia não brigar pelas minhas opiniões... E agora isso mudou. Hoje detesto humildade. É só um jeito socialmente aceito de mentir. Hoje sou um homem poderoso, temido, magnético... Basta olhar as mesas ao redor. - Luciana constaria que todos o olhavam de soslaio, principalmente as mulheres.

- Luciana, no fim das contas, você não era o destino. Você era o caminho. Você foi a lição para que encontrasse o meu caminho e... Eu finalmente o encontrei.

Naquele momento, um lindo sorriso se abre no meu rosto. Aquele barulho inconfundível do salto se chocando contra as pedras. Aquele perfume que faz meu corpo reagir ardendo de desejo. Olho por sobre o ombro e vejo Duda há alguns passos ainda. Estava linda em um vestido azul. Seus cabelos voando e seus olhos protegidos por óculos escuros.

- desculpa, Luciana, mas isso não é um oi. Isso é um adeus. Você foi minha princesa, um amor juvenil puro e quase infantil. Foi algo que eu precisava passar pra me abrir pro mundo. - já me levantava quando ela chegou.

- Luciana, essa é Duda, minha mulher - eu olhava pra ela como alguém que admira uma obra de arte, que tem em mãos um tesouro raro. Luciana percebeu isso. E vi uma lágrima rolar em seu rosto. Duda a cumprimentou com um sorriso e um aceno de cabeça. Não havia troça.

- vamos, Felipe. Já estamos atrasados e eu estou muito animada com o voo. - ela poupou o vocábulo. Já havia dito que faria muitas coisas comigo dentro do helicóptero.

- adeus Luciana. Seja feliz e seja você mesma.

No fim, acho que acabei reservando a pior vingança pra quem mais amei. Não foi imposto ou planejado mas não sentia absolutamente mais nada por ela, apenas pena. Duda. Essa era a mulher pra mim. Era forte, tinha presença, me desafiava com seus gestos e me dominava com o olhar. Nunca mais ouvi falar de Luciana mas soube anos mais tarde que tinha se unido a um casal e vivia uma vida da forma como queria, enquanto viajávamos com nossos filhos e amigos.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 37 estrelas.
Incentive Mhcmm a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

A Luciana tava até me convencendo, po, mas o Felipe a destruiu por completo quando disse que tudo que ela falou era apenas baboseira. De todas as vinganças, a dela foi a pior. A vingança perfeita. Nota 10, meu amigo.

Fico no aguardo dos próximos contos que você postar!

1 0
Foto de perfil genérica

Boa Carlos meu amigo

Cara , Vc acredita que gostei da Luciana, pena que o tempo dela passou , eu via uma vibe boa no casal .

Na parte que morre o amigo me arrepiou.

Conto muito bom

0 0
Foto de perfil de Sensatez

Poh, Doda, tu gosta de mulher que traí, até entendo, o corpo é dela, faz o que bem entender, isso é lugar comum, mas uma mulher que trai um amor bonito, sem motivo algum, e o pior, com um cara vacilão em todos os sentidos, jogando na sarjeta um cara bacana que só fazia ama-la, aí não meu amigo, revê aí, no final ela até merecia o perdão, mas gostar dela e torcer para uma possível reconciliação é forçar a barra um pouquinho, né não kkkkkkkkkk

1 0
Foto de perfil genérica

Boa Sensatez meu Amigo

Rs , não é isso mano que eu quis dizer .

Vc esta coberto de razão, a mulher vacilou demais.

Eu quis dizer que o casal tinha uma química, eu torcia pela Luciana pelo jeito carinhoso ,sabe ,senti uma você Boa do casal , tem gente que nao aceita traição que foi o caso do protagonista e com toda razão, ate mesmo no meio liberal tem homem que nao aceita traição e a maioria das separação no meio liberal é por causa de traição.

Mas o ser humano é bicho solto né ?

Um cara bacana , carinhoso e trabalhador ,ai a mulher se achando perfeita demais acaba o traindo com um traste .

0 0
Foto de perfil de Sensatez

O que eu vou dizer não é crítica, é vontade de mais, mais tempo, mais detalhes, mais reações às vitórias do Felipe, realmente não é crítica, o formato está muito bom, mas de tão bom, deixa um gostinho de quero mais.

Na minha opinião, a lição deixada neste belíssimo conto, é que a melhor vingança para uma traição, é seguir em frente, se reestruturar, ser feliz e se possível encontrar o verdadeiro amor, isso sim é vingança.

Entretanto, minha opinião em caráter pessoal, seria de que Felipe é um cara melhor do que eu, se eu tivesse a mesma oportunidade, faria as vinganças do mesmo jeito, mas mudaria o tratamento com a Luciana, daria o desprezo total, sem nenhuma palavra ou empatia, seria uma pessoa abduzida da minha vida,

Parabéns pela finalização deste empolgante conto.

0 0
Foto de perfil genérica

É a primeira vez que escrevo... Eu releio depois e vejo tanta coisa que podia melhorar... RS em um próximo eu darei mais atenção ao final. Mas agradeço a todos que acompanharam e curtiram

0 0