Ainda confuso e imerso em pensamentos desci as escadas devagar, queria conversar com Raul e falar que tudo era um mal entendido, sentia algo em meu peito que não conseguia nomear. Raul estava na cozinha, mexendo no celular enquanto bebia água direto da garrafa. Cada passo que eu dava parecia aumentar o nó no meu peito — vergonha, raiva, excitação, tudo misturado de uma forma que me deixava tonto.
— Raul… — comecei, a voz falhando um pouco. — Aquilo lá em cima, eu…
Ele ergueu a mão antes mesmo que eu terminasse.
— Não precisa se explicar, Marcos. Não tem nada pra justificar — disse, sem olhar diretamente pra mim, como se estivesse apenas afirmando um fato óbvio.
— Estou apenas deixando você ser quem você é de verdade. Ele continuou
— Do que você tá falando Raul? Questionei com a voz tímida.
Ele finalmente me olhou, com aquele jeito meio entediado, meio impaciente.
— Existem dois tipos de homem, Marcos — ele continuou, encostando-se na pia. — Os machos, que nasceram para liderar, que ocupam espaço e fazem as coisas acontecerem como eles querem… e os outros, como você. Você pode ter nascido um homem, mas nunca foi um macho. O mundo tem uma hierarquia natural, e você está abaixo. Sempre esteve.
Fiquei ali, parado, sentindo cada palavra afundar um pouco em meu peito. Não havia raiva explícita no tom dele. — era como se estivesse descrevendo a cor do céu. Algo que não precisava ser questionado.
— Sabe, Marcos — continuou agora mexendo no celular sem sequer levantar os olhos —, você tentou não ser assim e ir contra sua natureza. Tentou parar de fazer minhas coisas, tentou se afastar… mas olha só onde você está agora. — Ele ergueu o olhar, fixando em mim com um ar de deboche. — Correndo atrás de mim de novo, querendo agradar.
Engoli em seco, sem ter uma resposta pronta.
Ele deu alguns passos e parou diante de mim, inclinou um pouco a cabeça.
— Sabe, Marcos… isso não começou hoje. — Ele deu uma risadinha curta, quase sem humor. — Desde moleque eu percebia. Você sempre foi assim comigo. Lembra quando eu chegava da escola e pedia ajuda com o dever, e você largava o que tava fazendo? Lembra como você ficava me admirando quando eu estava largado no sofá sem camisa? Ou quando eu fazia bagunça na sala e era você quem ficava pra arrumar depois?
Baixei os olhos, sem saber se aquilo era uma acusação ou só uma constatação.
— E o mais engraçado — ele continuou, inclinando a cabeça — é que você sempre foi o mais velho. O mais velho, Marcos. Era para você ser meu exemplo de irmão, acabou cedendo aos meus caprichos, correndo atrás de mim, um moleque mais novo que você que chegou em sua casa e ditou como as coisas seriam desde o princípio.
Aquela lembrança do passado me atingiu fundo. Eu tentava buscar justificativas, mas nada parecia firme o bastante.
— Isso é normal, sabia? — Raul sorriu de lado. — Pessoas como você acabam assim. Submissos. Sempre encontram um macho pra se apoiar, pra servir.
— E olha só pra você agora — ele disse, rindo de leve, apontando com o queixo para o tecido que eu segurava sem perceber que ainda estava com ele — Ainda com isso na mão. Pessoas como você precisam disso, né? Sentem essa necessidade de adorar seus machos.
— Não posso nem imaginar o tanto de punheta que você já bateu pensando em mim marcos, lembrando do meu cheiro. Ele falou de forma debochado.
— Não adianta — ele prosseguiu, com a confiança de quem sabe exatamente o efeito que causa. — Vamos deixar as coisas serem como são. Eu sou o macho da casa, e você… você é meu capacho.
— Se eu sujo, você limpa. Se eu peço, você faz. É assim que funciona. Só assim você vai ser feliz — disse, com um sorriso quase suave, que contrastava com o peso de suas palavras —, e eu também.
— E quem sabe, se você fizer tudo que eu mando em compensação, talvez eu permita que você não adore só minhas cuecas… mas a mim também.
Essa última frase do Raul ficou ecoando na minha cabeça como um sussurro que não se desfazia:
(E quem sabe, se você fizer tudo que eu mando… em compensação, talvez eu permita que você não adore só minhas cuecas… mas a mim também)
Foi dito com aquele tom, nunca deixando claro o que era promessa e o que era deboche. Mas para mim… aquilo soou como uma chance. Uma fresta aberta.
Senti um aperto no peito, um calor estranho percorrendo meu corpo. Era uma esperança torta, silenciosa, mas forte. Como se todas as humilhações, todos os favores, toda a submissão, pudessem ser, de alguma forma, o caminho para ter ele ao meu lado, era tudo que eu mais queria — ser visto, ser escolhido, ser desejado.
Raul riu baixo, deu dois tapinhas leves no meu ombro e foi saindo, deixando atrás de si aquele rastro de superioridade que já estava impregnado na casa.
Quando estava prestes a sair da cozinha ele para e fala.
— Não esqueça de lavar o copo que deixei na pia, e continuou seu caminho.
Eu fiquei ali parado, coração acelerado, não estava com raiva nem nada do tipo, acho que estava ansioso e um pouco excitado com a conversa que acabava de se encerrar.
Lavai o copo como ele tinha mandado, e subi para meu quarto, ao chegar no corredor a porta do quarto do Raul estava fechada.
Entrei em meu quarto, fechei a porta e naquela noite, eu coloquei a cueca ao lado do travesseiro. E quando me deitei para dormir apertei ela contra meu rosto e senti aquele cheiro de macho e suor entrar em minhas narinas, era o cheiro de Raul. Meu pau ficou duro na mesma hora e eu não me contive, bati várias punhetas com a cueca em meu rosto, até finalmente cair no sono.