Me chamo Pedro. Tenho 24 anos, corpo definido, pele morena, 1,80m de altura — e uma vida, até certo ponto, comum. Faço Engenharia Civil e moro com meu irmão gêmeo, Carlos. Ele tem 1,90m, é tão forte quanto eu, e estuda Engenharia da Computação. Por fora, parecemos espelhos imperfeitos. Por dentro, partilhamos algo mais raro que a semelhança física: cumplicidade.
Esta é a história de como ambos nos apaixonamos por João — e de como escolhemos não competir por ele, mas compartilhar algo que, para muitos, seria impensável.
João era um colega de escola. Tinha um jeito suave, corpo elegante, olhos que não fugiam do olhar. Um pouco mais velho que a gente — 25 anos —, ele transitava pelos corredores com aquela popularidade que não se escolhe, apenas acontece. Eu e Carlos sempre comentávamos sobre ele. A princípio, em tom de brincadeira. Depois, com a honestidade de quem já não precisava esconder o desejo nem de si mesmo.
O primeiro momento real aconteceu como tantos outros: em silêncio. Um trabalho de escola em uma tarde qualquer, João sentado entre nós no sofá. Não lembro o que estudávamos, mas lembro o que senti quando nossos joelhos se tocaram. O primeiro beijo veio como um segredo partilhado, não entre três, mas dois a dois — nunca entre mim e meu irmão. Porque, apesar de sermos muito unidos, nunca houve nenhum tipo de interesse além disso entre eu e Carlos. Nossa proximidade era fraterna, íntima, mas jamais cruzou outra linha — ao menos até então. (E, no fundo, me pergunto se ela realmente não seria cruzada algum diaFoi depois daquele dia que conversamos a sério. E, ao contrário do que o mundo esperaria de dois irmãos apaixonados pelo mesmo homem, não houve disputa. Houve acordo. João sabia. João aceitou. E aos poucos, viramos três.
Nossa família, curiosamente, não foi o obstáculo que temíamos. Crescemos em um lar liberal, onde descobrimos anos depois que até nossos pais tinham seus próprios acordos conjugais (apesar de terem um relacionamento fechado), velados à infância, mas revelados com o tempo. Quando contamos sobre nosso trisal, houve espanto — sim. Mas também houve respeitoCerta noite, nossos pais estavam em viajem, e convidamos João para dormir conosco. A casa estava em silêncio, e o frio pedia cobertores e filme. Ele chegou com sua mochila desajeitada e sorriso torto, jogou os tênis no canto e veio até a sala.
— Que tipo de filme vocês querem? — perguntei.
— Romance — disse João, sem hesitar.
— Terror — retrucou Carlos, com um meio sorriso.
No fim, escolhemos o romance — por João. Sempre por João.
O filme rodava lentamente, quase em silêncio, enquanto a luz da TV tingia a sala com tons azulados. As vozes dos personagens murmuravam uma paixão nascida de acasos, como se refletissem, de algum modo, a nossa própria história.
João estava entre nós dois, deitado no meio do sofá, com as pernas encolhidas e uma manta fina sobre os joelhos. Senti sua respiração desacelerada, o corpo mais relaxado. Talvez pela intimidade, talvez pelo enredo romântico que dançava na tela.
Em uma cena, o casal do filme se entregava a um beijo longo, cheio de intenção. João desviou o olhar da TV, como se quisesse escapar daquele momento — ou mergulhar nele.
Inclinei-me devagar até seu ouvido.
— Você está uma delícia — sussurrei, deixando minha mão repousar sobre sua perna, leve como uma promessa.
Continua
História fictícia (em um tom mais literário)