Levei um baita susto quando Fernanda apagou ali na minha frente. Seu tronco tombou devagar para frente, e sua cabeça se apoiou no meu ombro. Gritei por ajuda, e não demorou para uma enfermeira aparecer correndo pela porta. Expliquei o que tinha acontecido, e ela veio ajudar, mas quando colocou as mãos nos ombros de Fernanda para tentar puxar seu corpo para trás, Fernanda acordou meio assustada.
Fernanda— O que aconteceu?
Sabrina— Você desmaiou, amor. Quase morri de susto.
Fernanda— Provavelmente é cansaço. Mas já estou bem, não se preocupe, amor.
Sabrina— Você não está bem; só de olhar para o seu rosto dá para ver que você está destruída e você acabou de desmaiar aqui na minha frente.
Pedi à enfermeira para chamar um médico para dar uma olhada na Fernanda, mesmo com os protestos dela. A enfermeira concordou e saiu rápido, dizendo que já voltava. Fernanda encostou-se na cadeira e respirou fundo.
Sabrina— Por que você não foi descansar, amor? Ou poderia ter ficado aqui comigo; pelo menos, aqui daria para você dormir um pouco. Não precisava ir ajudar na boate.
Fernanda— Meu plano era ficar aqui mesmo com você, mas Diego estava com medo de dar alguma confusão na boate e os seguranças acabarem perdendo a linha. Ele parece não confiar muito neles sem você por perto. Eu fui ajudar, não queria que você acordasse com mais um problema para resolver. Eu também sei que a boate é a coisa mais importante na sua vida; é seu sonho, amor. Eu não iria correr o risco de deixar algo ruim acontecer lá enquanto você estava aqui em uma cama de hospital.
Sabrina— Diego tem razão em pensar isso; alguns dos seguranças são meio agressivos às vezes. No início, me causou alguns problemas, mas fui controlando eles e até pedi para o dono da empresa trocar alguns. Eu sinceramente te agradeço pela sua boa intenção. Mas, por favor, nunca mais faça isso. Sua saúde vem em primeiro lugar! Você já tinha dormido pouco de sexta para sábado, e depois de tudo que aconteceu naquela maldita festa, você ir trabalhar a noite toda é loucura. Olha como você está, amor.
Fernanda— Eu sei, amor, me desculpe. Eu sinceramente não pensei direito. Só sei que não podia deixar de tentar ajudar.
Sabrina— Tudo bem, já passou e não tem como voltar atrás. Não quero que isso vire uma discussão. Então vamos esquecer isso e esperar o médico para ver como você está. Ah, só mais uma coisa— a boate não é a coisa mais importante para mim, você é! Então, toda vez que for tomar uma decisão, lembre-se disso; você vem em primeiro lugar para mim, sempre.
Fernanda abriu a boca para dizer algo, mas foi interrompida pela entrada da enfermeira e mais duas pessoas. Eram dois médicos; um perguntou a Fernanda se ela podia ir com ele até outra sala, e ela disse que sim. Eles saíram acompanhados pela enfermeira que tinha nos ajudado. O outro médico se aproximou com uma prancheta nas mãos e disse que tinha boas notícias para me dar.
Ele disse que todos os meus exames estavam ótimos, que eu não tinha sofrido nenhum tipo de dano na cabeça, além do corte. Que, além dos ferimentos, eu estava com a saúde perfeita e iria me liberar para ir para casa. Ele disse também que não havia mais motivos para eu permanecer no hospital. Me pediu para evitar fazer movimentos bruscos com meu braço direito, para trocar os curativos do corte todos os dias, para eu tomar o anti-inflamatório e o analgésico que ele iria me passar. Deu-me mais alguns conselhos para minha recuperação e disse que em dois meses eu poderia vir ao hospital para retirar o gesso.
Eu estava agradecendo a ele quando vi meu pai entrar pela porta. O médico disse que logo uma enfermeira traria as receitas dos remédios e minha liberação. Ele se despediu da gente e se foi. Meu pai perguntou por Fernanda, e eu expliquei o que houve. Ele disse que iria ver como ela estava e já voltava para a gente ir para casa.
Meu pai demorou um pouco e, quando voltou, disse que Fernanda estava bem; só estava tomando soro na veia e logo voltaria para o quarto. Me disse que o médico disse a ele que achava que ela estava apenas cansada física e mentalmente, que só precisava de descanso para melhorar, mas iria pedir uns exames para confirmar. Meu pai terminou de falar e sentou na cadeira ao meu lado.
Pai— Sua mãe está muito arrependida e preocupada com você. Ela disse que não queria que nada disso tivesse acontecido. A ideia era te deixar sozinha com Hugo para ele se desculpar com você e tentar se aproximar, dizendo que só queria sua amizade e tentar lhe dar um abraço ou pelo menos pegar em suas mãos. Enquanto isso, sua mãe passaria perto de Fernanda e daria uma provocada nela o suficiente para que ela fosse atrás de você. A ideia era que Fernanda visse você e Hugo em um momento íntimo. Abraçados ou de mãos dadas, se possível; Hugo tentaria te roubar um beijo assim que Fernanda tivesse vocês no campo de visão. Isso faria vocês terminarem, e o caminho ficaria livre para Hugo tentar te conquistar. Mas as coisas deram errado; ela disse que nunca imaginou que Hugo poderia te agredir ou fazer algum mal a você.
Sabrina— Sinceramente, eu nem sei o que dizer. Mas quanto mais eu fico sabendo dessa história, mais eu sinto nojo dos dois. Você acredita nela, pai?
Pai— Eu acredito sim; sua mãe pode ter os defeitos dela, mas ela jamais iria pedir para Hugo te agredir ou algo assim. Eu realmente acho que essa é a verdade. Não que isso melhore as coisas para ela.
Sabrina— Acho que eu também acredito. Mas o senhor tem razão; isso não melhora nada a situação dela. Primeiro, eu já tinha avisado a ela que Hugo era um homem agressivo. Ela não acreditou porque não quis. Esse plano idiota nunca daria certo, e mesmo que desse e eu terminasse com Fernanda, eu jamais teria algo com um babaca como o Hugo. Olha, pai, eu não quero ver minha mãe, não quero as desculpas dela e nem nada disso. Só quero que ela fique longe de mim e da Fernanda.
Pai— Eu te entendo, minha filha. Não é só você que perdeu a paciência com sua mãe; eu falei um monte de coisas que ela precisava ouvir já há muito tempo. Depois peguei umas roupas e saí de casa. Estou em um hotel por enquanto; depois eu vou resolver o que fazer do meu casamento e com minha vida. Só sei que não consigo mais ficar na mesma casa que ela.
Sabrina— Pai, eu sinto muito! Eu nunca quis te causar qualquer tipo de problema.
Pai— Mas você não fez nada de errado. Quem causou os problemas foi ela e não você. Não tem motivo algum para você se desculpar comigo.
Nossa conversa foi interrompida com a chegada da enfermeira com minha receita e minha alta. Fui ao banheiro e vesti uma roupa que Fernanda tinha deixado para mim e saí com meu pai. Fomos até a sala onde Fernanda estava, e vê-la ali abatida me partiu o coração. Fiquei ao seu lado até ela terminar de tomar o soro, e saímos para ir para casa. Meu pai levou nós duas até uma farmácia, comprou os remédios para mim e nos levou até meu apartamento. Fernanda já entrou e avisou que iria tomar um banho rápido; eu fui com ela, estava doida para tirar aquele cheiro de hospital do meu corpo. Ela se lavou primeiro e me ajudou, já que eu estava com alguma dificuldade por estar com o braço direito engessado. Depois do banho, ela foi direto para a cama; nem se vestiu, se jogou nua na cama, e acho que antes de eu deitar, ela já tinha dormido.
Eu não consegui dormir, fiquei pensando em tudo o que aconteceu, e lembrar de tudo só me deixava mais com raiva. Mandei uma mensagem para Diego e pedi para ele me ligar assim que pudesse. Depois liguei para Henrique e contei a ele as novidades. Pedi para ele guardar meu carro, que depois eu o pegaria ou pediria para alguém buscar. Ele me disse que eu poderia ficar tranquila, que levaria o carro para mim mais tarde. Que Marina queria me ver e ele iria aproveitar para levar o carro. Eu disse que adoraria que Marina viesse, pois queria agradecer tudo que ela fez pessoalmente e convidei-os para vir almoçar comigo. Ele disse que iria sim.
Fiquei o resto do tempo pensando na vida, mas isso não estava me fazendo muito bem, e resolvi ver um pouco de TV para tentar me distrair. Não achei nada interessante, então resolvi levantar e preparar algo para comer. Foi complicado fazer um simples sanduíche usando só a mão esquerda; eu ria de mim mesma em algumas situações simples que agora estavam bem complicadas de fazer. Mas consegui fazer o sanduíche, e enquanto comia, me toquei que não conseguiria fazer um almoço, e Fernanda provavelmente iria dormir o dia todo. Não tinha outra saída a não ser pedir o almoço em um restaurante, e era melhor eu procurar logo um aberto aos domingos. Não foi difícil de achar, e fiz o pedido.
Era quase onze horas quando Diego me ligou. Ele estava todo preocupado comigo, mas tratei de acalmá-lo. Ele me contou que Fernanda o ajudou muito, fez tudo que eu fazia na boate e perfeitamente bem. Eu perguntei se os funcionários a trataram bem, e ele me contou que super bem, já que foi uma ordem minha. Fiquei sem entender até que Diego me contou que Fernanda mandou uma mensagem no grupo do WhatsApp da boate como se fosse eu. Na mensagem, ela disse que eu tive um mal-estar e não poderia ir na boate naquela noite, mas estava mandando minha namorada no meu lugar. Que ela tinha a minha autorização para resolver qualquer problema e era para todos a tratarem muito bem e respeitarem sua autoridade. Eu comecei a rir e Diego também. Ele disse que ela foi muito inteligente e que ninguém questionou nada do que ela fez ou falou. Conversei com Diego por mais um tempo e ele parecia muito agradecido à Fernanda; no fundo, eu também estava, porém o resultado final não era algo que eu queria que voltasse a acontecer.
Depois que falei com Diego, fui vestir uma roupa mais adequada para receber minhas visitas, e elas chegaram quase juntas com minha encomenda. Expliquei a situação para meu irmão e cunhada. Marina disse que não tinha problema algum e foi arrumar a mesa para almoçarmos. Expliquei que seria só nós três, que Fernanda estava dormindo e provavelmente só acordaria na hora do jantar.
Durante o almoço, Marina e Henrique me contaram tudo o que aconteceu na festa. Fiquei muito feliz em saber dos detalhes de quando Fernanda xingou minha mãe e falou um monte para ela. Eu queria muito ter visto isso! Também agradeci meu irmão e Marina pela ajuda, principalmente a Marina, que além de me ajudar, ainda colocou minha mãe para fora. Eu contei a eles todas as novidades que eles ainda não sabiam, e Henrique disse que meu pai até demorou a sair de casa. Marina ficou muito preocupada com Fernanda e disse que se a gente precisasse de qualquer coisa, poderia contar com ela, que eu poderia ligar a qualquer hora. Eu agradeci e disse que, se precisasse, eu ligaria para ela sim.
A comida estava boa e as companhias melhores ainda. O papo no início foi meio tenso por causa de tudo que aconteceu, mas logo ficou mais leve, e nem vi o tempo passar. Eles saíram do apartamento já eram quase duas da tarde, e meu irmão deixou as chaves do meu carro comigo; ele tinha deixado no estacionamento do prédio. Aquilo com certeza iria facilitar as coisas. Eu não poderia dirigir, mas Fernanda sim, e nos próximos dias eu iria precisar da ajuda dela. O mais prático seria deixar meu carro com ela, e era isso que eu iria fazer.
Fui para meu quarto e Fernanda ainda dormia. Tirei minha roupa e deitei ao seu lado. Fiquei ali olhando ela dormir e admirando o quanto ela era linda, mesmo com a cara amassada no travesseiro e o cabelo todo bagunçado. Eu tive uma sorte imensa de tê-la encontrado; ela era perfeita em todos os sentidos. Eu não poderia ter escolhido ninguém melhor para viver ao meu lado. Com esses pensamentos, decidi que, dali para frente, eu iria fazer de tudo para cuidar dela como ela cuidava de mim. Porém, queria fazer isso do jeito certo, sem sufocá-la ou interferir na sua vida profissional ou financeira. Eu não queria que ela se sentisse um fardo para mim, mas eu poderia ajudar a facilitar algumas coisas para ela. Comecei a pensar em algumas maneiras de fazer isso e tive algumas ideias, mas eu iria esperar a poeira dessa confusão toda passar e só depois pôr meu plano em ação.
Fiquei ali velando seu sono por um bom tempo, mas acabei dormindo também. Acho que os remédios que tomei ajudaram nisso. Quando acordei, ela já não estava mais na cama. Ouvi barulhos vindo do banheiro e logo ela apareceu, toda sorridente e com um aspecto bem melhor do que quando estava no hospital.
Ela veio até mim e se sentou na beirada da cama. Me disse que estava pensando em pedir alguns dias de folga para cuidar de mim. Eu disse que não precisava, mas não acharia ruim se ela conseguisse esses dias de folga para ficar comigo. Ela riu e disse que iria pedir pelo menos uma semana diretamente para o patrão dela, que provavelmente ele iria dar essa semana de folga a ela porque ele era um patrão muito gentil. Rimos juntas, e eu a puxei para a cama. Ficamos ali abraçadas e ela perguntou se eu estava com alguma dor. Eu disse que não, que estava bem.
Contei a ela sobre a ligação de Diego, e ela explicou que não foi difícil fazer o que eu fazia na boate, porque já tinha visto eu fazer meu trabalho várias vezes. Que a ideia de mandar a mensagem foi algo que ela pensou na hora e achou a melhor maneira de não ter problemas com os funcionários. Eu também contei da visita do meu irmão e de Marina. Ela disse que Marina era uma mulher incrível; admirava muito ela. Eu tive que concordar com ela.
Ficamos ali conversando por um bom tempo, e eu contei o que meu pai falou e que ele tinha saído de casa. Nessa hora, ela fez uma carinha triste, assim como eu; ela se sentia culpada por isso ter acontecido e também acreditava que a versão da minha mãe era verdade. Vi o rosto dela mudar quando falou da minha mãe; a expressão de tristeza se transformou em raiva. Sinceramente, era o que eu sentia também quando lembrava da minha mãe.
Nosso domingo terminou assim, entre conversas e carinhos. Mas, na segunda, nossa rotina mudaria mais uma vez; agora nós duas passaríamos o tempo inteiro juntas, e eu tinha certeza de que iria amar isso.
Continua..
Criação— Forrest_gump
Revisão— Whisper