Quando acordo no dia seguinte, ainda deitado na cama, me peguei refletindo sobre tudo o que tinha acontecido. Raul tinha, pouco a pouco, me moldado — não à força, mas com aquela presença firme, aquela confiança. Na noite passada ele deixou bem claro para mim como as coisas deveriam ser, e qual era minha posição em nossa relação, ele de forma clara decretou que ele era quem deveria dominar os espaços físicos da casa, o ritmo, as regras, e talvez até minha própria rotina, pelo que eu entendi.
Era impossível não sentir um certo tipo de admiração por isso. Havia nele uma postura que impunha respeito, uma confiança quase inabalável que, de alguma forma, me atraía. Ao mesmo tempo, um fio de medo percorria minha mente: até onde ele poderia ir? Até onde eu estava disposto a ir?
Mas havia também uma excitação difícil de explicar. Aquela sensação de estar sob o olhar de alguém que sabia exatamente como me conduzir, que estabelecia as regras e esperava minha entrega, mexia comigo de um jeito que eu nunca teria admitido anos atrás.
A cueca do Raul ainda estava ao lado do meu travesseiro, olhando para ela ali do meu lado, cheguei a uma conclusão silenciosa: eu iria seguir o jogo de Raul. Iria me dedicar, fazer o que ele pedisse, obedecer a suas ordens e aceitar seus limites, só assim saberia até onde isso tudo poderia me levar.
Me organizei e desci para cozinha para tomar meu café e ir trabalhar, não esperava encontrar o Raul na cozinha, geralmente ele sempre acorda depois que eu saio, ao me ver ele largou o prato na mesa e me olhou com aquele jeito direto, quase prático.
— Como passou a noite marcos? Ele perguntou, mas era claro que não havia muito interesse na resposta.
— Tranquila. Eu respondi de forma breve.
— Não minta para mim Marcos, eu consegui ouvir do meu quarto os barulhos que você estava fazendo, estava se masturbando, seu pevertido. Ele falou rindo. — Pelos sons que ouvi ontem, acho que você gostou do presente e de como as coisas foram esclarecidas ontem estou certo?
— Sim, falei com um pouco de vergonha, mas deixando as coisas rolarem como eu havia me proposto.
— Então vamos organizar umas coisas aqui, Marcos. Pra facilitar pra você, e pra mim.
Eu fiquei parado, esperando. Ele recostou na cadeira, cruzou os braços e começou a falar, com a naturalidade de quem já tinha tudo definido a algum tempo.
— De manhã, você já deixa meu café pronto antes de sair pro trabalho. Não quero sair correndo pra faculdade sem nada pra comer. Quando você voltar, dá uma geral na casa e faz o jantar. Nada demais, só o básico.
Pausou, olhou pra mim de cima a baixo, como se medisse minha reação. Eu não falei nada estava processando aquelas coisas, quando ele continuou.
— Três vezes por semana quero que você limpe meu quarto. E nas sextas você lava minhas roupas, preciso focar na faculdade e não vou ficar perdendo tempo com isso.
Parado ali diante do Raul percebi que ele, estava reafirmando sua posição e minha. Era a confirmação de que minha rotina passaria a girar em torno da dele.
Eu assenti com a cabeça. Uma parte de mim queria questionar, perguntar se era justo, mas outra — mais forte — sussurrou que esse era o caminho. Se eu fizesse o que ele queria Raul ficaria mais acessível para mim.
Aquela frase que ficou em minha cabeça ontem, veio mais uma vez em minha mente:
(E quem sabe, se você fizer tudo que eu mando… em compensação, talvez eu permita que você não adore só minhas cuecas… mas a mim também).
Após Raul falar essas coisas, deixou seu prato e xicara sobre a mesa e foi para seu quarto. Eu me apressei em tomar meu café e fazer uma limpezinha rápida na cozinha recolhendo o seu prato e xicara, e logo fui para meu trabalho.
O escritório estava silencioso naquela manhã, exceto pelo som ritmado do teclado e o vaivém dos passos apressados pelo corredor. Eu me sentava à minha mesa, cercado de pilhas de processos e uma tela cheia de compromissos para agendar. Era mais um dia comum na empresa de advocacia onde eu trabalhava: organizar documentos, digitalizar contratos, confirmar horários de reuniões.
Enquanto revisava uma petição, o celular vibrou discretamente ao lado do mouse. Era Raul.
"Quero strogonoff para o jantar."
Olhei para a mensagem por um instante, os dedos parados sobre o teclado, e respondi: "Ok."
Voltei a digitar, mas não demorou para a tela acender de novo.
"Quando chegar em casa dá uma geral no banheiro."
Suspirei, digitei: "Certo."
Minutos depois, mais uma vibração:
"Passa na loja que fica em frente ao posto de gasolina na esquina de casa e pega uma encomenda minha."
"Tá bom." — enviei de imediato, já ajustando mentalmente o tempo que teria de encaixar para resolver tudo.
As horas passaram entre telefonemas, pequenas reuniões e e-mails sem fim, mas aquelas mensagens pesavam na mente.
Saí do escritório já no início da noite, exausto. voltando para casa, desviei o caminho até a loja indicada por Raul. A fila era curta, mas cada minuto ali me parecia uma eternidade. Peguei a encomenda, guardei na mochila e segui para casa.
Assim que cheguei, larguei as chaves sobre o balcão, tirei o frango do congelador e deixei descongelando na pia. Enquanto a carne amolecia, vesti as luvas e fui direto para o banheiro. Esfreguei azulejos, troquei a toalha de rosto, lavei a pia, deixei o vaso brilhando. O cheiro do desinfetante logo tomou o ambiente.
Já na cozinha, escuto o barulho da porta se abriu, reconheci imediatamente a presença dele. Raul entrou largando a mochila para um lado, a jaqueta para o outro e se jogou no sofá, celular já em mãos.
— Marcos, você pegou minha encomenda? — perguntou, sem tirar os olhos da tela.
— Sim, está no seu quarto.
— Já limpou o banheiro?
— Sim, está limpo.
— E o jantar?
— Estou finalizando.
Raul fez um gesto com a mão, como se aprovasse. — Certo, muito bem. Se puder agilizar um pouco aí, tô com fome.
Apressei os últimos detalhes. Logo depois, fui até a sala onde ele estava e anunciei: — A comida está pronta.
Ele levantou do sofá, caminhou até a cozinha sem largar o celular. — Dá uma geralzinha na sala, leva minha mochila e a jaqueta pro quarto e liga o videogame. Quando eu terminar aqui, vou jogar uma partida.
— Tudo bem. — respondi, já ligando o videogame e recolhendo as coisas como ele pediu.
Subi as escadas devagar, a mochila em uma mão e a jaqueta de Raul na outra. Cada passo pensava na rotina que eu me propus a aceitar. Era cansativo, claro — sair do trabalho, correr atrás de suas encomendas, preparar o jantar, cuidar da casa — mas havia algo em tudo isso que me prendia, como se minha vida estivesse sendo reordenada em torno dele.
Uma parte de mim sentia um certo receio por cumprir tudo sem hesitar. Outra, mais silenciosa, carregava aquela sombra de resignação: eu sabia que não era um acordo justo, mas era o que tínhamos. E, no fundo, eu continuava alimentando a esperança — de que, talvez, essa dedicação rendesse algo mais que ordens. Talvez um reconhecimento, um gesto, uma brecha.
No meio do caminho, levei a jaqueta ao rosto. O perfume dele ainda estava ali: amadeirado, marcante, tão característico que parecia se espalhar pela casa inteira. Inspirei fundo. Era um cheiro que me confundia — me lembrava da distância entre nós, mas também do desejo que me empurrava sempre um pouco mais perto.
Desci as escadas com passos controlados depois de guardar a jaqueta e a mochila no quarto dele. A casa já estava organizada, o cheiro do strogonoff ainda pairava no ar. Ao chegar na sala, encontrei Raul recostado no sofá, controle nas mãos, os olhos grudados na tela do videogame.
Sentei-me ao seu lado sem dizer nada. Apenas fiquei ali, acompanhando o jogo.
— E aí, Marcos — disse ele, sem tirar os olhos do jogo — como foi fazer essas coisas pra mim hoje?
— Foi corrido… mas não chegou a atrapalhar meu dia — respondi baixo, quase automático.
Ele sorriu de canto. — Ótimo. Essa é a rotina, entende? Nada demais. Você vai dar conta.
Assenti, um pouco tímido.
Raul continuou, — E escuta, esse teu bom comportamento… ele não vai ser em vão. Eu vou te recompensar. Quando eu achar que você merece.
Senti meu peito apertar — não era uma promessa clara, mas era o suficiente para acender aquela fagulha de expectativa.
— Tá bem — falei, quase sem perceber o sorriso discreto que me escapava.
Voltei a olhar para a tela, mas a mente já estava em outro lugar: tentando imaginar qual seria essa recompensa.
Raul ainda com os olhos na tela, os dedos rápidos no controle, continuava a falar
— Vendo só, Marcos… como as coisas ficam mais fáceis quando você aceita sua natureza? — disse, sem desviar o olhar. — Eu consigo perceber que você se sente realizado fazendo as coisas pra mim.
Fiquei em silêncio, com o olhar baixo, as mãos apoiadas nos joelhos. Aquilo soava como um reconhecimento, distorcido, mas tudo bem.
— Fico feliz em ver que você aceitou que não é um macho de verdade, e que está bem com sua posição nessa casa — continuou, com um meio sorriso.
Engoli seco. Parte de mim queria se encolher diante das palavras, mas outra parte se aquecia com a sensação de estar ali sob o controle de alguém.
— Você deve se sentir bem, Marcos. Nem todo viadinho igual você consegue um macho como eu pra lhe dominar.
Senti um arrepio subir pela nuca. Era humilhação, era aprovação, era as duas coisas misturadas. Minha resposta saiu quase automática:
— Eu… me sinto bem sim, Raul.
Ele apenas deu um leve riso pelo canto da boca e continuou o jogo.
Depois de um tempo Raul largou o controle no sofá com um estalo seco, sinalizando o fim do jogo.
— Vou dormir — disse, sem olhar para mim, a voz calma.
Antes mesmo de se levantar acrescentou:
— Marcos, desliga a TV e lava os pratos que deixei na cozinha.
Assenti imediatamente, Ele se levantou do sofá, esticou os ombros, e então caminhou até mim. Com dois tapinhas leves e debochados no meu rosto, reforçou silenciosamente a hierarquia entre nós, misturando disciplina com um toque quase afetuoso, como se estivesse zombando da minha dedicação.
Somente depois disso se afastou, saindo da sala com passos confiantes, deixando-me ali parado por alguns segundos, encarando a tela da TV. O toque ainda era levemente sentido na pele de minha bochecha, e o som dos passos do Raul subindo as escadas.
Respirei fundo, e só então notei que aquele simples toque tinha me deixado excitado, recolhendo os pratos, lavando e enxaguando com cuidado, percebi que qualquer coisa boba que me fizesse fantasiar com o Raul me deixava excitado, uma cueca usada, o cheiro de sua jaqueta, uma tapinha bobo no rosto.