A Eterna Musa #4

Da série A Eterna Musa
Um conto erótico de Ryu
Categoria: Lésbicas
Contém 2535 palavras
Data: 12/09/2025 11:22:49

Passados uns 30 minutos Vera saiu do quarto segurando o notebook e a câmera, ainda com o semblante levemente fechado, mas agora com uma compostura mais serena. Ao se aproximar da mesa da sala, abriu o notebook e começou a ajeitar a câmera, como se fosse apenas um gesto mecânico, mas com cuidado.

— Só vim para cá porque lembrei da videochamada com a nossa filha Raquel — disse, com a voz firme, mas com uma ponta de sinceridade que tentava esconder o quanto ainda estava chateada. — Não quero que ela perceba que a gente se desentendeu.

Enquanto falava, conectava o cabo da câmera e ajustava o ângulo do notebook, certificando-se de que tudo estivesse pronto para a filha. O silêncio do ambiente parecia mais leve, e, por um instante, o rancor do desentendimento anterior ficou guardado atrás do sorriso discreto que ela tentou colocar no rosto.

Carlos, percebendo a tensão residual, tentou puxar conversa enquanto Vera ajustava a câmera.

— Fico feliz que você me ache um bom autor — disse ele, sorrindo de leve. — E tem uns autores que eu gosto muito: o J.P, o Safado, a Mara , tem também o ...

Vera deu de ombros, mantendo o foco na câmera, mas respondeu:

— Ah, eu acompanho algumas autoras de temas lésbicos: a Windy, a Xshana-Love, a Jenifer.

Carlos arqueou as sobrancelhas, surpreso:

— Dessas, eu conheço a Jenifer, mas às vezes ela abandona as séries no meio do caminho e demora uma eternidade para voltar e terminar.

Vera não conseguiu segurar a risada e concordou:

— Verdade! Mas faz parte do charme dela, eu acho.

O ambiente ficou mais leve, e por um momento a tensão do desentendimento parecia ter ficado lá fora. Vera sorriu de verdade, satisfeita por ver que, mesmo após o clima pesado, ainda podiam compartilhar pequenas alegrias juntos.

A videochamada começou, e na tela surgiu Raquel, mas não no mesmo lugar de antes. Não era mais a república feminina estudantil que Carlos e Vera conheciam; agora ela estava em um apartamento, visivelmente mais confortável.

Carlos e Vera notaram imediatamente alguns detalhes que não lhes agradavam: o piercing no nariz continuava, e Raquel exibia uma tatuagem nova no braço, com letras japonesas cuidadosamente desenhadas.

— Saí da república — explicou Raquel, com um sorriso — e agora divido um apartamento com a Sandra e a Julie. É bem mais confortável e o preço é praticamente o mesmo.

Curiosos, Carlos e Vera perguntaram se elas estavam por perto.

— Estão sim! — disse Raquel, chamando as colegas.

Na tela, apareceram duas jovens. Uma ruiva natural, sorridente, e outra de traços orientais, descendente de japoneses. Elas se apresentaram e cumprimentaram Carlos e Vera, com simpatia.

Enquanto observava, Vera pensou, quase sem querer admitir para si mesma: “Uma ruiva natural e uma japonesa… não pode ser coincidência. É igual aquele conto da Xshana-Love. Raquel é Xshana-Love… e então ela é lésbica.”

Não pôde deixar de reparar nos detalhes do apartamento que apareciam na câmera. O sofá e a mesinha ao lado dele eram idênticos aos descritos no conto da Xshana-Love. Um arrepio percorreu sua espinha; não havia mais dúvida.

É exatamente como no conto… pensou, com o coração batendo mais rápido. Raquel é Xshana-Love… e isso explica tudo.

Mesmo assim, Vera tentou manter a naturalidade, sorrindo para a câmera enquanto continuava a conversa, mas dentro dela, a certeza recém-descoberta deixava a mente agitada e curiosa.

A videochamada seguiu alegre e divertida. Raquel falava animadamente sobre o curso, comentava sobre a nova casa e elogiava as colegas, Sandra e Julie. Carlos e Vera escutavam com atenção, sorrindo diante da empolgação da filha.

Quando a chamada terminou, Vera começou a guardar o notebook e a câmera, cuidadosamente. Carlos aproveitou o momento de calma para puxar assunto:

— Quais são os nomes das autoras que você acompanha? Quero dar uma olhada.

Vera parou por um instante, a mente girando. “Se o Carlos ler o conto da Xshana-Love… vai descobrir que é a Raquel… e então vai descobrir que Raquel é lésbica. Isso vai contra tudo que nos ensinaram na igreja.”

Respirando fundo, ela respondeu, mantendo a voz leve:

— Eu acompanho a Jenifer e a Windy.

Carlos franziu levemente a testa, tentando se lembrar:

— Humm… mas não tinha mais uma?

Vera sorriu e respondeu rapidamente:

— Não, são só as duas.

Carlos assentiu, aparentemente satisfeito com a resposta, enquanto Vera continuava a guardar os objetos, tentando afastar a ansiedade que seu pensamento momentâneo havia causado.

Depois de guardar o notebook e a câmera, Vera se acomodou no sofá com o restante do conto da Xshana-Love.

{[ GINGER ARRANCOU A PARTE DE CIMA DO PIJAMA DE YUMI E COMEÇOU A MASSGEAR SEUS SEIOS, LINDOS E SEDUTORES.

SARAH ATENDEU O CONVITE E FOI ATÉ ELAS. SE AJOELHOU NA FRENTE DE YUMI E TIROU O RESTO DE SUA ROUPA.

A BUCETINHA DE YUMI ERA ENCANTADORA, IRRESISTÍVEL!

SARA COMEÇOU A BEIJÁ-LA.

OS GEMIDOS DE YUMI INCENTIVAVAM A CONTINUAR: SUGANDO, MORDENDO, ENFIANDO A LINGUA...

UM DEDO ...

DOIS DEDOS...

PENETRANDO-A COM MOVIMENTOS ACELERADOS, FRENÉTICOS.

COMO FOI GOSTOSO SENTIR QUE YUMI GOZOU ... }}

Página após página, suas suspeitas se confirmavam de forma irrefutável: cada detalhe, cada referência coincidia com Raquel. Não havia mais nenhuma dúvida.

Mais tarde, durante o jantar, o clima estava tranquilo até Carlos soltar, casualmente:

— Sabe, dei uma olhada nos contos da Windy… e acabei lembrando daquele outro nome, Xshana-Love.

Vera engoliu em seco, sentindo o coração disparar. Um frio percorreu sua espinha; cada palavra de Carlos parecia ecoar seu maior medo.

Ele continuou, com um sorriso calmo, mas firme:

— Agora eu entendo por que você omitiu. Descobri que Xshana-Love… é a Raquel.

Vera ficou imóvel por um instante, surpresa e apreensiva, sem saber como reagir. Temia a reação de Carlos, devido aos ensinamentos da igreja.

Fechou os olhos por um momento. O coração deu um tropeço.

— Como você...?

— Principalmente pelo último conto dela, sobre as novas colegas de apartamento. E tem outras coisas ali... lembranças, jeitos de falar, de sentir. E os detalhes. É a nossa filha, Vera. E ela... ela ama uma mulher.

Vera virou-se de lado, escondeu o rosto entre as mãos.

— Quando descobri, fiquei com medo que você não aceitasse.

Carlos olhou para o teto, pensativo.

— Eu fiquei surpreso, claro. Mas sabe o que é mais curioso? — ele riu baixo, com aquele tom de quem já pensou muito antes de falar. — Eu também escrevo no mesmo site. Você sabe disso. E com o tempo, nos comentários, nas conversas com os outros autores... eu conheci tanta gente. Gente boa, Vera. Gente que ama, sofre, escreve como se sangrasse. Muitos são LGBT. Outros, como eu, não. Mas ali... ninguém julga ninguém. Isso mexeu comigo.

Vera ficou em silêncio. Carlos continuou.

— Eu ainda estou na igreja. Eu vou, sento-me no mesmo banco, ouço os mesmos sermões... mas a verdade é que eu não acredito mais do mesmo jeito. As coisas que vejo lá não combinam com o amor que leio naquelas histórias. Nem com o que eu vejo em Raquel.

Ela o olhou pela primeira vez desde que a conversa começou. Havia algo nos olhos dele — não tristeza, nem raiva, mas um tipo de cansaço misturado com libertação.

— Então... você não está bravo?

— Não. Eu estou aliviado. Porque agora eu entendo mais da Raquel. E porque eu percebi que Deus, se for amor como dizem, não vai rejeitar a nossa filha por amar. Isso seria injusto. E Deus... se é Deus de verdade, não é injusto.

Vera deixou escapar uma lágrima, mas não era de dor. Era de alívio.

— Eu estava com tanto medo de te perder. Ou de ver você se afastar da Raquel...

Carlos se aproximou, pegou a mão dela.

— Não quero perder ninguém, Vera. Nem você. Nem a nossa filha. Se ela for feliz, é isso que importa.

Eles ficaram em silêncio mais uma vez. Mas agora, não era um silêncio tenso — era um silêncio cheio de coisa dita, de carinho antigo, de aceitação que começava a nascer.

Mas, no fundo dos olhos de Vera, outra coisa germinava: uma dúvida silenciosa. Sobre a fé. Sobre o que ensinaram. Sobre tudo o que ela acreditava saber. Talvez, pensou ela, fosse a hora de rever onde exatamente Deus morava.

E com esse pensamento, ela apertou a mão de Carlos e, pela primeira vez em semanas, sentiu que dormiria em paz.

No dia seguinte, o sol mal tinha subido no céu quando Vera desceu ao térreo do prédio. Era cedo, como sempre. Gostava de verificar na portaria se havia chegado correspondência antes de ir para a loja.

Ainda ajeitando a bolsa no ombro, caminhou em direção à portaria. O porteiro, distraído com os registros, levantou os olhos ao notar a presença dela.

— Bom dia, dona Vera. Chegou correspondência sim.

Antes que ele pudesse estender o envelope pardo, uma voz animada ecoou pelo saguão:

— Oi, vizinha! Cedinho hoje, hein?

Era Janaina. A famosa vizinha “gostosona”. A mulher que os vizinhos comentavam em voz baixa no elevador. Corpo escultural, roupas coladas, sempre bronzeada, sempre sorridente... e, como diziam, "moderna até demais".

Vera respondeu com um sorriso discreto e educado. Ao lado de Janaina, estava outra mulher — cabelos curtos, tatuagens nos braços, um olhar firme e tranquilo.

— Vera, essa aqui é a Sonia — disse Janaina, tocando de leve o ombro da outra. — Minha namorada.

Vera, pegando o envelope das mãos do porteiro, congelou por um segundo.

— Ah... namorada?

— É — disse Sonia, com naturalidade. — Somos um casal.

— Vocês são... lésbicas?

Janaina riu alto, como se a pergunta fosse engraçada.

— Sou sim, Vera. Nunca tive paciência pra homem. Mulher é muito mais interessante — disse, piscando.

Depois deu um leve tapinha na caixa que Sonia segurava. — Inclusive, esse pacotinho aqui vai ajudar bastante hoje à noite.

Vera arqueou uma sobrancelha, confusa.

— Pacote?

— Brinquedos adultos — disse Janaina, em tom casual, como quem fala de um jogo de panelas. — A gente faz umas encomendas de vez em quando. Dá uma animada, sabe?

Sonia deu uma risadinha discreta. Vera, por sua vez, sentiu um calor subir pelas bochechas. Ficou paralisada por um segundo, sem saber exatamente onde enfiar os olhos.

E então, veio a frase que ela definitivamente não esperava ouvir antes das oito da manhã:

— Inclusive, você é bem interessante, viu? Atraente. Gosto do seu jeito.

Vera arregalou os olhos, surpresa com a ousadia. Sentiu o rosto esquentar.

— Eu sou casada — respondeu rapidamente, erguendo a mão esquerda e mostrando a aliança como quem exibe um escudo.

— E você também tem namorada — completou, olhando para Sonia, esperando talvez um gesto de reprovação.

Mas Sonia sorriu, tranquila, como quem já sabia o que vinha a seguir.

Janaina inclinou-se levemente em direção a Vera, como se compartilhasse um segredo:

— A gente vive uma relação aberta. A Sonia não liga. A gente conversa, confia uma na outra. O dia que você quiser... tô por aqui.

Vera deu um passo para trás, não por medo, mas por instinto. Como se o chão tivesse mudado sob os seus pés.

— Eu... agradeço, mas... não é pra mim.

Janaina apenas sorriu, sem se ofender. Parecia acostumada com esse tipo de reação.

— Tá bom, vizinha. Mas se um dia mudar de ideia... já sabe onde moro.

Com um aceno final, Janaina e Sonia se afastaram, rindo de alguma piada interna, deixando Vera parada ali com o envelope na mão, o coração acelerado e a mente... inquieta.

Saiu do prédio e começou a caminhar em direção à loja. Pensou em Raquel. Pensou em Carlos. Pensou em como o mundo parecia estar virando do avesso — ou, quem sabe, finalmente revelando sua verdadeira forma.

E pela primeira vez, se pegou perguntando se tudo o que acreditava era mesmo tão absoluto quanto parecia.

A rua estava silenciosa, mas dentro dela, uma revolução havia começado a se formar.

Quando chegou à loja, Vera se surpreendeu ao ver que Lídia já estava levantando as portas de ferro. O sol mal tinha iluminado as vitrines, e a funcionária — pontual como um relógio suíço — já organizava os cabides da arara da frente.

— Bom dia, dona Vera! — disse Lídia, animada, ajeitando o avental.

— Bom dia, minha querida — respondeu Vera, sorrindo com um ar que Lídia não conseguia decifrar. Um misto de tranquilidade e decisão.

Esperou que a loja estivesse completamente aberta, que a rotina da manhã se assentasse, e então chamou Lídia para conversar, sentando-se à mesinha dos fundos onde costumavam fazer o café.

— Lídia... me diz uma coisa. Você já recebeu o valor da herança do seu pai, né?

Lídia se espantou com a pergunta direta, mas respondeu:

— Recebi sim. Tô guardando pra investir em alguma coisa certa.

Vera respirou fundo, segurando a xícara de café com as duas mãos.

— E se essa coisa certa fosse... essa loja?

Lídia arregalou os olhos, surpresa.

— A senhora tá querendo vender?

— Tô. — disse Vera, com firmeza. — Acho que é hora de seguir outro caminho. E se tem alguém que merece estar à frente desse lugar, é você.

Os olhos de Lídia brilharam. Trabalhar ali por anos era uma coisa. Ser dona era outra. A possibilidade sempre lhe pareceu distante — até aquele momento.

— Nossa... eu sempre sonhei com isso. Mas... será que consigo?

— Claro que consegue. Você já faz tudo aqui. Só vai mudar o nome na placa.

Horas depois, com o contador presente, os números foram colocados na mesa: valor do ponto, dos estoques, móveis, despesas. Tudo detalhado.

Negociaram, discutiram, sorriram, selaram o acordo com um aperto de mãos e um abraço sincero. O proprietário do imóvel, já conhecido de ambas, não colocou obstáculos. Concordou em transferir o contrato de aluguel para o nome de Lídia.

Alguns dias depois, com a papelada assinada e o coração leve, Vera saiu da loja pela última vez como dona. Lídia, ainda emocionada, ficou na porta, acenando, com os olhos marejados.

Ao chegar em casa, Vera encontrou Carlos sentado no sofá, lendo em silêncio. Ao vê-la, ele sorriu e se levantou para abraçá-la.

Ela se aninhou no peito dele por alguns segundos, segurou as mãos dele e disse:

— Tenho duas novidades.

Carlos levantou as sobrancelhas, curioso.

— A primeira é que... vendi a loja. Está tudo resolvido. Lídia ficou com ela. Foi a melhor decisão que eu podia ter tomado.

Carlos sorriu, surpreso, mas compreensivo.

— Uau... isso é grande. E a segunda?

Vera mordeu o lábio, como uma adolescente com um segredo guardado demais.

— Hoje de manhã... depois de tudo resolvido... eu escrevi um conto.

— Sério? — ele disse, animado. — No site?

Ela assentiu, com um brilho diferente nos olhos.

— Com o apelido de Musa. Nada escandaloso. Só... uma história delicada. Um começo.

Carlos a olhou por alguns segundos, como se a estivesse vendo de verdade pela primeira vez em muito tempo.

— Bem-vinda, Musa — disse, puxando-a para mais um abraço, desta vez mais longo

Ainda sentados no sofá, com a luz suave da sala e o cheiro do jantar que não tinham começado a preparar, Vera se recostou de leve no braço do marido e perguntou, com um sorriso contido:

— Você não vai ler o meu conto?

Carlos olhou pra ela com aquele ar brincalhão de quem já estava curioso fazia tempo, mas esperava o convite formal.

— Claro que vou!

Ela assentiu, meio sem graça, como quem está se expondo pela primeira vez.

Carlos pegou o celular, abriu o navegador e entrou no site de contos. Digitou o nome com calma, navegando pela página até encontrar o texto.

Continua

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Comentários

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Essa história está boa demais.

Legal ver Vera conhecer as pessoas à sua volta pelos contos que escreve.

Curioso para saber como é a história que Vera escreveu.

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