DISCERE - QUATRO ELEMENTOS - CAPÍTULO 14: E SE FOR SÓ O COMEÇO? (FIM)

Um conto erótico de Escritor Sincero
Categoria: Gay
Contém 3785 palavras
Data: 13/09/2025 06:38:46

Era a primeira vez que Valentim passaria as férias longe da família. O coração apertava só de pensar, mas não havia escolha: Victor e Frida embarcariam para a França em uma segunda lua de mel, enquanto ele seguiria viagem com Noah e Gabrielle, mãe do namorado, rumo à fazenda da família.

Fazia anos que Valentim não ia para um lugar tão isolado. Noah, todo animado, descrevera mil atividades: limpar os cavalos, nadar no lago, pescar... Valentim, porém, tinha outra ideia do que significava "diversão a dois".

A estrada de terra se alongava por quilômetros até que, de repente, a casa apareceu. Uma construção ampla, com varanda rodeada por plantas e janelas abertas, abraçada por pastos verdejantes e cercas de madeira. Valentim ficou encantado. O ar era mais puro, o silêncio só era quebrado pelo canto distante de galos e pelo mugido de algumas vacas.

Assim que chegaram, os dois ajudaram Gabrielle a retirar as malas do veículo. Era uma mulher linda, elegante, com um jeito firme e acolhedor ao mesmo tempo. Valentim, meio tímido, logo se sentiu à vontade — quase como se ela o conhecesse de longa data.

Enquanto caminhava pela sala, reparou numa fotografia emoldurada sobre o aparador. Noah, ainda criança, estava no colo dos pais, rindo. Valentim não pôde deixar de notar: o namorado parecia ter herdado o melhor dos dois — o olhar vivo da mãe e a expressão serena do pai.

Mas a primeira surpresa veio cedo.

— Você vai dormir no quarto de hóspedes. — Avisou Noah, coçando a nuca, como quem pede desculpas antes mesmo da bronca. — Ordem do meu pai... disse que, já que somos namorados e não casados, nada de dormir juntos.

Valentim disfarçou a decepção com um sorriso sem graça. Não era exatamente o que ele esperava para as férias.

Pouco depois, o sino no alpendre chamou para o almoço. A mesa estava posta como se fosse festa: uma galinha caipira dourada, fumegante, acompanhada de feijão tropeiro bem temperado, salada fresca e um jarro de suco de laranja recém-espremido. O aroma da comida caseira invadiu o ambiente, fazendo Valentim perceber que, mesmo longe de casa, havia algo de familiar naquele cuidado.

Ele se sentou entre Noah e Gabrielle, observando a luz do sol entrando pela janela e a brisa leve balançando as cortinas. Talvez aquelas férias guardassem mais surpresas do que ele imaginava — e não apenas do tipo que ele esperava.

A noite seguiu tranquila. Gabrielle passou horas trancada no quarto revisando o livro que escrevia e só saiu para o jantar. Valentim e Noah aproveitaram o dia inteiro assistindo vídeos e séries, deitados lado a lado. Com Noah em seus braços, Valentim sentia uma paz tão intensa que não havia mais espaço para dúvidas.

Noah, distraído com a tela, não percebia a força que exercia dentro do peito do namorado. Valentim, com um sorriso travesso, virou suavemente o rosto dele para si e o beijou, roubando-lhe um suspiro surpreso. Noah adorava esses gestos repentinos. O clima cresceu como fogo em palha seca: beijos mais quentes, mãos ansiosas, respirações misturadas.

O que começou com carícias inocentes virou uma explosão de desejo contido. Valentim o puxou para perto, sentindo o coração disparar, e Noah correspondeu com intensidade. A luz suave do abajur desenhava os contornos dos corpos, revelando olhares cúmplices e sorrisos contidos entre beijos. Naquela noite, ignoraram qualquer regra imposta: Valentim adormeceu com Noah abraçado a ele, se sentindo inteiro, certo de que aquele amor era tudo de que precisava.

Um estrondo fez Valentim acordar sobressaltado. O coração disparou antes mesmo de perceber que era apenas a ventania batendo contra a janela. Noah já estava em pé, arrumado, e sorria com um entusiasmo quase irritante para quem mal tinha despertado. Valentim coçou os olhos, pegou o celular e arregalou-os: ainda eram 5h30.

— Vamos, preguiçoso. — Provocou Noah animado. — Hoje você vai conhecer a Doce de Leite.

Mesmo contrariado, Valentim se arrastou para o banheiro, tomou um banho rápido e vestiu a primeira roupa que encontrou. Quando voltou, encontrou Noah com um visual que fez seu coração dar outro salto. O namorado vestia uma camiseta branca sem mangas e um macacão jeans azul-claro com joelhos rasgados, combinando com tênis brancos. O look tinha um ar prático e despojado, mas, para Valentim, parecia perigosamente sexy. Noah estava pronto para colocar as mãos na massa — ou melhor, nos estábulos.

Assim como o jantar da noite anterior, o café da manhã estava farto: pães ainda quentes, queijo fresco, bolo macio, leite e café fumegante. Valentim só acordou de verdade quando o aroma forte invadiu o ambiente. Depois de se alimentarem bem, seguiram juntos para o celeiro. O dia na fazenda estava só começando, e Valentim não podia evitar: entre o cheiro de café e o sorriso do namorado, se sentia no lugar certo.

Depois do café reforçado, os dois seguiram para o estábulo da fazenda. Noah parecia animado como sempre, caminhando com passos largos, enquanto Valentim ia atrás, ainda com uma expressão sonolenta. Antes de sair, ele passou protetor solar como se fosse armadura — dois litros, no mínimo. Mas, apesar do cuidado, suas roupas estavam longe de adequadas para o trabalho no campo.

Valentim usava um visual urbano, totalmente fora do clima da fazenda: boné preto com a palavra ICON em destaque, camiseta oversized estampada, bermuda de basquete preta com detalhes brancos, meias longas listradas e tênis esportivos de cano alto impecavelmente limpos. Parecia que estava pronto para um rolê na cidade, não para limpar estábulos. Noah, que observava a cena segurando o riso, balançou a cabeça.

— Valentim, você tem certeza que veio pra uma fazenda? — Provocou, com um sorriso divertido. — Porque, se o objetivo era um desfile de streetwear, você já ganhou.

Valentim apenas ergueu uma sobrancelha.

— Posso estar estiloso, mas ainda sei usar uma pá, tá?

— Quero ver. — Respondeu Noah, rindo. — Hoje você vai conhecer a Doce de Leite... e ela não liga pra marca de tênis.

Chegando ao celeiro, o cheiro forte de feno e animais invadiu o ar. Valentim tentou disfarçar a careta, mas Noah percebeu. Doce de Leite, uma égua marrom de Noah, esperava pacientemente, balançando a cabeça. Noah se aproximou do animal com um carinho natural, enquanto Valentim, ainda um pouco receoso, observava cada movimento.

— Pode fazer carinho, ela não morde. — Disse Noah, guiando a mão do namorado até o pescoço do cavalo.

Valentim sorriu, um pouco mais confiante, enquanto sentia a pelagem macia sob os dedos. Noah não resistiu e tirou uma foto mental: Valentim, com seu look urbano fora de lugar, tocando um cavalo com uma mistura de medo e curiosidade.

— Sabe, — disse Noah, se aproximando. — você fica lindo até assim, todo deslocado.

— Idiota. — Murmurou Valentim, ainda acariciando os pelos de Doce de Leite.

Valentim acordou decidido: aquele seria o dia em que mostraria a Noah que também sabia lidar com a vida no campo. Chega de ouvir piadinhas sobre ser "o garoto de shopping". Queria provar que tinha músculos, coragem e — principalmente — coordenação motora.

Tudo parecia simples na teoria: limpar o celeiro. Mas a prática mostrou outra realidade.

Logo no primeiro minuto, Valentim tentou carregar um fardo de feno no ombro e quase tombou para trás, derrubando uma pá que fez um barulho de fim do mundo. Ao tentar varrer o chão, enroscou a vassoura nas tábuas soltas e quase catapultou o balde d'água para cima da própria cabeça. Depois decidiu pegar dois baldes cheios de uma vez só — porque macho alfa não faz viagem dupla — e acabou andando em círculos, desequilibrado, até tropeçar em um saco de ração e cair de costas, abrindo os braços como se fosse fazer um "anjo" na neve — só que a "neve" estava longe de ser branca.

— Meu Deus, que perfume maravilhoso. — Resmungou, com uma expressão de nojo enquanto tentava se levantar.

— Isso aí é edição limitada. — Zombou Noah, encostado no portão do celeiro, assistindo tudo como se fosse uma peça de comédia. — Chama "Eau de Cavalo Rural".

Valentim tentou ignorar, mas a cada cinco minutos acontecia uma nova tragédia: bateu a cabeça na viga, prendeu a camiseta no gancho do portão, chutou o balde que estava cheio e tomou um banho de água com sabão sem querer. Quando finalmente terminaram, parecia um figurante de filme de terror rural: manchado, molhado, com o cabelo grudado na testa e um cheiro... indecifrável.

Noah também estava sujo, mas em comparação parecia até que tinha acabado de sair de um piquenique organizado.

— Por que mesmo você gosta de limpar esse celeiro? — Perguntou Valentim, tentando sacudir a bota, mas só espalhando mais lama para todo lado. — A fazenda tá recheada de empregados.

— Faço pela Doce de Leite. — Respondeu Noah, acariciando a égua com carinho. — Ela foi um presente da minha avó. E eu passo parte do ano na cidade, então eu gosto de vir aqui e cuidar dela.

— Vamos? Preciso de um banho. Acho que meu desodorante pediu arrego.

— Mas não acabou. — Contou Noah, pegando duas esponjas. — É hora do banho da Doce de Leite.

— Você tá brincando comigo. — Valentim fechou os olhos e respirou fundo. — Eu vou acabar cheirando pior que ela.

— Vamos, senhor street wear. — Provocou Noah, abrindo a mangueira e molhando a pelagem da égua.

Valentim, resmungando mas sorrindo, passou shampoo equino na crina da égua com cuidado. Até que Noah, com aquela cara de travessura, girou a mangueira e deu um jato direto nele. Valentim gritou e levantou os braços como se estivesse em um ataque surpresa.

— Você tá precisando mais de banho do que ela! — Riu Noah.

Valentim não deixou barato: pegou uma esponja ensaboada e passou com vontade no rosto do namorado, que tentou fugir, mas escorregou na água e quase caiu sentado. A cada respingo, os cachos de Noah iam se desfazendo, ficando pesados e grudados na testa, enquanto Valentim parecia cada vez mais um boneco de lama.

No auge da bagunça, Noah perdeu o equilíbrio de novo. Valentim, mesmo todo atrapalhado, conseguiu segurá-lo pela cintura. Por um instante, o clima mudou — riso virou silêncio, e Valentim ficou ali, com o coração acelerado, admirando o namorado de perto.

— Eu te amo, Noah. — Declarou baixinho, fechando os olhos para beijá-lo.

Mas Doce de Leite tinha outros planos. Com um empurrão certeiro, meteu o focinho no meio do casal e Valentim acabou dando um beijo molhado na égua.

Noah caiu na gargalhada, se dobrando de tanto rir, enquanto Valentim cuspia água e espuma.

— Acho que ela também te ama. — Disse Noah, ainda rindo.

Os dias na fazenda foram passando preguiçosos, mas repletos de paixão. Entre passeios despreocupados, cochilos no meio da tarde e risadas espontâneas, Valentim e Noah aproveitaram cada instante como se o tempo estivesse a favor deles.

Próximo ao Natal, o silêncio rotineiro da propriedade foi quebrado pela chegada de Raphael e de uma pequena equipe. Vieram trazendo ótimas notícias: o Supremo Tribunal Federal havia autorizado o retorno do senador às atividades. Noah comemorou abraçando o pai, e até Gabrielle, que sempre mantinha um ar sereno, deixou escapar um sorriso orgulhoso. Valentim também ficou feliz, embora sentisse o nervosismo crescer no peito. Seria a primeira vez conhecendo o pai do namorado — e, diferente de quando conheceu os pais de Karla, dessa vez não havia aquela familiaridade antiga para suavizar as coisas. Raphael, de um jeito ou de outro, ainda era um estranho.

Numa noite fria, todos se reuniram em volta da fogueira. O cheiro da lenha queimando misturava-se com o doce aroma dos marshmallows tostados. Noah, com as bochechas coradas pelo calor do fogo, ria de algo que Valentim havia dito. Raphael chegou segurando uma taça de vinho, e, em silêncio, ficou observando o filho. Gabrielle, que revisava as últimas páginas do livro que estava escrevendo, tirou os óculos e sorriu ao ver aquela cena — uma família aquecida não apenas pelas chamas, mas pelo afeto.

O Natal passou tranquilo. Valentim ficou quase duas horas em chamada de vídeo com os pais, que queriam saber de cada detalhe da viagem. Victor, aos poucos, começava a aceitar o inevitável: o filho teria de repetir o terceiro ano. Mas havia algum consolo — ele estaria estudando na mesma classe de Karla e Noah, e isso, de certa forma, o tranquilizava.

Logo veio o Ano Novo, e a rotina da fazenda deu lugar ao barulho das ondas. A família viajou para o litoral, ficando na casa de praia dos pais de Valentim. Para ele, havia uma parte especialmente perfeita daquela viagem: ver Noah de sunga. Valentim registrava cada momento na mente, como quem guarda uma fotografia secreta, com direito a detalhes — o sol refletindo na pele do namorado, os cabelos bagunçados pela maresia e aquele sorriso que parecia desafiar qualquer preocupação.

Foram dias de céu azul, mergulhos demorados e beijos roubados à beira-mar. Para Valentim, não havia lugar melhor no mundo.

Infelizmente, tudo que é bom dura pouco. Os dias na fazenda se esgotaram, e Valentim e Noah voltaram para aproveitar os últimos momentos antes do fim das férias. Mas, como o destino adora pregar peças, algo inusitado aconteceu: Valentim, decidido a provar que sabia cavalgar sozinho, acabou caindo do cavalo e quebrando o pé.

O resultado? Um aniversário no hospital, com bolo improvisado, presentes discretos e visitas constantes. Noah não desgrudava do namorado, enquanto Karla fazia questão de animar o quarto com sua risada inconfundível. Foi nessa mesma época que Valentim conheceu o namorado da amiga — um rapaz tranquilo, de sorriso aberto, que em breve passaria a estudar no Instituto Discere junto com eles, já no terceiro ano.

Fevereiro chegou rápido, embalado pelo som dos sinos do Instituto Discere ecoando na memória dos alunos que haviam encerrado mais um ciclo. Enquanto muitos se despediam da escola com diplomas na mão, Valentim voltava pelos mesmos portões... mas com um novo olhar.

Ele sentia um frio na barriga, como se fosse calouro outra vez, mesmo conhecendo cada canto daquele lugar. Talvez porque, dessa vez, estivesse entrando ao lado de Noah.

— E como estou? — Noah arrumou o cabelo pela quinta vez.

— Está lindo, amor. Você fica lindo de qualquer jeito. — Declarou Valentim, sorrindo.

— Vou parar de usar produtos quimicos nos meus cabelos. Hora de assumir os cachos. — Afirmou Noah, que decidiu mudar o visual para o novo ano.

— O meu namorado vai ser o mais lindo da classe.

— Ainda não se acostumou a ser meu colega de turma, né? — Provocou Noah, ajustando a mochila no ombro. A outra mão segurava a mochila de Valentim com a naturalidade de quem não ligava para olhares curiosos.

— Só tô tentando fingir que repeti de propósito pra ficar com você. — Respondeu Valentim, sorrindo meio envergonhado, apoiado na muleta.

— Não precisa fingir. Eu sei. — Disse Noah, lançando um olhar cúmplice.

A nova farda do Instituto Discere marcou uma mudança simbólica e visual dentro do colégio. Antes, os estudantes vestiam uniformes em tons de azul-marinho, que transmitiam sobriedade e tradição. Agora, o vermelho profundo tomou o lugar da cor antiga, trazendo mais vivacidade e imponência à imagem dos alunos.

O blazer e o colete ganharam o tom rubro, contrastando com a camisa branca impecável e a gravata listrada em dourado e vermelho. Nos bolsos do uniforme, o brasão da escola foi atualizado, bordado com detalhes dourados que ressaltavam ainda mais o ar de prestígio. As saias, calças e bermudas continuaram em cortes clássicos, mas o conjunto completo transmitia uma energia renovada — quase como se o colégio tivesse decidido abraçar uma identidade mais moderna e forte.

Noah, com seu sorriso confiante, foi um dos primeiros a se destacar com a nova farda. Ele passou a usar um bottom com as cores da bandeira do orgulho LGBTQIA+, preso no peito, bem visível, como um ato de afirmação de quem era. Sua coragem e naturalidade ao exibir sua identidade inspiraram muitos ao redor, mas especialmente Valentim. O rapaz, que antes hesitava, encontrou no exemplo do namorado a força para também se expressar sem medo.

Foi assim que Valentim começou a usar um bottom com as cores da bandeira bissexual preso ao colete vermelho. No início, foi apenas um pequeno gesto, mas que carregava um grande significado. Com o tempo, se tornou símbolo de sua própria aceitação. Andar pelos corredores do Discere vestindo aquele uniforme vermelho, agora iluminado pelo brilho dos bottoms, era como desfilar não apenas a identidade da escola, mas também a identidade de si mesmo — algo que antes parecia impossível.

O pátio estava lotado: calouros nervosos, veteranos animados e muitos cochichos. Alguns olhares se voltavam para Valentim e Noah, mas os burburinhos mais altos eram sobre Karla, que havia assumido o namoro com um homem trans. Valentim se sentia orgulhoso dela. Karla tinha sido sua primeira mentira romântica, mas agora era uma das verdades mais bonitas que conhecia.

Noah ergueu os olhos para o prédio principal da escola e depois encarou Valentim. O rapaz sorriu e, discretamente, segurou a mão dele. Um gesto simples, mas poderoso naquele universo cheio de códigos silenciosos.

— Meninos! — Karla surgiu com as mãos entrelaçadas nas de Breno. — Vocês não sabem da novidade!

— Qual? — Noah e Valentim perguntaram ao mesmo tempo.

— Narcíso Figueiredo vai estudar no Discere.

— Quem? — Valentim piscou, confuso.

— Amiga, mentira. — Noah levou a mão ao peito, teatral. — Como assim?

— Ele tá no corredor dando autógrafos! — Karla puxou Noah pela mão e os dois saíram correndo.

— Ei! — Reclamou Valentim, sem conseguir acompanhar. — O que deu neles?

— Sei lá. — Breno deu de ombros. — Vamos lá.

O corredor principal estava tomado por alunos curiosos. Narcíso Figueiredo, o astro mirim que havia virado galã adolescente, distribuía sorrisos, autógrafos e selfies como se estivesse em um tapete vermelho. Bonito e seguro de si, ele tinha os cabelos loiros presos num coque samurai, um óculos de marca que destacava o rosto bem-feito e vestia a farda do Discere de um jeito displicente — gravata afrouxada, camisa para fora — mas ninguém ousava corrigir. Afinal, era uma honra para a escola ter um ator tão famoso.

Enquanto Narcíso posava para fotos, João Paulo — o filho de dona Joana, o "anjo da guarda" de Valentim — tentava encontrar sua sala. Desorientado, acabou entrando no meio do tumulto e tropeçando. Antes que caísse, Narcíso o segurou pelo braço. Por um instante, o ator desviou a atenção dos fãs e encarou João Paulo com surpresa — e uma admiração que ele mesmo parecia não entender. O momento durou apenas segundos, desfeito pelos gritos estridentes dos alunos.

Noah e Karla conseguiram uma selfie com Narcíso, enquanto Valentim se aproximava do garoto com uniforme novo e olhar um pouco perdido.

— João Paulo? — Valentim o chamou com um sorriso. — Vai estudar aqui?

— Sim. O seu pai está pagando a minha mensalidade. Algo sobre ser um milionário em crise de consciência. Ele pediu segredo, queria que fosse uma surpresa e também que eu ficasse de olho em você, principalmente durante as provas, mas eu sou do segundo ano. — Brincou João Paulo, com bom humor.

— Cara, que bom! — Valentim o abraçou, genuinamente feliz.

A notícia correu rápido, e logo tudo virou uma pequena festa no corredor. Karla apresentou João Paulo a Breno, e os quatro começaram a conversar animadamente. Como João estava perdido, Karla se ofereceu para ajudá-lo a encontrar a sala, enquanto Valentim e Noah seguiram para a deles.

— Sabe, a Gincana dos Quatro Elementos me ensinou uma coisa. — Disse Valentim, enquanto caminhavam lado a lado. — Que a gente pode perder, se machucar, cair feio... e mesmo assim levantar mais forte. Porque ninguém luta sozinho. E porque vencer não é sempre o mais importante.

— Então o que é? — Perguntou Noah, curioso.

— Ter com quem dividir a luta.

— Brega. — Noah sorriu, divertido.

— Mas verdadeiro. — Valentim levantou uma das sobrancelhas e piscou para Noah.

— A gente vai ficar bem, né? — Perguntou Noah, olhando de maneira engraçada para Valentim.

— Claro, meu príncipe. — Respondeu Valentim, esticando a mão e entrelaçando seus dedos nos de Noah. — Eu não tenho dúvidas.

Eles riram juntos. O sol começava a nascer atrás do prédio de ciências, lançando uma luz dourada sobre os dois. Um novo ano, uma nova chance... e corações batendo em um ritmo diferente.

De repente, o sorriso de Noah se desfez. Ao virar a esquina, esbarrou com força em alguém. A mochila que carregava para o namorado escorregou de suas mãos e caiu no chão, espalhando livros e cadernos pelo corredor.

— Desculpa, você está... — Começou a dizer, mas a voz morreu na garganta.

Noah ficou pálido. O coração disparou como se tivesse levado um choque.

— O que está fazendo aqui? — Perguntou, com um tom que misturava surpresa e raiva contida.

Gabriel, seu ex-namorado, ajeitou os óculos escuros com um sorriso debochado, como se estivesse saboreando aquele momento.

— Se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé. — Respondeu, lançando um olhar de cima a baixo em Valentim, antes de rir com sarcasmo. — A concorrência nem é tão grande.

Colocando os óculos de volta no rosto, Gabriel passou pelos dois, assobiando como se nada tivesse acontecido, deixando atrás de si um rastro de tensão sufocante.

Noah sentiu os olhos arderem, mas não chorou. Valentim, sem entender nada, apenas se abaixou com dificuldade, recolheu a mochila do chão e sorriu como quem tenta quebrar o clima pesado.

— Então... onde a gente? — Perguntou, tentando mudar de assunto.

Noah respirou fundo, assentiu e seguiu com ele pelo corredor, mesmo com o peito apertado. Tudo estava indo bem demais para acabar daquele jeito — e ele sabia que Gabriel não apareceria sem motivo.

A história deles ainda não estava pronta para acabar.

Afinal... e se for só o começo?

Fim?

Segundo livro em breve, mas não vou ser malvado. Segue a sinopse de "Discere 2 - entre o amor e o infinito"

No Instituto Discere, o prestigiado colégio onde jovens de famílias influentes moldam seu futuro, um novo ano letivo começa marcado por segredos, ambições e corações em conflito. Valentim, ainda se recuperando de um acidente, recebe do pai uma oportunidade única: estudar administração no exterior. Noah, agora livre das acusações contra o pai, precisa enfrentar o retorno de Gabriel, seu ex-namorado tóxico — filho de um senador rival, disposto a usá-lo como peça em um jogo político perigoso.

Enquanto isso, João Paulo, um aluno bolsista vindo de Paraisópolis, luta para se adaptar ao universo de luxo e excessos da elite; Narciso Figueiredo, um ex-ator mirim e fenômeno das redes sociais, tenta lidar com a fama e novos sentimentos que surgem dentro de si. No meio de tudo isso, a tradicional Gincana das Quatro Estações movimenta o campus — mas um vilão disposto a tudo para separar Valentim e Noah ameaça transformar os jogos em um campo de batalha pessoal.

Entre escolhas difíceis, amizades postas à prova e amores desafiados pelo poder, os alunos do Discere descobrirão que crescer significa, acima de tudo, decidir quem você quer ser.

***

Curtiu a história? Peço que vocês indiquem, comentem e votem na história, pois dessa forma alcanço novos leitores. E até o próximo livro, obrigado!

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive Escrevo Amor a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários