De agosto até novembro de 2020
Pesquisamos bastante em relação à inseminação caseira. Não foi algo difícil de se fazer, já que o algoritmo de Júlia nos ajudava bastante e também existia um incentivo maior: a felicidade da minha gatinha era visível, e isso me contagiava de uma maneira sem igual.
Conversamos virtualmente com o nosso advogado, mais para tomar um direcionamento, e ele ficou de nos encaminhar para uma equipe que tinha mais conhecimento que ele a respeito do assunto.
Finalmente nos encontramos com Sabrine, Juh estava um pouco insegura por conta da profissão dela e acabamos adiando bastante o papo. Fazia tempo que a gente não se via, devido às circunstâncias do período pandêmico. Ela, a filha e o marido insistiram em dormir em nossa casa, pois estavam com saudade.
Depois de brincarem com Kaique, sentamos na varanda e eles tomaram um vinho. Eu não pude acompanhá-los, mas me contentei com um suquinho de maracujá que meu filho fez especialmente para mim antes de dormir.
— Temos uma coisa para dizer — anunciou Rafael.
~ Eu acho que esse foi o nome fictício que eu coloquei nele, se não for, perdão 🤣
— Eu estou grávida! — Sabrine exclamou.
— Sério???? — Juh levantou, toda feliz, para abraçar a amiga.
— Não! — Ela desmentiu, rindo.
Só então encarei Rafael. Ele estava completamente pálido com a brincadeira da esposa, e isso nos fez rir ainda mais.
Quando minha gatinha retornou, sentou no meu colo, e somente em encarar os olhinhos brilhando de entusiasmo por tudo que estava acontecendo, eu me derretia. Juh parecia realizada. No momento em que expus que queria tentar novamente, imaginei que aquele resquício de medo ainda vagaria entre nós. Porém, não era o que estava acontecendo: estávamos vibrando de alegria, e isso era visível para qualquer um que prestasse atenção na gente.
Dei um selinho nela e sorri junto. Estava sendo gostoso demais viver de maneira leve algo que, há pouco tempo, na minha cabeça, era uma ideia inviável e incabível.
Voltamos nossa atenção novamente para o casal à nossa frente, que verdadeiramente parecia querer partilhar uma novidade conosco também.
Apesar de sermos todos amigos, eu sabia bem pouco sobre Rafael. Ele era um homem sério, completamente envolvido com o trabalho, mas sempre uma companhia muito agradável. Sabrine e ele eram o completo oposto um do outro, e o amor entre eles conseguia superar isso e tornar um mero detalhe. Eles se completavam e levavam o casamento de uma maneira admiravelmente respeitosa.
A pandemia deu uma bagunçada na cabeça de geral e, pelo que eu sabia, Rafael estava insatisfeito com seu trabalho. Ele nos explicou que estava à procura de algo mais humano, que tivesse contato com pessoas reais, onde pudesse usar seus privilégios de maneira mais útil.
Eu estava me identificando bastante com a conversa, porém não entendia direito onde aquilo iria parar, visto que ele era um homem reservado e nunca se abrira daquela maneira para nós duas. Cheguei a pensar que o vinho estava fazendo efeito e o deixando mais solto.
— Fiz algumas pesquisas e percebi que muitas escolas do interior estão fechando as portas... Decidi comprar algumas dessas escolas ou construir onde não for possível. De início não são muitas, mas já é um pontapé inicial. A ideia é oferecer um ensino de qualidade, acessível, mas que também respeite a realidade das comunidades. Não quero nada elitista, quero algo que transforme de verdade — começou a dizer.
Eu fiquei surpresa com a firmeza das palavras. Rafael parecia ter amadurecido aquela ideia há muito tempo.
— Rafael... Isso é enorme! — minha gatinha exclamou.
— É, eu sei... E por isso mesmo não consigo imaginar seguir sozinho. Preciso de alguém que entenda tanto da parte pedagógica quanto da administrativa... Pensei em você, Juh... — então encarou Júlia diretamente.
Nossos dedos estavam entrelaçados e, instantaneamente, os senti afrouxando. Olhei para ela e minha muiezinha estava em completo choque. O meu coração estava muito feliz por ela. Júlia respira amor pela educação e, com certeza, era um projeto que faria muito bem para ela.
— Eu? — apontou para si mesma, como se a proposta tivesse sido absurda.
— Sim. Você tem exatamente a formação que o projeto precisa, sabe lidar com as pessoas, entende de gestão e, principalmente, tem paixão pelo que faz — Rafael confirmou, sério.
— Não consigo pensar em outra pessoa que se encaixe tão bem nisso. Sempre te falei que você nasceu para algo assim, amiga — completou Sabrine.
Eu observava minha gatinha, que parecia lutar contra a avalanche de pensamentos. Seus olhos brilhavam e sua boca tremia num quase sorriso. Eu sabia que, por dentro, ela já estava sonhando com aquilo.
— Rafael... Eu não sei nem o que dizer... — tentou, olhando para mim em busca de apoio.
— Diz sim, amor... Pelo jeito, esse projeto tem tudo a ver com você — falei, voltando a fazer carinho em suas mãos.
— De coração, obrigada pela confiança. É um convite que mexe comigo e eu... Eu vou ser sincera, não acredito que seja a pessoa mais competente para te ajudar nisso, mas tens certeza que darei o meu melhor para ajudar no que for preciso. Quero entender tudo e me jogar de cabeça para fazer a diferença — respondeu, completamente trêmula.
— Vamos construir algo lindo juntos! — Rafael respondeu e levantou-se para apertar a mão da minha esposa, que ignorou, partindo para um abraço.
E eu, ali, só conseguia olhar para o meu amor e sentir o peito inflar de orgulho, porque sabia que o coração dela estaria comprometido naquela proposta.
— Sim... Vocês queriam dizer algo também, o que é? — perguntou Sabrine, após um tempo.
— Qual sua opinião sobre inseminação caseira? — Juh questionou.
Deu para perceber ela mentalmente transicionando entre confusão e animação.
— Quem quer ter um bebê? — Sabrine perguntou, rindo.
— Queremos tentar novamente e... Depois de conversar bastante sobre o assunto, pensamos na inseminação caseira, mas não é algo muito comum — Juh respondeu, também rindo.
— Eu tive muito receio de início. Contudo, quanto mais leio e me informo sobre, mais me parece uma boa ideia — complementei.
— Como funciona? — Rafael quis saber.
Juh e eu explicamos que é um procedimento mais simples, feito fora do ambiente médico, utilizando o material coletado do doador e uma seringa. É algo rápido e sem grandes complicações. Comentei também que existem diversos grupos nas redes sociais de casais e pessoas que compartilham experiências, trocam contatos de doadores e dividem informações. A comunidade é bastante ativa, e foi justamente através dela que conseguimos tirar muitas das nossas dúvidas iniciais. Júlia explicou como funciona a solicitação de exames de saúde atualizados, histórico médico e só depois segue adiante.
— O que me faz querer tentar essa via não é não acreditar nas outras, mas a quantidade de processos a menos no meu corpo... Basicamente só vou precisar fazer aplicação para ovulação — disse ela.
— Seu medo de agulha agradece — Sabrine brincou e nós rimos.
— Acabei de lembrar que terei que lidar com os hormônios dela a todo vapor — zoei, colocando a mão no rosto.
— Eu fico tão chatinha... Te desejo muita paciência — Júlia também brincou.
— No que vocês precisarem da minha ajuda, podem contar comigo. Se acharem necessário, eu posso entrar no grupo e analisar os candidatos — sugeriu Sabrine.
E foi uma ótima proposta. Se existisse a possibilidade, adoraríamos fazer de maneira anônima, mas, pela nossa informação até o momento, não era possível.
E foi uma ótima proposta, se existisse a possibilidade, adoraríamos fazer de maneira anônima, mas pela nossa informação até o momento, não era possível.
Depois de muitos abraços e risadas, eles foram dormir, e nós duas ficamos ali na varanda, em meio ao silêncio da madrugada. A gente até olhava para a lua, mas a verdade é que toda a minha atenção estava na minha gatinha, aninhada em mim, com aquele brilho nos olhos que transbordava felicidade. Estávamos leves, sonhando novamente, cheias de planos, mesmo sem saber quando exatamente poderíamos colocar em prática. Era uma sensação diferente agora, como se a vida tivesse se lembrado de nos dar um respiro depois de tantas turbulências.
Eu pensava assim o tempo inteiro: tem que ter um final diferente dessa vez, tem que ter.
Entre um carinho e outro, deixei meus dedos escorregarem pela nuca dela, puxando de leve seus cabelos. Júlia ergueu o rosto e me beijou de uma vez, firme, colando nossos lábios com força. Logo nossas bocas se movimentavam em sincronia, nossas línguas se encontrando em um compasso quente, lento e provocante. De vez em quando, ela mordia meu lábio inferior e depois voltava a sugar, aumentando a tensão. Eu acompanhava cada movimento, puxando-a pela cintura, sentindo seu corpo grudar no meu.
O som molhado do beijo preenchia a varanda junto das nossas respirações apressadas. Quando ela quebrou o contato por um segundo, ainda colada em mim, sussurrou com um sorriso safado:
— Vamos para o quarto... eu quero melhorar ainda mais a nossa noite.
Juh me puxou pela mão até o quarto e, mal fechamos a porta, me encostou contra a madeira, voltando a me beijar com a mesma fome. Às vezes ela descia os lábios pelo meu queixo, mordiscava de leve, depois subia de novo para capturar minha boca. O beijo ficava cada vez mais apressado, minhas mãos explorando seu corpo sem pressa, até que puxei a barra da blusa dela e ajudei a tirar. Ela retribuiu, deslizando os dedos pela minha cintura e livrando-me da minha roupa com a mesma pressa.
Nossos lábios se encontraram de novo, e eu a segurei firme pela cintura, erguendo Júlia do chão. Ela enlaçou minhas pernas na sua cintura, apertando forte, enquanto eu a carregava em direção à cama. Cada passo era marcado pela pressão deliciosa do corpo dela contra o meu, nossos suspiros se misturando com o beijo quente.
Quando a deitei, foi só por um instante: ela logo me puxou junto, virando o corpo com habilidade e ficando por cima. Sua boca voltou à minha, em movimentos firmes, quentes, a língua explorando com ousadia, enquanto suas mãos deslizavam pela minha pele.
A gatinha foi descendo devagar, deixando um rastro de beijos pelo meu pescoço, colo e abdômen. Alternava sucções lentas e mordidinhas rápidas, me deixando arqueada, completamente entregue. Com calma, tirou o que faltava da minha roupa e se acomodou entre minhas pernas, me olhando com aquele brilho safado antes de baixar a boca.
Um beijo demorado, molhado, foi a primeira provocação. Logo sua língua começou a deslizar firme, profunda, alternando ritmos que me enlouqueciam. Às vezes rápidas, precisas; às vezes lentas, circulares, me deixando à beira do delírio. Suas mãos firmavam minhas coxas, me mantendo aberta para ela.
O quarto se encheu de sons abafados, gemidos entrecortados e a respiração descompassada que escapava de mim. Até que o ápice me tomou inteira. Meu corpo se arqueou, minhas mãos se perderam nos cabelos de Juh, e eu explodi, completamente entregue à boca dela.
Ela subiu devagar, beijando cada ponto sensível até encontrar minha boca. Rimos, ainda tentando recuperar o fôlego, até que não resisti: joguei meu corpo sobre ela, abraçando-a com força. Queria que sentisse meu suor, meu desejo, cada tremor que ainda vibrava em mim.
Sem desgrudar sua boca da minha, deslizei meus dedos entre suas coxas. Ela abriu espaço, receptiva, e eu comecei com movimentos circulares até penetrá-la, aumentando o ritmo conforme seus quadris respondiam. O beijo era profundo, molhado, mas às vezes ela se perdia: os suspiros quentes escapavam contra a minha pele, me arrepiando inteira.
Ela mordia meu lábio, voltava a sugar, depois gemia abafado contra meu pescoço. Nossos corpos se contorciam juntos, cada movimento meu arrancando dela reações mais intensas. Até que senti a pressão aumentando, e em poucos segundos Juh explodiu em minhas mãos, deixando seu melzinho escorrer em mim.
Não sei exatamente quando, mas apagamos. Acordei com minha perna jogada por cima dela, minha gatinha encaixada nos meus braços.
Sentei na cama, pensando se ia direto para a esteira ou se tomava um banho antes. Eu definitivamente precisava de um banho, e essa acabou sendo minha escolha. Joguei uma água no corpo e corri por uns 30 minutos. Obviamente precisei de uma ducha de verdade depois e, enquanto me arrumava para ir à filial, a observei acordar.
Graciosamente, Juh se mexia embaixo do lençol e, assim que seus olhos encontraram os meus, um sorriso lindo brotou em seus lábios. Fui até ela roubar um beijinho, e a gatinha cruzou os braços atrás do meu pescoço, me prendendo em um abraço.
— Não vai, não... — pediu, como quase sempre.
— Vou, mas logo volto — falei, respirando o cheirinho da sua pele.
Júlia vestiu um roupão, e tomamos café da manhã juntas, conversando sobre a quantidade de coisas boas e novas que estavam acontecendo com a gente.
De repente, ela lembrou das nossas visitas, que ainda não haviam aparecido naquele dia.
— Amor, ninguém ouviu nada, não é? — perguntou, preocupada.
— Não, gatinha... a gente se comportou direitinho — afirmei, rindo dela.
— Espero que não mesmo — disse Juh, semicerrando os olhos.
Ela me acompanhou até o carro, ainda de roupão. Quando eu já ia entrando, Júlia me segurou pelo braço, como quem queria esticar mais uns minutinhos.
— Eu não queria mesmo que você fosse hoje... — falou baixinho, entre alguns selinhos que roubava.
Olhei por cima do ombro em direção à casa, tentando calcular o horário. Já devia ser mais ou menos a hora da aula online de Kaique, mas não vi sinal dele.
Encostei o corpo dela contra a porta do carro, prendendo-a ali, e me despedi com um beijo gostoso, daqueles que parecem prometer reencontro ainda melhor. Minha mão escorregou até a bunda dela, apertando com força e puxando-a contra mim.
— Tchau, amor... eu volto com uma surpresa — murmurei contra sua boca, deixando escapar um sorriso sacana.
Juh ficou me olhando daquele jeito que sempre me desmontava, com uma carinha apaixonada. Já dentro do carro, quando dei partida, não resisti: coloquei a cabeça para fora da janela só para ganhar mais um beijinho. Júlia riu e se inclinou, enchendo meu rosto de amor.
Dirigi até a esquina com o sorriso mais bobo já registrado pela humanidade estampado no rosto.
Era o dia em que eu ia buscar Milena, e ela havia pedido que eu não contasse a ninguém. Minha filha queria surpreender a todos.