O Delírio de Vicente

Um conto erótico de Casal Tatuíra
Categoria: Heterossexual
Contém 759 palavras
Data: 18/09/2025 11:11:58
Última revisão: 18/09/2025 11:12:56

Vicente tinha um tipo. Seu tipo era a mulher de meia-idade, recatada, daquelas que se dizem “do lar”. Boas moças, sim, senhor! Das que postam fotos com o marido e os filhos, numa legenda de coração e gratidão. Mas, ah!, com um detalhe fatal: um decote discreto, não para exibir, mas para insinuar. Uma calça justa, daquelas que anunciam o “capô do fusca” e se enterram na fenda, que marcam a calçinha lá atrás e que se enterram na bunda. Para esse tipo, Vicente dava um nome: “Jaqueline”.

Leninha, sua esposa, a mulher que ele amava, era quase uma Jaqueline. Quase. Faltava-lhe aquele ar de pecado contido, o pudor que provoca, a blusa que tropeça, a calça que é uma segunda pele, a calcinha mínima. O resto, ela tinha.

Pois eis que um dia, por um milagre do acaso ou uma ironia do destino, Leninha vestiu-se – sem saber! – de Jaqueline. Uma blusinha ingênua e maliciosa, uma legging que era uma declaração de guerra, um tênis que convidava a um passeio pecaminoso. Tudo marcando, tudo exalando o aroma do desejo. Foram ao shopping e Vicente ardia uma luxúria nova, diferente. Via-a de longe, aquela bundinha redonda, a calcinha enterrada como um segredo mal guardado, e seu sangue fervia.

E ficava doente, absolutamente doente, se percebia o rabo de olho de outro homem, um sorriso maroto de quem aprecia a esposa alheia. Era ciúme e algo mais, era um desejo provocado pelo desejo dos outros, um orgulho da mulher, um tesão de saber que ela poderia ser santa e meretriz.

E na saída, no estacionamento, o demônio do ciúme e do desejo pegou Vicente pela nuca. Não pensou. Agiu por um impulso que vinha das entranhas. Agarrou sua Jaqueline pela cintura e a derrubou no banco do carro, a porta ainda aberta para o mundo. Lançou-se sobre ela com uma fúria de marido e amante, de quem descobre a mulher pela primeira vez e quer possuí-la ali mesmo, na frente do diabo e de todos os carros estacionados.

Esperava, no fundo, um grito de protesto, um recuo da Leninha recatada. Esperava a virtude que sempre lhe negou aqueles prazeres. Mas eis que surge a Jaqueline. Ela não recuou. Cedeu. Inflamou-se. E se beijaram com uma boca de fome, uma boca de adúlteros que se encontram num quarto de hora, uma boca que há muito não se abria assim naquele casamento.

Vicente desceu. Beijou-lhe o pescoço, os seios que a blusa exibira com pudor o dia todo. Abaixou-lhe a calça e a calcinha branca de renda – um pecado de chantilly! – estava ensopada, deliciosamente úmida do desejo dela. E ele beijou seu botão, lambeu sua buceta, bebeu dessa fonte, como um condenado, e fez a esposa gemer como uma amante.

Então, ela, a Leninha-Jaqueline, virou-se. Num gesto que não era dela, puxou a calcinha de lado e ofereceu-se com uma frase que ecoou como um trovão no estacionamento vazio: “Vai, me fode assim.”

E Vicente não se fez de rogado. Penetrou-a. Bombou. Socou. Deu tapas naquela raba que tanto provocara os olhares alheios. E gozaram juntos, num gemido abafado que era ao mesmo tempo um uivo de animais e uma prece.

E no meio do ato, entre um tapa e um gemido, ele lhe cuspiu a verdade, a confissão torpe: era a legging, era a calcinha marcando na praça pública, era o relevo da buceta desenhado no tecido, os seios pontudos sob a malha – e, ah!, os olhares alheios! Os olhares dos outros homens, que não lhe deram ciúme, mas sim uma volúpia doentia, um tesão de possessão e exibição.

E naquele estacionamento, entre portas abertas e suspiros abafados, não nasceu apenas um orgasmo. Nasceu a Jaqueline de carne e osso. A Jaqueline que, dias depois, iria tatuar um demônio na virilha, só para provocá-lo. Uma parte do armário foi tomada por calças e shorts que eram uma segunda pele, malhas que colavam no corpo como um desejo, e gavetas abarrotadas de calcinhas que fariam um santo tropeçar – e o diabo, esse, coraria de vergonha.

Agora, ela vive a torturá-lo. Horas a fio. Em casa, vestida de Jaqueline. Provoca, insinua, exibe-se e… nega-se. Não deixa ele tocar. É um suplício chinês, uma agonia deliciosa. Porque Vicente já sabe: quando a Jaqueline entra em cena, com seu sorriso de megera e inocente, é o prenúncio do sexo mais selvagem. É a senha para a noite em que a esposa some e dá lugar à amante.

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