Luma no Espelho

Da série ERO-SHOTS
Um conto erótico de Sativo
Categoria: Heterossexual
Contém 2442 palavras
Data: 21/10/2025 06:14:38
Última revisão: 21/10/2025 08:01:10

Eu me chamo Luma, nordestina orgulhosa que carrega no sangue o axé da Bahia e o balanço do mar de Salvador. Sempre fui amante da vida livre, vejo o amor como um jogo de espelhos — às vezes você é atraída por alguém que reflete exatamente o que você mais gosta de expressar, as vezes pelo que tenta esconder em si. Mas na minha adolescência eu não percebia as coisas desta forma. Eu só queria sentir.

Vou contar alguns casos amorosos dos muitos que tive na fase dos vinte e poucos anos, quando eu só tinha uma coleção de batons vermelhos e a convicção ingênua de que liberdade abstrata era sinônimo de felicidade e jamais poderia culminar em solidão. Eu dizia que não acreditava em relacionamentos, acreditava no desejo e no prazer, mas a verdade é que eu só era meio egoísta mesmo e não queria ser a primeira a sofrer na relação.

E foi exatamente assim que agi quando me envolvi com o Alex.

* * *

I. ALEX: O FOTÓGRAFO

Conheci o Alex num vernissage em Salvador. Ele era fotógrafo e tinha aquele ar blasé de quem vê o mundo através de lentes e cigarros. Quando me pediu para posar para ele, eu aceitei na hora — mais pela curiosidade do que pela vaidade.

No estúdio, a luz fria escorria pelas paredes. Ele me pedia para ficar imóvel, mas o olhar dele fazia tudo dentro de mim querer se mover.

Cada clique da câmera era como um toque, capturando não apenas minha imagem, mas o calor que crescia entre nós. Alex ajustava a lente com dedos precisos, e eu, deitada sobre o pano preto, sentia o peso do seu olhar como uma carícia que não precisava de mãos.

— Vire o rosto, Luma — ele sussurrou, e eu obedeci, deixando a luz traçar os contornos do meu corpo como se fosse um pincel.

O ar estava denso e o nosso silêncio dizia mais do que palavras. Quando ele se aproximou para ajeitar uma mecha do meu cabelo, nossos rostos ficaram tão próximos que o calor da sua respiração fez minha pele formigar. O obturador disparou, mas já não era só a foto que ele queria capturar — era o instante em que eu me rendi, deixando o desejo focar cada pedaço de mim.

Ele se inclinou, os lábios roçando os meus com a mesma delicadeza com que ajustava o foco da câmera. O beijo foi lento no início, como uma exposição longa, mas logo se tornou urgente, um flash que iluminou cada canto escuro do estúdio. Minhas mãos apressadas abriram os botões da camisa dele e o tecido caiu como uma cortina, expondo a pele quente e os músculos que se moviam sob ela. Ele me apertou contra o seu corpo quente e me penetrou em um ritmo lento e profundo. Naquele momento, éramos um negativo perfeito, eternizados em um quadro que ninguém mais, além de nós, veria.

No dia seguinte, ele me mostrou uma das fotos: eu nua, mas não vulnerável. Selvagem. Foi a primeira vez que entendi que prazer também é poder.

Nos encontramos mais duas vezes, e a cada encontro incendiamos aquele estúdio, transamos em cada parte dele, sem espaço para muitas pausas. Até que Alex começou a me olhar com algo além do desejo. Queria capturar mais do que alguns momentos. Mas aquilo era uma moldura que eu não podia carregar.

Minha liberdade, esse reflexo selvagem que eu tanto protegia, começou a tremer sob o peso dos olhos dele. Então, peguei meu álbum, apaguei a luz e parti.

* * *

II. CAIO: O MÚSICO

Semanas depois, conheci Caio — tocava violão perto do Museu da Cidade, de frente para o Largo do Pelourinho. O som do violão dele era tão bonito que parecia mentira.

Caio morava de aluguel, não tinha apego a bens materiais, mas tinha um riso fácil e um cheiro gostoso de chuva. Me ensinou que a vida podia ser simples e intensa ao mesmo tempo.

A gente fazia amor em qualquer canto, sem medo de testemunhas.

Numa noite de calor abafado, estávamos no beco atrás de um bar. A adrenalina corria mais rápido que o sangue nas veias, porque sabíamos que a qualquer momento alguém poderia passar. Ele me puxou, suas costas contra a parede áspera, e no meu corpo apenas a suavidade dos dedos dele, dedilhando lentamente minha pele até invadir minhas roupas e encontrar a umidade no meio das minhas pernas. O mundo parecia vibrar com o risco, cada toque era como uma nota aguda que desafiava o silêncio da noite.

— Você é louca, Luma! — ele riu, deixando escapar um bafo quente contra meu pescoço.

— E você não?! — eu respondi mordendo o lóbulo da orelha dele, puxando-o mais para mim.

O beco era estreito, iluminado apenas por um poste distante. Minhas pernas envolveram a cintura de Caio, e ele me segurou com firmeza, como se o chão pudesse sumir a qualquer instante. Puxei o seu pênis para fora da bermuda e ele o afundou em mim, cada movimento era rápido, quase apressado, como se estivéssemos roubando tempo do universo. O som abafado dos carros ao longe e o risco de sermos pegos só aumentavam a urgência. O perigo era o verdadeiro combustível do desejo na nossa relação. Minha respiração saía em arfadas curtas, e os olhos dele, brilhando na penumbra, seguravam os meus com uma intensidade que fazia o resto do mundo desaparecer.

Quando terminamos, ofegantes, rindo baixo como dois conspiradores, ele me abraçou contra a parede, o suor misturando-se ao cheiro de chuva que sempre carregava. Por um instante, senti que éramos invencíveis. Mas, certo dia, depois de um dos muitos encontros que tivemos, quando o deixei dormindo sobre o violão, caiu a ficha de que Caio só tinha a ele mesmo naquela vida incerta. Percebi que sua liberdade também podia ser solidão.

Chegou um momento que não os encontros foram diminuindo até que um não buscou mais pelo outro.

* * *

III. CLARA: A MULHER DO BAR

Sim, uma mulher. Clara era dona de um barzinho alternativo do Rio Vermelho. Mulher linda, pele negra, cabelos curtos cacheados, tatuagens nos pulsos e um sorriso enorme que desmontava a minha armadura.

Com ela, o prazer foi outra coisa: não era embate, era descoberta.

Certa noite, eu estava no balcão como sempre, o bar já estava vazio, havíamos tido uma longa e agradável conversa quando Clara me convidou para ficar depois do expediente. Ela se sentou perto de mim, dividindo uma garrafa de vinho tinto, e o mundo parecia suspenso no brilho suave dos olhos dela. Quando ela pegou minha mão e traçou as linhas da minha palma com a ponta dos dedos, senti um calor inexplicável — era como se ela estivesse desenhando mapas na minha pele, caminhos que eu nem sabia que existiam.

O beijo veio como uma onda lenta e quente, sua língua macia se perdia no interior da minha boca. Os nossos corpos quase se fundindo, compartilhando o mesmo calor. De repente estávamos no canto escuro do bar, o cheiro de madeira e álcool misturando-se ao perfume floral dela.

Clara deslizou as mãos sob minha blusa, e o roçar dos dedos dela na minha cintura fazia todo meu corpo estremecer. Não havia pressa, apenas a certeza de que cada pedaço de mim estava sendo deliciosamente redescoberto por Clara. Nossos corpos se encaixavam perfeitamente e nos movíamos em sincronia. Nossas bocetas úmidas deslizavam uma na outra, entrelaçadas como rios que se encontram. Ela provocava milhares de sensações por todo o meu corpo e o calor da pele dela contra a minha era um refúgio onde eu podia ser inteira.

Ficamos algumas semanas, até que Clara se apaixonou — e eu, covarde e egoísta como sempre, fui embora antes que eu pudesse sentir o mesmo.

* * *

IV. RUBEN: O MEU ESPELHO (OU A PESSOA ERRADA?!)

Ruben apareceu quando eu já achava que nada mais me surpreenderia. Nos conhecemos na Pituba, numa festa no terraço de um amigo em comum. Ele falava pouco, mas ria fácil, e tinha um olhar que parecia me despir sem pedir licença.

— Você tem cara de quem foge do amor — ele disse.

— E você, de quem persegue o prazer — respondi.

— Então somos feitos da mesma matéria, Luma.

E éramos mesmo.

Nos tornamos inseparáveis, não por compromisso, mas por vontade. Ruben era meu par ideal — livre, intenso e inconsequente. Com ele, eu não precisava fingir ser outra coisa. A primeira vez que ficamos, foi num domingo chuvoso, depois de passarmos o dia inteiro bebendo absinto e rindo da vida.

A chuva tamborilava nas janelas, mas dentro do quarto o nosso calor era o próprio sol.

Quando Ruben me puxou para o colchão, o mundo ficou pequeno, reduzido ao espaço entre nossos corpos. Seus beijos vieram como relâmpagos, rápidos e eletrizantes, e cada toque das mãos dele na minha pele parecia incendiar o ar. Não havia regras, apenas o ritmo dos nossos desejos, livres como o vento que batia nas cortinas. Ele riu contra meu pescoço, e eu me entreguei, deixando que cada movimento fosse uma dança sem coreografia, selvagem e perfeita. Ele me devorou toda com uma devoção profana, e eu retribui por minutos a fio em uma felação primal. Naquele instante herético, éramos puro instinto, duas chamas que se alimentavam uma da outra, sem medo de se consumir. E nos consumimos por horas.

A química entre nós era quase mística. O tipo de coisa que te faz esquecer o próprio nome por alguns minutos. O prazer era uma corrente que nos unia, éramos como um só reflexo.

Houve noites em que convidamos outros para nosso fogo. A primeira vez foi com Ana, uma amiga minha que tinha olhos de pantera e um sorriso que prometia perigo. Combinamos em seu apartamento, as luzes estavam baixas e o som de jazz flutuando como fumaça pelo ambiente. Eu e Ana começamos tudo enquanto Ruben observava, o olhar brilhando com uma mistura de admiração e desejo. O toque dela era leve, mas incendiário, e quando nossos lábios se encontraram, senti Ruben se juntar a nós, suas mãos firmes guiando o ritmo. A partir dali, fizemos de quase tudo que podíamos. Foi uma noite deliciosa e inesquecível.

Outra vez, foi com Raúl, um amigo de Ruben. Ele tinha um jeito quieto, mas seus olhos guardavam uma intensidade que me desarmava. No terraço, sob a lua cheia, começamos a dançar, os três, movidos pelo vinho e pela música que vinha de algum lugar abaixo. Quando Ruben me puxou para um beijo, senti as mãos de Raúl na minha cintura, firmes. Era diferente — mais caótico, menos fluido. Os corpos se entrelaçavam, mas algo em mim começou a se desconectar. Enquanto Ruben e Raúl se perdiam no momento, eu senti um vazio crescer. O prazer estava lá, mas não era mais suficiente. Eu queria mais — pela primeira vez não mais corpos, porém mais de Ruben, estranhamente só dele.

Vivíamos uma rotina caótica e deliciosa. Às vezes passávamos o fim de semana inteiro trancados em casa, o mundo lá fora sumindo e a gente fodendo. Mas outras vezes, ele desaparecia — e eu fingia não me importar. Mas eu me importava.

Comecei a desejar exclusividade. Não porque eu quisesse prendê-lo — mas porque eu queria que, por um momento, o mundo parasse só pra nós dois. Então refleti sobre aquilo e pensei que várias pessoas que deixei para trás pudesse ter sentido aquilo também. Percebi meu egoísmo, mas era tarde.

Uma noite, resolvi falar com ele. Estávamos deitados na varanda, o céu cinza, a cidade dormindo embaixo de nós.

— Eu quero tentar algo mais — sussurrei.

— Mais?

— Mais do que isso. Só nós dois.

Ele ficou em silêncio. O som distante dos carros foi a única resposta por alguns segundos.

— Luma... essas últimas semanas foram as mais bonitas que já vivi — ele disse, enfim. — Mas eu não sei ser só de uma pessoa. Nem de mim mesmo às vezes — deixou escapar um riso sem graça.

Naquela noite, o desejo ainda queimava, mas havia uma sombra de adeus pairando sobre nós. Estávamos na cama dele, o quarto iluminado apenas pela luz fraca de um abajur. Ruben me puxou para ele, e nos encaramos com a urgência de quem sabe que o tempo está acabando. Os beijos eram profundos e desesperados, como se quiséssemos gravar cada fragmento daquele momento na memória. Minhas mãos traçaram os contornos do corpo dele, memorizando cada curva, enquanto o calor entre nós crescia, ardente como uma fogueira que se recusa a apagar. Era paixão, mas também era um adeus silencioso — não havia tristeza, apenas a certeza de que estávamos nos despedindo de algo que nunca poderia ser contido.

Transamos de todas as formas e posições que podíamos, em todos os lugares possíveis daquele apartamento. Deixamos rastros de suor por todo o piso. O sofá e o tapete da sala bagunçados. A cama, nem se fala. Quando finalmente gozamos, ainda ofegante, ele me abraçou, o rosto enterrado nos meus cabelos e nossos corpos deslizando de suor.

— Você é fogo, Luma — ele murmurou, e eu sorri, porque sabia que ele também era.

Nosso fogo havia brilhado intensamente, mas agora era hora de deixar as brasas se apagarem. Deixei um beijo leve nos lábios dele, um último reflexo do que fomos, e me levantei, sentindo o peso leve da liberdade que sempre busquei.

Quando ele dormiu, eu fiquei olhando pra ele, era a pessoa mais intensa que eu já havia conhecido até então, mas também era a pessoa errada para mim… ou, pensando melhor, seria eu a pessoa errada para ele?! E se para todos os meus outros casos eu também fui a pessoa errada?! Poderia ser tudo isso ao mesmo tempo, ou nada disso. Nunca saberei ao certo.

O fato é que, antes de partir de vez, passei mais alguns minutos observando o sono dele e foi então que percebi que era como se, na essência, eu estivesse olhando para mim. Ele era eu. A parte minha que eu tanto amava e temia.

Foi parada alí que imaginei que ninguém consegue prender o vento — e que o vento também cansa de girar no mesmo lugar.

Durante semanas, sonhei com ele. Com a risada, o cheiro, o jeito leve de existir. Mas o tempo, sábio e cruel, me mostrou que amar alguém igual a você é como tentar abraçar o espelho e nem eu mesma estava pronta para isso.

Hoje, quando me olho, ainda vejo Ruben e outros amores refletidos em algum canto do meu olhar. Mas não dói mais. Percebi que algumas pessoas entram na nossa vida só pra nos mostrar o que somos capazes de sentir.

Depois de tudo, continuo sendo Luma: Metade fogo, metade brisa. Inteira, ainda que feita de espelhos quebrados... ainda que também tenha deixado muitos cacos por aí.

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Comentários

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Olá Sativo! Um texto elegante, bem cuidado, com alegorias e metáforas bem aplicadas e sem cair no pornográfico. Parabéns!

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