A fantasia
O mês de fevereiro foi bem mais calmo que o de janeiro, ou estava sendo. O nosso casamento foi marcado para abril, ou junho, maior estava todo ocupado e de toda forma em abril a gente oficializa mais rápido, e em junho a gente pode talvez fazer uma viagem de três ou quatro dias. Mas eu estava feliz.
Joel e Murilo me chamaram para ir para a roda de capoeira, eu não tinha tempo para jogar novamente, mas ver eu podia. Murilo estava calado a noite toda, só Joel falou, eu só ouvi. Joel me explicou que eu aproveitei o carnaval, vivi muitas fantasias, eu sorri encabulado, até eu acho que exagerei, falei que queria tudo novamente, mas não daquele jeito, meio solto, nos primeiros dias sem eles, quero novamente, mas não sem eles. Joel disse que não gostaram, mas que sabiam que certas coisas que já tiveram que passar teriam de me ver passar, era parte do meu crescimento e eles não terão como adiantar isso, e eu não teria como adiar. Perguntei o que eles não gostaram, um silêncio, insisti na pergunta e ouvi uma palavra, “Corno”.
Uma onda gelada me arrastou, Murilo colocou a mão no meu ombro e me empurrou com o braço em minhas costas, me sorriu sem graça, ainda calado, com olhos que eu não sei se era vergonha, tristeza, qual o nome daquele sentimento? Resignação. Ele me fazia seguir adiante.
Joel me fala que não sabe como é estar em um relacionamento com dois caras dezessete anos mais velhos, quase o dobro da minha idade, dois caras com o dobro do tempo de vida, mas sabe que era cheio de dificuldades e desafios e aborrecimentos e… inconveniências, algumas em um dia, muitas em outros. Ser meu marido era como todas as coisas quase perfeitas, quase maravilhosas, tem suas imperfeições e sua parte ruim, um peso dividido por dois, e no meu caso suportar Murilo e ele era ter isso multiplicado por dois. Eu disse que não foi por querer, recebi um abraço lateral apertado de Murilo que não desacelerou a caminhada, Joel falou que entendia, que eu tentasse não pensar sobre isso, ele estava falando das emoções, e a cabeça estava bem com isso, era o peito quem estava agitado.
Não percebi a roda se formando, não acompanhei a capoeira, até que Murilo foi chamado e ele disse que não sabia, mas disse que eu sabia, eu fui puxado e ele mandou eu me divertir, soltar tudo na ginga. Soltei e foi bom, joguei com um senhor da idade de tio Renato, com uma moça da idade de Joel e com dois garotos da minha idade, estava tarde, Joel e Murilo me deixaram ficar até mais tarde e até acabar, voltei com o sentimento de felicidade que a capoeira deixa em mim e a tristeza por ter decepcionado (ou seja o que tenha sido) meus noivos. Eu nem queria tomar banho com eles, mas eles “me obrigaram”, Murilo foi quem falou dessa vez, perguntou se eu estava desenvolvendo algum tipo de sentimento a mais por Bosco ou Tião, sem culpa, ele queria saber porque ele estava nesse momento com Joel por minha causa, e eles não saberiam como é ser cinco, se topariam, se não topariam, se valia pena tentar ou… “Não, não, não, não, não. Eu eu não quero mais ninguém, eu juro que eu tô arrependido e nunca mais eu vou querer ficar com outros caras além de vocês, eu juro, eu não fiz por mal…”, ambos me abraçaram e disseram que estava tudo bem, era insegurança e é assim que se resolve, falando e sendo ouvido, e conversando, fomos juntos por um caminho e não foi bom, Murilo disse que Joel não gostou nada de ouvir tio Renato dizer que ia sentir saudade de namorar com ele, que Joel chamou Murilo e discutiram e viram que ambos tinham razão, um deu motivos para o ciúme acontecer, o outro não confia o suficiente e não tem motivos para isso.
Ciúme é inevitável, é inevitável ter formigas em casa, é desagradável, inconveniente e não tem como não ter, mas tem como afastar, controlar, e os três estavam passando por isso. E transar fora do casamento também dava o maior tesão, era isso o que Murilo sentia quando via Joel e meu tio fodendo e trocando carinhos e namorando, era isso o que Joel sentia quando me via levando porra de outros caras na minha cara, e era bom sentir o pau de Bosco, o cu de Tião, os telefonemas de nossos ‘tios’, era bom, era estimulante se sentir desejado, não ia ser sempre assim nessa frequência, isso era novo para todos nós, de mim a tio Nelson, do mais novo ao mais velho, de tio Nelson até Tião, do mais antigo ao mais novo no grupo. Joel disse que se casará com um veadinho e putinho, e que eu preciso de no mínimo dois machos, ele sabe e é por eu ser tão fogoso que ele está assim de cabeça revirada e com a vida bem encaminhada.
Me ajoelhei para me consolar do jeito como mais gosto, piroca de Joel na mão direita e de Murilo na esquerda, chupei até deixar os dois bem descontrolados metendo fundo na minha garganta. mas recobraram a conduta e pararam, tomamos banho e Murilo achou graça de quantos assuntos sérios discutíamos nus no box do banheiro, verdade, rimos disso, rimos depois de um momento tenso para nós. E logo chegou o momento que me deixa feliz, Joel se deitou na nossa cama e eu não perdi nenhum segundo, babei naquela tora e fui logo pedindo lubrificante para Murilo que já estava lambendo meu buraquinho, que para ser honesto, mesmo sendo segunda pós carnaval, o buraquinho ainda não havia voltado a ser do tamanho certo, eu estava arrombado e senti quando o pau de Joel entrou suave e de uma vez, e eu me senti muito bem também, eu sei que talvez ele prefira um cuzinho apertado, mas Murilo está ali pra isso, me senti muito bem com isso e foi zero dor, só senti prazer.
Chamei Murilo e ele abriu as pernas ao lado dos braços de Joel, e ficou na altura certa de meter e minha boca, eu estava adorando, sem tapinhas, sem palavras, só o fluxo, sem fantasias, nossos corpos liberados do juízo e da emoção, mandei Murilo meter junto, eu queria mostrar que gosto de pica, como se eles já não soubessem. Me senti maravilhoso com aquilo que estava acontecendo, eles também, e ambos disputavam segurar minha pica e me fizeram gozar, pau que não baixa, eles me dando meu próprio esperma para comer, e estava gostoso, tomei no cu forte e gostoso, suamos, Murilo tirou depressa e foi logo colocando a cabecinha da pica na minha boca e eu recebi o jorro forte e salgado, eu estava já arriando quando Joel me puxou pela cintura e eu entendi e corri para beber o amargor de sua gala, foi muito bom e meu corpo desmaiou depois de jogar capoeira, depois de nossa primeira DR e de nossa segunda DP.
“Não sou empata foda, mas vocês fizeram uma barulheira, e talvez a gente receba umas reclamações, vamos deixar combinando que se isso acontecer novamente, um de nós bate na porta para acalmar vocês e vocês seguem num volume mais ameno, né?”, “É, Bosco, mas ontem, você pediu pra eu te comer, não foi, tava cansado e de repente, tava de pau duro e pedindo foda.”, café da manhã normal, ou quase, Bosco ia ficar e fazer a mala e ir embora por uns quinze dias, nos despedimos, com um beijo na boca sem língua, coisa normal. Tião o beijou mais demoradamente, “Se… eu vou sentir sua falta, foi bom ter te conhecido, a gente ficou amigo e… é isso, aproveita a viagem, começaram o galpão e é muita gente trabalhando ao mesmo tempo, eu acho que não vai dar dois meses e o telhado vai tá completado, vai ser bom te ver de vez em quando, você é doutor e vai passar na frente da oficina e falar com os amigos, né?”, “Quando eu voltar, se você ainda me quiser, a gente continua essa história de onde a gente parou, eu vou esperar por você enquanto isso e você vai se divertindo e de vez em quando me liga, se quiser conversar…”, eles se beijaram e Tião disse que gostava dele sim, não precisava de quinze dias, vinte dias pra saber disso, eu disse que íamos nos atrasar, a gente estava chamando o elevador quando Bosco veio e tocou no braço de Tião, “Sabe, eu gosto muito de ser seu namorado.” Não houve beijo porque havia alguém no elevador quando abriu a porta nesse exato momento, “Eu não sabia que a gente era isso, mas eu gosto também.”
A volta do trabalho foi diferente, tive dois horários de aula prática de direção, peguei um ônibus, vi um homem bonito cabelo castanho, cerca de quarenta anos, parrudo, barba grande bem feita, eu não estava cobiçando, nada de fantasias, estava admirando como quem admira o pôr do sol ou uma cachoeira, ele era bonito e a partir disso nada mais, mas ele me observou de volta e sorriu, e eu saquei que ele era gay e que era ativo e também descobri por uma descoberta como se fosse um poder mágico que ele sabia que eu sou um novinho quase sempre passivo. Ele se aproximou e apertou minha mão disse que eu tinha cara de estudante, disse que trabalhava num cursinho, eu disse que não tava a fim, ele disse que eu tinha cara de quem tava afim sim e me sorriu da mesma maneira, disse que ia me dar o telefone do cursinho, pegou uma folha do caderno que ele trazia e arrancou um pedaço com o nome dele o telefone e a frase, me liga, não joga fora esse número pelo menos nos dois próximos dias, eu devia ter ficado muito perturbado, não vi que ônibus era e peguei a direção errada.
Hélio. Ele gostava de ser chamado de José Hélio, ou só José.
Deveria jogar fora imediatamente, mas era perturbador de um jeito bom ter um admirador, e pra ser honesto comigo mesmo, eu estava a fim, se eu fosse solteiro, eu nem telefonaria, ali mesmo tentaria pegar um papo. Hélio, joguei no bolso do jeans da direita, aquele bolso que é quase de enfeite, arrumei utilidade, a calça seria lavada com esse papel e eu esqueceria o assunto e a cara do sujeito, ficaria só com a lembrança do evento e talvez o nome dele que também eu esqueceria, por sorte o ônibus ia quase na direção de lá de casa, desci três paradas antes (onde o ônibus virava para outro bairro) e continuei o caminho a pé, perto de casa o telefone toca e eu resolvo atender depois da portaria, era Joel, eu estava atrasado, perto do fim de mês, me distraí e peguei o ônibus errado, já estava em casa.
Assim, sem motivo e sem pensar nele, do absoluto nada resolvi chamar Joel e Murilo, o jantar era sopa e estava servida, contei de minha última foda com Fernando e do que ele me disse, de minha preocupação e de minha promessa de silêncio, falei que vi um homem com quem Fernando pareceria em dez anos, que isso me deixou perturbado, Fernando ainda está vivo? A pergunta é exagerada, mas era possível, ele estava vivendo como?, com que dinheiro?, estava bem, precisava de ajuda, por que não respondia a nenhum telefonema?
Contei que cheguei a fantasiar um resgate dele das mãos de colegas de faculdade que estavam torturando ele em festas da universidade, eu o salvava com golpes de capoeira, Murilo caiu na gargalhada, disse que mais que o sexo que fazemos, o que o prende a mim é a minha capacidade de embarcar em qualquer fantasia.
O sorriso de Hélio se refez na minha frente, não lembrei da cor dos olhos, mas meus dedos podiam sentir a maciez do cabelo e a aspereza da barba em meus dedos, e eu pude adivinhar que ele era tão ou mais peludo que Murilo. Joel estava ligando para tio Renato e perguntou onde ele estava, ele estava no shopping, mas podia passar na nossa casa antes de ir para casa, depois ligou para tio Caio, ele estava junto com tio Renato.
Tio Renato ligou no viva-voz para Fernando como se estivesse sozinho, falou que eu o procurei para saber se podia ir com tio Caio saber se ele estava bem, eu estava preocupado, esse disse que estava bem, que não queria manter contato com ninguém que soubesse o que houve com seu pai, que achava que eu estava querendo fazer fofoca como Lucas e resolveu me cortar de sua vida, mas que tio Renato podia tirar isso de minha cabeça, “O problema de Mateus é que ele não tem amigos, todo mundo que o conhece é só pra trepar com ele, por isso ele é assim perturbado”, “Eu concordo que Mateus seja perturbado, por exemplo, ele achava que você servia como amigo, você serve para ser médico talvez”, “Agora, na hora de me comer, eu servi, né, seu velho escroto e broxa”, “Tenha uma boa noite, querido, não me ligue mais para nenhuma ajuda financeira. Lembre-se que broxa é seu pai, e fez o que fez.”, tio Renato desligou e me deu o telefone dele, disse para eu não atender, mas ver as mensagens de texto que surgiriam, e surgiram, pedidos de desculpas, que ele poderia se deitar com tio Renato ou qualquer outro, mas tinha de terminar a faculdade. Hoje eu me arrependo de ter julgado, julguei, mas ele foi moleque comigo, dane-se agora.
Tio Renato foi embora, tio Nelson esperava por ele, não marcamos nada, o clima estava bem merda. Tio Caio disse que ia nos deixar descansando e conversaríamos na noite seguinte. A noite seguiu com uma partida de ludo que nem terminamos, só para distrair e a gente poder dormir. Naquela noite atenção e carinho de Joel e Murilo incomodaram, eu podia me decepcionar sem que meu mundo caísse e pode ser difícil acreditar, eu já me decepcionei antes também, já perdi algumas ilusões, essa eu esqueceria. Me senti incomodado de estar entre os dois e inventei uma desculpa para mim mesmo para não ir dormir no sofá. Mas caí no sono e acordei sem mau humor algum, dia normal, capoeira só segunda e sexta, e era quarta e era fim de mês e dia de pagar funcionários, gratificar o destaque do mês.
Tio Caio estava ocupado e gostou do que fiz no final da quarta, levei um bolo, salgadinho e refrigerante para dois funcionários dividirem os parabéns por terem feito aniversário naquele mês, fiz isso depois dos avisos que tio Caio passou, aí ele me passou a palavra, “Além de deixar novamente dito que eu gosto muito de fazer parte dessa equipe, eu tenho a sorte de ter um grande amigo aqui comigo, ele tentou fazer de mim um bom mecânico e falhou feio, nem mecânico eu consigo ser”, risos, “por ter substituído temporariamente o dr. Galvão, a gratificação de destaque deveria ser de Murilo, entretanto além de um bom recepcionista, Bosco, que não está presente, fez uma revolução que ninguém pediu e informatizou tudo por aqui, deu trabalho, e deu certo, parabéns a ele.”, todos aplaudiram o ausente, “Mas ele não fez o que o segundo pior mecânico que já pisou aqui fez, Tião, você é horrível, e algumas vezes eu pensei sério em te demitir, mas o dr. Caio disse que todos começam assim mesmo, sem trato, pedra bruta que precisa de trabalho pra ficar brilhante, lapidar. Espero que você não seja tão ruim quanto eu e roube meu emprego. Quatro clientes foram no escritório na semana em que você de fato sujou as mãos com graxa, quatro, dr. Caio nunca viu isso antes. Eu sei que você pode melhorar, todo mundo pode. Mas nunca foi visto quatro elogios pelo excelente atendimento em uma semana só, eu espero que você melhore, mas antes tem de ensinar a todos a como fazer a gente melhorar com você, parabéns, o acordo era para você ficar dois meses de experiência, mas eu acho bom trazer a carteira de trabalho amanhã. Vamos ficar felizes com essa contratação.”
Entregar aquele envelope para Tião e falando como eu falei me fez ganhar pontos com a minha equipe sem me aproximar deles como quer meu tio, olhei pelo canto do olho e o vi com um sorriso, fiquei feliz. Tião disse que nunca teve carteira de trabalho, nem conta em banco, então… não vou falar sobre direitos trabalhistas, trabalhei em mercadinho e nunca tive nada de nada também, e olha que me fazer menor aprendiz nem era tão caro, enfim. Voltando à história.
A comemoração em casa foi excelente, Tião na cama com meus dois namorados, ele comeu os dois, os dois comeram ele. Mas tio Caio veio me buscar em casa e me levou para tomar um chopp, depois um passeio de moto, ele me mostrou os lugares da cidade que ele gosta de estar, os lugares bonitos, ele me falou do orgulho que sente de mim como funcionário, como amigo (ele falou que mesmo com esses quase trinta anos de diferença ainda pensa em mim como um amigo), falou da responsabilidade de cuidar do filho mais novo e mais amado de sua irmã, disse que seu maior medo hoje é me decepcionar e eu fique apenas atônito quando ele disse isso, o olhar dele era novo pra mim, eu estava a frente de meu tio e ele não só gosta de mim, ele me respeita, e eu decidi naquele instante fazer tudo que fosse necessário para manter esse olhar, esse carinho e esse respeito.
Eu já saí de casa sabendo que ia dormir na casa de meu tio, eu tinha vontade de ele me levar pra cama, agora eu estava certo de que eu o levaria pra cama. Descemos da moto e ele não me deixou chamar o elevador, me levou para um canto onde não havia câmeras na garagem ele me beijou e me fez descer até ficar de joelhos, ele interrompia o boquete que eu fazia nele para me mandar fazer absoluto silêncio, e eu adorei o perigo, pensando e tendo certeza de que se fôssemos pegos ele ofereceria meu boquete como pagamento por não sermos denunciados, mas eu não queria, queria apenas ele, queria os beijos que ele me dava enquanto eu chupava seu saco meio peludo e chupava seu pau, não gozou na garagem, foi na sala do apartamento, como sempre aquela coisa que parecia coalhada amargam e eu adoro.