A pergunta de Donna me pegou de surpresa. A primeira coisa que pensei foi dizer não, mas achei melhor não fazer isso. Não sei quais eram as intenções dela, mas decidir algo assim depois de uma transa intensa não é muito aconselhável. Acho que ela percebeu minha indecisão e deu um sorriso que me deixou um pouco confusa. Eu não tinha certeza se ela estava falando sério ou não.
Donna se levantou, estendeu as mãos em minha direção e me chamou para tomar um banho. Ela disse que iria me explicar melhor a proposta que me fez. Achei melhor acompanhá-la, mas antes tirei a cinta da minha cintura.
Tomamos um banho gostoso e ela começou a me explicar sua proposta, que até achei interessante.
Donna— Eu estive pensando sobre o que a gente conversou ontem à noite. Eu queria que você viesse morar aqui por um tempo. Você pode trabalhar comigo na galeria e voltar a estudar. Tenho certeza de que Orlando consegue uma bolsa para você, caso ele veja potencial em você como pintora. Eu não sou especialista, como você sabe, mas o seu quadro que vi é bom, acho que bom o suficiente para você conseguir essa bolsa de estudos.
Nora— Olha, é algo que eu preciso pensar com calma e tenho que ver o que minha mãe pensa sobre isso. Não que eu precise da autorização dela, mas a opinião dela faz diferença para mim. Eu também não sei se tenho condições de conseguir uma bolsa, mas isso nem é um problema. Eu consigo pagar as mensalidades se eu tiver onde morar e um trabalho.
Donna— Melhor ainda! Mas de toda forma, você pode tentar conseguir a bolsa. Se não conseguir, você paga as mensalidades. Você pode ficar aqui sem pagar nada, só me ajudar um pouco nas despesas alimentícias. O salário eu tenho que ver com a Valentina, mas já tinha conversado com ela sobre eu precisar de uma assistente, e ela meio que concordou. Mas se você concordar, mesmo que não seja como minha assistente, trabalho eu consigo para você.
Nora— Tudo bem, eu prometo que vou pensar com carinho, mas para eu estudar, só ano que vem, e ainda faltam alguns meses.
Donna— Sinal que você tem tempo para pensar com calma, mas se decidir vir, você pode vir antes. É até bom para você já ir se acostumando com o lugar.
Concordei com ela, e a gente terminou o banho. Voltamos para a cama e passamos praticamente o dia ali, entre beijos, carinho e claro mais sexo antes de finalmente dormir satisfeitas. Dormimos agarradinhas e só acordamos no domingo de manhã, já descansadas. Então fizemos um sexo matinal gostoso e curtimos um domingo juntas.
O final de semana se foi e, na segunda de manhã, Donna estava me deixando no terminal rodoviário para eu pegar o ônibus para Santos. Foi uma viagem tranquila, mas bem mais demorada. Cheguei em Santos e pedi um Uber até minha casa; ficou caro, mas eu não estava afim de pegar outro ônibus, até porque teria que esperar uma hora para o próximo. Cheguei em casa morta de cansaço e nem conversei direito com meu casal favorito. Fui logo tomar um banho e me joguei na cama. Não dormi, mas fiquei deitada por um bom tempo, aproveitando para pensar sobre a proposta da Donna.
Seria interessante trabalhar na galeria. No futuro, eu poderia até conseguir expor meus quadros ali. Como a galeria abria espaço para novos artistas, seria uma tremenda oportunidade para eu tirar meus quadros do sótão. Eu sinceramente não tinha nenhum entusiasmo em voltar a estudar, porém seria bom eu me formar. Um diploma poderia fazer falta no futuro. A gente nunca sabe o que o destino tem preparado para a gente; hoje um diploma não faz falta alguma, mas no futuro pode me ajudar muito.
Eu tinha três meses para pensar. Claro que eu não iria demorar esse tempo todo, mas também iria pensar com calma e, principalmente, conversar muito sobre isso com minha mãe. Eu não tinha ideia de como seria sua reação sobre o assunto. Se eu decidisse ir, ela não iria me impedir. Porém, eu não queria sair de casa e deixar minha mãe contrariada comigo. Acho que ela apoiaria eu voltar a estudar, só não sei se entenderia bem eu ir morar com Donna. Eu não iria para uma cidade muito distante; isso era um ponto positivo, porém era uma cidade muito violenta e com um índice de criminalidade altíssimo, isso era um ponto negativo. Sinceramente, eu acho que a balança estava equilibrada, tanto para o bom quanto para o ruim. Mas era melhor eu ver isso diretamente com minha mãe.
Na hora do jantar, falei com minha mãe sobre a proposta da Donna. Foi mais ou menos o que pensei; ela ficou feliz pela possibilidade de eu voltar a estudar, mas tinha suas preocupações por eu morar em São Paulo e ainda na casa de alguém que eu ainda não conhecia bem. Mas ela deixou claro que não era contra. Se eu decidisse ir, iria me apoiar. Resumindo, ela deixou a decisão nas minhas mãos, e isso também não era novidade para mim. Minha mãe sempre me deixou muito à vontade para tomar as decisões importantes na minha vida. Mas as responsabilidades também eram minhas, então eu sempre pensava com calma e avaliava os riscos de todas as decisões que tomei até hoje. Essa não iria ser diferente.
Nos dias seguintes, pensei muito sobre o assunto e conversei bastante com minha mãe e com Milene também. Aproveitei para pintar alguns quadros e terminar dois que eu tinha meio que abandonado. Não parei de ir ver Donna, porém deixei claro que ainda estava pensando. Essas visitas me deixaram mais segura em relação à Donna; era fato que a gente se dava bem, gostávamos de arte e nos entendíamos muito bem na cama. Nossas conversas eram ótimas e, a cada vez, nos conhecíamos melhor.
Voltei à galeria mais uma vez, mas não fiquei muito tempo. Foi em um sábado e fui direto à galeria buscar Donna porque seu carro estava na revisão. No mais, a gente sempre ficava no seu apartamento conversando, vendo filmes e transando muito. Nossas transas também evoluíram; eu sempre gostei de lábios, boca, língua e dedos, mas Donna gostava de algo mais, como dildos e cintas. Porém, ela não ficou satisfeita com isso, e depois de algumas conversas, começamos a usar chicotes, algemas, cordas e algumas palmatórias. Eu não me importava em usar nela, até porque não era algo diferente para mim, mas em mim eu não curtia, e ela respeitava isso.
Já fazia dois meses que Donna fez a proposta e, depois de muito pensar, eu resolvi aceitar. A gente se dava bem, isso era fato, eu poderia voltar aos meus estudos e conseguir meu diploma. Mas o que mais pesou mesmo foi a chance de trabalhar na galeria; era uma ótima oportunidade para mim. Então, antes de aceitar, liguei para Donna para a gente ter uma conversa séria. Eu disse que aceitava a proposta, mas com uma condição: eu queria trabalhar na galeria. Falei que era um ambiente em que eu me dava bem e que iria trabalhar com ela, que era uma pessoa eu conhecia. Eu não queria correr o risco de ir trabalhar em um lugar que não gostasse, ainda mais sozinha. Donna me garantiu que eu iria trabalhar na galeria, que já tinha conversado com Valentina.
Depois de conversarmos mais um pouco, eu disse a ela que no final de semana eu iria para ficar. Ela ficou feliz com a notícia e fez questão de deixar isso bem claro. Falei para ela que iria mais tarde, mas que chegaria no máximo lá pelas 17 horas, e assim ficou combinado. Depois de falar com Donna, fui contar para minha mãe sobre minha decisão. Ela disse que achava ruim ficar longe de mim, mas estava feliz por eu estar indo terminar meus estudos.
O resto do dia fui arrumar tudo que precisava e também cobrir minhas pinturas, fechando bem as janelas para não correr o risco do vento abrir e a maresia estragar minhas telas. Quando terminei de arrumar tudo, já era noite, e então só fui preparar minha documentação, inclusive meu histórico escolar. Eu resolvi ir antes, justamente por causa da faculdade; talvez demorasse mais que o normal para me aceitarem. Na verdade, eu nem sabia direito, mas já tinha feito dois anos, então só me restava dois para concluir. Se fosse para eu começar do zero, eu iria desistir. Falei com Milene sobre isso, e ela disse que provavelmente eu não iria encontrar problemas, já que muitos alunos da FEBASP, eram alunos que foram estudar artes fora e desistiram, principalmente no curso que eu iria fazer. Ela disse que não tinha certeza, mas pelo menos na USP era assim. Bom, se desse certo, beleza; se não, eu voltaria atrás, não seria a primeira vez.
No sábado à tarde, estava chegando em São Paulo para morar. Falei para Donna que não queria a ajuda do Orlando para conseguir uma bolsa, que eu tinha condições de pagar, então era melhor deixar a vaga para quem precisasse de verdade. Ela concordou e, na segunda de manhã, depois que Donna foi trabalhar, eu fui até a faculdade tentar a vaga. Deu tudo certo; a secretária que me atendeu disse que minha documentação estava perfeita e eu já deixei tudo pronto, inclusive paguei um semestre adiantado.
Quando saí de lá, já eram quase dez horas. Pensei em procurar um restaurante ali perto, mas resolvi ir para a galeria e almoçar com Donna. Quando cheguei, já eram quase onze. Estacionei o carro e fui ao seu escritório. Ela abriu um sorriso e perguntou como foi na faculdade. Eu disse que tinha dado tudo certo e agora era só esperar as aulas começarem. Ela ficou bem feliz e disse que durante o almoço tinha algo para me contar.
Saímos e ela me chamou para ir a um restaurante ali perto, pois na cantina não teríamos tanta privacidade. Chegamos ao restaurante, fizemos nosso pedido e, mesmo antes do garçom nos servir, ela já começou a me contar algo que me deixou bem chateada, não com ela, mas com a dona da galeria.
Donna disse que, quando sua esposa faleceu, Valentina foi uma das que mais deu apoio a ela. Mas quando ela começou a se recuperar, ainda estava meio frágil e Valentina acabou seduzindo-a. Donna disse que até aí tudo bem, que elas eram adultas e que, no início, isso até fez bem a ela. Porém, Valentina não quis assumir o relacionamento para as pessoas, dizia que isso poderia causar problemas, já que ela tinha sido contratada há pouco tempo e poderia gerar conversas fiadas na galeria. Donna disse que entendeu ela numa boa e mantiveram o romance às escondidas durante alguns anos, até Alexia vir trabalhar na galeria. Valentina acabou traindo-a com Alexia e, quando Donna descobriu, Valentina a dispensou. Na semana seguinte, já estava namorando Alexia escondido, mas o namoro não durou muito, porque Alexia descobriu que ela ficava com mais duas garotas que trabalhavam na galeria e terminou com ela. Eu perguntei se ela ainda gostava da Valentina. Ela disse que não, que na verdade nunca gostou dela de verdade, mas ficou bem chateada com a forma que Valentina agiu.
Eu também com certeza ficaria. Ser traída é dispensada como se não fosse nada deve ser horrível. Por curiosidade, perguntei a ela por que estava me contando aquilo. Ela disse que era para eu ficar esperta com a Valentina, que ela era uma loba, caçava garotas novinhas e depois de usar e abusar, descartava-as. Eu disse que não era boba e não iria deixar isso acontecer. Donna disse que era também para eu evitar problemas, já que as duas funcionárias com quem ela ficou foram despedidas depois que ela começou a namorar Geovanna, que era a atual dela. Perguntei se Geovanna era a mulata que estava com ela na galeria. Donna confirmou que era ela sim.
Nosso almoço chegou, e a gente foi almoçar. Eu fiquei pensando no que Donna falou; pelo jeito, Valentina era uma predadora e gostava de carne nova. Donna disse que Valentina ainda era sua amiga, que era até uma boa pessoa, porém tinha esse comportamento que ela não aprovava. Que talvez seja por isso que ela nunca assumiu nenhum relacionamento com ninguém. Até hoje, ninguém sabe de uma namorada séria que ela teve; ela parecia não ter coração. Só se envolvia às escondidas e logo trocava de parceira. Donna pediu para eu jamais comentar sobre isso com ninguém da galeria, que só estava me avisando porque não queria que eu me metesse em problemas. Eu disse que ela poderia ficar tranquila, que não iria falar nada, e agradeci por ela ter me avisado.
Terminamos o almoço e ela me chamou para voltar com ela para a galeria, que iria pedir para Valentina me atender para eu assinar o contrato de trabalho. Eu disse que, para mim, tudo bem. Voltamos para a galeria e vi quando Donna ligou para Alexia perguntando se Valentina estava no escritório e, se estivesse, se poderia me atender. Não ouvi o que Alexia disse, mas, depois de desligar, Donna me disse que Alexia iria ver com Valentina e já me ligava para avisar.
Ficamos conversando e Donna me explicou que já estava tudo resolvido com Valentina. Eu iria assinar um contrato de seis meses, que era como um contrato de experiência. Eu iria receber um salário mínimo e trabalhar das oito da manhã às cinco da tarde. Depois dos seis meses, se eu me saísse bem, teria o contrato renovado por no mínimo um ano. Passaria a ganhar um salário e meio. Com esse novo contrato, eu passaria a ter direito a parte dos 5% de tudo que era vendido na galeria, que era dividido entre os funcionários. Só faltava eu assinar o contrato, mas isso era só com a Valentina. Eu disse que entendi e perguntei se ela também recebia esses 5%. Ela disse que não; ela e Orlando recebiam 10% do que era vendido nos seus espaços e 5% do que era vendido na área de artesanato, que os dois cuidavam juntos. Porém, nas exposições, eles não tinham direito a nada; os lucros de lá iam tudo para Valentina. Eu disse que tinha entendido.
Alexia não demorou a ligar de volta e, assim que desligou, Donna disse que era para eu ir até o escritório da Valentina e mais uma vez pediu para eu tomar cuidado. Eu disse que estava tudo bem, que ela poderia ficar tranquila, que apesar da idade, eu não era boba. Me levantei e fui até o escritório da Valentina. O cômodo feito em cima da estrutura de ferro era um maior do que o do escritório do Orlando e da Donna. Achei estranho que havia dois escritórios também, porém o outro parecia estar sempre fechado.
Subi as escadas e vi que tinha um espaço em frente ao escritório onde Alexia ficava em sua mesa. Era diferente do escritório de Donna. Abri a porta de vidro e Alexia já abriu um sorriso, dizendo que eu poderia entrar, que Valentina já estava me aguardando. Agradeci e fui até a outra porta e abri. Entrei devagar e minha visão foi direta na direção da mesa onde Valentina estava. Foi nesse exato momento que vi algo que me deixou de boca aberta.
Continua...
Criação: Forrest_Gump
Revisão: Whisper
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