15. O tapa

Da série Eu sou novinho
Um conto erótico de Mateus
Categoria: Gay
Contém 3098 palavras
Data: 25/10/2025 06:42:24

. O tapa

O acordo foi de eu passar um mês com Joel, e já estávamos entrando no terceiro, quando meu tio pediu para eu descer para o apartamento de Joel e Murilo e informar que eu iria reunir minhas coisas e subir com elas, eu entendi que era um pedido, que ele não iria me punir ou ficar decepcionado se eu nem tentasse atender seu pedido. Mas eu iria atender, respondi um “Sim, senhor” e não discuti, só fiz um pedido, eu sabia que havia no mínimo um motivo para esse pedido dele e eu, se ele concordasse, gostaria de conversar sobre isso depois que a gente chegasse do trabalho.

Tio Caio concordou, quando eu estava me levantando da cama ele me disse duas coisas, a primeira era que eu era o namorado de Joel e Murilo e isso não ia mudar por conta desse mês, a segunda era que eu não deixasse nada lá, exceto a escova de dentes, mas eu poderia dormir lá quando eu quisesse mas eles não deveriam saber disso. Eu me levantei, ele me agarrou por trás enquanto eu escovava os dentes, passava o pau meio duro na minha bunda. Disse que eu tinha o dia de folga naquela quinta. Desci mesmo sem banho, antes de qualquer coisa dei o pedido de tio Caio como se fosse uma ordem e me mostrei bem a vontade em obedecer, falei da regra em que eu continuava namorado de Murilo e Joel. Tião disse que os meninos iam sentir minha falta na hora de dormir, Joel parecia que ia me enforcar, como se eu tivesse feito uma grande merda, Murilo só estava triste, aceitou me abraçar Joel não, tudo bem, Murilo me beijou, ou melhor, eu o beijei, tomei café lá e perguntei se a reunião de final de mês podia ser naquela noite para ver as despesas, concordaram e foram embora.

Eu não tinha tantas coisas, foi fácil, depois de me instalar no quarto de hóspedes do apartamento de meu tio, me deitei e me masturbei na cama, queria assistir um pornô, mas meu celular simplesmente não conectou o wi-fi, lembrei de Joel, mas lembrei do azedume dele naquele dia e deletei, tio Caio, meu maior caso de amor, meu divino caso platônico. Lembrei da chupeta que dei nele na garagem do prédio, de quando ele arrancou o meu cabaço, de ele e eu comendo Joel, de Joel e eu levando o esperma dele no meio de um beijo. Sorriso, depois de uma punheta rápida e um dedo no cu, esperma em minha barriga, descendo para meu peito, gosto amargo como o dele, ainda mais forte que o de Joel. Eu acho que vou amar esses dois para sempre.

Eu estava querendo foder, comer um cuzinho, peguei o celular, agora tinha sinal, olhei a hora e eram quase dez e meia, mandei mensagem para meu tio e perguntei se ele iria comer em casa, ele disse que estava cheio de problema na construção, me perguntou se eu conseguiria ir para a obra com a minha marmita e a dele, ok, banho finalmente, fiz uma salada enquanto a água do macarrão fervia, calma, desliga tudo, primeiro o molho do macarrão, restos de uma calabresa, bacon, uma lata de sardinha, salsa e orégano desidratados, tomates picados e molho de tomate, fervo a água mais uma vez, molho sendo feito, salada de folhas, azeitonas e passas com queijo ralado. Separo em uma tigela de plástico com tampa, macarrão feito e molho misturadinho a ele. Vou para a oficina e ele vai direto para o escritório quando eu chego, ele chama Murilo, e assim que a porta fecha eu sinto sede da boca de Murilo que estava aborrecido, mas parecia não ser comigo, ele não quis me contar, o almoço deu pra três, elogiaram o que eu fiz com o quase nada que tinha na cozinha, e eu odeio cozinha.

Vistoriei a obra, revi a planta da obra, mas agora dentro dela era diferente, fui para minhas aulas de direção, estava feliz, mas ainda estava faltando planejar os estudos, e online não parecia que iria acontecer. Na parada de ônibus encontrei com Hélio novamente, ele não parecia estar esperando o ônibus, disse que eu não telefonei, eu disse que ele era muito interessante, mas eu não estava interessado. Ele riu, que bonito.

Ele me disse que teve de deixar o carro na assistência, mas já estava com ele novamente, me ofereceu carona, eu pensei antes do não que era mais que óbvio. “Eu estou tendo aulas de direção, eu pego o ônibus aqui nas terças e quintas, hoje eu volto de coletivo.”, ele perguntou se eu guardei o número dele, não, ele pediu o meu, não. “Você não é fácil, garoto. Pelo menos o nome, será?”, isso eu disse, ele gostou, apertou minha mão outra vez, dessa vez dizendo meu nome, chegou uma senhora com seus filhos pequenos, continuamos a conversa em tom de voz mais baixa, eu não perguntei nada, mas ele disse que era professor de química de um cursinho, aí a conversa me interessou.

Por intenção perdi o ônibus, ele me falou do cursinho, metodologia, dos outros professores, ele me perguntou qual o curso que eu queria fazer e imediatamente eu soube da resposta, “administração de empresas”, ele me deu o telefone dele e do cursinho, rasguei o papel e fiquei com o número da empresa, devolvi o dele para ele, disse que se um dia eu quisesse eu iria pedir o número dele, ele ficou sério, falei que eu estava apaixonado por alguém e estava feliz, ele perguntou se o rival era mais bonito, se tinha alguma chance, “Mas você quer se relacionar com quem possa te trocar por outra pessoa numa parada de ônibus, e como vai ficar a tua confiança?”, estendi a mão e propus amizade, ele estava decepcionado consigo mesmo, mas era vaidoso o suficiente para querer continuar a me cantar na rua. A mim tudo parecia ótimo, eu não tinha do que me queixar, com o que me preocupar e aquela noite ia transar com um dos meus dois namorados e com o outro na noite seguinte, estava me sentindo importante o bastante para instigar essa pequena disputa.

Tomei banho e me despedi de meu tio, cheguei no segundo andar e entrei direto sem tocar a campainha, eu tinha a senha e não encontrei Sebastião. Briga. Joel queria briga, gritava e dizia que eu era um bostinha traidor, não me movi, não respondi, só escutei, achei melhor deixar que ele explodisse e Murilo tentasse segurar o rojão, Murilo pedia para ele me ouvir, quando Joel, me empurrou, eu… eu não sei como foi, mas eu saí de lá com um tapa que marcou minha cara e deixei ele para que Murilo o socorresse derrubei meu peso no cotovelo bem no peito dele quando ele foi derrubado no chão, saí, fui para o elevador, os vizinhos que estavam escutando com as portas abertas trancaram com rapidez quando me escutaram passar.

Não era bem vergonha, era humilhação, foi algo que naquele momento eu soube que jamais poderia desculpar, que eu iria me culpar se um dia oferecesse perdão. Meu tio viu como eu estava e só então eu vi minha camisa rasgada, ele pediu explicação, mas eu não dei, não quis dar ou não consegui, não sei, ele desceu para quebrar o pescoço de Joel, fui para o banho e só chorei quando senti a água sobre mim, demorei muito no banho, meu tio estava um dragão soltando fogo pela boca no celular, “Você é louco? Queria matar Joel? Ele está na cirurgia, você quebrou quatro costelas dele, ninguém faz ideia de como está o coração.”, não respondi nada, fiquei calado, meu tio ficou mudo do outro lado também, ele me perguntou se eu estava bem, o estado de Joel era tão grave que esqueceu de perguntar por mim, eu disse que eu não precisava de cirurgia, ele bufou do outro lado, disse que tio Nelson estava chegando para conversar comigo.

Tio Nelson veio mas não conversou comigo, me explicou que eu ia responder ao crime de lesão grave, que por enquanto não iriam operar Joel e que ele ia ficar na UTI por um tempo, respirou fundo e perguntou se eu tinha advogado constituído, “Mateus, eu perguntei se você entendeu tudo o que aconteceu, se você entende a gravidade e se conhece algum advogado.”, eu queria responder a essa pergunta se entendo a gravidade, mas não era hora de brincadeiras, eu disse que precisava lavar o rosto, ele entendeu que eu estava nervoso e queria chorar, queria um monte de coisas, ficar do lado de Joel, quebrar a cara dele também, perguntei como estava Murilo, tio Nelson disse que tio Renato estava com ele e depois o levaria para sua casa, ia cuidar dele, estava nervoso, disse que Joel estava descontrolado e queria bater em mim, Murilo estava com o braço machucado e levou um murro forte no olho, estava sendo avaliado, Murilo queria saber se eu estava bem, mas não era bom para nenhum dos três que conversássemos antes de depor para a polícia. Enfim, uma noite com advogado.

A vida perfeita deixou de existir em um piscar de olhos, eu jamais iria perdoar Joel. No dia seguinte eu estava acabado, fui para o trabalho, mesmo com meu tio brigando para que fosse o contrário, o que eu poderia fazer além de enlouquecer esperando em casa? Naquele dia Murilo também foi trabalhar. Nós dois estávamos no trabalho o que não quer dizer que estivéssemos trabalhando, era difícil entender a realidade depois de cinco minutos, em cinco minutos eu parava novamente para tentar entender o que havia acontecido. O coitado do Tião foi informado do que aconteceu através de tio Caio, ficou sem palavras. Acho que nem é exagero falar que não houve mortos e que isso nos rendeu um baita luto.

Perto do fim do expediente Murilo veio me ver, disse que eu ainda era seu chefe e que não nos falarmos sob essa circunstância era impossível, ele falou que conversou com as irmãs e resolveram que o melhor era ele voltar para casa, não queria nunca mais pisar naquele apartamento. “Murilo, eu queria te pedir perdão, eu não sei o que aconteceu, eu realmente entrei no modo de defesa e eu queria saber se eu bati em você quando…”, ele me disse que não e eu senti um alívio que dessa vez foi forte o bastante e eu pude sentir algumas lágrimas, mas eu tentei segurá-las. Murilo queria ir embora, eu respirei fundo antes de dizer o que disse, tinha de expor tudo o que pensava, tudo o que sentia, tinha de me expor e por ele, por Murilo, estar exposto num momento de muita vulnerabilidade minha, sim, valia a pena.

“Eu queria te dizer que a gente se ama, não como um casal, não como quem vai segurar a mão um do outro passeando num parque, vai ouvir uma música e pensar em beijo, em dançarmos juntos. Você e eu dividimos ao mesmo tempo a mesma pessoa amada, nos adaptamos para caber no futuro de Joel, e acabou que a gente é amigo, eu tenho vontade de ser seu amigo por toda vida e a minha vida não foi lá essas coisas, mas nas partes muito boas você esteve lá com toda a honestidade do mundo feliz com a minha felicidade, sem querer se aproveitar, sem inveja, sem nada de errado. E nós temos uma oficina pra dar conta. Sabe, Murilo, Joel era amor pra mim, e sexo também, mas eu tenho uma vida para além de amor e sexo, eu quero outras coisas da vida, profissionalmente eu estou dependente de você, e você é muito bom no que faz, e sabe disso e, que tio Galvão não me escute, mas com você aqui, ele não está fazendo falta alguma.

“Eu nem imagino como vai ser difícil pra você, mas pra mim está sendo muito complicado também, eu não passei dez anos fantasiando um homem. Mas fantasiei o bastante, e eu não posso imaginar o que você está sentindo, mas eu não imagino que ao lado de pessoas que voltam para o marido porque o pastor mandou, e você torcia para uma reconciliação entre os dois, mas a ordem do pastor…”, “Foi foda!”, “Pois é, eu até entendo que você queira ir, mas que você vá para onde possa ser aceito, o que é o mínimo, mas aceito sendo esse sujeito incrível que gosta de homem, sem mas, contudo, todavia, porém, só ser aceito e ponto. E você não vai ter isso lá, e eu liguei para tio Renato e perguntei se ele poderia te dar uma mão enquanto você se reorganiza, eu tomei a liberdade porque me preocupo contigo e de verdade eu acho que o que vou dizer agora vai ser verdade e não quero que você fique bravo: eu só tenho você como amigo, e eu estou cansado de perder amigos e se eu tiver que sabotar, mentir e bater em alguém novamente pra te manter perto de mim, eu vou fazer, porque eu preciso de você, e se eu não precisasse eu ia dar meu jeito de precisar. Não sei, Murilo, eu me sinto muito à deriva no mundo, e saber que você e eu somos ótimos na cama, mas não é sobre isso, eu estou querendo dizer que até por ter te conhecido mais intensamente nesse último mês… eu fico contente demais de eu estar saindo da vida de Joel e não da sua, e se fosse para escolher entre o fogo daquela paixão e o calor de nossa parceria… Ahh, Murilo, mil vezes você.”

Murilo, disse que ia adiar a partida por uns dias, ia conversar com tio Renato, ele estava todo cheio de choro e a gente se abraçou durante o final dessa conversa, disse que deve ser um pervertido, mas que queria deixar claro que o sexo entre nós dois ia rolar pra sempre e que o homem por quem ele viesse se interessar depois, se um dia isso voltar a acontecer, esse cara há de aceitar isso. Eu o beijei, e foi o melhor beijo que dei nele até então, só os lábios, só para relembrar que nós temos uma ligação e que nem Joel e nem ninguém tem nada a ver com ela daquele momento em diante.

Ele pediu para Tião pegar suas coisas, nós nos juntamos para conversar com Tião e Bosco, todos no telefone ao mesmo tempo, era fluida e lisa a conversa, como óleo novo, a gente era tranquilo para dizer o que estava sentindo, pensando, a gente meio que estava se firmando como amigos. E falando desse jeito parece que Joel era o ser tóxico do universo, mas o que acontecia era meio como o vocalista da banda, sem ele nada acontece, e agora era uma reunião de pessoas, onde todo mundo tem sua própria vida e sofre a ação e age na vida uns dos outros, tipo: todo relacionamento.

Tio Nelson foi meu advogado, esteve junto com Murilo no depoimento dele. Joel saiu da UTI, recebeu oficial de justiça, pediu para tio Renato o assessorar nisso, mas não pode, então ele ficou com outro, mandou um depoimento por escrito, dizia que reconhecia que houve uma briga por motivo fútil e durante essa briga me ameaçou de modo a eu ter respondido de forma proporcional à ameaça, ainda disse que visto o tamanho dele e o meu, era de se esperar o resultado contrário. O caso ficou meio que arquivado porque as partes estavam de acordo em não prosseguir com isso, eu não sei se as coisas são assim ou se tio Nelson é muito bom.

Na quinta feira com exatos oito dias da briga eu não tinha condições de fazer aula alguma de direção, mas eu queria rever Hélio, então fui para a parada uma hora antes do horário de sempre, e ele chegou depois, perguntou se eu desmarquei as aulas da terça, esperou por mim, eu o abracei como se não nos víssemos há muito tempo, como se fôssemos amigos de longa data, como se entre nós houvesse bastante intimidade, foi um aperto rápido, mas aquela sensação de pessoa abraçável ficou comigo, “Hélio, você tem tempo para a gente tomar um café?”

A cafeteria era silenciosa e ficava dentro de uma livraria ou o contrário, conversar com ele enquanto eu flertava com um livro e ele me ouvia sem flertar comigo era muito bom, pude contar pra ele absolutamente tudo o que me aconteceu, se em cinco minutos contei minha vida do nascimento até a hora em que conheci meu tio Caio, contar todo o resto levou tempo, mostrei fotos das pessoas no meu celular, ele não quis ver quem era Joel, queria fazer uma ideia de quem era esse cara, se gordo ou magro, feio ou bonito, a ele bastou saber idade e profissão. Liguei para meu tio e disse onde estava e o que fazia, pedi para ele vir me buscar depois, de certa maneira queria o aval de tio Caio, como se eu não tivesse como escolher por mim mesmo quem era bom ou não para se relacionar comigo, e eu estava muito tímido para aceitar que não fiz nada de errado, talvez não fosse bem timidez, mas eu estava tímido diante do mundo. Comi um sanduíche húmido com garfo e faca, tomei meu primeiro capuccino e soube que agora eu tinha um vício, quando terminei Hélio disse que Joel tinha a voz grossa, era branco de cabelos negros e forte, meio parrudo, bochechudo e com o pescoço meio largo, sim era ele.

Joel fez uma ligação de vídeo para ele, disse que não admitia dividir o veadinho dele com mais ninguém que eu era dele, e que ia passar por cima de quem se colocasse entre nós. Na hora pensei no número de telefone deixado no meu bolso, eu expliquei muito envergonhado. Hélio pediu para eu esperar e voltou com um livro de contos chamado Felicidade Clandestina que também é o nome do primeiro conto, ele lê pra mim e diz que nunca pensou que seu número de telefone pudesse ser como um livro, estava bem vazio onde a gente estava e ele chegou perto demais, eu me afastei e ficou muito claro para ambos que podia ser qualquer coisa, mas não era romance entre nós. E ficou tudo bem. Hélio me perguntou quando eu ia ligar e dizer que o amava, eu disse que não amava mais Joel, “Nunca amou Joel, era paixão, você gosta é de Fernando.”

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