Vários Causos - Assombrações, Pesadelos e Sacanagem

Um conto erótico de Cavaleiro do Oeste
Categoria: Heterossexual
Contém 13543 palavras
Data: 28/10/2025 21:12:34

Hoje vou contar uns causos passados da minha vida, que nomeei como “Sonhos Italianos”, “O Velho Benzedor”, “A Falecida” e “A Vingança da Puta”.

Sonhos Italianos

Me lembro do receio que a caipirada sentia nesta época do ano, chegando no dia de finados. Aliás, não só nesta época.

Não posso me esquecer da temida quaresma, onde até os mais corajosos ficavam com receio de sair para fora de casa durante as noites da semana santa!

Faz um tempo, mas já contei como tive meu primeiro encontro com uma “entidade” assombrosa em uma noite de quaresma. Naquela época eu era jovem, despreocupado, sem noção das coisas. Depois daquele ocorrido, nunca mais fui fazer “arte” com as minhas “amigas” em madrugada alta em períodos de quaresma.

Tentem se imaginar morando algumas léguas da civilização, local ermo, cheio de histórias das mais horripilantes, onde pessoas contavam que no passado, um ou outro abusaram da sorte indo se aventurar por aqueles caminhos escuros, e tiveram o azar de encontrar alguma alma perdida atormentada, ou pior, o famigerado lobisomem, sendo este último a coisa que eu mais temia.

Há quem diga que essas coisas não existem, são frutos da nossa imaginação, mas só eu sei o que senti quando me deparei com aquele baita cachorrão, do tamanho de um garrote, sem contar no cheiro que ficou pelo ambiente.

Até hoje quando me lembro, sinto calafrios pelo corpo!

Felizmente passei por aquela experiência ruim, ileso, e pude contar com o auxílio do meu amigo índio, aquele que fez parte da minha vida desde que abri os olhos neste mundo.

O misterioso e muito bondoso Miguel, Miguelito para os amigos, com seus encantos e magias ancestrais me ajudaram naquela ocasião em que me deparei com o lobisomem.

Aquele índio baixinho e magrelo com suas cantorias, uma faixa de ramas trançadas com penas coloridas e uma cabacinha nas mãos conseguiu desassombrar a mim e meu cavalo favorito, o Ligeiro, meu castanho fiel de jornadas e trabalhos, um magnífico mangalarga paulista de pelagem marrom, crina preta, alto, muito forte, que só faltava falar de tão ensinado!

Porque estou voltando naquele causo?

Para lembrar dos perigos que nos rondavam por aqueles sertões do oeste paulista.

Muitos que nasceram e foram criados em cidades sequer tomavam ciência de tais ocorridos.

Me recordo das vezes que meus tios, tias, primas e primos iam nos visitar na fazenda. Além das brincadeiras, correria da molecada, passeios à cavalo, de charrete, banhos no rio, o momento mais aguardado pelos meus parentes eram durante as noites em que fazíamos uma grande fogueira em frente a nossa casa, os parentes iam se arranjando em cadeiras e bancos em torno do fogo e não demorava mais que um ou dois causos, já pediam:

“O tio, conta aquela história…”

Minhas primas e primos pequenos ficavam de olhos arregalados, tensos, e à medida que meu pai ou tio aprofundava o relato, todos iam se encolhendo, ficando mais próximos dos seus pais. **(Não é mesmo JotaS)

As horas passavam rápidas, entre goles de café, muitos cigarros… quando meus heróis acabavam de contar aquelas coisas arrepiantes, meus parentes estavam calados, ficava aquele clima tenso no ar, só se ouvindo o estalar de madeiras na fogueira e o atrito de dentes no roer ansioso de unhas.

Óbvio que muitos daquela época contavam sobre lendas e histórias fantásticas para assustar os “cagões”, depois fazer graça pregando alguma peça no medroso.

Mas falo pela minha família, e as histórias que meu pai e tio contavam eram mais que verdadeiras, sendo protagonizadas por eles mesmos.

Meu tio foi um dos homens mais valentes que conheci na vida. Era alto, corpo de atleta, forte como um cavalo, andava sempre armado, mas quando contava algumas das suas aventuras com o sobrenatural, mudava o semblante. Quem não era do seu convívio poderia dizer que aquele jeito e a maneira que se portava quando relatava seus causos, era um tipo que fazia para aumentar a aura de suspense.

Mas não se enganem, eu conhecia muito bem o meu tio, que apesar de sarrista, brincalhão, mudava o semblante quando narrava suas aventuras e desventuras com o sobrenatural!

Todos os nossos amigos e conhecidos daquela época, incluindo os parentes mais próximos, diziam o quanto eu me parecia com meu tio, fisicamente falando e em alguns aspectos de personalidade. Sem falar no quanto chamávamos atenção das mulheres.

Diziam: “Vão ter sangue doce pra muié na puta que pariu, tá doido”.

Sei lá o que era aquilo tudo que nos acontecia, mas uma coisa é fato, meus antepassados ao desembarcarem dos navios, vindos das regiões do Vêneto e Sicília (meu lado paterno, do lado materno vieram da Toscana), trouxeram consigo em suas bagagens coisas muito antigas, que nem um oceano inteiro de distância daria conta de apagar!

Outro coisa engraçada, se é que posso chamar isso de “engraçado”, eram os sonhos que eu tinha.

Me faltava coragem para contar aquelas coisas para os meus pais, e quando me encontrava com meu tio, na primeira oportunidade contava tudo.

No começo ele só ouvia, rindo, achando graça, mas depois de uma certa idade ele passou a me revelar que também sonhava com as mesmas coisas, pessoas, lugares e situações. Aquilo era muito estranho!

Hoje, depois de décadas, com a idade que estou, lido muito bem com tudo isso.

Posso dizer que eram sonhos “molhados”, se é que me entendem! 😏

Mas em outros tantos, a coisa saia do controle, me via em situações excitantes, porém, assombrosas.

O mais corriqueiro era assim…

Me encontrava montado em um cavalo, passando por um local onde a estrada era feita de pedras, coisa muito antiga, creio que da época do grande império romano.

*(Um detalhe, não era sempre, mas quando tinha este mesmo “sonho”, às vezes eu acordava banhado em suor, como acometido por febre, e com a zorba melada, a porra escorrendo pelo saco e coxas)

Minha montaria seguia calma, trombando cascos nos pedregulhos do caminho, até pararmos próximo a uma ponte também feita em pedra.

Alí começava a minha “suadeira”!

Vozes suaves, muito envolventes, melodiosas, como que entoando um cântico pairavam pelo ambiente junto a névoa me chamando:

“–Avvicinati cavaliere, senza paura, senza paura… ti vogliano bel cavaliere… abbiamo freddo… freddo…” –ficavam repetindo aquilo.

Meu cavalo parava ao lado de uma árvore, onde havia uma fogueira, uma grande carroça e muitas mulheres em pé, me olhando, acenavam suas mãos de forma sensual, me chamando, sorrindo…

“–Le mie Sorelle, guardate quanto è bello questo cavaliere … è così biondo…”

Me via cercado por aquelas belas criaturas, que se aproximavam alisando minhas botas, pernas, o pescoço da minha montaria, seguravam as rédeas, pegando em meus braços, até que eu descia do cavalo, envolvido por aquelas vozes que por vezes pareciam miados de gatas e um perfume adocicado que as mulheres exalavam, parecendo flores do campo.

Me conduziam para debaixo da árvore, me acomodavam por cima de uma espécie de forro feito em peles macias ao lado da fogueira, que hora estalava baixinho, com chamas em coloração amarelada.

A coisa só esquentava pra valer quando iniciavam suas carícias por todo meu corpo.

Era em um piscar de olhos, todas aquelas mulheres estavam semi-nuas, deixando a parte superior de seus vestidos baixados, revelando seios fartos, em formatos redondos, mamas pesadas porém rígidas, mamilos pontudos, em tonalidades variando de vermelhos escuros a rosas bem clarinhos.

Eram cortesãs noturnas das mais variadas formas e aspectos.

Umas com cabelos loiros quase brancos, outras com madeixas douradas, uma ou outra com longos e muito negros como a noite sem luar.

Eu me via olhando para cima, seus rostos iam se aproximando, o cheiro adocicado aumentava, até que me “atacavam” entre beijos e mordidas.

Seguravam meus braços abertos, arrancavam minhas roupas de forma desesperada, liberando meu pauzão que vibrava de tão duro. Me lambiam inteiro, chupavam e mordiam desde os dedos dos meus pés até minhas orelhas.

As lindas se revezavam sentando em mim, suas bucetas eram apertadas, mas acomodavam meu cacete inteiro, e todas faziam da mesma forma. Hora colocavam as duas mãos na cabeça, em outras apertavam os próprios seios, balançavam o tronco de maneira sinuosa. Aqueles movimentos faziam seus grandes seios balançarem lindamente, com seus longos cabelos enroscados nos mamilos.

Outra coisa estranha naqueles “sonhos”, era a coloração das chamas 🔥.

Qualquer uma delas quando estava atingindo seu êxtase no clímax sexual, as labaredas ficavam vermelhas e muito mais quentes, ao mesmo tempo em que eu sentia meu membro ficando ainda maior, mais grosso, sendo mastigado de forma vagarosa.

Não era uma sensação ruim, mas como se eu estivesse com o pau enfiado em um recipiente contendo uma espécie de gelatina, ou um gel, que era de textura firme e muito quente.

E o aroma de sexo que ficava impregnado!

Sabem aquele cheirinho gostoso que só uma fêmea humana é capaz de produzir, mesclados com o aroma adocicado… 🤤

As mesmas coisas eram repetidas por todas que tomavam assento no meu mastro:

“–Che cazzo grosso…”

Em momentos eu me sentia fatigado, estranho, como se estivesse desmaiando.

O ambiente tornava-se nebuloso, sentia meu corpo querendo flutuar, só não me movia por estar seguro pelas mãos das muitas moças que estavam em minha volta.

Durava pouco tempo aquele incômodo, e a “cura” era sempre a mesma.

Algumas das belas ficavam em pé, a fogueira aumentava a intensidade das chamas, me permitindo assistir aquele espetáculo sensual, onde todas as dispostas em me auxiliar erguiam seus longos vestidos até a altura dos umbigos, depois colocavam seus dedos em seus sexos, mexiam, alisavam introduzindo, massageavam seus púbis recobertos por uma farta pentelheira, bem espessas, rindo, exalando ainda mais aquele aroma de fêmea, e só então, de forma muito sutil e delicada, me deixavam experimentar aquele néctar revigorante.

Passavam seus dedos molhados no meu nariz, para que eu sentisse o cheiro dos seus sexos, esfregavam em meus lábios e por dentro da minha boca e bochechas, eu chupava seus dedos, lambia suas mãos, o que causava graça nas moças, que davam gritinhos de euforia.

Logo me sentia refeito, com mais vigor, e a coisa continuava daquela maneira, com as moças se revezando em meu membro pulsante.

Algumas delas, geralmente as mais aflitas, necessitadas, que se demoravam mais montadas em mim, quando atingiam o orgasmo, tinham espasmos violentos, e não raro, choravam quando se desprendiam do meu corpo. Essas eram amparadas pelas irmãs, que as acomodavam de maneira sutil em volta da fogueira e por lá permaneciam em repouso.

Em alguns daqueles “sonhos”, não me era permitido gozar, raramente me deixavam aliviar a tensão causada por aquele ambiente sensual.

Das vezes em que consegui gozar dentro de algumas daquelas belas moças, era a ocasião em que eu acordava com a zorba ensopada, vazando porra, deixando coberta e lençol uma tragédia.

O que me causava muita estranheza era que, nem quando eu me aliviava na punheta, conseguia gozar uma quantidade daquelas de porra!

Aquele “sonho” sempre acabava quando eu ouvia o cavalo batendo as patas de maneira impaciente, entre relinchos e um amanhecer bem tímido surgindo em um horizonte muito, mas muito distante e um cantar de passarinhos.

Me soltavam e iam sumindo como uma névoa se dissipando sob os raios solares, entre sorrisos e passadas de mãos por todo meu corpo:

“– Ci mancherai, bellissimo cavaliere…”

Ficavam repetindo estas palavras, e às vezes eu me despertava ouvindo aquilo, as vozes ecoando em meus ouvidos, com a rola dura igual um cano de ferro, em ponto de furar o colchão, todo melado de porra, corpo pegando fogo. Kkkkkkk

Com o passar dos anos fui buscando algumas respostas, entendimentos, leituras, e as coisas me foram sendo esclarecidas.

Muitas coisas que eu via, ouvia e sentia me causavam medo em determinadas fases da minha vida, mas tudo tinha um porquê.

Foi quando eu estava me encaminhando para as 30 primaveras que tive meu primeiro contato com um outro lado do “sobrenatural”. Algo totalmente diferente de tudo que já tinha visto.

Quem acompanha minhas histórias sabe que foi no Estado de Goiás, onde fui “atendido” e salvo, não por uma, mas por várias pombagiras.

Foi algo surreal, estranho e ao mesmo tempo excitante, até porque, a médium que me ajudou era possuidora de uma beleza muito acima da média para uma “benzedeira”! 🚬👀

Assim como fui “socorrido” em Bauru, e posso afirmar que as moças sempre vieram em meu auxílio.

Tive vários encontros com estas entidades, que alguns por ignorância, e outros por pura maldade mesmo, as consideram maldosas, que só atrapalham a vida das pessoas.

Mais adiante na minha vida, tive contato com pessoas que praticavam a religião dos espíritos, auxiliando nas mais diversas áreas e convívios entre os seres humanos. Com estes obtive algumas respostas para meus questionamentos.

Não posso ser hipócrita dizendo que não gostava daquilo, ou das “benesses” que aqueles contatos me traziam, sexualmente falando, mas existia um vácuo, um vazio sem respostas.

Também me recordo que na época em que eu “sonhava” com as belas da terra natal dos meus antepassados, quando não me permitiram gozar durante aqueles atos de conjunção espiritual, aconteciam “coisas” comigo durante a semana.

Era eu aparecer na cidade, de caminhonete ou a cavalo, as muitas paqueras que eu tinha ficavam ainda mais ouriçadas pro meu lado, eu percebia a forma como falavam comigo, me beijavam dando a impressão que queriam me arrancar um pedaço. E na hora do sexo, parece que eu ficava ainda mais fogoso, o que deixava minhas parceiras com as pernas moles.

E quando não conseguia arranjar uma gata pra dar aquela trepada caprichada, ficava na mão literalmente, e os “sonhos” aconteciam, e com força!

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O Velho Benzedor

Outra vez foi em uma das muitas viagens que fiz por este Brasil imenso, que conheci um senhorzinho.

Coincidentemente, foi em uma época dessas, próximo a um dia de todos os santos e finados.

Eu havia parado para abastecer a camionete e procurar um lugar para comer alguma coisa, antes da divisa entre Estados (SP–MS), em Ilha Solteira, e foi naquela tarde que conheci aquela gentileza em forma de pessoa.

Era um senhor de idade bem avançada, moreno, bem queimado de sol, cabelo e barba branca, olhos cansados, às várias marcas e rugas naquele rosto demonstravam uma vida de muito trabalho e que, com 70 anos, aquele homem não morreria mais.

Era bem véio aquele senhorzinho!

Esse homem estava abastecendo um caminhãozinho ¾, usava um chapéu de abas largas feito em palha de carandá, no canto da boca preso por lábios ressecados, um cigarrão de palha fumacento.

Lembro de desligar a caminhonete, descer na pista entre as bombas de combustível e acenar para ele de modo cortês, com um leve toque na aba do meu chapéu.

O senhorzinho sorriu pigarreando, tossindo, soltando fumaça pelas narinas, me devolvendo o aceno e foi chegando próximo.

Me esticou a mão calejada, trocamos um aperto firme, nossos olhos se cruzaram, ele sorriu e começou falar como se me conhecesse há muitos anos.

Eu fiquei encafifado com aquele sujeito, e a forma como me olhava.

Após nos cumprimentarmos, ele me chamou para sair daquele local, deixar nossas máquinas para serem abastecidas, que ele precisava trocar um dedo de prosa comigo.

Só joguei as chaves para o frentista, mandei encher o tanque e fui acompanhando aquele senhor, que ia me guiando para fora do coberto do posto de gasolina.

Ele ficou parado na minha frente, tirou o chapéu, olhou para o alto, para os lados, falando baixinho, como se cochichando com outra pessoa.

Eu já estava arrepiado até as solas dos pés dentro das botinas.

Assim que voltou sua atenção para o peão aqui, sorriu fazendo graça, me dizendo que eu tinha receio, medo, mas minha curiosidade em busca por respostas era maior que meu temor.

Nisso ele estava coberto de razão!

Daquele momento em diante começou a me analisar, me olhava de cima a baixo, soltando fumaça, um olho aberto e outro fechado, torcendo nariz e boca.

Destampou falar, me disse coisas que não haveria a menor chance dele saber sobre minha vida.

Me falou sobre minha família, minhas mágoas recentes e outras passadas, de encontros e desencontros.

Sobre aquele momento limitou-se em dizer que era para eu deixar as coisas acontecerem, que tudo tinha um porquê na minha vida.

Finalizou aquela conversa “estranha” me convidando para acompanhá-los, bem assim.

Ainda fiz graça, perguntando quem mais estava com ele.

O velho sorriu, balançou a cabeça me falando que eu poderia não estar vendo quem estava ali, mas eu sentia quase sempre suas presenças.

Meu coração disparou, cheguei a pensar que era algum dos meus familiares, mas nem precisei abrir a boca, aquele velho misterioso se adiantou no assunto, me deixando ainda mais impressionado.

Falou que não era quem eu estava pensando, mas que estavam todos bem (falou de todos, um por um), que quando eram autorizados sempre me visitavam, mas naquele instante era uma outra “peonada” que me acompanhavam, e muitas outras “moças cheirosas”. Bem dessa forma ele se referiu às minhas companhias daquela viagem! rsrsrsrs

Eu ainda de queixo caído, recebi convite para seguir com ele até o outro lado da divisa, entrando em terras do velho Mato Grosso.

Só para aumentar a estranheza da ocasião, ele lendo meus pensamentos, fazendo ainda mais graça me fala que eu amava as terras do outro Estado, e que até o ar de lá me parecia diferente, mais limpo! 👀

E de fato eu sempre falava aquilo, e sem receio em errar. O ar do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás são diferentes.

Ficamos uma meia hora conversando naquele local um pouco mais afastado do posto de gasolina, até que um dos frentistas nos chamou, avisando que nossas máquinas estavam abastecidas.

Pagamos pelo combustível, mas antes de eu ligar a caminhonete ele me pediu para segui-lo, que seria bom eu ouvir o que tinham para me contar.

Assim eu fiz, fui seguindo aquele senhor que dirigia com calma pela rodovia.

Atravessamos a ponte sobre aquele mundo de água do Rio Paraná, entramos em terras sul-matogrossenses.

Era uma tarde bonita, as águas do rio brilhavam em faíscas prateadas, azuis e amarelas.

Logo ele virou para a direita, pegando em sentido à velha Aparecida do Taboado, local onde eu havia passado algumas vezes na minha juventude com a comitiva do meu pai e tio.

A cada metro percorrido meu coração ia ficando mais e mais apertado, aquele nó na garganta, vontade de chorar. No trajeto fui queimando um cigarro atrás do outro, estava ansioso, inquieto ao volante, parecia ter formigas no banco da caminhonete.

Rodamos mais de uma hora, até que ele saiu da estrada de rodagem entrando em um velho estradão boiadeiro poeirento.

Fomos devagar, a tarde ia caindo, meu coração batendo forte no peito, transpirei mais que burro de arado.

Tempos depois fomos chegar em um pequeno sítio, local encravado entre grandes invernadas (pasto para engorda de bois) de fazendas. No local havia uma casa de madeira, daquelas bem típicas da nossa região, feita em tábuas na vertical com o arremate entre juntas feito por ripas pregadas.

Ao lado da velha casa, um grandioso pé de manga, bem alto mesmo, antigo, daqueles que precisaria de três homens grandes para abraçar a magnífica árvore.

Mais para o fundo, um pequeno curral que dava acesso a um pasto, algumas vacas leiteiras, alguns cavalos, embaixo de um ranchinho em quatro esteios e telhado de duas águas, uma carroça, e logo do lado um paiol bem antigo, com as tábuas acinzentadas.

O cenário típico de uma pequena propriedade rural daqueles rincões perdidos.

O velho estacionou sob a sombra da velha mangueira, apeou rápido do caminhão, e foi acenando a mão, me chamando para deixar a caminhonete bem ali.

Assim eu fiz.

Quando me juntei a ele, o homem sorrindo, me disse para ficar tranquilo, que eu estava em casa, e apesar da minha aparência, todo arrumado no traje de cowboy, ele sabia que eu não tinha frescura, nem me incomodaria em ficar hospedado em um lugar como aquele.

E para me deixar ainda mais impressionado com suas revelações, me fez relembrar que eu havia dormido em lugares bem mais precários que aquele, e não muito longe daquele lugar onde estávamos.

Ele também havia acertado naquela observação!

Não havia mais nada que eu fosse fazer, mudei o rumo da minha viagem, então fui seguindo aquele homem até sua casa.

Chegamos no pequeno alpendre, ele abriu a porta da cozinha, depois a janela e foi deixando a claridade entrar pela casa.

Outra vez fazendo graça, me mandou entrar, larga de receio, e fez um pedido:

–Meu fio, vai lá na bêra do paiol, pega o machado, corta uns pau e depois esquenta a água, que já me avisaro que ocê é mestre no coá um café…

É, estavam contando pro velho todas as minhas habilidades!

Depois que passei um café no capricho, enchi um bule, o velho pegou duas banquetas de madeira e fomos nos sentar embaixo do pé de manga, bebendo café, conversando, fumando e rindo. Ele contando causos e mais causos da época em que era carreiro e peão boiadeiro, das viagens sem fim com as comitivas pelo interior do Brasil… Ele era viúvo, tinha filhos, mas todos estavam esparramados pelo mundo trabalhando em fazendas.

Sei que ficamos proseando até a boca da noite.

Aquele senhor me transmitia uma calma, que eu não sabia como explicar.

E no adentrar da noite, ele me pediu para cortar um pouco mais de madeira, que faria uma fogueira e ali continuaríamos nossa conversa.

Assim eu fiz, correndo o machado em uns tocos de madeira, galhos, deixando um bom tanto de madeira lenhada.

Arrastei tudo onde ele havia me indicado, ajeitei o monte, só faltando riscar fogo.

Ele deve ter ficado dentro da casa uma meia hora, senão mais.

Eu senti um cheiro forte de ervas cozidas que exalavam da cozinha, e aquilo foi me deixando ansioso outra vez.

Depois de alguns cigarros queimados, lá vem aquele senhor caminhando vagarosamente, deixou a luz da cozinha acesa, nas mãos trazia uma espécie de bengala, mas não era reta, feita com galho de goiabeira e um saco de estopa. Descalço, usava uma calça branca e uma camisa na mesma cor, vestimenta simples, dava para perceber que as estavam puídas, gastas pelo tempo, mas eram limpíssimas. Adornando seu pescoço, um medalhão do São Jorge e outros colares com sementes e outros feitos de contas de porcelana colorida, mesclados de várias cores, sendo azul, branco, amarelo, vermelho, preto…👀

Pediu para eu me acalmar, ter um pouco de paciência e acender a fogueira.

Risquei a binga por baixo dos cavacos de pau seco, mexi um pouco atiçando a chama e nada de tempo as labaredas começaram a lamber as madeiras, clareando aquele local em frente sua casa.

Levantei meus olhos, me deparando com aquele homem me encarando, sorrindo, balançando a cabeça, achando graça não sei do que. Rsrsrsrsss

Aquela foi uma noite de muita magia e mistério!

Esse velho antes de iniciar os seus trabalhos, me pediu para levar até o local um toco de madeira 🪵 que ficava próximo de onde deixava sua carroça, e assim que arrumei como ele queria, o homem começou ter aqueles tremore, pensei até que cairia no chão.

Eu já havia presenciado médiuns iniciando seus “trabalhos”, mas nunca daquela forma.

E nada de tempo ele foi se abaixando, se curvando, arqueando bem as costas, me dando a impressão que tinha uns 130 anos de idade. Assim que se encontrou com as mãos apoiadas nos joelhos, ainda tremendo muito, começou a tossir, sorrindo baixinho…levou as mãos no chão, tateou e assim que pegou a bengala, se aprumou um pouco, enfiou a mão no bolso, tirou um velho rosário de madeira, fez uns sinais no chão, uns riscos, e após aquele rito, virou sua atenção para a minha pessoa.

Eu estava de 👀 arregalados, curioso, atento com tudo!

Me apontou a bengala enquanto me pedia de maneira simples, mas muito, muuuuito gentil:

–Ôh meu fio, ocê ajeita o tôco pra mórdi o véio sentá, minhas perna tá fraca, fio… e ocê é forte taliquá um cavalo… ajuda o véio.

Falou aquilo dando aquela risadinha, enterrando a ponta daquela bengala na terra fofa.

Fiz conforme me pediu, ainda estendi meu braço para ele se sentar, e logo que se apoiou, virou seu rosto para o meu lado, me encarou com os olhos virados, só mostrando o branco do globo ocular, e disse com voz firme:

–Ocê tá mai corajoso que das outra veiz que falô com as alma, pode ficá sossegado, fio, aqui ocê num vai encontrá traição nem mal feito, aquêta vosso coração, senta perto dêu e escuita as coisa que o véio tem pra falá…

Com muito custo aquele homem se sentou no toco, se ajeitou, escorou as mãos na bengala, falou umas coisas em uma língua que até hoje desconheço, depois me pediu para abrir aquele saco, retirar tudo que havia dentro e deixar próximo dos seus pés.

Eram chumaços de ervas amarradas com ramas, uns matos trançados, outros saquinhos menores cheios de não sei o quê, e um cachimbo.

Me fez procurar dentro do saco de estopa um naco de fumo, depois me pediu para preparar tudo, que ele precisava do cachimbo pra ele “pitar” e fazer uma fumaça.

Esse homem fez um baita fumaceiro, que não sobrou nenhum pernilongo no local. Parecia um carro da Sucen fazendo o fumacê. Kkkkkkk

Ainda era cedo, deveria ser por volta das sete horas da noite, e começamos a conversar.

Quer dizer, eu mais ouvi que falei, e após escutar muita coisa sobre minha vida e minhas andanças pelo mundo, ele me deu uma brecha para fazer algumas perguntas.

Foi naquela noite que eu soube o porquê do meu sangue doce para mulher, ou melhor, como ele mesmo disse, “sangue doce pra rabo de saia”.

Me contou muitas coisas sobre esta e outras vidas, as causas e motivos de me encontrar sempre indo de um lugar para outro, nunca me apegando a ninguém, aquela ansiedade louca em cortar léguas e depois voltar. Tocou em mágoas profundas na minha alma me fazendo chorar igual criança com fome, mas sempre me acalmando e orientando, como um avô faria com um neto.

Muito me comoveu a forma como me chamava de “meu fio branco”.

E ali ficamos até tarde da noite, naquele local ermo, perdido naquele sertão do velho Mato Grosso… ele fumando, conversando, me explicando algumas coisas, me preparando para outras tantas que eu viria passar…

Acabou me convencendo em desfazer alguns negócios e nem iniciar outros, falou de possíveis traições e trapaças que estavam armando para o meu lado, e tudo motivado por pura inveja, dor de cotovelo…

E foi naquela noite que ouvi pela primeira vez aquilo que sempre costumo dizer em conversas e aqui, quando relato meus causos e presepadas, que tudo na minha vida termina em lágrimas ou assanhamento, safadeza!

Aquela velha alma que estava me passando algumas orientações não deixou de comentar sobre a quantidade de “moças” que estavam espalhadas por tudo que era canto da propriedade, e outras tantas que me envolviam com suas auras enquanto conversávamos. O velho ria batendo a bengala no chão, falando:

“–Eu nunca que vi na vida, aqui ou aí, um tanto desse de muierada, fio… elas deve de gostá muito de vancê!”– e ria largado soltando fumaça com o cachimbo.

Passei mais de dez dias com aquele senhorzinho, fiquei tão em paz e tranquilo, que de fato não senti vontade de ir embora.

Ainda o ajudei a arrumar umas coisas no sítio, umas cercas, curral, fiz a doma de dois dos cavalos que ele tinha, que pelo avançado da idade, ele não daria mais conta do serviço.

Me apeguei naquele velho, que parecia que nos conhecíamos desde sempre, como fosse ele um parente distante que acabava de reencontrar.

Antes de pegar a estrada e cair no mundo outra vez, o deixei com todas as provisões necessárias, e a promessa de aparecer sempre que possível para ver como ele estava.

O velho me agradeceu e disse que ali também era a minha casa, podendo aparecer a qualquer momento.

No decorrer dos anos seguintes, fui até aquele lugar muitas vezes, tentando não passar mais que um mês sem dar as caras.

Ele era sistemático até dizer chega, ficava bravo quando eu aparecia levando as coisas pra ele. E dinheiro então, eu nem podia tocar no assunto. Ai se eu cogitasse deixar uns trocos com ele. E nem tinha como, ele sabia de tudo. Kkkkkkk

Até que no começo de 2002, voltando de Minas Gerais, senti um cheiro muito forte de café, ervas e fumaça de cachimbo dentro da caminhonete, assim, do nada!

Me lembrei dele na hora, meu coração disparou, a boca ficou seca. Tive que sentar o pé e desviar meu trajeto, indo direto pra casa dele.

Quando cheguei no seu sítio, já era madrugada, mas ele estava me esperando em frente sua casa com uma baita fogueira acesa, que de longe se enxergava.

Assim que desci da caminhonete ele me abraçou com aquele jeito simples, demonstrando alegria em me ver, e foi contando que havia mandado seus “amigos” me chamar, e muito se alegrava por eu ter prestado atenção e recebido o recado em forma de aviso do “compadres” do além.

Me levou para dentro de sua casa, ele havia feito um café e lá ficamos proseando.

Quis saber qual era o motivo dele ter mandado me chamar, se estava bem, ou precisando se alguma coisa, que era só me falar.

Ele sorriu, tragou o cigarro e foi me relatando tudo.

Primeiramente me pediu calma, que ouvisse tudo, estaria indo encontrar seus filhos que estavam morando perto de Campo Grande, e que aquela seria a última vez que estaríamos conversando aqui neste plano, que finalmente seus dias aqui na terra estavam chegando ao fim. Também me explicou que uma das últimas coisas que ele precisava fazer aqui neste mundo, era me auxiliar, dando todas aquelas explicações que recebi ao longo dos meses em todas as visitas que fiz.

Me disse tudo de forma serena, semblante leve, feliz com a situação!

Aquilo me atingiu feito um coice de mula no peito, senti meu coração apertando, aquele nó na garganta, ainda mais com ele me falando tudo aquilo de forma calma, tranquilo, como se estivesse indo ao barbeiro.

Nem precisei esperar, ele sabendo tudo quanto se passava em minha mente, tratou de me acalmar, dizendo que estava bem, tranquilo e feliz por sua tão esperada partida, e que eu deveria ficar feliz também, e aceitar aquilo como uma coisa da vida.

Ainda fez graça me contando que lá fora da sua casa, havia uma comitiva inteira dos velhos companheiros da época em que ele foi carreiro e peão estradeiro, só aguardando para conduzí-lo para as estradas sem fim do além!

E não, não quis que eu o levasse até os seus filhos, aquela viagem ele faria sozinho, com suas próprias pernas.

Também disse que sabia o quanto eu ficaria triste e sentiria falta dele e das nossas conversas, tomando um tereré gelado, ou um café bem feito, fumando um cigarrão, dando risadas, enquanto eu contava minhas artes pelo mundo, e as aventuras em madrugada alta, perdido entre coxas de moças.

Terminamos aquela conversa com ele me fazendo um último pedido:

–Óia, quando ocê senti farta do véi aqui, das nossa prosa, fai uma reza pensâno nêu, e já vai tá bão.

Foi no raiar daquele dia que nos despedimos. Mesmo eu estando de coração apertado, muito triste, ele me fez ir embora e não olhar para trás, seguir adiante, que eu ainda teria muitas e muitas léguas para percorrer pelos caminhos da minha vida.

Acelerei pra valer, contrariado demais, sabem. Meses antes eu havia insistido com ele que compraria umas terras, e ficaria quieto por lá, e queria ele me ajudando, tomando conta de tudo. Ele ria, agradecia a confiança, mas se negava dizendo que tudo quanto ele precisava, ele já possuía. E de mim, só queria a amizade!

Eu já estava rodando dentro do Estado de São Paulo, estranhamente senti uma calma no coração, e acabei me recordando das muitas coisas que aquele velho peão boiadeiro havia me falado durante nossas longas conversas.

E sim, em determinados momentos da minha vida, em períodos de grande agitação, quando eu mais precisava de algum tipo de orientação, sentia, e às vezes ainda sinto aquele cheiro de alecrim, arruda, café e fumaça de cachimbo!

E assim aconteceu comigo em boa parte da minha vida, sempre em contato com as coisas do além desde muito cedo.

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A FALECIDA

Outra coisa que posso descrever como maluca, aconteceu certa vez quando fui acompanhar meus familiares até o cemitério.

Não sei como a coisa funciona em outras regiões do Brasil, até porque sempre evitei passar por cemitérios.

Não era por medo, não!

Eu simplesmente não gostava de pensar no sofrimento das pessoas quanto enterravam seus entes queridos.

Sempre fui muito brincalhão, piadista e tirador de sarro, odiava tristeza e choro, a não ser que fosse de alguma moça sofrendo para aguentar minha vara enterrada no rabo! Kkkkkkk

Enfim, lá no oeste paulista as famílias lotavam os cemitérios nas vésperas do dia de finados. Levavam baldes, panos, sabão, tintas e pincéis, tudo para deixarem os túmulos dos seus amados entes mais apresentáveis para os visitantes. Alguns até pagavam para outros realizarem esse tipo de tarefa.

Minha tia e mãe eram mais apegadas a esses rituais. Já o meu pai e tio, pouco se importavam, e sempre sob argumentos de que se deve ver a pessoa, cuidar ou fazer alguma coisa, enquanto está viva.

Depois não tem mais jeito!

Em uma dessas vezes eu fui levar minha mãe, e quando chegamos, encontramos minha tia e meu tio. O Branco estava visivelmente contrariado, mas quase sempre minha tia dobrava as rabugices do italianão.

Enquanto caminhavam, olhavam os túmulos e iam se lembrando desse ou aquele compadre e comadre, contando histórias, relembrando feitos daquele ou daquela que repousava seus restos mortais no Campo Santo.

Os pais da minha tia estavam sepultados bem próximos de onde estavam meus avós paternos. Engraçado que só se lia sobrenomes italianos naquele canto do cemitério.kkkkkkk

Minha mãe gostava muito dos meus avós, seus sogros. A consideravam como uma filha, de verdade, uma vez que só tiveram meu pai e tio, e ela também sendo de uma família de italianos, “andava tutto bene”.

Eu e meu tio deixamos elas olhando as lápides, fomos dar um giro ali por perto, e nessa de ficar curiando, olhando nomes de datas de nascimento e falecimento, meu tio me deu um cutucão, me chamando para olhar um tumulto bonito, com uma campa em mármore, letras gravadas sobre a pedra polida e uma foto.

Meu tio sendo como era, deu uma risadinha safada, coçou o bigodão loiro, olhou dos lados, acendeu um cigarro, procurou minha tia com os olhos, e quando sentiu segurança, começou me contar sobre aquela “modelo” da foto.

Sim, a falecida enquanto viva era possuidora de grande beleza!

Quando ele e meu pai eram jovens, tiveram inúmeras paqueras e namoradas, e aquela havia sido outra das desavisadas que caíram na conversa do meu amado tio, se rendendo aos encantos daquele rapaz grandão, bonito a dizer chega e muito, mas muito, terrivelmente perdido na safadeza.

Foi um rolo que ele teve com a moça, que o perseguiu pela praça em uma tarde de quermesse. Onde ele ia, ela dava um jeito de aparecer.

Meu tio me contou que nem sabia que aquela florzinha estava de olho nele, afinal, a oferta era grande, e ele tinha para escolher.

Mas a tal moça estava apaixonada.

E foi naquela noite, onde a incauta desprezando os avisos das amigas mais próximas e familiares, acabou se envolvendo com o Branco. Ele podia não saber das intenções da mocinha, mas toda aquela paquera, olhares, despertou o “sucuri rosado” do jovem italiano.

Meu tio era perdido demais, safado até o último fio de cabelo, e com um temperamento terrível, briguento que só ele era na época.

Esta história aconteceu lá por volta de 1965 ou 1966.

O Branco deu um jeito de seguir a moça até sua casa, era de uma família conhecida na região, moravam na cidade, mas o pai dela possuía uma grande fazenda de café e outras propriedades pela região, muitos caminhões.

A moça era um “partidão”, filha única, mas não era aquilo que atraia meu tio, até porque o meu nono também era um boiadeiro forte, financeiramente falando.

O veiaco ficou tacando pedrinhas na janela da moça, que de fato era uma loira muito linda, dona de um belo corpo, e longos cabelos dourados, olhos azuis como duas safiras.

Assim que ela abriu a janela, se deparou com meu tio parado na grade, ocultando parcialmente sua presença em uma grande moita de primaveras que havia crescido se enroscando no gradil do casarão.

A moça parecendo enfeitiçada por meu tio, pediu para ele esperar seus pais irem dormir, que logo estaria com ele.

Meu tio deu um tempo por lá, foi e voltou na rua. O movimento da cidade estava calmo pelo avançado da hora, povo todo voltando para suas casas, e só os mal intencionados, que poderiam ser enquadrados na lei de vadiagem e perturbação da ordem pública, permaneciam circulando. Kkkkkkk

Demorou um tempo, o tio indo e vindo, passando na frente da casa, em uma dessas reparou que as luzes estavam todas apagadas. Segundo ele, não demorou mais que dois minutos, e lá estava a linda moça saltando a janela, se escondendo entre as plantas do jardim, falando baixinho, pedindo para meu tio entrar na arapuca.

Meu tio sendo bem maluco, a convidou para um passeio, mas ela foi irredutível, dizendo que só ficaria ali no jardim.

Sem ter opção, o Branco saltou a grade e foi de encontro a sua donzela apaixonada.

Disse que deram uns malhos violentos no meio do jardim da casa, que fez a moça perder os sentidos conforme ia apalpando, cheirando, lambendo e mordendo os braços, pernas, barriga, pescoço, passando a mão por tudo que era lado.

Aquela noite não passaram daquilo.

Vendo que não renderia nada além de uns esfregas, o tio foi se despedindo, a moça começou a chorar, dizendo que não conseguiria mais viver sem ele…fez aquele drama todo!

Quando meu tio voltou para a praça, encontrou por lá só o meu pai e um outro amigo deles, um rapaz de família espanhola, que o pai possuía um grande armazém de Secos e Molhados na vila.

Quando viram meu tio chegando fizeram a maior graça…

No caminho de volta para a fazenda, por aquele mesmo caminho que fiz incontáveis vezes em minha juventude, meu pai ficou apertando meu tio, querendo saber mais sobre o ocorrido, uma vez que era o irmão mais velho, e se preocupava, e muito, com as aventuras e loucuras que meu tio aprontava por causa de mulher.

O Branco disse que estava tudo sob controle, a moça estava caidinha por ele, e só queria dar uns agarros e nada mais.

Meu pai ficou na dele, mas de olho no irmãozinho sem juízo que ele tinha, uma vez que poderia acabar em morte uma situação daquelas. Kkkkkkkk

Naquela época, as virtudes das donzelas, o cabaço, era assunto muito sério, meu povo!

Passaram os dias, meu tio indo meio que direto para a cidade, até porquê meu nono já não pegava tanto no pé dos filhos naquela época. Ambos eram maiores, até haviam cumprido suas obrigações com o Exército.

Pouco mais de um mês, aconteceu um baile em uma fazenda próxima da nossa. Estenderam as lonas no terreirão de secar café, sanfoneiro, violeiro, muita comida, vinho e anizete para a italianada encher o caco.

Meu pai e tio chegaram cedo, dançaram até dizer chega, e a tal moça apareceu na festa, acompanhada dos pais, óbvio.

E foi naquela festa, em uma escapada que deram, meu tio mandou as virtudes da moça pra casa do chapéu.

Levou a donzela apaixonada para o meio do cafezal e lá fez o “serviço”, jurando casamento, fidelidade eterna, aquele papo de moço bonito safado.

A moça chorosa, muito emocionada, dizia que estava decidida, ficaria com ele pra sempre, e naquele clima amoroso quis saber quanto meu tio iria conversar com os futuros sogros.

O Branco gaguejou, enroscou o motor de arranque, mas prometeu que em breve iria falar com os velhos sobre o casório! 😳

Passaram dias, semanas, e nada do meu tio ir falar com os pais da moça que havia perdido suas virtudes para aquele moço lindo, cafajeste e pintudo.

E foi em um sábado semanas depois, meu tio, pai, alguns amigos da época e amigas, estavam sentados nos bancos da praça da Matriz, local onde também aprontei das minhas décadas depois, que a moça apareceu com algumas das suas amigas, e para o azar dela, viu o Branco de graça com uma das garotas da turma.

Ela sabia que aquela fulana arrastava uma carreta por causa do meu tio (assim como tantas outras) e já se armou um escândalo dos diabos naquele lugar.

Ela xingou meu tio de tudo quanto foi nome, passou mal, quase desmaiou pela forte emoção causada por aquele encontro desastroso, e a constatação que seu “príncipe” não passava de um velhaco, perdido na safadeza. Falta de aviso não foi! Kkkkkkkk

Levaram a moça de volta para sua casa aos prantos.

Meu pai até pensou que sairia confusão com o pai da moça, mas por sorte nada aconteceu. Só o falatório correu amarrado em rabo de foguete!

Dias depois souberam que ela havia se mudado para a capital, e logo correu notícias do casamento daquela linda moça com um dos seus primos, um janota que também era de São Paulo.

Aquele assunto havia acabado, ficou por aquilo mesmo.

Meses depois, a moça, agora boa esposa, dedicada, resolveu voltar para o oeste paulista, ela e o marido vieram de mala e cuia.

Depois o falatório véio correu, e a notícia era que a família do primo da moça estava quebrada, o que motivou aquele retorno de maneira precoce para aquele rincão esquecido do velho oeste paulista.

Os dias passaram, as vezes meu tio esbarrava com ela e o marido no entorno da velha Matriz em dias de missa, mas ambos torciam o nariz. Ele estava cagando para aquilo!

Também começaram correr boatos que o marido dela, seu primo legítimo em primeiro grau, era um belo vagabundo, e só queria viver na mordomia, e quando fazia alguma coisa para o sogro, era sob protestos.

Segundo o que contavam, aquela foi a cereja no bolo, e acabou levando a pequena e linda mocinha para o caixão ainda jovem, de desgosto e mágoas, na flor dos seus 20 anos. Segundo o “boticário” da vila, a pequena sofreu um “passamento”, o que acarretou em uma “congestão cerebral”. Era assim mesmo que falavam naquela época e região onde me criei.

Meu tio me contando aquilo em frente a sepultura da moça, me deu uma pontada no coração. Senti uma tristeza imensa, e ele apesar do jeitão bruto, também achava uma judiação.

Também me contou que depois souberam que a moça sofria agressões por parte do primo/marido, principalmente quando ele chegava bêbado em casa.

O Branco finalizou aquele conversa retirando o chapéu em sinal de respeito à finada:

–Ocê num merecia um fim desse, minha florzinha cherósa.

Ajeitou o chapéu na cabeça e foi voltando para onde estavam minha tia e mãe.

Eu ainda permaneci por um tempo olhando a foto daquela linda moça, e lá com meus botões pensei…”Meu tio de besta só tem a cara e o jeito de andar… que moça linda”.

Me aprumei e naquilo que fui indo de encontro com meus familiares, senti um calor diferente nas costas, depois um frio percorrer minha espinha e uma sensação estranha perto do umbigo.

Achei esquisito, mas estava dentro de um cemitério, local onde eu quase nunca aparecia, desencanei, devia ser alguma má impressão! 👀

Eita meu povo, só comigo pra acontecer esse tipo de coisa maluca.

Naquela noite fui me deitar cedo, meus pais e irmãs estavam vendo televisão, e por lá ficaram.

Foi eu bater as costas no colchão, senti um cansaço esquisito, como se eu tivesse rolado brigando na areia com um boi erado a tarde toda.

Nada de tempo adormeci e me vi andando a pé na beira de uma estrada.

Caminhei um bocado, seguindo em uma direção que parecia me atrair.

Era um fim de tarde, e assim que parei próximo a uma árvore que me lembrava uma velha paineira, saindo de trás do frondoso tronco, a tal moça que havia namorado meu tio.

Estranhamente no sonho eu não sentia medo, mesmo tendo consciência que ela já estava na “terra do pé junto” há mais de vinte anos.

Ela chegou em mim, sorria, mas não dizia nada, só me encarava. A falecida estava usando um vestido branco, parecendo uma noiva pronta para o altar.

Eu perguntava se ela estava bem, se queria ou precisava de alguma coisa… e nada.

Me cansei daquilo, ela não me respondia nada, virei as costas na intenção de voltar de onde vim caminhando, e foi nessa hora que eu vi a viola em cacos! Kkkkkkkkkk

A moça bonita me agarrou pelo pescoço, me empurrou até a árvore e ficou me segurando, prensando minhas costas contra o tronco.

Ela já não estava tão radiante e bonita como eu havia visto no início daquele “sonho”.

Seu rosto estava muito pálido, continuava bela, mas com uma tristeza imensa no olhar.

Me segurando com força, agora pelos braços, aproximou seu rosto do meu, pude sentir como estava gelada, e só então começou a me dizer o quanto eu me parecia com o meu tio, até no jeito de andar e me portar.

Eu tentava me desvencilhar, e mesmo sendo muito mais alto que ela, me senti totalmente impotente, sem forças para nada.

A moça se aproximou ainda mais, me pediu um beijo, queria muito beijar minha boca para se lembrar do seu amado.

Colocou uma das mãos no meu peito, me deixando imóvel encostado na árvore, e foi descendo a outra mão, até pegar na minha ferramenta.

Ali ela se soltou e mostrou todas suas intenções.

Encheu a mão no meu pacote, e enquanto apertava, o bichão foi ganhando forma, crescendo.

Ela me direcionando um sorriso sinistro, fazendo cara de tarada, comentou:

–Até nisso aqui vocês são parecidos, dois safados… me acha bonita, moço? Ainda sou atraente? Vem comigo, tem um cafezal aqui por perto…

Em um bote, colou seus lábios nos meus, me beijando com aflição, depois mordeu meu pescoço, ficou passando a língua gelada pelo meu rosto, me chamando de lindo, meu amor… “ainda estou te esperando para a gente se casar”…me chamando pelo nome do meu tio.

Acordei suando em bicas, assustado, e muito impressionado.

Fui para o banheiro, precisava tomar um banho, estava me sentindo fraco, estranho.

No banheiro quando tirei a roupa, pude perceber que meu cacete estava tinindo de duro, mas nem pensei em bater aquela punhetinha safada… Credo!

Tentei mudar o rumo das ideias, era muito doideira aquilo. Eu só havia feito um comentário sobre a beleza da pobre falecida, mas a moça, mesmo estando em outro plano, queria me pegar de jeito.

Foi um negócio doido demais!

Após o banho, fui até a cozinha, estava precisando comer alguma coisa, me sentia fraco. Comi uns doces, queijo, bebi um café, fumei alguns cigarros, e depois de muito tempo sentado à mesa, remoendo todo o ocorrido, resolvi voltar para a cama.

Aquela madrugada ainda fui perseguido por aquela moça mais uma vez.

Acordei com meus pais fazendo barulho pela casa, achei foi bom.

Pulei da cama, fui para a cozinha, pedi a benção dos meus velhos, e ambos comentaram o quanto eu estava abatido, com cara de quem não havia dormido nada.

Desconversei, ficando de papo com eles até começar a clarear.

Aquele dia não teria serviço na nossa fazenda, meu pai dispensava a peonada para visitarem seus entes falecidos.

Não demorou muito ouvimos o ronco do motor da caminhonete do meu tio.

Me levantei ligeiro indo de encontro com eles.

Meu tio nem havia acabado de estacionar, eu já estava em pé no terreiro.

Minha tia foi a primeira a me abraçar, dar a benção e também reparar que eu estava meio abatido, cara de cansado, e fez graça:

–Você e seu tio são parecidos até nisso, olha a cara dele, também parece que não dormiu direito, meu véio rolou na cama a noite toda.

Meu tio ficou um tempo sentado no banco da caminhonete, me observando, e tinha olheiras.

Assim que o Branco desceu, me abraçou, deu a benção, me encarou torcendo o bigode e quis saber:

–O fio, pur um acauso ocê teve argum sonho isquisto, com arguma moça já falecida... ?

Me arrepiei inteiro, e já me denunciei com os olhos.

Meu tio era ligeiro que só, me mandou ir colocar uma roupa e esperar, que ele daria um jeito naquela situação.

Entramos em casa, fui correndo para o meu quarto me arrumar, enquanto ele foi combinar com meu pai, uma vez que ele estava com minha tia e mãe quando foram limpar os túmulos, se ele poderia levar a mulherada até o cemitério…

Passou aquela conversa no meu velho.

Meu pai não gostava, mas atendendo um pedido do seu irmão, foi quebrar aquele galho, mas nem desconfiou do que havia acontecido.

Quando cheguei na cozinha, meus heróis estavam conversando, meu pai comentou achando graça, que eu e meu tio estávamos com cara de quem havia passado a madrugada dançando em um baile.

Meu tio sorriu sem graça, me direcionou uma piscada, e nada mais comentou.

Antes do meu pai sair levando minha mãe, irmãs e tia para a cidade, meu tio disse que estaria indo até o retiro do arrendamento que eles tinham na época, pra ver como estava tudo, se faltava alguma coisa.

Meu velho achou bom, nos desejou uma boa viagem e foi arrancando com o carro pelo corredor da nossa fazenda.

Eu pesquei no ar a intenção do meu tio, sabendo que o nosso velho amigo índio estava tomando conta do arrendamento, nosso salvador, o Miguelito véio de guerra! Kkkkkkk

Era um pouco longe da nossa fazenda o arrendamento, e tivemos tempo de relatar nossas desventuras espirituais daquela madrugada estranha. 🚬👀

Meu tio também foi perseguido pela ex namorada, que tentava sufocar seu “amado” com as mãos, e eu contando que fui bulinado e quase tive meu cacete arrancado por ela.

Levamos mais de hora para chegar naquela outra fazenda, mas assim que saímos da estrada e apontamos a caminhonete no corredor da entrada, nos deparamos com o Miguelito montado a cavalo, só que não estava usando o chapéu e traje boiadeiro.

Nosso amigo estava usando aquela faixa de ramas e palhas trançadas com penas coloridas, sem camisa, descalço, bem daquele jeito índio.

Quando descemos da caminhonete, o Miguel começou a rir, tirando um sarro das nossas caras, debruçado sobre o cavalo:

–Má eu já sabia… eu aviso ocêis… hum, dois namoradô sem juízo, é o que ocêis dois são… e esse muleco (apontando pra mim) tá ficano pió que ocê, Branco…

Ria e balançava a cabeça, indignado com a nossa capacidade de arranjar encrenca por causa de mulher, estando a donzela viva ou não! Kkkkkkk

Ele já sabia que nós estávamos em apuros, ele tinha essa ligação conosco. Aquele índio magrelo era mais que um amigo, sempre o consideramos da nossa família.

Mas ele apelou demais comigo e meu tio.

Levei um pito por ter ficado “paquerando” a foto de uma moça que já não estava mais entre os vivos, e para o meu tio, ele se lembrou da lambança que ele fez com a moça, afinal, o Miguel já estava trabalhando com meu avô naquela época.

Ele fez as rezas dele, queimou umas folhas, soprou um bocado de fumaça em nós dois, e entre um benzimento e outro, ele tirava nosso couro. Kkkkkkkk

Daquele dia em diante eu aprendi a lição, e pela idade que tenho posso aconselhar.

Caso estejam em algum cemitério, e der de cara com um túmulo onde a falecida era muito bonita, guardem para si, não emitam comentários e se possível, acendam uma vela e rezem por aquela alma. 🕯️ 🚬 👀

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A Vingança da Puta

Quem conheceu minha família, acompanhando meu crescimento, dizia que eu parecia o terceiro irmão, em decorrência de eu ser tão parecido com meus heróis.

Fomos agraciados com uma bela aparência, mas não pensem que tudo eram flores.

Costumam dizer que a vida é mais fácil para quem é bonito.

Até pode facilitar em algumas coisas, só não contam os ônus de tudo aquilo.

É aquele velho ditado: “Contam as pingas que eu bebo, nunca os tombos que eu levo”.

Quando se é um homem bonito, é fácil arranjar mulher, ainda mais quando o sujeito gosta da sacanagem, e sente-se talqualmente um pato na lagoa quando está em missão de desbravamento em cama de moça, em madrugada alta, entre sussurros, gemidos, trocando saliva…

Outra coisa chata que acontecia, pelo menos comigo aconteceu várias vezes, foi o fato de magoar essa ou aquela.

Quantas vezes levei alguma moça para “passear” em cantos escuros, para tirar umas casquinhas, aproveitar o momento, e acabava magoando de forma dolorida o coração daquela desavisada.

Não era intencional, mas acontecia com certa frequência!

Uma ou outra juntava os cacos dos seus coraçõezinhos feridos e seguiam em frente, me odiando para sempre, guardando aquele rancor, mas ficava por aquilo mesmo.

Já outras tantas, guardavam ódio, ressentimento, extravasando sua fúria em forma de “malfeitos” espirituais.

“Se não pode ser meu, não será de nenhuma outra, prefiro ver morto…” 🙄

Já devo ter contado em alguma das minhas histórias que, aquele nosso amigo índio, o Miguel, volta e meia precisava se utilizar dos seus dons para livrar minha cara de algumas daquelas situações.

E foi em uma dessas que estávamos campeando a boiada na invernada da frente da nossa fazenda. A frente da propriedade era meio estreita, medindo no odômetro do painel do carro, pouco mais de três quilômetros e meio em linha reta.

Aquele dia em questão eu estava com meu velho pai e o índio, estando o resto da peonada conferindo os outros quilômetros de cerca por dentro da fazenda.

Era daquela forma quando estávamos em período de terminação da boiada, ou seja , quando os bichos estavam quase no ponto de serem mandados para o frigorífico.

A atenção era redobrada, meu velho ficava em cima, não deixando passar nenhum detalhe despercebido.

Você engordar um boi é custoso, e caso o bicho perca peso, dá um trabalho danado recuperar a carcaça, sem falar no prejuízo, chegando a custar quase dois para engordar apenas um!

A rotina era ir caminhando devagar com o cavalo, olhando todos os mourões da cerca, às vezes se encosta a montaria, cutucando com o pé ou balançando com a mão pra ver se estava firme, se tem algum fio de arame bambo, revirando ou completando o sal de engorda nos cochos…

Nesse meio tempo, ao passar pelo meio da boiada, você tem que estar atendendo para algum deles estar precisando de medicação, injetável ou borrifada.

Era aquele trabalho de estar atento, preparado, laço pronto, medicação no alforge, olhos vivos.

Detalhe, tudo isso em dia de garoa, chuva ou tempestades com muitos raios e trovoadas, frio ou calor de rachar cano e derreter asfalto…

Quem se senta com a família em uma churrascaria, ou vai até o supermercado comprar uns bifes, nem imagina ou sonha a trabalheira que dá um negócio daqueles. Devem achar que a carne sai de alguma máquina, prontinha para o consumo, é só bater no balcão e pedir, que alguma geringonça cospe os embrulhos de carne, fácil assim! Kkkkkkkkkkkkk

(Quero só ver o dia que não tiver mais nenhum boiadeiro pecuarista disposto no mundo)

Me desculpem pelo desabafo, vamos voltar ao ocorrido…

Naquela manhã, eu, meu pai e o Miguel estávamos naquela rotina, beirávamos a cerca que margeava o asfalto, quando meu velho viu uma coisa que chamou sua atenção.

Ele esbarrou com o cavalo, chamou o Miguelito e mostrou aquela “armada”.👀

Eu vinha logo atrás, um pouco mais recuado para dentro do pasto.

O índio saltou do cavalo, atravessou os fios de arame liso, descendo o pequeno barranco, se embrenhado nas moitas de capim colonião e braquiária que cresciam na beira da estrada.

Fiquei curioso com aquilo e fui me aproximando, perguntando pro pai o que estava acontecendo.

Meu velho acendeu um cigarro, coçou a testa e já foi “devorando meu toco”:

–Óia aí, bunitão, tuas putaria de madrugada, parecênu um lubisôme, corrêno atrai de muié…

Até então eu não tinha entendido nada do que estava acontecendo, mas ao me aproximar da cerca, tive a noção da coisa toda! Kkkkkkkkkk

Tinha um baita de um despacho feito na beira da cerca.

A pessoa que fez aquilo, teve o capricho de carpir um trecho enorme, metros daquele capim, forrar o chão com um pano vermelho imenso, parecia um lençol de casal dos grandes, cheio de detalhes e uns símbolos em dourado e preto.

Por cima e em volta daquela armada, uma quantidade absurda, muito mesmo, de velas vermelhas e pretas, bebidas de tudo quanto era tipo, taças bonitas, ramalhetes de flores e muitas rosas vermelhas, uns tipos de jarros com comidas.

Sem brincadeira, parecia uma mesa de quermesse, daquelas que estão esperando muitas pessoas!

Eu estava de boa, tranquilo, só curioso com aquele “banquete”, mas quando saltei do cavalo, atravessei a cerca e fui de perto olhar aquele negócio, senti um frio 🥶 gelando desde as solas dos meus pés, até as sobrancelhas.

O Miguel percebeu que aquilo estava me afetando, deu um grito me mandando sair dali e voltar para dentro da fazenda.

O índio tirou o chapéu, começou falar naquela língua Guarani, que eu só entendia a palavra “Tupã”, quando ele entoava aquilo de forma muito magoada, olhando para o céu, dando tapas no peito, em transe.

Fiquei mais perdido que cachorro em procissão, meu pai preocupado, mas permanecemos por ali, esperando o Miguelito dar um parecer sobre aquilo.

Nosso amigo ficou um bom tempo por ali, e quando retornou para dentro da fazenda, visivelmente abatido, nos contou o que era aquilo e qual a intenção.

Após o breve relato, tomou um ar, me pediu um cigarro, e após tragar comprido, soltando muita fumaça para o alto e em mim, me apontou seu indicador magrelo.

Falou muita coisa, me dando uma bronca.

Disse que aquilo tudo era para me segurar, e se não conseguissem, aquele coisa toda poderia me matar. Bem assim o índio me falou.

Me interrogou querendo saber das minhas últimas aventuras atrás de rabo de saia. Eu fiquei perdido, era tanta andança atrás de buceta, que juro, estava sem saber por onde começar.

E fui relatando meio por alto minhas últimas aventuras, e em uma dessas o Miguel cismou, mandou parar e reiniciar o relato, com calma, do início, que era dali que estava vindo a coisa toda.

Além dos meus pais, tios e meu padrinho, o Véio que cuidou de mim anos depois, o Miguel tinha todo meu respeito. Eu parecia um guarda-roupas de quatro portas do lado dele, mas eu respeitava e gostava muito daquele índio baixinho e magrelo, como se fosse do meu próprio sangue!

Meu pai escorado no cavalo, fumando um cigarro atrás do outro, me fuzilando com os olhos, e volta e meia falava para o Miguelito, me ignorando:

“–Eu num falo pro cê, Miguel, fai tempo… ocê sabe, ele o meu irmão são dois perdido por causa de buceta… num sô santo, má esses dois, sporca puttana…”

Passamos mais de hora no local, e tive tempo de contar, assim, meio por alto, aquele pequeno incidente que tive com umas “moças” alguns dias antes, nada demais, coisa boba…Kkkkkkkkkkkk

Foi assim…

Dias antes, eu e o Joãozinho, meu amigo de longa data, fomos no tal festival da pesca que teve em Presidente Epitácio, no Parque Figueiral. Quem é daquela região deve se lembrar como era.

Aquilo lotava de gente de toda a região, do nosso lado paulista e do sul mato-grossense.

Aquilo era bonito de ser ver, barcos chegando, pessoas nadando no rio, muitas famílias, moças bonitas espalhadas pra tudo que era lado!

E foi naquele nosso passeio que conhecemos um bando de mulheres.

Depois soubemos que eram do Mato Grosso, e quem estava no comando daquele bando era uma mulher aparentando seus quarenta e poucos anos, mais ou menos.

A dona tinha uma cabeleira preta, bem cheia, toda cacheada, usando óculos escuros, rosto muito maquiado, em excesso, mas era bonita, tinha um belo par de coxas, anca larga, daquelas que aguentam o tranco na hora da foda.

Junto da dona estavam umas outras mulheres aparentando trinta ou quase, e umas mocinhas regulando a minha idade e a do João.

Estávamos sentados bebendo cerveja, comendo um tira gosto, olhando para o rio, vendo aquele povo todo transitando, paquerando as gatinhas, e no meio daquela procissão de gente, apareceu aquele bando de feras. Kkkkkkk

O Joãozinho me deu um cutucão, fazendo um comentário sobre aquela comitiva de fêmeas que estava prestes a passar na nossa frente.

Corri os olhos mais que ligeiro, fazendo análises libidinentas, safadosas e cheias de décimas intenções.

Atarracada no braço da que parecia a chefa da turma, estava uma mocinha que parecia uma bonequinha, linda, moreninha, cabelos pretos bem lisos, corpo cheio de curvas, pernas bem torneadas, anca larga, com a alcatra e o contra-filé bem distribuído.

Levantei meu chapéu na testa, fiquei ali, só admirando.

Aquele bando de mulheres foi e voltou, sumindo no meio do povo.

Continuamos bebendo cerveja, conversando, fumando, paquerando, até que um vozerio logo atrás de nós chamou nossa atenção.

Era um dos garçons daquele restaurante na beira do rio que vinha conduzindo aquela comitiva cheirosa a uma mesa bem próxima de onde estávamos.

Nos viramos nas cadeiras, o Joãozinho fazendo aquela cara de safado, olhando para elas e para mim, todo alegre.

Foi um corre-corre, juntando mesas e cadeiras, e assim que se acomodaram bem ao nosso lado, uma daquelas mulheres, arrumando os cabelos, se ajeitando, estalando os dedos me chamou:

–Oi, rapaz, por acaso você é parente do “fulano”?

Estava se referindo ao safado do meu tio.

Todas voltaram suas atenções para nós, despertando curiosidade nas outras, que logo começaram a cochichar, dar risada, fazendo aquele sassarico todo.

De modo cortês, tirei o chapéu respondendo que sim, ele era meu tio, e quis saber de onde ela o conhecia.

O mulherio mais velho do bando fez uma baita algazarra, em abanos e suspiros saudosos, dando demonstração que conheciam o Branco, e pelo modo que se portaram, com toda certeza algumas delas haviam experimentado a vara do meu tio.Kkkkkkk

Meu pai tinha razão em ficar bravo conosco!

Apesar de jovem, eu era bem rodado, experiente em assuntos de pau e buceta, mas não tinha percebido quem eram ou poderiam ser aquelas donas.

Por fim, eu e o João nos apresentamos para aquelas mulheres cheirosas, juntamos nossas mesas deixando a coisa acontecer. Ali fiquei sabendo que a moça que havia prendido minha atenção, era sua filha, uma outra era sobrinha.

Engraçado era que algumas delas ficavam me encarando admiradas, e entre um assunto e outro, respondendo quem éramos e o que fazíamos, as panteras sempre comentavam em tom de admiração, o quanto eu era parecido com meu tio, com exceção dos olhos, uma vez que tenho os meus verdes e os do tio eram azuis.

E quiseram saber por onde ele andava, se continuava casado. Eu ia respondendo a tudo na medida do possível, chegando a pensar que eram ex paqueras e namoradas que meu tio havia arranjado em alguma viagem ou sei lá…

A tarde foi caindo, eu e o João envolvidos por aquela conversa gostosa, muita cerveja rolando, sorrisos, paqueras… não tardou a chefa das moças me perguntou se nós iríamos embora ou ficaríamos na cidade.

Não soube o que responder, me limitando dizer que estávamos por conta do “à toa”, sem rumo ou pressa em voltarmos para casa.

Ela sorriu insinuante, me pediu para levar sua filha, aquela belezinha que parecia uma boneca, para dar um passeio até a beira do rio, e o João levasse uma outra mocinha que era sua sobrinha, na intenção de nos conhecermos, ficarmos mais à vontade, afinal éramos jovens…

Nos levantamos, assim como as duas mocinhas, e fomos caminhar pela areia na beira do rio Paraná. Conversamos muito, fomos e voltamos, falando sobre várias coisas. Ela contou dos estudos na capital Campo Grande, seus planos. Da sua família, limitou-se em dizer que era só ela e a mãe, o pai havia morrido. Eu fui falando do meu dia-a-dia na fazenda, das obrigações, o que fazia aos finais de semana, onde costumava ir…

Estávamos um pouco longe de onde as panteras estavam sentadas, e por baixo da aba do chapéu eu não as perdi de vista, tampouco elas, que de lá nos seguiam com atenção.

A conversa estava boa, eu ficando assanhado, fraco para o álcool desde sempre, estava com vontade de agarrar aquela delicinha.

Qual não foi a surpresa quando me viro encontrando o Joãozinho nos malhos com a prima da minha companhia.

Demos risada daquilo, mas já sugerindo seguir o exemplo do meu amigo e sua prima, e trocar uns amassos.

Ela chegou bem pertinho, me encarou, tinha olhos bem negros, assim como seus cabelos, disse que me achou lindo, uma tentação, mas não tinha certeza se queria se envolver comigo.

Fiquei curioso com aquilo, até um pouco decepcionado, cobrei uma explicação da mocinha, quis saber se tinha algum problema, se eu não era do jeito que ela gostava ou o quê.

De forma muito delicada, aquela belezinha me abraçou, roçou seu rostinho moreno no meu peito, depois olhou no fundo dos olhos e assim permaneceu por um tempo, até iniciar suas explicações.

Falou que eu era uma tentação, lindo, do jeito que ela admirava, que tinha uma queda por rapazes loiros, mas que eu devia ser muito namorador, e minha cara não mentia.

Fiz aquele charme todo de molecão da roça, bobão demais, inocente 😇.

E continuei encarando aquela gatinha gostosa, esperando, até que ela resolveu me pedir um beijo.

Perguntei se não teria problema de trocar aquele amasso na frente da sua mãe, que não desviava o olhar de nós. Ela sorriu, pediu para eu desencanar, que sua mãe era tranquila, não ficava no seu pé, e nessa me tascou o maior beijão.

Entre linguadas e chupadas de lábios, ouvi o mulherio fazendo algazarra lá onde estavam sentadas bebendo cerveja.

Ficamos um bom tempo abraçados, ela me beijava de olhos abertos, queria ficar me olhando, era meio estranho aquilo, mas aproveitei.

Ela ficava toda arrepiada quando eu apertava um pouco sua cintura, roçando minha rola em sua barriga.

Ela parava de me beijar pedindo calma, que eu estava muito afoito, assanhado, tinha muita gente por ali, e reclamava fazendo charme, dizendo estar certa sobre eu ser safado, sem vergonha, muito foguento.

Ficamos mais de hora “namorando”, até que resolvemos voltar para as mesas.

E assim que nós chegamos, minha “sogra” sendo bem pra frente, demonstrando certa embriaguez me solta essa:

–Você é muito parecido com seu tio, até no jeito fogoso com as moças… não acham meninas? Foi aquele falatório!

Olhei pro João, que ficou meio sem graça, assim como eu. Não disse nada, só observei.

A mulherada caiu na risada, apelaram comigo, me pedindo para sentar e sossegar, que estávamos em “família”, e todas “brincando” com a moça que estava comigo, dizendo que depois iam querer um pouquinho.

Ela nem se importava, ria das brincadeiras das outras “tias”, dizendo que se eu quisesse, tudo bem, mas que ficasse claro que eu era dela.

E continuaram “brincando” com a pequena, incluindo a própria mãe.

Fiquei igual uma fogueira de São João, quente, todo acesso.

De fato, eu só tinha tamanho, safadeza, e um tesão absurdo na rola. Kkkkkkkkkkk

Alí soube que estavam em uma casa alugada, e se fosse do nosso agrado, poderíamos seguir com elas até o local.

Nem precisei perguntar para o João, que ficou com aquela cara de cachorro sem dono.

Tudo resolvido, paguei toda a despesa, arrancando elogios das panteras, nos levantamos e fomos pegar nossos veículos.

O Joãozinho foi comigo de caminhonete, e a mulherada estava em três carros, lembro bem, eram duas Caravans e um Opala, só máquinas.

Fomos seguindo a mulherada, o João fazendo graça, contente com a nossa “sorte”...

Pelo trânsito e quantidade de pessoas, gastamos quase uma hora para chegarmos ao local, mas assim que estacionamos na frente, tive um daqueles pressentimentos.

Mas o fogo na rola era maior que a prudência!

As panteras foram descendo, entrando na casa, guardaram dois dos carros, um ficou na calçada…

Nada de tempo ligaram uma vitrola dentro da casa alugada e começou a festa.

Não tinha mais nenhum homem no ambiente, só eu e o João por ali.

Minha gatinha foi para o banho, eu fiquei no alpendre conversando com a mãe da mocinha, nos conhecendo ainda mais. O Joãozinho por perto dando atenção para uma ou outra, e logo perguntaram se nós gostaríamos de comer um churrasco, que elas haviam levado carne e cerveja…

Nos apresentamos como mestres no assunto, sendo o João açougueiro e eu bom nas panelas e espetos.

Sei que ficamos assando carne, bebendo, conversando, vez ou outra minha gatinha entrava na casa, conversava com a mãe, depois aparecia contrariada, meio chateada com alguma coisa, mas não me dizia nada, só me puxava para longe da churrasqueira, me abraçava com força, me beijava com intensidade, mordia minha boca, meu peito, mas nada dizia.

E ficamos nessa até próximo à meia noite.

Lembro que conforme o álcool ia subindo na mulherada, elas iam ficando mais atiradas, falando bobagem, besteiras mesmo. O clima foi mudando para o meu lado, volta e meia uma delas entrava na casa e depois aparecia com roupas curtas, reclamando do calor, umas duas chegaram a colocar maiôs de banho, revelando corpos atraentes. Algumas delas se acomodavam nas cadeiras de área com as pernas abertas, volta e meia eu me deparava com os “beiços” de alguma buceta aparecendo.

Eu estava gostando daquilo!

Na última vez que minha “namoradinha” do dia me deu uns beijos demorados, cara de manhosa, fazendo dengo, olhinhos meio tristes me sugeriu voltar para minha casa, que queria muito ficar comigo o resto da noite, semana… mas que achava melhor eu ir embora, já estava ficando tarde, eu havia bebido, morava longe…

Fiquei sem entender, e nessa que ficamos um tempo considerável afastados da turma, a mãe dela chegou em nós, e de maneira direita, mandou a filha entrar e ir dormir, e que fosse logo.

A gatinha olhou contrariada pra mulher, mas não carteou, só baixou os olhos, respirou fundo, esticou os braços para o meu lado, quis um último abraço, e naquele nosso momento ouvi da pantera chefa:

–Isso filha, se despede do seu gatão, vai descansar, que a gente cuida bem dele.

Assim que ela entrou, eu voltei para a churrasqueira, estava terminando uns últimos cortes, ajeitando as coisas daquele fim de churrasco, o João estava lá na frente da casa com a gatinha dele, me vi cercado por quatro delas.

A mãe da minha gatinha começou falando que tinha gostado muito de me conhecer, que estava pensando em comprar uma propriedade na região, e quem sabe, se instalar por ali. Também disse que pelo jeito que a filha tinha ficado, estava caidinha por mim, gostando mesmo, só que sabia que eu era danado e faria sua filha sofrer.

Sempre rindo e me pedindo para não reparar no seu jeito, que ela era daquela forma, direta e sem rodeios.

Depois que arrumei tudo, me sentei em uma cadeira, e ficamos jogando conversa fora, até que novamente voltaram a falar do meu tio. Já que estávamos só nós por alí, resolvi perguntar de onde o conheciam, e porque estavam tão curiosas querendo saber da vida dele.

Foi uma das moças que estava de maiô quem me fez a revelação, contando que trabalhavam na noite, e meu tio havia feito misérias na cama com algumas delas, bem debochada.

Foi ali que a minha “sogra” abriu o jogo, contando que era patroa daquelas moças, menos da mocinha que estava com o João, que de fato era sua sobrinha, e sua filha.

Fiquei com cara de besta, mas juntando as peças daquele quebra-cabeça, entendi melhor como aquela mulher estava toda pra frente daquele modo.

E prosseguiu me relatando que sua própria irmã, mãe daquela moça que estava com meu amigo, o João, havia se apaixonado por meu tio, mas o Branco, danado que era, havia prometido voltar em uma das vezes, deixando a mulher esperando pelo cliente favorito, e que depois do sumiço do “grandão”, ficou amuada, triste, perdeu o brilho e já não dava mais conta de “trabalhar” na noite.

E quase todos os anos se deslocava até aquela festa na nossa região, a fim de quem sabe, encontrar meu tio e conversar com ele, pedir para ele ir visitar sua irmã, que desde o seu sumiço, havia mudado o jeito de ser e viver.

Fiquei sem saber o que responder, mas nem precisei, a cafetina arrematou o assunto:

–A vida é assim, garoto, cheia de surpresas, e hoje, ganhamos um presente! Sorrindo maliciosa.

Eu na minha inocência perguntei qual era o presente que haviam recebido. Aquela dona, mariposa experiente que era, sorriu me apontando o dedo:

–Olha bonitão, já que seu tio não está aqui, você serve.

Mesmo sem entender, fiz cara de contente, mas nem imaginei o que estava prestes a acontecer.

Minha “sogra” ficou em pé, parou na minha frente, mexendo muito nos cabelos, soltando fumaça do cigarro, sem rodeios me pediu para também ficar em pé, precisava conferir se eu era mesmo parecido com meu tio.

Assim que me levantei, a dona foi com as mãos me pegando pela cintura, abrindo a fivela do meu cinto, tirando a camisa de dentro da calça.

Recuei dando risada, achando estranha aquela brincadeira, e lembrando que sua filha estava logo ali dentro da casa.

Ela gargalhou de forma debochada, mandou eu relaxar e aproveitar, até porque, com sua filha eu não faria nada daquilo, ela não me deixaria “abusar” do corpo e do coração da moreninha linda, assim como meu tio havia deixado mágoas profundas em sua irmã.

Eu estava de fogo por causa da cerveja, cabeça rodando, sem juízo… foda-se!

Deixei ela abaixar minha calça, zorba, e assim que a bitela se viu livre, pulsou contente.

A cafetina ficou surpresa, chamando as funcionárias para ver minha ferramenta de perto.

Fiquei cercado pelas safadas, que comentavam entre si que eu de fato era parecido com meu tio.

Sei que me bateram punheta, fizeram revezamento chupando minha rola, morderam minhas coxas, levei chupões no saco, daqueles que deixam as bolas doloridas.

Acabei passando a rola na mãe daquela bonequinha, que me fez sentar na cadeira de área, depois se acomodou e foi abaixando, rebolando, reclamando que fazia tempo que não sentava em um caralho tão grande e grosso, gemeu demais, fez manha, tacando os peitos na minha cara, jogando os cabelos, alucinada, doida de tudo.

Eu já nem me lembrava da gatinha, queria socar a vara e foda-se o resto.

Depois comi uma daquelas putas, uma quê estava usando um maiô colorido. Essa eu coloquei encostada no capô do Opala, mandei arrebitar bem a anca morena, bem redonda, carnuda, buceta peluda do jeito que sempre amei. Mordi muito aquele rabão, chupei buceta, cu, dei tapas e fui socando sem misericórdia.

Eu estava de fogo, tarado, nem quis saber de mais nada.

Quando gozei naquela puta morena, muito gostosa, tetuda, fogosa, esvaziei o tanque.

Deixei a danada largada sobre o carro, a buceta um oco, escorrendo a porra branquinha pelas aquelas pernas grossas morenas.

Me refiz da sacanagem, peguei um ar, me deparando com parte da putada reunida assistindo a coisa toda. Era novo, mas terrível naqueles assuntos!

Quem se pronunciou foi a cafetina, me agradecendo por aquela pegada que havia dado nelas, mas que já estava bom, que eu e meu amigo deveríamos fazer rastro, irmos embora.

Disse a ela que eu ainda estava com vontade, e se tivesse outra a fim de entrar na vara, era só chegar.

A mulher riu do modo como falei, mas não cedeu aos meus apelos.

Vi que daquele mato não sairia mais coelhas, fui me arrumando, naquele modo todo safado.

A chefa das diabas e minha quase “sogra” fez uma observação:

–Viram o jeito dele, esse povo é assim, e fez igual o tio… acham que eu deixaria a “fulana” se envolver com ele, jamais! Pode ser bonito feito o diabo, mas é um safado que acabaria magoando minha filha.

Eu já estava me sentindo melhor da bebedeira, mas não gostei da forma como aquela puta véia estava falando, e também soltei meus coices.

Do meu modo falei que ela era uma mulher bem pra frente, estranha, me deixou dar uns malhos na sua filha, depois se jogou pra cima de mim, com as outras. Finalizei deixando ela com muita raiva, perguntando quanto havia custado o dia, incluindo os beijos que dei na sua filha, os pégas que o João estava dando na sobrinha e a sessão de rola que apliquei na putada, incluindo ela.

Essa mulher me xingou demais, me ameaçou de morte, disse que descobriria por onde eu andava, mandaria uma jagunçada atrás… falou um bocado de coisas, também me ofendeu bastante.

Sai de lá gritando, chamando meu amigo, e quando cheguei na C10, os vidros estavam todos embaçados. Kkkkkk

O Joãozinho estava cravando a pica na sobrinha da puta!

Foi uma baita discussão, coisa de puta paraguaia de fronteira, bem desbocada, falando alto, me amaldiçoando e avisando que aquela ofensa não ficaria daquele jeito, teria volta.

Eu já estava manobrando a caminhonete, Joãozinho meio ainda meio aéreo, a mulherada na frente da casa, a cafetina falando merda pra caralho, tive tempo de gritar a todos pulmões:

–Véia safada, foda ruim da porra, quem devia cobrar era eu. (Mentira, ela era boa de foda)

Sai de lá acelerando, a mulher tacando pedras, chinelo, fazendo um escândalo dos diabos.

Ali acabou a festa pra mim e meu amigo, que curioso, assustado, quis saber o que era aquilo tudo.

No trajeto fui contando tudo que aconteceu, ele rachando de rir, mas puto, porque queria ter comido alguma das outras putas também.

E ficou naquilo, o que a gente aprontava em outras cidades, por lá ficava, e nem tocamos mais no assunto, ainda mais por ter acabado daquele jeito a nossa farraQuando terminei de contar sobre aquele ocorrido, meu pai me olhava com aquela cara que só ele sabia fazer, me chamando de “puta”, safado, que eu e meu tio éramos dois perdidos.

Já o Miguel, estava com aspecto sério, preocupado, tendo arrepios, e já foi dizendo pro meu pai que o certo era encerrar a empreitada do dia, ficar em casa, e esperar, que ele teria que fazer umas “coisas”.

Assim fizemos, voltamos pra casa, fiquei por ali deitado na rede, só aguardando.

Meu pai entrando e saindo de casa a todo instante, cara de preocupado, acabou levantando suspeitas em minha mãe.

Por fim ele acabou cobrando tudo a ela, que fazia o mesmo ritual todas as vezes.

Corria para o oratório, acendia as velas, desfiava o rosário e depois me chamava para uma “conversinha”. Kkkkkkk

Ela ficava brava demais comigo por causa daquilo, e daquele vez não havia sido a primeira, e confesso a vocês que nem foi a última.

Mesmo estando crescido, ganhei uns tapas, umas cabadas de vassoura nas costas, ouvi o “sermão da montanha”, lamentações por eu ser parecido com meu tio…

Se eu tivesse vergonha, teria passado muita. Kkkkkkkkk

O Miguel ficou até tarde da noite envolvido na “limpeza” da fazenda.

Foi e voltou a pé da beira do rio, uma meia dúzia de vezes.

Depois o índio me chamou, fez aqueles rituais com muita fumaça e rezas, e pronto.

Mas deixou um alerta, aquela mulherada continuaria me perseguindo, mesmo durante o sono. Que aquilo tudo foi motivado por um desentendimento com meu tio, depois a coisa pendeu pro meu lado, queriam se vingar descontando em mim.

Eu já estava acostumado com aquela rotina de noites mal dormidas e “sonhos” malucos, dei de ombros.

O Miguel sorriu de uma forma misteriosa, sabendo que eu precisaria de sua ajuda e de fato, naquela mesma noite, passei apurado, meu povo! 😨

Que pesadelo dos infernos foi aquele. Kkkkkkkk

Vi o filha da cafetina chorando, me perseguindo de verdade, sua mãe e outras mulheres, não bonitonas e gostosas, mas deformadas, horríveis.

Tentavam me agarrar, arrancar pedaços, me morder, e eu, canela, perna pra quem têm… 🤣

Corri mais que maratonista!

No outro dia, bem cedinho, lá estava o índio na porta da nossa cozinha, rindo, querendo saber se eu havia dormido bem.

Ah Miguelito, meus parentes… que saudade de todos… parece que foi ontem, mas já fazem décadas os ocorridos.

E fica um aviso, quem acha que isso é invenção, conversa furada, hum, fica esperto, esse tipo de coisa existe e acontece, com mais frequência do que alguns podem imaginar!

Eita tempo véio!

🐂 🐎

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Comentários

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Meu caro cavaleiro italo-paulistano. Vou comentar um por um dos contos para não perder meu foco de moça distraída. (Ou charme de mocinha distraída segundo alguns.).

Por um momento pensei que seu conto falava das strigas. Vampiras romanas que invadem sonhos e homens fogosos para se alimentar e que se vista fora dos sonhos, são corujas que acompanham seu lanche sempre cantando a distancia.

Mas como falaste das moças, essa filha só pode dar três estrelas mesmo sem ainda ter lido os próximos mas comigo na sua escrita.

Lerei e comentarei todos.

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**De homens fogosos **

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E me deixou curioso, você também tem contato com o mundo do "além"? 🚬👀

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Sou benzedera. 😉☺️💃🏻

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Olha, apesar do pé de que tenho no velho continente, desconheço a história das vampiras romanas, mas vou procurar, pode ter certeza. Agradeço sua visita aqui no rancho deste velho peão.

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