Minha esposa se achava esperta, sqn. 5
“Puta do caralho! Como você pôde fazer isso comigo, com a gente? Puta! Puta do caralho!”
Fiquei sentado olhando pela janela, refletindo sobre o desastre do meu casamento. Meu coração doía, e era só a dor que controlava minha raiva, pelo menos por enquanto. Eu sabia que precisava tomar a decisão, mas enquanto bebia outro JD, decidi que faria isso pela manhã. Estava cansado demais para dar umas sacudidas fortes na vadia. Queria estar no meu melhor quando fizesse isso.
Tive outra noite de sono agitada.
Recebi uma ligação bem cedo, pouco antes das 7h30. O telefone tocou de repente e os sinos pareceram tocar dentro da minha cabeça, despertando meu cérebro do sono que eu havia conseguido alcançar.
—É? - Perguntei meio grogue.
—Sal, sou eu, Felipe. Olha, acabei de receber uma ligação de um hospital. Meu irmão está internado há alguns dias. Ele foi espancado violentamente. Aparentemente, seu estado é estável, mas ele está muito maltratado. Braços e pernas estão quebrados, e seus testículos também levaram uma boa surra. Ainda não sei os efeitos a longo prazo. Não sei de mais nada, então é só isso.
— Espero que você não esteja querendo nenhuma simpatia da minha parte, Felipe. Por mais que eu me importe, ele teve sorte de não ter me encontrado antes da pessoa que fez isso com ele, eu teria terminado o serviço. Anota o que eu digo: Se algum dia eu cruzar com esse maldito, isso pode estar nos planos.
— Sal, eu entendo. Eu não te culparia se você tivesse feito isso, então não vou fazer a pergunta. Ele teve o que merecia, você é um cara honesto e um amigo, e eu só lamento não ter sido um amigo tão bom para você quanto você tem sido para mim. Sei que não posso desfazer o que foi feito, mas pensei que você talvez quisesse saber mais sobre o Tony, só isso.
— Felipe, nunca foi sua culpa o que aconteceu, mas a forma como lidaram com isso é o que me aborrece, lembre-se disso. Mande lembranças para a Tereza. Tchau e obrigado.
— Claro, tchau.
Desliguei o telefone e fiquei olhando pela janela para o jardim. Estava tudo tranquilo enquanto um ou outro pássaro flutuava até o comedouro e se banqueteava com a ração que eu adorava deixar para eles. Sentar na minha espreguiçadeira e observar a natureza através do vidro sempre me acalmava. Também me ajudava a pensar, e hoje não foi exceção.
Usei meu celular para ligar para o Carlos e dar a notícia sobre o Tony. Ele apenas bufou, mas comentou que o trabalho foi bem feito, que os caras dele eram bons e atingiram o resultado esperado. Ele riu quando contei a lista de ferimentos, graves o suficiente, mas sem risco de vida, a menos que ele fizesse algo realmente estúpido.
Carlos disse que tinha certeza de que conseguiria enviar-lhe uma mensagem nesse sentido, só para garantir que ele se comportasse, mas eu não achava isso sensato naquele momento. Eu tinha certeza de que Felipe transmitiria meus sentimentos, o que seria melhor e mais seguro também. Deixamos por isso mesmo e voltei a olhar pela janela.
Enquanto tomava meu segundo café do dia, o telefone tocou novamente, uma chamada no watts. Não atendi e ela acabou enviando uma mensagem:
"Sal, por favor, me ligue, .... Precisamos conversar, .....sinto muito, preciso explicar,..... Preciso de você, preciso voltar para casa,.... sinto muito."
A cada palavra, meu coração se contorcia como se estivesse sendo estrangulado dentro do peito. Percebi que respirava pesadamente quando a mensagem terminou. Eu queria responder, mas minha mão não alcançava o celular para isso, mesmo o cinismo da vadia ainda me incomodava. Eu sabia que teria que fazer isso hoje, mas queria que ela esperasse para não pensar que eu estava respondendo à mensagem.
Fiquei vagando pela casa por mais algumas horas. Enquanto eu vagava, ela parecia vazia demais. Olhei em volta e vi que havia buracos onde as coisas da Carina costumavam estar.
Liguei para a Sandra e pedi que alguns rapazes viessem com uma van para transportar todas as coisas. Em uma hora, as caixas e sacolas que eu havia embalado estavam guardadas na traseira de uma van. Observei a van partir em direção à Carina. Eu sabia que muito em breve meu telefone tocaria enquanto ela recebia suas coisas e a percepção de sua falha me atingiria com força. Era uma viagem só de ida.
O telefone tocou novamente, era Tereza.
— Sal, as coisas da Carina chegaram aqui, só para avisar que já as recolhemos. Aparentemente, os caras deixaram a maior parte em um depósito. Obrigada por isso, Sal. O que temos são as coisas que você marcou como pessoais. A Carina ainda está em choque. Sei que ela ligou para você mais cedo. Você pode ligar para falar com ela? Ou ligar mais tarde?
—Coloque-a na linha, Tere, vamos acabar logo com isso. - Esperei alguns segundos até ouvir sua voz.
— Oi, oi? - Uma voz frágil chegou ao meu ouvido.
—Carina?
— Meu Deus, Sal, me desculpe, eu nunca quis...
— Quer dizer que você nunca pensou em ser pega, não é? - Cuspi venenosamente.
—Sal, eu...
— Guarde isso, Carina, agora você tem a resposta para todas aquelas perguntas que você nunca pensou em se fazer durante todo o tempo em que estava transando com aquele canalha.
— Sal, não podemos...? - Ela começou de novo.
— Você acha mesmo que tem alguma coisa que possa me dizer que vai resolver tudo? Que vai tirar da minha cabeça as imagem de vcs transando, de vc dando o cu praquele imbecil? De você fazendo juras de amor? Vc esqueceu disso? Que se foda, Carina, dê o seu melhor, vagabunda! Sou todo ouvido.
—Posso ir até sua casa e conversar com você? Por favor?
Pensei por alguns segundos enquanto tentava retomar o controle sobre minhas emoções. A voz dela estava me afetando, eu sentia meu coração se contorcer e como se quisesse se libertar do peito. Minha respiração acelerou enquanto minha mente lutava para se controlar. Finalmente, respirei fundo.
— Hoje à noite, às sete, venha ou não, para mim tanto faz. Esta é uma oferta única e válida somente até cinco minutos depois das sete. Vou te ouvir, mas não prometo nada.
Ouvi-a ofegar com a minha grosseria e encerrei a ligação.
Recostei-me com o som da voz dela na cabeça. Eu conseguia sentir a dor em sua voz. Me perguntei se ela conseguia sentir a minha.
Sentei-me e pensei no meu casamento, em como eu achava que tínhamos sido felizes. Claro, tivemos nossos altos e baixos, mas eu estava convencido de que tínhamos sido felizes e que não havia mais ninguém até aquele bastardo. Então pensei: como eu poderia ter tanta certeza? Será que eu realmente a conhecia? Eu não suspeitava de nada antes, mas isso não significava que ela nunca tivesse feito isso antes. Eu me senti confuso novamente enquanto lutava com o que eu tinha certeza e aquela grande nuvem negra que pairava sobre mim, representando tudo o que eu com certeza não sabia.
O relógio tocou no corredor, eu sabia que já passava das seis, ouvi o sino e ele me disse que eram mesmo seis e quarenta e cinco. Ela, a vagabunda, chegaria logo, eu precisava controlar minhas emoções e me preparar para o que certamente seria o último ato do meu casamento.
A campainha interrompeu meus pensamentos e me tirou da névoa de auto piedade na qual eu sentia que estava afundando, ela se apoderou de mim lentamente enquanto eu tentava não pensar muito profundamente sobre o que estava por vir. Comecei a me fazer perguntas repetidamente: por quê? Por quê? Por quê? Agora eu me livrava dos pensamentos sombrios enquanto caminhava em direção à porta. Abrindo-a, vi Carina, a primeira visão dela desde aquela noite no hotel foi chocante. Seu cabelo, embora escovado e arrumado, estava preso para trás do rosto, dando-lhe uma aparência um tanto abatida. Havia muita pouca maquiagem, o que aumentava a palidez de sua aparência. Seus ombros pareciam ter se curvado e caído um pouco quando ela entrou na sala. Eu a segui e notei a diferença que alguns dias fazem quando você foi pego de surpresa como ela foi.
Observei-a enquanto ela olhava ao redor da sala, os pequenos suspiros e depois um soluço abafado ao notar os buracos nas paredes e ao redor da sala onde antes havia fotografias e lembranças. Ela me olhou com a mão sobre a boca e lágrimas se formando nos olhos.
— Tudo se foi. - Eu disse friamente. — Se você olhar o resto da casa, verá que há muitos espaços vazios. - Fiz uma pausa antes de dizer mais alguma coisa. Ela olhou para mim, com lágrimas rolando pelo seu rosto.
— Eu não percebi, Sal, eu nunca quis que isso acontecesse, eu não pensei.
— Eu sei, mas isso é resultado da sua traição, da sua infidelidade, do seu ato sexo por puro capricho com outro homem, tudo isso foi você que fez. Você cagou no nosso passado, espero que esteja satisfeita.
As palavras fluíam com sinceridade e veneno, cada uma atingindo diretamente minha futura ex-esposa.
Ela se sentou no sofá e eu lhe servi uma vodca forte com tônica, entregando-a. Permaneci impassível. Ela tomou um gole da bebida enquanto me olhava. Girei o gelo no meu JD antes de dar uma boa tragada. Recostei-me e a encarei.
— OK, Carina, vamos ouvir o que você tem a dizer.
— Sinto muito, Sal. Não consegui evitar. Fiquei muito confusa e vacilei.
— Carina, só para você saber, conversei com Tereza e Felipe, eles preencheram as lacunas do meu dossiê. Sei o quê e onde, como e também com quem. Só não sei por quê.
— Não sei responder, ele era tão novo e empolgante. Acho que caí na conversa fiada dele.
— Mas você transou com ele! Não uma, nem duas vezes, mas repetidamente por semanas!!! Você até prometeu que seu cu seria só dele. Isso não é só um casinho, é amor, é devoção. Você tá aí arrependida só porque foi pega. Se não, estaria até agora engatada no pau dele, sua biscate.
Senti minha raiva aumentando novamente, tomei um gole e respirei fundo algumas vezes.
Ela olhou para os pés.
— Eu sei que não posso apagar o que fiz, Sal, eu estava errada. Tem alguma maneira de superarmos isso?
Evitei a pergunta.
— Tem sim, volta no passado e toma outro rumo. Esse é o único meio.
Ela apenas se encolheu mais e ficou calada.
— E o Tony? O que aconteceu com ele? Onde está o desgraçado?
Carina se remexeu e finalmente olhou para mim, seus olhos fixos nos meus, desafiadores de alguma forma enquanto ela tentava decidir o que dizer.
— Naquela noite, fomos pegos no hotel, havia homens lá. Cinco ou seis, eu acho, mas o Tony foi simplesmente sequestrado, num minuto ele estava lá e depois sumiu. Você providenciou isso, Sal?
Olhei para ela. Tomei outro gole da minha bebida enquanto a observava, ignorando a pergunta, embora me perguntasse se ela, de alguma forma, não tinha percebido que era eu na cara dela naquela noite, antes de desmaiar.
— Foi assustador! Eles o levaram e ele sumiu, então eu fui amarrada e um homem apontou uma arma para a minha cabeça! Eu sei que ele puxou o gatilho, mas foi aí que eu desmaiei, fiquei com medo de morrer. Quando voltei a mim, estava sozinha.
Ela viu o sorriso no meu rosto brevemente enquanto eu saboreava seu desconforto. Observei um arrepio percorrer seu corpo, meus olhos estavam fixos nos dela.
— Então, vagabunda, o que aconteceu com seu amante?
— Sal, não diga que ele não é meu amante. Sim, eu sei que fiz sexo com ele, mas não sinto nada por ele. Eu te amo e somente você.
— Você me ama tanto que está transando com aquele tarado há semanas! - Ela se encolheu no sofá com a minha explosão repentina e violenta. — Então, vadia, me diga por que eu deveria te dar mais do meu tempo? Você já foi provada como mentirosa e trapaceira. Como eu sei que tudo o que você diz é verdade? Como você espera que eu acredite em uma palavra que sai da sua boca? Me diga! Se enquanto me dizia que ia sair com a Tereza, vc ia se encontrar com ele. Eu sei da porra toda, desde o início. Enquanto vc armava encontros com o marginal, eu fazia planos pra terminar com essa farsa que tem sido o nosso casamento.
As lágrimas escorriam pelo seu rosto enquanto ela começava a ver e sentir pela primeira vez a profundidade da raiva que eu sentia por ela.
— Então, você tem tido contato com o seu amante? - Perguntei novamente, escolhendo deliberadamente a palavra amante, sabendo que a estava afetando. Eu queria deixá-la desconfortável, fazê-la perder o controle, fazer a vadia sofrer como eu vinha sofrendo. Ela me olhou através das lágrimas.
— Não tive mais notícias dele. Tudo o que sei é que ele está em algum hospital, foi tudo o que o Felipe me disse. Não quero mais notícias dele, ele arruinou a minha vida! Queria que ele estivesse morto!
— Bem, não posso discordar disso. O que ainda pode acontecer se eu o ver de novo. - Eu sorri.
Sentei-me, observando o rosto dela. Não havia dúvidas de que ela estava furiosa por ter sido pega, abandonada e também de bunda no chão e cagada. Ela tinha se ferrado e agora estava entendendo que sua casa havia caído bem antes de ser flagrada. Ficamos em silêncio por alguns minutos, cada um observando o outro, esperando uma oportunidade. Esperei o momento certo, eu tinha tanta raiva reprimida que estava com medo de liberá-la. Queria dar um tapa na cara dela, bater nela, transar com ela violentamente, usar a vadia, arrebentar suas pregas com violência. Mas eu precisava manter o controle.
Ela olhou ao redor da sala novamente, procurando algo para mudar o rumo da conversa. Engoliu em seco ao perceber que a foto do nosso casamento havia sumido da prateleira. Enquanto ela olhava para o espaço vazio, eu a encarei e olhei para o amassado na parede para responder à sua pergunta. Ela levou a mão à boca.
Ela se levantou e andou pela sala, percorrendo cada espaço vazio, enquanto eu me sentei e a olhei absorver as memórias perdidas. Era como se todos os vestígios dela tivessem sido apagados na casa. Ela se jogou de volta no sofá. A cada espaço que ela olhava, lhe trazia a realidade de que muita coisa foi perdida pra sempre.
— Sal, tudo se foi! Não há chance? Ela olhou para mim, a derrota brilhava em seus olhos.
Respirei fundo.
— Carina, eu te amei como ninguém. O que você fez foi arrancar meu coração e pisotear tudo. Você fez isso, você apagou o nosso passado, jogou tudo no lixo. Você literalmente CAGOU na nossa historia. Fazer isso com aquele babaca foi desrespeitoso e demonstrou total desrespeito pelos meus sentimentos e aos nossos amigos. Você foi vista transando com ele abertamente! Em público, pelo amor de Deus! Não me venha com essa de que era só sexo, ou eu não queria te machucar. A Tereza te avisou, ela tentou abrir os seus olhos, mas vc estava de 4 praquele vigarista. Você fez isso e agora vai pagar o preço. Seu amante já começou a pagar pelo que fez, isso mesmo, vai ter mais do mesmo. Vou aleijá-lo, mas bem devagar. Também vou te destruir do mesmo jeito que você destruiu o que tínhamos. Carina, terminamos, acabou. Agora, se me dá licença, não ouvi nada de você que me faça mudar de ideia, então, se você assinar os papéis do divórcio, podemos seguir com nossas vidas. Não quero te ver nem ouvir falar de você de jeito nenhum. Terminei com você, agora caia fora da minha casa, sua vagabunda traidora!
Ela ficou em choque enquanto eu ventilava minhas palavras. Ela tinha realmente estragado tudo, mas agora, naquele momento, eu não me importava mais com ela, a raiva me ajudaria. Ela se recompôs e se levantou para ir embora. Eu a segui até a porta. Quando ela abriu a porta do carro, olhou para mim e murmurou a palavra "Desculpe".
Levantei minha mão, com dois dedos apontando para a frente e meu polegar inclinado para que lembrasse o formato de uma arma, e observei seu rosto enquanto o reconhecia.
"Clique!"
Ela gritou e quase desabou ao entrar no carro. Fechei a porta na cara dela e do meu casamento.
Passados três meses, recebi uma ligação de Tereza, ela estava aflita, ela me dizia que Carina estava entrando em depressão e temia que ela tentasse amenizar o sofrimento de forma drástica, e me pediu para intervir de alguma forma, pois ela não saia de casa, não se alimentava direito e ultimamente estava dando trabalho para comer e tomar banho e tinha dia que não queria sair da cama.
Eu disse que eu não tinha mais nada que eu pudesse fazer por ela, esse momento na vida dela foi por escolhas erradas que ela tomou, ela selou seu próprio destino. E desliguei. Eu também não havia mais falado com o casal desde o ocorrido, não estava com saco para ouvir mais nada sobre o fato e tudo aquilo ainda me revirava o estomago. Pra mim, eles terem que lidar com Camila nesse estado também era uma forma de punição pela falta de respeito comigo, por não terem me alertado sobre o que estava acontecendo.
De Tony nunca mais tive notícias, soube que se mudou e nem seu irmão sabia seu paradeiro.
Refleti um pouco, peguei o telefone e liguei para o Carlos, ele tinha muitos contatos, expliquei a situação da Carina e pedi que encontrasse uma clínica para interná-la.
— Sal, meu amigo, como está?
— Levando um dia de cada vez, mas bem, estou só querendo fazer o que é certo, acho que ela não merece morrer por causa disso, e se continuar assim é o que vai acabar acontecendo, então tenho que dar um jeito nisso. Se é que você me entende. Acho que ela já pagou pelos seus pecados.
— Bela atitude meu caro, eu com certeza não teria essa compaixão, você sabe. Mas pode deixar, vou fazer umas ligações e pode deixar comigo que eu ajeito tudo.
No dia seguinte uma ambulância parava na porta do casal Felipe e Tereza pegando Camila, levando para uma clínica especializada em tratamento psicológico. Onde ficaria pelo tempo que fosse necessário.
Um tempo depois retornei para a casa do primo do Carlos, Alfredo, para poder agradecer melhor por tudo que fizeram por mim, e também poder rever Alicia, que me recebeu com um sorriso largo e um abraço caloroso, começava aqui uma nova fase para a minha vida.
Fim.