Depois que Fernanda foi embora, voltei para dentro com minha filha e uma esperança renovada. Fernanda veio entregar Sophia nos meus braços, algo que ela não precisava fazer; poderia ter pedido a Laís ou outra amiga para vir. Mas ela veio, conversou educadamente comigo, mesmo mencionando algumas coisas difíceis de ouvir. No final, aquele pequeno sorriso dela me trouxe uma nova perspectiva para nosso futuro próximo. A mágoa que vi em seus olhos quando ela se foi parecia ter diminuído bastante. Talvez porque soubesse de toda a verdade agora, ou quem sabe por eu ter aceitado procurar ajuda, ou ainda por ela entender que, apesar de tudo, eu não a trai.
Não sabia exatamente o motivo de Fernanda estar menos magoada, mas tinha certeza de que estava. Infelizmente, também sabia que isso não era suficiente para eu ter seu perdão. Não havia muito mais que eu pudesse fazer a não ser cumprir o que prometi: procurar ajuda e dar tempo ao tempo. Não era muito, mas talvez fosse o suficiente para trazê-la de volta para nossa casa.
Foi com esses pensamentos que me agarrei; à esperança de que nem tudo estava perdido. Segui minha vida, mas com algumas mudanças. Agora, ia à academia apenas uma vez por semana e não exagerava. Continuei cuidando da boate e, no tempo restante, procurava passar o máximo possível com minha filha. Comecei a fazer terapia duas vezes por semana. Ingrid marcou a primeira sessão e, sinceramente, gostei. Inicialmente, pensei que estava bem, que iria apenas porque prometi a Ingrid e porque Fernanda queria que eu fizesse. Mas, após três sessões, percebi o quanto realmente precisava daquilo. Passei a ir não apenas por causa da promessa ou para reconquistar Fernanda.
Na terapia, comecei a entender melhor o que aconteceu comigo. Descobri que não é algo tão raro e que, às vezes, pode ser pior. Uma gestante pode sentir aversão ao parceiro e até a outras pessoas ao seu redor. Aprendi coisas que deveria ter sabido antes de engravidar, consegui entender por que Fernanda achava que era melhor esperarmos e nos prepararmos melhor. Conversei muito com Ingrid e aprendi bastante com ela. De fato, Ingrid foi uma amiga fenomenal; devo muito a ela.
O tempo foi passando; os dias corriam rápido, mas as noites pareciam se arrastar. Minha cama parecia feita de espinhos e o travesseiro, de pedra. Não conseguia dormir direito. À noite, todas as dores pareciam mais intensas, especialmente a do meu peito. Fernanda não saía da minha cabeça e eu não sabia mais o que fazer. Tentar seguir em frente após perder um grande amor geralmente é a melhor opção, mas para mim não era. Eu não queria e não podia desistir. Só de pensar em um futuro sem Fernanda ao meu lado doía muito, e eu sabia que ela também estava sofrendo. As meninas me contavam; não com detalhes, mas contavam. No fundo, acredito que elas faziam isso para que eu não desistisse; era nítido que todas, sem exceção, torciam pela nossa reconciliação.
Minha interação com Fernanda continuava a mesma. Todo domingo, ela vinha me entregar Sophia e a gente conversava um pouco na porta da minha casa. Percebi que, sempre que tocava no assunto de uma possível volta, ela ficava um pouco triste após dizer não da forma mais delicada que conseguia, e logo ia embora. Para passar mais tempo com ela, decidi não abordar mais o tema. Conversávamos sobre Sophia, sobre trabalho, sobre nossas amigas, mas nunca sobre nós. Depois que passei a agir assim, ela começou a demorar mais, embora nunca entrasse para dentro de casa. As conversas se tornaram mais leves; conseguíamos rir de coisas aleatórias, e ver o sorriso dela era um bálsamo para mim.
Assim se passaram dois meses; dois longos meses longe de Fernanda. A dor não diminuiu com o tempo; na verdade, a saudade só fazia doer mais. Não era apenas saudade de vê-la, mas da presença dela, do abraço, do toque, do beijo. Sentia falta de nós duas juntas como um casal. O que me aliviava era que ela nunca mencionou o divórcio; tinha muito medo de isso acontecer, pois é o normal quando um casal se separa. Mas ela simplesmente não tocou no assunto, pelo menos não comigo, e provavelmente não falou com ninguém, pois ninguém mencionou nada. Achei isso estranho, mas não comentei; se era algo bom, era melhor deixar como estava. Enquanto ela não falasse, eu também não falaria.
Nessa época eu já fazia terapia só uma vez por semana e provavelmente passaria a fazer apenas uma vez por mês no próximo mês. Eu já estava melhor e conseguia enxergar meus erros verdadeiros, além de ter certeza de que não estava normal quando os cometi. Porém não usei isso como muleta para limpar minha consciência.
Eu estava em meu escritório preparando os pagamentos de alguns pedidos e lembrei que Robson nunca mais apareceu. Provavelmente, ele nem era um revendedor; usou isso para se aproximar de mim. Não lembrava se ele tinha mencionado o nome da empresa ou a marca do produto. Resolvi olhar nossa conversa para ver se ele tinha mencionado algo ou se havia informações em seu perfil do WhatsApp. Como ele nunca mais mandou nada e eu estava focada em outras coisas, esqueci de apagar a conversa.
Quando entrei na conversa e comecei a ler, tive um pequeno choque de realidade. Não havia nada de absurdo nas mensagens, mas ao ver que eu enviava emojis de sorrisos para Robson a cada cantada disfarçada de brincadeira, percebi o quanto estava carente de atenção e distante da minha realidade. Justo eu, que sempre desprezei homens assim, estava me divertindo com aquelas coisas que agora pareciam idiotas. Outra coisa que ficou clara foi que eu realmente tinha sorrido para todas aquelas cantadas, o que fez Robson entender que eu estava interessada nele. Não consegui ler tudo; além de ser muita coisa, aquilo me deixou com raiva e vergonha de mim mesma. Bloqueei Robson e apaguei a conversa; sinceramente, não queria ver aquilo nunca mais.
Eu agora me olhava no espelho e me via de outra forma; parecia que agora, toda roupa me caía bem. Também comecei a olhar minhas fotos da gravidez, algo que não fazia desde o sexto mês. Uma pena que só tinha fotos até essa época, pois depois não tirei mais nenhuma e não deixei ninguém fotografar. Desejava ter alguma, apenas para olhar e ver o que sentiria.
A vida continuava seu rumo e eu mantinha minha rotina. Infelizmente, não houve uma evolução significativa entre mim e Fernanda. Já estava prestes a completar três meses da nossa separação e provavelmente passaria o aniversário dela que se aproximava, longe dela. Ela nunca gostou de comemorar; imagina agora, quando estava mais triste do que nunca. O pior é que era por minha causa. Nunca deixei de saber o que acontecia com ela e provavelmente ela também sabia sobre minha vida. Conviviamos com muitas pessoas em comum: meus amigos eram os amigos dela, e as famílias mantiveram o mesmo contato de antes, ou até maior, por causa de Sophia. A única coisa que realmente mudou foi que não éramos mais um casal. Eu sabia o quanto estava triste com isso, e sabia que ela também estava.
Queria fazer algo para mudar isso, mas tinha medo de agir por desespero e afastá-la mais de mim. Estava entre o espeto e a brasa e não via solução para isso.
{...}
Eu segui o que Ingrid me pediu desde o primeiro dia. Mantive uma boa relação com Sabrina, continuava evitando o assunto reconciliação porque não estava pronta para isso e não queria ficar dizendo não a ela. Sempre que o assunto ia por esse lado, eu dava um jeito de desconversar e logo ia embora. Com o tempo, acho que ela percebeu e parou de falar sobre isso. Nossas conversas começaram a fluir melhor; voltamos a ter diálogos bons e honestos, como antes de tudo desandar. Aproveitei essas conversas para apoiar Sabrina em sua terapia. Ela já havia feito algumas sessões e, acho que nem percebeu, mas estava diferente. A Sabrina de antigamente estava voltando aos poucos.
Essas conversas também me fizeram perceber o quanto fomos negligentes em nosso relacionamento. Deixamos de nos comunicar e de ter as conversas que eram nosso forte. Eu, por não querer pressioná-la e por achar que já estava fazendo minha parte ajudando de outras maneiras. Ela, por ter vergonha de falar sobre o que passava e depois por achar que o importante era ficar bonita para mim. Ambas nos apegamos a coisas que não eram tão importantes para manter nosso relacionamento e esquecemos do básico.
Foquei no meu trabalho e nas boas companhias. Ficar sem Sabrina era uma tortura constante. Sentia falta dela o tempo todo; mesmo magoado com tudo, continuava a amá-la como antes. Com o passar do tempo e algumas verdades que vieram à tona, a mágoa diminuiu, mas não passou. Falei sobre isso nas últimas duas sessões de terapia e isso me ajudou a entender melhor minhas emoções e o que Sabrina estava passando. Minha psicóloga disse que já tinha trabalhado com pacientes com problemas semelhantes aos de Sabrina. Ela me falou sobre a questão com mais detalhes e isso também me ajudou a compreender melhor os erros dela.
Ingrid e Laís eram meus olhos quando se tratava de saber como Sabrina estava. Elas sempre me mantinham atualizada sobre tudo. Sabia que Sabrina estava se esforçando para melhorar, tinha até mudado alguns hábitos e estava sofrendo muito com nossa separação. Ou seja, havia tristeza de um lado e do outro. Mas Sabrina estava lutando para mudar isso, enquanto eu apenas esperava o tempo passar. Não dava um basta definitivo e me separava de vez dela, mas também não dava outra chance. Isso começou a me incomodar depois de alguns meses, e achei que era hora de tomar uma decisão definitiva.
Resolvi colocar tudo na balança e decidir de uma vez meu futuro, o que automaticamente definia os futuros de Sabrina e Sophia. De um lado, a decepção, as mentiras, Robson e o medo de que tudo isso voltasse a acontecer. Do outro lado, o amor que sentia por ela, suas mudanças e a esperança de retomar um relacionamento que era quase perfeito até pouco tempo atrás. Também considerei a opinião das pessoas que eu sabia que queriam meu bem, que me amavam e queriam minha felicidade. Isso, com certeza, pesaria muito para uma reconciliação; todos pareciam ter a mesma opinião e ensaiado seus discursos. Todos achavam que Sabrina merecia uma chance. Os argumentos eram os mesmos: ela errou, mas mesmo não estando em seu estado normal, não deixou de me amar um momento sequer e não me traiu. O pior é que essas opiniões eram embasadas em argumentos e provas; na verdade, eu sabia que isso era verdade.
Com tudo na balança, era claro que ela se inclinava para o lado da reconciliação, mas havia minha falta de confiança em Sabrina. Eu realmente queria voltar a confiar nela; isso tornaria tudo mais fácil. Na verdade, acho que correria para os braços dela se não fosse isso. Depois de horas pensando, não cheguei a uma decisão; não sabia o que fazer e nunca tomo decisões sem ter certeza. A única vez que fiz isso foi quando decidi embarcar na vontade de Sabrina de termos um filho rápido. Embora isso tenha me dado a pessoa que eu mais amava no mundo, minha filha, também causou muitos problemas na minha vida. Não cometeria o mesmo erro de tomar uma decisão baseada apenas no amor que sentia.
Na véspera do meu aniversário, estava em casa, um dia tranquilo. Era sábado, e Sophia estava na cama dormindo. Laís tinha ido para a boate, e eu estava ao lado de Sophia, assistindo a um filme na TV para passar o tempo. Foi quando ouvi alguém batendo na porta. Deixei Sophia na cama e fui atender rapidamente. Achei que era Ingrid ou minha mãe, mas, para minha surpresa, era minha ex-sogra. Não esperava vê-la na porta; mesmo que tivéssemos uma boa convivência, não achava que ela me visitaria, ainda mais depois da separação.
Ela me cumprimentou de forma simpática. Eu ainda achava estranho ver aquele sorriso em seu rosto, mas era melhor assim do que a expressão de desprezo e ódio que ela usava no início. Ela disse que queria conversar comigo, e eu a convidei para entrar. Fomos até meu quarto, onde poderíamos conversar e eu poderia ficar de olho em Sophia. Ao entrarmos, vi os olhos dela brilharem ao ver a netinha dormindo; ela realmente amava muito minha filha, e isso fez com que ela ganhasse muitos pontos comigo.
A conversa que ela queria ter era sobre minha separação de Sabrina. Fiquei ouvindo-a falar sobre como Sabrina estava triste e sobre o quanto era feliz quando eu estava comigo. Basicamente, ela disse tudo que as pessoas que convivem comigo já tinham falado. Enquanto ela falava, pensei em como o mundo dá voltas; Solange havia mudado muito, e para melhor. A mulher que fez absurdos para ver sua filha casada com o homem que ela escolheu, agora estava ali, pedindo que eu desse uma chance a sua filha.
Expliquei a Solange que até queria fazer o que ela pedia, mas não conseguia confiar novamente em Sabrina. A confiança, uma vez quebrada, é muito difícil de restaurar. Foi então que ela disse algo que me fez refletir muito.
Solange— Eu quebrei a confiança de todas as pessoas importantes para mim. A pouco tempo, ninguém confiava em mim. Mesmo reconhecendo meus erros e estando disposta a mudar, ninguém acreditava, pois eu destruí a confiança que as pessoas tinham em mim. No entanto, Sérgio decidiu me dar uma chance. Sinceramente, acho que não foi porque ele acreditava que eu poderia mudar, mas porque me amava muito e queria dar uma oportunidade ao nosso amor. Tive que começar do zero para recuperar o que perdi, mas hoje, graças a essa chance que Sérgio me deu, consegui restabelecer a confiança. Começar do zero me permitiu enxergar muitas coisas com outros olhos. Você disse que é muito difícil recuperar a confiança depois que ela é quebrada; eu concordo e digo mais: é impossível conseguir isso sem uma chance. É só isso que minha filha precisa: uma chance. Pense nisso com carinho. Ela ama você, Fernanda, e tenho certeza de que conseguirá recuperar sua confiança.
Não soube o que responder, mas prometi que iria pensar. Minha ex-sogra se despediu e se foi. Assim que ela saiu, eu comecei a pensar sobre o que ela havia dito. Especialmente sobre recomeçar e que, sem uma chance, ninguém poderia recuperar a confiança quebrada. Antes mesmo de Sophia me tirar daqueles pensamentos com seu choro, eu já havia tomado uma decisão. Agora era hora de colocar em prática, mas para isso, Sabrina precisaria estar disposta a cooperar.
Continua…
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper