Fiquei admirando aqueles quadros por um bom tempo. Eu estava completamente encantada com a visão que eu tinha naquele momento. Eram pelo menos vinte quadros e eu queria ver cada um deles com calma. Valentina estava ao meu lado, mas não disse nada, apenas me fez companhia. Quando saímos, agradeci a ela por me mostrar as obras, e ela respondeu que eu poderia entrar e vê-las quando quisesse. Que iria me mostrar onde escondia as chaves. Pelo jeito, ela realmente confiava em mim.
Fomos até seu escritório, onde ela colocou o chaveiro com três chaves dentro de um livro falso que ficava em uma estante, atrás da mesa. Ela me chamou para conhecer outro cômodo da casa, e a segui através do corredor, desta vez em direção contrária. Passamos pela copa, sala, cozinha, e entramos em uma porta que eu imaginei ter sido uma despensa antigamente. Agora, havia uma mesa com um computador e uma tela grande. Ela explicou que eram os monitores das câmeras que havia mandado instalar na casa.
Valentina me disse que tinha seis câmeras nos muros, todas com sensor de movimento, e mais quatro dentro de casa: uma na copa, onde era a porta de entrada; duas no corredor; uma no quarto que visitamos, e uma em outro cômodo, que ela me mostraria depois. Afirmou que poderia ficar tranquila, pois não havia câmeras nos quartos ou banheiros. Também mencionou um alarme silencioso e prometeu me explicar como ativá-lo e desativá-lo. Avisou ainda que as luzes do corredor, do cômodo com os quadros, da copa e as do lado de fora tinham sensor de movimento, e que ficavam acesas por cinco minutos quando ativadas.
Ela perguntou se eu tinha entendido. Respondi que achava que sim, mas que se quisesse repetir, não me importaria. Valentina riu e repetiu tudo com calma e mais detalhes. Depois, me levou até a copa e me mostrou onde ficava o painel do alarme, explicando como ativá-lo e desativá-lo, e me passando a senha.
Após todas as explicações, ela me chamou para voltar à cozinha, onde disse que ia preparar o almoço para nós duas. Perguntei se ela se importava que eu tomasse um banho primeiro, e ela respondeu que não, me mostrando o banheiro. Infelizmente, só o quarto dela tinha banheiro privativo, mas eu não me importei. Depois de pegar uma toalha e uma roupa mais leve, fui tomar um banho rápido.
Não demorei no banho e, ao voltar à cozinha, Valentina já havia terminado o almoço. Sentei em uma das cadeiras de uma enorme mesa de madeira e começamos a conversar. Eu estava distraída e de repente, senti algo peludo roçar nas minhas pernas. Dei um pulo da cadeira e gritei de susto, fazendo Valentina se assustar também. Quando olhei debaixo da mesa, vi um gato me observando com uma expressão calma. Meu susto se transformou em risadas, e Valentina, ao entender a situação, começou a rir também.
Ela me apresentou a Bebel, uma linda gata branca de olhos azuis que apareceu na casa há cerca de dois anos e nunca mais foi embora. Voltei a me sentar e comecei a fazer carinho na cabeça da Bebel, que logo pulou para o meu colo. Valentina me alertou que, se eu desse muita atenção a ela, não aguentaria o "grude", mas percebi uma ponta de ciúmes em sua voz.
O almoço ficou pronto e jantamos na cozinha. Valentina parecia cada vez mais à vontade comigo, demonstrando ser uma mulher incrível: linda, inteligente, divertida, e seu sorriso me encantava mais a cada instante. Isso me fez pensar que passar mais de um ano morando com ela poderia ser algo perigoso para mim, ou talvez para nós duas. Eu já havia percebido que, às vezes, Valentina me olhava de uma maneira diferente. Não sabia exatamente o que aquele olhar significava, mas sentia que ela nutria algo por mim além do que demonstrava. Ou talvez eu estivesse apenas imaginando demais.
Depois do almoço e de um tempo conversando, fui lavar as louças, apesar dos protestos de Valentina. Quando terminei, disse a ela que ia descansar um pouco no quarto. Ela concordou, avisando que iria molhar as plantas do jardim e que conversaríamos mais tarde. Segui para o meu quarto, coloquei uma playlist de jazz suave no celular e me deitei. Não demorou muito para que meus olhos se fechassem e eu apagasse.
Não sei por quanto tempo dormi, mas acordei com alguém tocando meu rosto suavemente. Abri os olhos, assustada, e vi Valentina sentada na beirada da minha cama, me olhando intensamente.
Val— Desculpe, não queria te acordar. Vim ver como você estava e te encontrei dormindo como um anjo. Você estava tão fofa que não resisti e acabei fazendo carinho no seu rosto. Me desculpe.
Nora— Tudo bem, eu só não esperava te ver aqui.
Val— Desculpe, vou deixar você em paz. Volto a dormir, você deve estar cansada.
Ela falou isso, mas não se moveu. Seus olhos estavam fixos nos meus, e depois desceram, observando minha boca. Eu fiz o mesmo e vi quando ela mordeu os lábios. Não sei o que me deu, mas levei a mão até seu braço e a puxei devagar. Ela começou a inclinar o rosto até que senti o calor da sua respiração sobre os meus lábios. Eu tinha tempo de me arrepender, de virar o rosto, de impedir aquele momento, mas não o fiz. Eu queria aquilo. Assim que seus lábios tocaram os meus, senti uma corrente elétrica percorrer todo o meu corpo.
Meu coração disparou e meu corpo começou a aquecer, era como se a temperatura do meu sangue estivesse subindo a ponto de queimar nas minhas veias. Seus lábios eram macios e se encaixavam perfeitamente nos meus. Senti sua língua pedir passagem entre meus lábios, e instintivamente os abri. Nossas línguas se entrelaçaram em uma dança erótica. Ela foi se apoiando sobre mim e, quando percebi, já estava deitada sobre o meu corpo.
Sentia suas mãos acariciando meu rosto, seu corpo quente sobre o meu e sua pele macia sob as minhas mãos, que exploravam suas costas. O beijo foi se intensificando e, de repente, percebi que não conseguia mais respirar direito.
Foi aí que abri os olhos e vi Bebel enrolada em cima do meu peito.
Sorri ao notar que tinha acabado de ter um sonho. Fiz carinho na cabeça da Bebel, que abriu os olhos com um olhar não muito amigável. Acho que ela não gostou de ser acordada, e eu também não, mas infelizmente aconteceu.
Peguei Bebel com cuidado e a coloquei ao meu lado. Ela me olhou com uma cara de desprezo, e eu apenas sorri. Sentei na beirada da cama e toquei meus lábios com os dedos, ainda lembrando do beijo que pareceu ser real. Não vou negar que gostei do sonho, mas era apenas um sonho. Senti minha boca seca e resolvi beber um copo de água. Quando me levantei, percebi que meu coração ainda estava disparado, pulsando forte dentro do meu peito. Acho que ele tinha gostado do beijo. Ao dar o primeiro passo, percebi que outras partes do meu corpo também haviam gostado do sonho, e isso me deixou um pouco envergonhada. Era melhor eu ir ao banheiro antes de beber água, mas decidi pegar outra calcinha antes.
Fui ao banheiro, fiz o que precisava e voltei ao quarto. Peguei meu celular e, ao olhar as horas, me assustei: já eram mais de cinco da tarde. Dormi por um bom tempo. Fui à cozinha beber água, mas não vi Valentina em lugar algum. Quando estava voltando para o quarto, a vi através do vidro da janela. Ela estava sentada na pequena varanda da entrada, então resolvi ir lá ver como ela estava.
Val— A Bebel te acordou? — perguntou Valentina, sorrindo.
Nora— Mais ou menos. Tive um sonho meio estranho e acabei acordando. Mas ela também ajudou, eu acho.
Val— Ela gostou de você. É melhor fechar a porta do seu quarto quando for dormir, se não ela empurra e entra. Ah, e se ouvir alguém bater na porta sem chamar, é ela batendo a cabeça na porta para você abrir. 🤭
Nora— O gato da Milene também faz isso. Não se preocupe, já estou acostumada com os truques deles.
Val— Eu vi sua porta entreaberta e imaginei o que tinha acontecido. Fui lá e olhei, e Bebel estava deitada em cima de você. Até pensei em ir pegá-la, mas fiquei com medo de te acordar.
Nora— Devia ter entrado... para pegar a Bebel. Se eu acordasse, não teria problema. Mas também não me importei de acordar com ela deitada sobre mim. Porém, ela não gostou de eu tirá-la. 🤭
Val— Ela é assim mesmo, acha que a casa é dela e é cheia de "não me toque". Você vai se acostumar.
Ficamos conversando por um tempo. Perguntei se a casa era dela, e ela respondeu que sim. Era uma herança da avó, que ela foi criada ali. Ela disse perdeu a mãe ainda criança e nunca conheceu o pai. Sua avó a criou, mas infelizmente também faleceu quando Valentina tinha apenas dezenove anos. Desde então, ela herdou a casa, que apesar de ser muito grande para um pessoa só, nunca teve coragem de deixar o lugar e se mudar para um lugar mais adequado para viver sozinha.
Perguntei se ela nunca pensou em se casar ou ter alguém para dividir a vida. Nesse momento, percebi que havia tocado em uma ferida. Ela ficou com um olhar triste, mas depois disse que já havia dividido sua casa e sua vida com outra pessoa, mas isso fazia muitos anos. Desde então, não encontrou ninguém que a fizesse pensar sobre isso. Me desculpei pela pergunta, e ela garantiu que não tinha problema. Falou que sua relação terminou de uma forma abrupta, mas a dor que sentia passou; ainda ficava triste ao lembrar, mas não doía como antes. Porém ainda trazia lembranças ruins. Que as vezes se sentia sozinha, mas acabou se acostumando com a solidão.
Por instinto, segurei sua mão com força e disse que agora ela não estava mais sozinha, que pelo menos por um tempo eu faria companhia para ela. Ela me olhou com um pequeno sorriso e disse:
Val— Espero que esse tempo seja longo. Gosto da sua companhia.
Nora— Eu também gosto da sua. Vai ser ótimo compartilhar esse tempo com você, Val.
Val— Obrigada.
Ela moveu seu corpo devagar e encostou a cabeça no meu ombro. Eu não sabia o que dizer, então achei melhor ficar em silêncio para não piorar a situação. Pensei que ela iria chorar, mas não chorou; ficou ali apoiada, com a cabeça no meu ombro e sua mão segurando a minha. Eu me sentia confortável ao seu lado, talvez mais do que já me senti com qualquer outra pessoa.
Ficamos assim por uns vinte minutos sem dizer uma palavra, até que Valentina se afastou e chamou para entrarmos. Ela foi tomar banho e eu fui preparar o jantar, com a autorização dela. Jantamos juntas e procurei falar sobre coisas mais alegres, evitando perguntas pessoais. Falamos muito sobre arte, e percebi que Valentina realmente entendia bastante de pinturas e amava belos quadros, assim como eu. A conversa fluiu, e quando percebi, já eram quase 23 horas. Notei que Valentina começou a bocejar de sono.
Fomos dormir, e eu fiquei na cama durante um bom tempo, olhando para o teto e lembrando do sonho. Aquele beijo parecia tão real. Nem percebi quando adormeci, mas acordei no dia seguinte e o sol já estava alto. O domingo foi meio chato; Valentina teve que sair para ir à casa da Geovanna. Ela até me convidou, mas preferi ficar em casa para conhecer melhor o lugar.
Não era só a casa que era grande; o terreno ao redor também era espaçoso. Andei pelo jardim e descobri um pequeno pomar nos fundos, com alguns pés de laranja, mexerica, limão, mamão, goiaba, acerola, jabuticaba e três enormes pés de manga. Ali realmente parecia uma casa de avó. O pomar estava limpo e bem cuidado, provavelmente Valentina pagava algum jardineiro para cuidar do lugar.
Explorei todo o local ao redor da casa e também olhei todos os cômodos que estavam destrancados. Namorei os quadros da Libélula novamente e senti falta de fotos de família ou da própria Valentina, não vi nenhuma pela casa.
Valentina só voltou no início da noite, parecendo um pouco mais alegre do que o normal. Contou que havia bebido algumas cervejas com o pai e o namorado da Geovanna. De acordo com o que disse, rolou um churrasco e ela se divertiu bastante.
Ela nem quis jantar, tomou um banho e mal falou comigo antes de ir dormir. Fiquei na sala vendo TV, liguei para minha mãe e fui para a cama quase meia-noite. Demorei um pouco a pegar no sono. Quando acordei no dia seguinte, Valentina já tinha saído de casa. Porém me deixou uma mensagem no celular avisando que foi registrar o contrato e depois iria à galeria. Que provavelmente voltaria às duas da tarde. No final, escreveu que eu poderia ficar à vontade, pois a casa agora era minha também. Isso me arrancou outro sorriso bobo, algo que estava se tornando rotina quando se tratava de Valentina.
Ela voltou antes do que havia falado; nem era uma hora da tarde ainda. Entrou em casa com uma expressão ótima. Eu estava sentada no sofá, mexendo no celular. Ela pegou minha mão e me puxou até o final do corredor. Pegou uma barra de ferro com um gancho na ponta que estava encostada no canto da parede e levantou até o teto da casa. Foi só então percebi que ali também havia um sótão. Ela abriu uma pequena entrada de madeira, puxou uma escada e subiu. Eu a segui e notei que o sótão tinha compartimentos; ela estava destrancando uma porta de madeira.
Assim que abriu, entrei e vi que ali havia um ateliê. Havia algo encostado nas paredes, que imaginei serem quadros ou telas sem pintar, todos cobertos com lençóis brancos. Também vi alguns nos cavaletes, todos cobertos apropriadamente. Valentina me chamou animada para ver o que estava lá.
Val— É aqui que você vai trabalhar, e esse é um dos trabalhos que quero que você faça para mim.
Quando ela puxou o lençol de cima do cavalete, vi uma tela que me fez paralisar. Eu mal podia acreditar no que estava vendo; simplesmente não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo comigo!
Continua…
Criação: Forrest_Gump
Revisão: Whisper

 
  
 