Fui uma garota de programa. Prostituta, rameira, vadia, mulher da vida, puta e outros sinônimos desairosos. No começo, tive bons e maus clientes. Para suportar, dizia para mim mesma que puta sofre, mas...goza! E assim foi até obter a almejada solidez financeira e deixar essa vida.
No conto anterior, contei como num equívoco, conheci Fábio. Ambos viúvos, eu abrindo uma filial da clínica de estética e ele dono de uma imobiliária. E como nos apaixonamos.
Uma história de amor como tantas que acontece todos os dias. Porém, no nosso caso, cheio de complicadores que me instigava a desistir. A reforma do imóvel que aluguei em Camboriú terminou. No térreo, a clínica foi mobiliada conforme padrão da empresa franqueadora. No andar superior, adquiri os móveis para reiniciar uma nova vida longe de Curitiba deixando o passado.
Meu apartamento deixei com o filho mais velho que cursa medicina e para a filha, com quem deixei também a gerência da clínica. Estive ocupada selecionando funcionárias, profissionais de estética e recepcionistas que passaram por treinamento na matriz.
Fábio veio todos os dias ver o progresso, muitas vezes acompanhado da Juliana, sua filha. A menina cada vez mais apegada em mim, me chamando de tia Laura. Na dúvida em como viver esse relacionamento cheio de culpa, sem saber como agir. Os comentários dos leitores ajudaram bastante, o que agradeço de coração.
Durante esse período, sempre que ia para Camboriú, ficava no apartamento do Fábio. Quando a minha casa ficou pronta, achei que não havia como postergar mais. Principalmente porque Juli me tratava com se eu fosse sua mãe, o que reavivava meu instinto maternal adormecido, já que meus pimpolhos viraram adultos.
Com a alma sangrando, eu tinha que por um basta na relação. Ao colocar a menina para dormir, ela me abraçou pedindo para contar uma história. Inventei uma história da bruxa que fingiu ser a mãe da princesa. Era a noite derradeira, e eu me entreguei totalmente ao Fábio, fazendo sexo com amor. A melancólica saideira.
Dei o melhor de mim, primeiro num boquete esmerado que arrancou gemidos de prazer. Depois, ao recebê-lo dentro de mim, rebolei com vontade buscando fazer com que sua carne dentro da minha resultasse no maior deleite que uma transa pode dar. Isso mesmo, eu dei de corpo e alma, com amor pelo dono daquele corpo que fundia no meu.
Era diferente das milhares de vezes que outros machos se satisfizeram em mim. Ele me queria. Eu muito mais. Era triste pensar que aquela era a ultima vez. Que deixaria saudades para o resto dos meus dias. Uma transa que eu desejava que nunca tivesse fim.
Nessas reflexões, acabei tendo o primeiro orgasmo. Forte, arrebatador. Devo ter gemido de prazer. Segurando a vontade de falar ¨-Vai, mete, mete mais, mete tudo!¨. E no fim, ¨-Eu te amo! Sou tua, só tua!¨. Mas só suspirei forte enquanto ele apressava as metidas. Prenúncio do gozo que chegou com ele me beijando enquanto gozava dentro de mim. Se eu não falei, ele disse por nós dois:
- Nossa, Laura, foi demais! Eu te amo!
A resposta não dita que só estava na minha cabeça ¨-Eu também, meu amor¨. Ficamos assim ambos engatados, a respiração se normalizando aos poucos. Até que seu falo foi deslizando para fora da minha perseguida. Ele me beijou mais uma vez de forma doce e tive de corresponder.
Na saída, constrangida, hesitante, pesando bem cada palavra, comecei a falar:
- Bem, Fabio, agradeço demais tua ajuda na montagem da minha clínica. A casa ficou pronta. Pensei muito na tua proposta de casamento e fiquei lisonjeada. Eu me apaixonei também e me apeguei demais à Juli. Exatamente por isso, para não causar sofrimento a ela, acho que devemos terminar. Tem muitas coisas que tu não sabes de mim. Me desculpe.
- Como assim, terminar? O que eu devo saber?
Já tinha ensaiado várias vezes o que falar. Mas na hora, me deu um branco e desesperada apenas soltei:
- Eu era uma puta!
- Puta?Ele sorriu incrédulo, achando que era brincadeira.
- Sim, é sério! Garota de programa! Uma das razões que trouxe a Camboriú é para recomeçar sem o risco de encontrar algum conhecido. Quando enviuvei, tive muitos problemas financeiros. Para criar meus filhos, acabei me prostituindo. Economizei cada centavo para abrir minha clínica. No começo mal dava para o aluguel. Só depois que aderi a uma franquia, as coisas começaram a dar certo. Batalhei muito para poder deixar essa vida. Além disso, já transei com muitos, até com... meus dois filhos.
Ele não disse nada. Um silêncio pesado entre nós dois. Eu mais aliviada pela confissão e ele atônito, tentando processar o que eu disse. Fui embora correndo. Dentro do carro, não tive como evitar lágrimas que teimavam em sair. Tal qual a chuva fina que caia molhando o para brisa.
No dia seguinte, inauguramos a clínica. Vários fornecedores enviaram ramalhetes de flores. Da cidade, apenas duas influencers que fizeram propaganda e da imobiliária do Fábio, com um cartão formal parabenizando. Nada mais. Estive concentrada sem tempo de pensar, atendendo a clientela.
Apesar do apoio de esteticistas da minha clinica em Curitiba e da empresa franqueadora, tive que entrar na dança, explicando sobre procedimentos como preenchimento facial, botox, fios de sustentação e outros. Com agenda lotada, resolvemos abrir no fim de semana para atender a demanda. Até Fabiana, minha filha veio de Curitiba dar uma mão.
No sábado, o Fábio ligou. Aproveitei para agradecer as flores. Ele perguntou se poderia vir ver como ficou a loja. Antes que eu concordasse, ele disse:
- Sabe, a Juli vive perguntando quando a tia Laura volta. Tem noites que chora antes de dormir sentindo sua falta. Aliás, não é só ela. Eu também sinto muito tua falta.
- Bem, eu também sinto o mesmoRespondi.
- Laura, sendo sincero, fiquei chocado na hora com as revelações. Depois, pensei bem e cheguei a conclusão que passado é passado. O que importa é presente e futuro. Tanto faz se você teve um ou um milhão de homens em tua vida. Minha proposta de casamento continua de pé. Eu te amo e tanto eu como a Juli queremos você conosco.
Surpresa, nem falei nada. Ele apenas disse que estava vindo. Quando chegou, sua filha correu e me abraçou forte. Nem quando o pai me cumprimentou beijando no rosto, ela não soltou minha mão. Tive de pegá-la no colo enquanto mostrava a clínica. Fabiana que estava na recepção se aproximou e apresentei Fábio e Juli a ela.
Fabiana deu docinhos que distribuímos às clientes para Juli. A menina ficou encantada fazendo perguntas se eu era a mamãe dela. Minha filha confirmou e a pequena olhou para ela com ar invejoso. Na hora estranhei e só depois soube o porque.
Eu e Fábio fomos ao escritório e mal entramos, ele me beijou. Um beijo sôfrego de duas pessoas que sabiam naquele instante que não poderíamos mais viver um sem o outro. Tão compenetrados que nem percebemos quando Fabiana entrou com a Juli no colo. Minha filha já sacou tudo na hora.
Nós dois constrangidos sem saber o que fazer. A menina é quem quebrou o gelo. Do colo da Fabiana, ela quase pulou em nós, que nos esforçamos para pegá-la. Ela abraçada no pai e em mim, falou para Fabiana:
- Olha, tua mamãe vai ser minha mamãe também!
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