Olá a todos. Eu me chamo Rogério. Atualmente, estou com 28 anos e sou casado há quatro anos com a Jéssica. Esta série conta nossas desventuras no prédio onde moramos, onde alguns vizinhos e vizinhas (e os nossos melhores amigos) parecem querer testar nosso amor. Quem puder ler os primeiros capítulos, só procurar pela série.
A Jéssica tem 26 anos, é médica e tem o corpo esculpido por horas de academia e uma disciplina invejável. Ela tem 1,71, pele amendoada e lindos cabelos castanho-claro. Barriga tanquinho, seios e bundinha pequenos, mas bem proporcionais ao seu corpo escultural. Não temos filhos ainda, mas isso está no nosso radar depois que os dois trintarem.
A minha melhor amiga, Lorena, se mudou para o apartamento ao lado do nosso. A Lorena tinha 27 anos e era minha amiga desde o primeiro período da faculdade. Éramos tão próximos que ela havia sido madrinha do meu casamento com a Jéssica. Ela tinha se tornado sócia da empresa da minha família depois de formada e, com isso, trabalhávamos juntos no mesmo ambiente. Ela era morena de praia, magra, seios pequenos e bundinha redondinha e empinadinha, além de um belo par de coxas. Estava solteira e, segundo ela, muito bem assim.
No capítulo anterior, eu e a Jéssica fomos ao cinema com um casal de amigos, Lisandra e Vinícius. Em casa, depois de duas transas, decidimos deixar que a sorte decidisse qual dos dois teria um fetiche: eu com sexo anal ou ela com uma transa a quatro (sem toques).
Eu venci. Mas o destino escolheu outra coisa.
Acordei no domingo de manhãzinha, com a Jéssica dormindo ao meu lado, toda espalhada, o cabelo desgrenhado e a respiração profunda. O cheiro dela ainda no meu corpo. Quando olhei o relógio, vi que já passava das 7h. Fui pra cozinha em silêncio, preparar o café da manhã.
Mas a Lisandra já estava lá.
Ela estava de costas pra mim, mexendo algo no fogão. Usava só uma camisa grande que batia no meio das coxas. As pernas dela, nuas e lisas, reluziam com a luz da manhã. A camisa subia um pouco quando ela se inclinava pra pegar alguma coisa, revelando um vislumbre rápido da curva das nádegas por baixo do tecido. O cabelo loiro preso num coque bagunçado deixava o pescoço exposto.
— Bom dia, Lisandra.
Ela se virou com um sorriso sonolento.
— Bom dia, Rogério. Espero que não se importe, mas resolvi adiantar o café. — Apontou pra frigideira com ovos e pão de queijo no forno.
— Você é visita. Não devia estar fazendo nada disso.
— E você acha que eu ia ficar sem fazer nada depois de vocês me hospedarem pela quarta ou quinta vez? — Sua voz tinha uma cutucada. — Gosto de retribuir quem é legal comigo.
— Tá bom, então. Você cuida da comida e eu das bebidas. — Peguei as xícaras e o espremedor de suco. — Vai querer café ou suco?
— Suco, por favor.
Comecei a espremer as laranjas enquanto o cheiro do pão de queijo se espalhava. Foi aí que ela soltou, com aquele jeito leve e provocador que só ela tinha:
— Da próxima vez, acho que vou trazer fones abafadores. — Riu. — Ouvi a trepada dos dois coelhos quase a noite toda.
Eu engasguei com a risada.
— Pô, Lisandra, desculpa aí. Acho que a gente exagerou um pouco.
— Um pouco? Vocês fizeram duas numa noite só e se ela não tivesse com sono, seriam três.
— A parede é tão fina assim?
— Deu pra ouvir até vocês discutindo sobre os teus planos de inaugurar o cu da Jéssica.
— Putz... — Passei a mão no rosto, entre envergonhado e rindo. — É, talvez a gente devesse falar mais baixo nas próximas vezes.
— Ou avisar a visita antes? — Ela gargalhou, mexendo os ovos.
Peguei as canecas e comecei a preparar o café.
— Nem inventa, beijoqueira. Você também deu seus pulinhos ontem.
— Beijoqueira? — Ela me olhou de lado, rindo. — Eu beijo o Vinícius uma vezinha e tu já me apelida de beijoqueira.
— Foi um senhor beijaço!
— Não. Foi um beijinho normal. Pouco mais que um selinho, seu exagerado.
— Acredita que eu levei quase três meses pra beijar a Jéssica?
— Sim. Ela já falou pra gente como você era o homem mais lento do mundo. Mas aposto que ela também se fez de difícil pra caralho.
— Um pouco. — Coloquei o suco dela na mesa.
— O Vinícius pergunta por mim lá no trabalho? — Ela se sentou, curiosa.
— Não podemos falar sobre isso com ele. Nem eu, nem a Lorena. — comentei. — O RH ia cair matando se soubesse que eu perguntei. Algo sobre não interferir na vida pessoal dos colaboradores ou demonstrar favoritismos.
— Que pena que não existe RH pra diaristas, né? — Ela falou divertida.
— Por isso, contigo eu posso ser amigo e conversar bobeira — respondi, servindo o café.
Ela riu alto.
— Imagina o que o RH ia falar na nossa orelha na época dos exames de fidelidade ou do harém das odaliscas.
— Os coitados iam ter burnout. — Me sentei à mesa. — Ainda bem que você se aquietou.
Ela me mostrou a língua, brincalhona. Servimos nossos pratos e começamos a comer. Foi então que ouvi o som da porta do quarto se abrindo. E lá veio a Jéssica.
Ela entrou na cozinha com o cabelo solto, desarrumado, os olhos meio fechados e uma camisola grande que mal disfarçava nada. O tecido leve deixava o formato dos seios completamente visível, sem sutiã, e o balanço suave quando ela caminhava quase me fez esquecer como respirar. As pernas nuas, o quadril desenhado sob o tecido.
— Bom dia, meus amores — disse ela, com a voz rouca de quem ainda estava meio dormindo.
Lisandra respondeu primeiro:
— Bom dia, Jéssica.
E eu, com o coração acelerado e tentando disfarçar o sorriso besta, só consegui dizer:
— Bom dia, amor.
A Jéssica se serviu em silêncio, ainda com aquela cara de quem estava meio dormindo, mas prestando atenção em tudo. Se sentou ao meu lado, o joelho encostando no meu, e perguntou com um sorriso curioso:
— Sobre o que vocês estavam conversando aí, hein?
Eu não resisti.
— Sobre a Lisandra ser uma beijoqueira.
Lisandra fez uma careta, fingindo indignação.
— Ah, pronto. O Rogério me vê beijando uma pessoa e já quer me dar um título.
— Eu já te vi beijando três — respondeu Jéssica rindo. — O Vinícius ontem. Aquele teu ex-namorado no meu aniversário.
— Aquele desperdício de oxigênio não conta.
— E o Rogério na festa do carnaval.
— Selinhos de carnaval não contam! — respondemos eu e a Lisandra ao mesmo tempo.
— Só entrou um pouquinho de língua — defendeu-se Lisandra. — Passado é passado.
Antes que eu pudesse responder, a porta se abriu. E entrou a Lorena.
Ela estava de shortinho de moletom cinza e uma blusa branca larga, dessas que caem de um lado do ombro. O cabelo solto, bagunçado, e um olhar preguiçoso, mas ainda assim parecia saída de um comercial. O tecido da blusa deixava o contorno dos seios visível quando a luz batia, e o short mostrava boa parte das pernas, douradas e firmes. Tinha uma naturalidade quase indecente.
— Bom dia, casal favorito — disse ela, rindo. — E bom dia, Lisandra. — Se aproximou e cumprimentou a Lisandra com um selinho de boca, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
— Oi, Lorena. Tá com fome?
— Sempre — respondeu, indo direto preparar o prato.
Enquanto ela se servia com a maior naturalidade do mundo, eu aproveitei pra explicar pra Lisandra:
— A Lorena tem preguiça de preparar café da manhã nos fins de semana. Então, ela preferiu ajudar a bancar o mercado aqui de casa e vir filar boia sábado e domingo.
Lorena, já com o prato na mão, se virou pra mim e riu.
— Não é filar boia, é praticar economia doméstica comunitária. — Sentou-se do lado da Lisandra. — Todo mundo ganha. Eu não cozinho, vocês têm companhia e o supermercado fica mais barato pra todo mundo.
— Você sempre dá um jeito de parecer racional até quando tá sendo folgada — Jéssica comentou, rindo.
— É um talento natural — respondeu Lorena.
O café da manhã seguiu leve, entre risadas e comentários sobre a noite anterior.
— Preciso sair daqui a pouco — disse, tomando um gole de café. — Tenho que ir na ONG ajudar a preparar o almoço das crianças carentes.
Lisandra limpou a boca com o guardanapo e olhou pra mim.
— Eu não tenho nada pra fazer hoje. Posso ir contigo e ajudar o pessoal lá se quiser.
— Sério? — perguntei, surpreso e animado. — Seria ótimo. É sempre bom ter mais alguém disposto.
Jéssica balançou a cabeça, rindo.
— Lorena e Rogério, eu vou precisar da ajuda de vocês amanhã. Tentem não fazer hora-extra e estejam na reunião do condomínio amanhã à noite. Eu vou estar de plantão e não posso ir.
— Acho que essa reunião não vai dar ninguém. Tiraram quase todas as pautas.
— Pois é — respondeu Lorena. — Mas o síndico adora ouvir a própria voz. E a dona Marieta pode aproveitar o esvaziamento.
— É por isso mesmo que vocês têm que ir — insistiu Jéssica. — Precisamos evitar que a dona Marieta apronte alguma coisa. Além disso, preciso que toquem no assunto das reformas estruturais. O Alberto tá enrolando porque morre de medo de tomar decisão impopular.
Lorena suspirou, mexendo o café.
— Isso que dá escolher síndico em um concurso de popularidade glorificado.
O resto do café correu tranquilo. Rimos de bobeiras, falamos do trabalho. Quando terminamos de comer, eu me levantei e comecei a recolher os pratos.
— Deixa que eu lavo — disse Jéssica.
— E eu limpo o fogão — completou Lorena. — Já que eu comi de graça, é o mínimo.
Eu me espreguicei, sorrindo.
— Vocês estão muito eficientes hoje. Tô até estranhando. Tem nenhum golpe não, né?
Assim, eu e a Lisandra fomos nos arrumar pra ir pra ONG.
De tarde, depois de lavar tudo e deixar a Lisandra, eu aproveitei pra ir pra uma cafeteria com a minha amiga Sarah, onde repassamos as fofocas de ambos.
Eu tinha virado confidente da Sarah há um mês e meio, quando a gente saiu junto quase que por acidente (as pessoas com quem marcamos tinham furado). A Sarah me contou que ela e o Érico, marido dela, estavam em um relacionamento aberto. Eu podia não ser especialista em poliamor ou relacionamento aberto, mas do pouco que sabia, tudo que ela me descrevera parecia ter diversos erros de quem tinha aberto a relação na base do improviso completo.
Tínhamos muita coisa pra pôr em dia desde então. Ela estava feliz, os dois tinham avançado bem e ela tinha ficado amiga da mulher com quem o Érico tinha transado (!?) e tinha transado com um senhor que o Érico via todos os dias (?!?). Eu não julgava, só achava complicado de entender. Mas se os dois pareciam mais felizes que nunca com isso, então ficava feliz pelos dois. Afinal, era um casal de amigos queridos e queria o bem deles.
Foi quando a Sarah me contou sobre o impasse anal em que eles estavam, pois o Érico tava louco pra comer ela por trás e ela tava com medinho. Eu quase cuspi a minha bebida quando ela me pediu conselhos e não me restou muito a fazer sem ser tentar o mais sincero possível com ela sobre eu ter os mesmos problemas, enquanto tentava evitar ao máximo contar sobre o lado da Jéssica do problema.
A Sarah foi suficientemente educada de fingir que não entendeu que a Jéssica era tão insegura quanto ela.
Chegou o domingo à noite. Estávamos recebendo nossos vizinhos, dona Ângela e seu Arnaldo, pra um jantar. Fazia tempo que os dois casais não jantavam juntos. Pelo menos uns seis meses.
A Jéssica estava linda, como sempre. Vestia um vestido verde-escuro, colado no corpo, com um decote discreto mas suficiente para me deixar meio sem foco toda vez que ela se movia.
A dona Ângela, por outro lado, parecia mais arrumada do que o normal. Vestia uma blusa vermelha de tecido leve, com um decote generoso demais pro estilo dela, e uma saia preta que marcava o quadril largo e a barriga arredondada. O batom era vermelho vivo, coisa que eu nunca tinha visto nela. O seu Arnaldo também parecia diferente: camisa social azul, calça de tecido, o cabelo penteado com gel. Parecia até mais vaidoso. Era estranho.
A princípio, tudo foi leve. Conversa sobre o tempo, o condomínio, o trabalho da Jéssica. Eu e seu Arnaldo trocávamos frases curtas enquanto a dona Ângela elogiava a minha comida com uma empolgação quase exagerada.
— Esse molho tá uma coisa de outro mundo! — disse ela, piscando de um jeito que não sei se era cacoete ou provocação.
— Que bom que gostou, dona Ângela. É uma receita nova — respondi, sem olhar muito tempo pra ela.
O olhar da dona Ângela se movia com lentidão. Um pouco demais. E quando passava por mim, era o tipo de olhar que não se espera de uma senhora casada há décadas. Seu Arnaldo, por sua vez, parecia relaxado demais, como se já soubesse de algo que nós não sabíamos.
Conforme o jantar avançava, o clima foi ficando estranho. Não ruim, mas carregado de algo indefinido. Até que, a dona Ângela limpou a boca com o guardanapo, cruzou as pernas e disse:
— Eu sempre soube do segredinho de vocês três.
O garfo da Jéssica parou no ar. Eu olhei pra ela, ela olhou pra mim. O seu Arnaldo permaneceu impassível, o que me disse o que eu precisava saber: aquele velho safado tinha contado pra esposa, e há tempos.
— Que segredinho, dona Ângela? — perguntei, tentando soar natural.
Ela sorriu, aquele sorriso meio malicioso, meio satisfeito.
— Ah, Rogério, não precisa fingir. Eu sempre soube que vocês dois treparam na frente do meu marido. Logo que se mudaram pra cá.
A Jéssica arregalou os olhos.
— Como é que é?
— E mais, minha querida — continuou dona Ângela, ajeitando o decote. — Eu sei também que você comprou o silêncio dele se exibindo pra ele de vez em quando. Achei uma estratégia inteligente, viu? Evitou a fofoca no prédio por anos.
A Jéssica respirou fundo e colocou o garfo no prato com força.
— A senhora está inventando coisas. Essa é uma conversa absurda, dona Ângela.
— Ah, Jéssica... — ela disse, num tom quase doce — Você sabe tão bem quanto eu o que aconteceria se essa história fosse parar na boca de certas pessoas. Seria um escândalo. Ainda bem que vocês sossegaram o facho depois disso e seguraram o segredo.
Eu e Jéssica nos entreolhamos. A tensão estava visível. O seu Arnaldo apenas mantinha o olhar fixo no prato, mastigando devagar.
— O que você quer com isso? — perguntei, cruzando os braços.
— O que eu quero? — ela riu, um riso curto — Quero o mesmo que o seu Arnaldo teve. Quero ser incluída.
— Como assim? — perguntei, mesmo já imaginando a resposta.
— Quero participar. — Ela se inclinou pra frente, apoiando os cotovelos na mesa. — Os dois casais. A gente e vocês. Sem toque, sem troca. Só dois casais transando juntos, se excitando juntos... Dois casais se olhando, curtindo o que o outro tem. Vocês são tão bonitos juntos, seria inspirador.
A Jéssica recostou na cadeira, chocada.
— A senhora tá brincando comigo, não é? — disse, o tom subindo um pouco.
— Nada disso. Eu e seu Arnaldo já conversamos. Ele topa. E vocês? — disse dona Ângela, agora com um ar quase provocador.
Seu Arnaldo apenas assentiu, calado, como se confirmasse aquilo.
Eu respirei fundo, olhei pra Jéssica e disse:
— Acho que precisamos conversar um minuto a sós.
A Dona Ângela deu um sorriso satisfeito.
— Claro, claro. Fiquem à vontade. A gente espera aqui.
Eu levantei e toquei no braço da Jéssica. Ela se levantou sem dizer uma palavra. Caminhamos até o quarto, tentando não fazer barulho com os passos.
No quarto, a Jéssica suspirou e se sentou na beira da cama. Eu me encostei no guarda-roupa.
— E agora? — perguntei.
— Agora a gente colhe o que plantou, né? — respondeu ela, mexendo no cabelo e soltando um riso nervoso.
— Isso é culpa minha. Eu devia ter pensado com a cabeça de cima naquela vez com o seu Arnaldo.
— Na verdade, isso aqui tá parecendo um castigo divino — comentou Jéssica, meio brincando meio séria. — Lembra de como a gente enrolou e brincou com o Gustavo e a Márcia semana passada? Isso aqui é o Universo dando o troco.
Eu ri, balançando a cabeça. Ela riu também, um pouco mais relaxada.
— Mas me diz, Jéssica, você tá disposta? — perguntei, olhando nos olhos dela.
Ela pensou por um segundo e depois assentiu.
— Tô. É só exibição, né? Sem toque, sem troca. Isso bate com uma das fantasias que temos. E você, Rogério? Tá disposto?
— Não é o meu tipo de noite perfeita, mas se é pra fazer, tudo bem. — Dei de ombros. — Pelo menos a gente faz isso do nosso jeito.
— Então vamos deixar claro pra eles as condições. — Ela não resistiu em soltar um sorriso malicioso. — Você ganhou aquele cara ou coroa. Mas pelo visto, a gente vai transar na frente de outro casal antes do anal... Acabei vencendo sem querer querendo.
— O Universo tá mesmo conspirando contra mim — disse, brincando. — Parece até que foi ele quem contou pro seu Arnaldo contar pra dona Ângela e fazer a cabeça dela pra chegar nesse momento.
A Jéssica riu, porque nós dois sabíamos que ela não faria isso. Por mais conveniente pra ela que parecesse se ela tivesse feito.
Ela respirou fundo, se levantou e alisou o vestido.
— Vamos lá — disse, e começou a tirar a calcinha por baixo do vestido. Deixando-a cair no chão.
Enquanto ela se ajeitava, eu fui até a cômoda e abri a gaveta pra conferir nosso equipamentos. Tudo estava lá: o vibrador dela, a coleira nova, a coleira antiga, as cordas... todos escondidos no fundo. Fechei com cuidado.
Saímos do quarto de volta pra sala. A dona Ângela e o seu Arnaldo ainda estavam sentados à mesa, conversando baixinho. Quando nos viram, se endireitaram, como se estivessem prontos pra ouvir o veredito.
— Nós aceitamos — falei, direto.
A expressão da dona Ângela se iluminou.
— Que bom, meus queridos! Eu sabia que vocês eram mente aberta.
— Mas temos condições. E não são negociáveis. Primeiro, isso morre aqui. Segredo eterno. Nenhum de nós fala sobre isso, nunca. — olhei pros dois com firmeza. — Segundo: nenhum casal toca no outro. Sem trocas, sem beijos cruzados, sem mãos onde não devem. É só... assistir. E terceiro: nada de fotos, nada de filmagens. Nenhum registro.
Seu Arnaldo assentiu imediatamente.
— Justo — disse ele. — A gente quer o mesmo.
Dona Ângela concordou, o sorriso mais contido agora.
— Combinado. Discrição é o mínimo.
— E tem mais uma — acrescentei. — Tem que ser hoje. Depois do jantar.
Seu Arnaldo e dona Ângela trocaram um olhar rápido. Depois, ele respondeu:
— Fechado.
Voltamos a sentar, e o resto do jantar seguiu num silêncio estranho, quebrado por frases curtas. O clima era de tensão e expectativa. Ninguém queria parecer ansioso, mas todos estavam.
Quando terminamos de comer, eu olhei pra Jéssica. Ela respirou fundo, passou a língua nos lábios e assentiu.
— Vamos? — perguntei.
— Vamos. — respondeu ela.
Nos levantamos. A dona Ângela e o seu Arnaldo fizeram o mesmo, quase ao mesmo tempo. Fomos caminhando juntos pelo corredor, eu e Jéssica à frente, os dois logo atrás.
Mal entramos no quarto e tanto o seu Arnaldo quanto a dona Ângela começaram a se despir. Sendo assim, comecei a tirar as minhas roupas também, enquanto assistíamos a Jéssica tirando o seu vestido. O casal de velhos estava vidrado no corpinho da minha esposa.
A nudez da Jéssica não era inédita pra mim ou pro seu Arnaldo, mas era sempre um tesão de assistir. Os seios pequenos e durinhos, que tinham biquinhos rosas que apontavam para o teto. A bucetinha apertadinha e de pelinhos ralinhos. Só de ver a minha esposa pelada, o meu pau já dava sinais de vida.
Assim, logo estávamos os quatro nus e duas mulheres vieram pros seus respectivos homens. A dona Ângela ficou na frente do seu Arnaldo e a Jéssica ficou na minha frente e, cada uma delas nos beijou na boca.
A Jéssica passou as mãos nas minhas costas e na minha bunda, me puxando para mais perto dela. Eu respondi, passando a mão sobre os seus peitinhos e apertando aqueles mamilos durinhos. Não resisti muito e esqueci que estávamos sendo assistidos. Já estava a segurando nos meus braços e a levando pra nossa cama.
Comecei a beijar ela inteira, começando pela boca. Desci pelo pescoço dela, passando pelo seus ombros e indo até seus mamilos durinhos, chupava um enquanto acariciava o outro. Depois alternava.
Ela me puxou de volta e entendi que ela queria me chupar e, como eu também estava louco pra provar aquela bucetinha mais uma vez, me virei para um 69. A Jéssica começou a chupar o meu pau enquanto me deliciava com a sua bucetinha molhada. Com a minha língua em seu clítoris, coloquei um dedo dentro da bucetinha, fazendo um vai e vem para sentir seu suco molhando o meu dedo.
A Jéssica gemia alto, chamando a atenção do outro casal, e remexendo a sua pélvis contra mim. Continuei assim, masturbando a sua bucetinha com dois dedos. Ela voltou a chupar o meu pau, assim os seus gemidos eram abafados por ele. E se tinha alguém que sabia exatamente como chupar o meu pau era a Jéssica.
Eu olhei pro lado, curioso em saber o que dona Ângela e seu Arnaldo estavam aprontando. O casal estava do outro lado da cama, também fazendo um 69. A dona Ângela em cima dele chupando o pau pentelhudo do Arnaldo. Ela realmente gostava disso, engolia tudo de uma vez e chupava com ele na boca.
Depois disso, eu me recostei na cabeceira da cama, com o meu pau duro e reto para cima. A Jéssica parou um momento. Ela queria olhar o outro casal transando. O seu Arnaldo olhou pra ela de volta, como se quisesse que ela soubesse que ele estava ciente que ela estava olhando e o voyeurismo dela aumentava o prazer dos dois.
Nisso, a Jéssica montou em mim, posicionou o meu pau nos lábios da sua buceta e se sentou. Aos poucos, o meu pau foi penetrando inteirinho na sua bucetinha ensopada.
Foi quando notei que o seu Arnaldo parou pra olhar pra nós dois mais uma vez. Ele ficou observando diretamente o corpinho da Jéssica e enquanto o cacete a penetrava, ela o olhou de volta. O lado exibicionista dela à toda. Os dois se olhando sem falar nada enquanto ela começava a galopar no meu pau. Eu só aproveitava pra curtir a cavalgada.
A Jéssica estava pulando para cima e para baixo, gemendo alto de prazer em cada salto. Ouvi um gemido alto vindo do outro lado da cama. Quando fui dar uma olhada, agora a dona Ângela estava de quatro enquanto o seu Arnaldo tinha encampado o pau com uma camisinha e empurrava o seu cacete pentelhudo na esposa.
O seu Arnaldo estava se engatando na traseira da esposa, uma mão segurando um dos seios grandes e flácidos da Ângela. Esse momento ativou o lado voyeur tanto meu quanto da Jéssica. A gente queria ver aquilo, por mais mórbido que fosse. Assim, paramos e assistimos um pouco enquanto o seu Arnaldo estocava na bucetona da dona Ângela. Ouvíamos o barulho dos corpos se chocando e os olhares deles sobre nós dois. Empolgada, a Jéssica passou a quicar com mais vontade no meu pau.
Não resisti em ver aqueles dois transando de quatro e logo peguei a Jéssica e a coloquei de quatro em cima da cama também. Ela parecia querer também imitar o casal mais velho e ficou ali rebolando a sua bundinha pra mim. A safada sabia que eu queria comer o cuzinho dela, mas que não era a noite pra isso. Apontei meu pau pra sua bucetinha e comecei a bombar.
Assim, ficamos os dois casais transando de quatro, próximos um do outro na cama. Os quatro trocando olhares uns com os outros. Foi quando aconteceu.
Enquanto eu metia na Jéssica de quatro, a dona Ângela esticou o pescoço, procurou a boca da Jéssica e deu um selinho, de amigas. Deu pra notar que aquilo era um tabu dos mais ferrados pra Jéssica e que ela não exatamente curtiu. Ela nunca tinha tido tesão em mulher e, francamente, nessa altura do campeonato se não tinha dado selinho (ou se deixar levar um selinho) da Odete, Lisandra ou Lorena, podia jurar que terminaria zerada nesse quesito.
Mas eu e o seu Arnaldo quase gozamos assistindo, os dois cacetes dando solavancos de aprovação dentro das duas bucetas.
Depois do primeiro selinho, a Jéssica virou o rosto. Mas a dona Ângela não desistiu fácil e quando a Jéssica desviava, sempre trazia o rosto dela de volta com a mão no queixo. A Jéssica acabou envolvida pelo clima, até porque o meu pau estava bombando na sua bucetinha com vontade.
Ela foi trazendo a Jéssica para perto dela e de repente, as duas deram mais alguns selinhos, enquanto eram comidas por mim e pelo seu Arnaldo. Não deu pra ver se ficou apenas no selinho ou se a Jéssica permitiu que a dona Ângela pusesse a língua, mas as duas ficaram assim, trocando olhares e selinhos por quase um minutos, enquanto tinham suas bucetas estocadas por seus maridos.
Ela afastou seu corpo (e rosto) do casal tarado. E voltamos a transar com ela cavalgando em cima de mim. Mas logo, a Jéssica não estava mais resistindo. Deu pra notar que ela estava quase lá. E logo, entre gemidos, ela confirmava que estava gozando.
Após um clímax alto, ela desabou sobre mim, se espasmando em gozo. Ela beijou minha boca com paixão.
Presenciar isso deve ter ativado algo no casal tarado. Ouvimos a dona Ângela gritar que estava gozando enquanto o seu Arnaldo não parava de meter nela com vontade.
Mesmo ainda com meu pau na sua bucetinha, a Jéssica passou a assistir os dois chegando ao clímax. Aquela situação era louca. A dona Ângela chegava ao orgasmo enquanto o seu Arnaldo só continuando metendo e metendo na buceta da esposa. Não demorou muito, e ele gritou que estava prestes a gozar. E esporrou com tudo dentro da camisinha dentro da buceta da dona Ângela.
A Jéssica ficou tão excitada vendo o outro casal gozar primeiro que começou a cavalgar com mais ímpeto. Logo, estava demais pra mim. Anunciei que estava pra gozar e ela se levantou saindo do meu colo, mas permanecendo na minha frente. Esguichei toda a minha porra no rosto e nos peitos da Jéssica. Seu Arnaldo e eu olhamos um para o outro e sorrimos por termos conseguido fazer as duas mulheres gozarem loucamente.
Depois disso, ficamos apenas deitados na cama, descansando um pouco. Eu abraçado com a Jéssica de um lado da cama. O seu Arnaldo com a dona Ângela do outro. Os lençóis tinham ido parar no chão. E o silêncio imperava enquanto recuperávamos nossas forças. Ao meu lado, a Jéssica olhava pro teto, com o cabelo bagunçado e o olhar distante. A cama era grande, mas não tanto: o braço da Jéssica encostava no braço da dona Ângela quando as duas se mexiam ao mesmo tempo.
Levou alguns minutos até alguém quebrar o silêncio.
— Bom... — disse dona Ângela, com a voz rouca.
— A gente promete segredo eterno, tá? — disse seu Arnaldo. — Isso morre aqui.
A Jéssica virou o rosto pra ele, avaliando se acreditava ou não.
— Espero que sim. Isso aqui não é história pra circular pelo prédio.
— Pode confiar, querida — completou dona Ângela. — Ninguém precisa saber.
— É melhor que continue assim mesmo — falei. — Tem coisa que é melhor ficar só na lembrança.
Mas nem tudo parecia ter sido resolvido ainda.
— Satisfeito em ver a minha buceta, seu Arnaldo? — perguntou Jéssica, externalizando o incômodo pelo vizinho estar olhando fixamente pra sua bucetinha de pelinhos ralinhos há vários minutos.
O velho Arnaldo era safado. Seus olhos estavam comendo a Jéssica desde o primeiro momento. Mesmo tendo cumprido a parte de não tocar, e nem tentar, nela durante a transa. Dava pra notar o quão vidrado ele tava. Seus olhos nem piscavam de tanto que estava fixado na nudez da minha esposa.
— É uma buceta muito linda, Jéssica — respondeu seu Arnaldo, mexendo no pau de leve. Ele percebeu que a médica reparou nisso. — Posso meter um pouquinho?
— Não.
— É só uma metidinha, por favor, deixa.
— Não! — respondeu Jéssica, tão firme que matou a questão sem que eu precisasse intervir.
Seu Arnaldo aceitou passivamente a derrota. Pra quebrar o embaraço, a dona Ângela puxou outro assunto qualquer. Um a um, levantamos da cama.
Eu fui o primeiro a ir ao banheiro pra me limpar um pouco. Depois, foram as vezes da Jéssica, dona Ângela e seu Arnaldo. Eu e a Jéssica iríamos tomar uma bela ducha depois daquilo, mas antes precisávamos nos livrar dos vizinhos. Assim, a Jéssica voltou do banheiro já com um roupão.
Entendendo o recado, a dona Ângela e o seu Arnaldo, cada um na sua vez, voltaram vestidos. Não foi preciso de drama pra despedida. Antes de sair, dona Ângela olhou pra nós dois.
— A gente vai guardar segredo, tá? — disse ela novamente, num tom mais sereno.
Eles saíram, e a Jéssica se sentou na cama, olhando pra mim.
— A gente é doido — disse ela, balançando a cabeça.
— Um pouco.
Ela me olhou com aquele meio sorriso cansado.
— Nunca pensei que ia viver pra ver uma noite assim — falei. — Não com eles.
— Definitivamente, não com eles — respondeu Jéssica, deitando de novo. — Sei lá, eu esperava algo assim entre nós com a Lorena e o Carlos, caso eles namorassem.
— Aí, você quer o impossível — brinquei.
Deitei ao lado dela, e o silêncio voltou enquanto criávamos coragem pra tomar um belo banho.
Horas depois, ainda estávamos sem dormir, pensando numa coisa que estávamos planejando desde a semana anterior. A Jéssica estava deitada ao meu lado, com a cabeça no meu peito. O corpo dela estava mole, satisfeito.
— Amor, você tem certeza de que quer mesmo esse acordo de a gente contar os sonhos eróticos que tiver um pro outro? — perguntei
— Tenho, sim. — respondeu ela, firme, mas com doçura. — São apenas sonhos, Rogério. Não significa que a gente queira que aquilo aconteça na vida real.
Notei que ela sentia um frio na barriga. Ela também tinha certos receios, medo de ouvir algo que doesse, de descobrir um detalhe que a sua insegurança pudesse transformar em um monstro. Mas, ao mesmo tempo, ela também queria tanto essa abertura entre nós, queria que eu soubesse que podia contar tudo pra ela.
— Eu tenho medo de te magoar — confessei. — Porque, às vezes, os sonhos que eu tenho nem são apenas com você.
O coração dela bateu forte, mas ela tentou não deixar transparecer. Notei apenas pela proximidade dos nossos corpos. Ela se aninhou mais perto de mim.
— Amor, isso é normal. Eu também sonho com outras pessoas de vez em quando. Mas isso não quer dizer nada. São apenas sonhos. O que a gente vive aqui, acordado, é real. É o que importa.
Eu a encarei por alguns segundos, analisando suas palavras.
— Tudo bem... Eu topo a ideia — disse, e notei quando ela sentiu uma pontada de alívio. — Mas vamos estabelecer algumas regras. Assim a gente evita se machucar.
O sorriso dela cresceu.
— Que tipo de regras? — perguntou, curiosa.
— Primeira regra: lembrar sempre que o que estamos contando é apenas um sonho. Não quer dizer que eu ou você queremos, de fato, transar com outros ou fazer aquilo.
— Concordo totalmente. Às vezes, a gente nem controla os sonhos, né? Eu já tive cada sonho louco... — Ela riu baixinho, tentando deixar o clima leve. — O importante é saber que aqui, na vida real, eu só quero você.
— Segunda regra: a gente precisa se sentir seguro para ser cem por cento honesto na hora de contar. Nada de esconder partes ou mudar detalhes porque acha que o outro pode não gostar.
— Vai ser difícil, mas eu topo — respondeu. — Se a gente não for honesto, não tem sentido nenhum fazer esse acordo.
— Terceira regra: pedir pra testarmos uma posição que apareceu no sonho depois é válido. Mas pedir pra incluir terceiros nunca vai ser válido. — disse, firme, a olhando nos olhos.
O corpo dela relaxou ao ouvir isso.
— Eu amei essa regra — disse ela com um sorriso carinhoso. — Nossa conexão é só nossa. Ninguém mais.
— E a quarta regra... — respirei fundo antes de continuar. — Se, ainda assim, o que estiver sendo dito começar a magoar, por qualquer motivo, a pessoa deve falar na mesma hora pro outro parar de contar.
A Jéssica concordou com um aceno lento.
— Acho perfeito. Assim a gente se protege e evita guardar ressentimentos.
Eu a puxei para um beijo suave, cheio de carinho.
— Então está combinado. — disse.
— Combinado. — respondi, deitando a cabeça no peito dele.
Eu peguei uma moedinha na mesinha de cabeceira.
— Vamos jogar para decidir quem conta o primeiro sonho.
— Cara ou coroa?
— Cara eu conto, coroa você conta — disse, antes de jogar a moeda para cima.
E eu venci mais uma vez.
Na segunda de noite, eu e a Lorena cumprimos nossa palavra com a Jéssica e estávamos no mini-auditório pra reunião do condomínio. A minha esposa estava certa. Seja pelo horário ou pela mudança pra uma pauta fria, o evento estava bem esvaziado. Tínhamos no máximo umas 25 pessoas. Muito pouco pra um condomínio com dois blocos de 30 andares. Da nossa turma, além de nós dois, eu só reconhecia a Sarah, sentada do meu lado. A Marieta estava com apenas a Anacleta e mais uns 10 membros do séquito.
Sentado ao fundo, em meio às sombras, o Lucério assistia tudo. Não falava nada, não se misturava. Apenas assistia tudo em silêncio. Pra minha raiva, eu teria que mencionar positivamente o nome dele hoje. Mas era o justo. Ele tinha feito boa parte do trabalho de campo criando um dossiê com fotos dos problemas do condomínio durante o mês em que prometeu ser bonzinho. Não podia defender essas reformas sem dar os devidos créditos a ele.
Ao meu lado, a minha sócio apenas olhava ao redor com aquele ar prático dela.
— Um mini-auditório só pra essas reuniões, Rogério? Isso aqui é um desperdício enorme de espaço. Fora o custo da manutenção.
— Concordo.
— Dava pra fazer uma sala de jogos com este espaço todo, ou um lounge de convivência. E depois usarmos a sala de festas pras reuniões.
— Sim, sim. Mas isso aqui foi feito na época que subiram os prédios, muito antes da gente nascer. O seu Geraldo me disse que, naquela época, os moradores tavam todos empolgados em ter um “mini plenário”.
— Isso foi em 1988, estamos em 2025.
— Sim, mas agora ninguém quer mexer nisso porque mexer significa cota extra.
Ela fez um gesto de “pois é” e se recostou, enquanto o síndico Alberto ajeitava o microfone no centro. O síndico, com aquele bigode grosso e jeito metódico, começou o discurso habitual.
— Boa noite a todos. Temos como única pauta de hoje a questão do novo circuito de câmeras de vigilância. Ele está pronto e foi entregue na sexta passada. Depois de quase 20 anos com o antigo sistema, agora temos a tecnologia de segurança e videomonitoramento mais atual em todo o prédio.
Esperou aplausos. Recebeu silêncio.
— Caso não tenham mais nada a acrescentar, dou esta reunião por enc...
No mesmo instante, eu e dona Marieta levantamos a mão. Ele hesitou.
— Senhor Rogério. Dona Marieta. Quem gostaria de falar primeiro?
— Eu! — disparou Marieta, sem esperar resposta.
Aquela mulher me dava dor de cabeça. 53 anos, cara dura e fria, voz que lembrava uma prega de ferro. Ela ajeitou os óculos na ponta do nariz e disse:
— Eu gostaria de saber por que a votação sobre o código de vestimenta foi retirada da pauta, senhor Alberto.
O síndico pigarreou, se enrolando num palavréu técnico sobre ordem de prioridades, demandas urgentes e falta de consenso entre os condôminos.
Mas antes que ele terminasse, Tatiana já estava de pé. Jornalista, 32 anos, magra, postura impecável, cabelo castanhos liso caindo rente ao rosto. Tinha aquele ar de quem adora um embate.
— Com todo respeito, dona Marieta — disse ela —, o código de vestimenta que a senhora quer impor é ilegal. Pela legislação brasileira, não se pode obrigar moradores a se vestir de determinada forma em espaços comuns.
Marieta respondeu sem hesitar:
— Não é ilegal, é uma questão moral. Andar de biquíni nas áreas do prédio é atentado ao pudor.
Tatiana rebateu de imediato:
— Biquíni e maiô não são atentado ao pudor. A senhora vive em 1950?
— Isso é subjetivo! — gritou Marieta.
A discussão já tinha se inflamado. Vozes se cruzavam, o pessoal cochichava, o marido da Marieta, seu Roberto, só olhava pro chão, murmurando algo que ninguém ouvia.
Aí eu me levantei e falei num tom firme:
— Chega. As duas. A gente não vai resolver nada desse jeito.
As duas calaram. Tatiana bufou, Marieta cruzou os braços. Aproveitei o momento e pedi a palavra.
— Eu queria falar das obras emergenciais. Eu, a Jéssica e o Lucério mandamos no grupo do WhatsApp hoje a lista com os cálculos das obras mais urgentes. Problemas estruturais, infiltrações, e o elevador do bloco B que já passou da hora de revisão. Temos um dossiê completo. A gente precisa priorizar isso. É pro bem comum.
Tatiana levantou a mão outra vez. Eu já sabia que vinha problema.
— Rogério, eu entendo a preocupação. Mas analisei o que vocês mandaram. Essas obras levariam de três a seis meses. E as cotas extras aumentariam bastante o valor do condomínio pra todos. Você considerou o impacto financeiro nas famílias daqui?
— Tatiana, eu não estou pedindo luxo, estou falando de manutenção básica. A gente pode parcelar as cotas, mas deixar o prédio se deteriorar sai bem mais caro no futuro.
— No começo do ano, você e a Jéssica venceram por muito pouco uma resolução que, se tivesse sido implementada, reduziria em 20 reais o valor do condomínio. Você realmente acha que é sensato querer um aumento de mais de vinte vezes esse valor pra obras?
— São obras emergenciais.
— Com todo o respeito, Rogério. Em um momento você chama de “manutenção básica” e, em outro, de “obras emergenciais”. Olha, eu sei que vocês dois são membros participativos e preocupados com o bem-comum. Respeito isso. Mas nem você e nem a Jéssica são engenheiros civis. Como vocês sabem se são mesmo emergenciais? Vocês mostraram esse levantamento pra um profissional?
Engoli em seco, mas mantive a voz firme.
— Eu acredito que as fotos que o senhor Lucério tirou falam por si mesmas. Tem infiltração, rachadura e elevador parando. Mas, se você prefere um laudo, a gente pode conseguir.
Antes que o clima ficasse ainda mais tenso, a Sarah levantou a mão.
— Eu sou engenheira civil — disse ela, se levantando com calma. — Posso analisar tudo. Posso analisar tudo pessoalmente e fazer o laudo de graça. Faço uma priorização das reformas, das mais às menos urgentes, dentro de um plano de doze a dezessete meses, pra diminuir o impacto no condomínio.
Eu quase suspirei de alívio. Minha amiga vindo ao resgate.
Mas Tatiana não deu trégua:
— E o Rogério não pode levar isso pra outro engenheiro que não seja amigo dele? É bom evitar conflito de interesse.
A Sarah virou pra ela, sem perder a elegância:
— Eu não sou engenheira de estimação de ninguém. Eu trabalho com fatos. Se eu disser que é urgente, é porque é. Se não for, eu vou dizer também.
A Tatiana abriu a boca, mas a Marieta levantou a mão de novo, com voz cortante:
— Eu já aviso: nem eu nem meus aliados vamos votar por nenhuma cota extra enquanto não houver votação do código de vestimenta.
Eu fechei os olhos por um segundo. Respirei fundo.
— Dona Marieta, o prédio pode desabar, e a senhora vai continuar preocupada com maiô de piscina? Não faz sentido. Se a senhora quer moralizar o prédio, comece evitando mofo e ferrugem, não biquíni.
Ouvi alguns risos abafados. Ela ficou vermelha de raiva.
Tatiana voltou à carga:
— Em quanto tempo, você consegue esse laudo imparcial, Rogério.
— Não me ignore, sua... — reclamou Marieta. — Ninguém vai fazer nada neste prédio até o código de vestimenta ser votado.
A Lorena, ao meu lado, sussurrou baixinho:
— Vai dar briga.
E deu. A discussão virou um trio: a Tatiana insistindo que as prioridades eram financeiras, a Marieta gritando sobre pudor e moral, e eu tentando manter o foco na segurança do prédio.
— Você está ignorando as dificuldades das pessoas, Rogério! — dizia Tatiana.
— E a senhora está ignorando o bom senso! — retruquei pra Marieta.
— O bom senso é respeitar Deus! — gritou ela.
— O bom senso é não deixar o teto cair na cabeça de quem reza! — devolvi.
O síndico Alberto já suava, tentando colocar ordem.
— Pessoal, pessoal! Vamos manter o respeito. A reunião é pra deliberar, não pra brigar!
Mas não adiantava. A energia ali dentro já tinha se inflamado. Eu sentia o coração acelerado, o sangue quente, e olhava pra Tatiana, que continuava firme, olhos fixos em mim, como se eu fosse o adversário a ser derrotado. E, por um segundo, percebi algo curioso: ela gostava da briga. Aquilo excitava ela.
Naquele dia, eu não tinha percebido, mas eu não era o alvo. Era um mero proxy pra atingir o Lucério. Não que a coitada estivesse sendo bem-sucedida.
Escondido pelas sombras, o velho Lucério só assistia tudo rindo e se divertindo pelo caos.
A noite e o dia passaram e já era terça de noite. Eu estava saindo do apartamento da Lorena depois de revisar umas planilhas quando encontrei o Miguel no corredor.
Estranhei a presença dele, indo na direção do elevador, parecia não saber que eu, Jéssica e Lorena morávamos naquele andar. Estava sorrindo do jeito despreocupado dele, aquele sorriso torto que parecia de propaganda de pasta de dente. Moreno claro, barba bem aparada, corpo de quem malha mas não vive pra isso, e os olhos cor de mel.
Gritei o nome dele.
— Fala, Rogério! — disse ele, estendendo a mão. — Fazendo o quê por aqui, meu rapaz?
Apertei a mão dele, meio surpreso.
— Pois é. Cê tá visitando alguém por aqui?
Ele abriu a boca pra responder, mas o elevador apitou e a porta se abriu. A Jéssica apareceu, com o cabelo preso num coque meio torto, a mochila no ombro e aquela cara de quem saiu de um plantão de 24 horas. Mesmo cansada, ela ainda conseguia parecer linda.
Ela veio direto pra mim, me deu um beijo rápido e depois cumprimentou o Miguel com um toque de mãos que eles tinham ensaiado.
— Miguel! Cê veio visitar a gente — disse ela, sorrindo.
— Vocês moram neste andar? Que coincidência! — ele riu. — Não, vim só visitar meus pais.
— Seus... pais? — perguntou Jéssica.
— Sim — respondeu ele, tranquilo. — A Ângela e o Arnaldo. Não sabia? Jurava que a Gasparzinha tinha contado tudo pra ti. Tava na hora de fazer as pazes, faz tempo que a gente não se via direito.
O mundo pareceu parar por um segundo. Antes que eu pudesse reagir, Jéssica levou a mão à boca, virou-se e entrou correndo no apartamento. O barulho da porta batendo ecoou no corredor.
— Ei... ela tá bem? — perguntou Miguel, franzindo a testa.
— Tá, tá. Deve ser o cansaço do plantão — falei, tentando sorrir, embora minha expressão devesse estar pálida. — Eu vou ver ela lá.
Me despedi rápido e entrei em casa. O som de engasgos veio do banheiro. A Jéssica estava ajoelhada na frente do vaso, vomitando. Segurei o cabelo dela e fiquei agachado ao lado, sem saber se dizia algo.
— Amor... — murmurei. — Calma, respira.
Ela levantou a cabeça, com os olhos marejados e o rosto pálido. Me agarrou pelo colarinho com uma força que eu não esperava.
— Sob nenhuma hipótese, Rogério, ele pode descobrir. Nenhuma! — disse entre uma respiração e outra.
Eu assenti, sem nem tentar disfarçar o nervosismo.
— Relaxa, amor. Isso morre com a gente, igual a gente combinou com eles.
Ela respirou fundo, tentando se recompor.
— Meu Deus do céu... os pais dele... — aí, voltava a vomitar.
Eu fiquei ali, encostado na parede, olhando pra ela, sentindo que o universo tinha um senso de humor cruel.
PRAZO PARA O FINAL DA APOSTA ENTRE JÉSSICA E LUCÉRIO: 1 mês e 3 semanas.
Pois bem, leitor. No próximos capítulo, eu e a Jéssica cometeremos um pequeno deslize em público. Justamente na época do escândalo do condomínio.
No capítulo 16.5, teremos o meu sonho de troca de casais com Maurício e Rebecca.
No capítulo 17.5, teremos o sonho da Jéssica em que o Lucério é um vampiro de verdade. Minha esposa sonhou tanto com o Edward de Crepúsculo que ele virou o Lucério...
Perguntas:
1) Trabalhei a ideia de que o Rogério, sendo um cara certinho, legal e fiel à esposa, faria “sucesso com a mulherada” sendo um bom amigo e confidente delas (Lorena, Lisandra, Rebecca e Sarah). O que acharam disso?
2) Pra vocês, a Tatiana estava sendo chata ou seus argumentos pareceram válidos?
Coloquem nos comentários para o que vocês torcem que aconteçam nos próximos capítulos. Em breve, teremos a continuação.
NOTA DO AUTOR 01: Pra quem está acompanhando apenas esta série e não sabe quem é a Milena, não se preocupe. Ela não apareceu em nenhuma das outras séries e tudo de relevante sobre quem ela é será contado nesta série.
No atual momento, o que já foi informado sobre ela é o que se pode desprender nos dois últimos capítulos: uma mulher de cabelos morenos do passado do Rogério, com quem ele não conversa e aparentemente não mora mais no Brasil, mas que é bastante traumática para Jéssica.
NOTA DO AUTOR 02: Acho que deu pra notar que estou com sérios problemas pra postar novas histórias. Estou com muito pouco tempo livre este mês e devo publicar apenas mais duas ou três histórias durante outubro. Não vou conseguir postar nada inédito a partir do dia 15. Por isso, estou priorizando as histórias de maior sucesso/demanda ou que sejam mais simples de fazer. Espero que em novembro eu consiga voltar a publicar normalmente. Mas durante este mês, será bastante difícil.