[Por Carlos]
O término com Lucas foi de uma forma que eu não queria, não foi certo. Eu errei, não fui sincero, e aquilo me deixou profundamente mal. Tentei ligar e falar com ele, mas todas as tentativas foram frustradas. Lucas não queria me ouvir, não queria entender meu lado — mas não o culpo. Talvez eu, no lugar dele, fizesse pior.
Se algum dia Lucas tiver oportunidade de ler esse diário, ele vai saber exatamente o que eu quis dizer e que ele não quis ouvir na época. Então vou escrever agora, aqui, tudo o que gostaria de ter dito naquele momento.
Lucas,
Não sei nem por onde começar. Talvez devesse começar pelo óbvio: eu errei. Errei de uma forma tão profunda e cruel que nem sei se existem palavras suficientes para descrever a magnitude do meu erro. Mas vou tentar, porque você merece pelo menos isso — merece honestidade completa, mesmo que tardia.
Quando conheci Raul, algo em mim despertou. Não era amor — pelo menos não no começo. Era desejo puro, selvagem, incontrolável. Era tudo que eu havia reprimido por anos se manifestando de uma vez. E eu, sendo o covarde egoísta que sempre fui, não resisti. Pior: não quis resistir.
Mas aqui está a verdade que preciso que você entenda: em nenhum momento, nem por um segundo, eu deixei de te amar. Eu sei como isso deve soar — como a desculpa mais esfarrapada que um traidor poderia dar. "Eu te traí, mas te amava." Que clichê patético, não é? Mas é a verdade.
Você era — é — o amor da minha vida. Você sempre foi. Desde aquele dia na quinta série, quando nos conhecemos e você sorriu para mim com aquele sorriso que iluminava tudo ao redor. Desde a primeira vez que jogamos vôlei juntos e percebi que queria passar o resto da minha vida ao seu lado. Desde a primeira vez que te beijei e senti que finalmente estava em casa.
Raul foi uma distração, uma fuga, uma forma doentia de lidar com meus próprios demônios internos. Com ele, eu não precisava ser o Carlos que todos esperavam — podia ser selvagem, impulsivo, irresponsável. Era como viver uma fantasia onde não havia consequências, onde eu podia fazer o que quisesse sem medo do julgamento.
Mas era mentira. Tudo era mentira. Porque cada momento que passava com Raul, uma parte de mim pensava em você. Cada beijo dele me lembrava dos seus beijos. Cada toque me fazia sentir falta dos seus toques. Eu estava traindo você com o corpo, mas meu coração nunca saiu do seu lado.
E eu sei que isso não é desculpa. Sei que não torna o que fiz menos horrível. Mas preciso que você saiba: eu não escolhi Raul porque ele era melhor que você. Escolhi ele porque estava fugindo de mim mesmo, dos meus medos, da minha incapacidade de ser o homem que você merecia.
Lembra quando éramos adolescentes e eu tinha tanto medo de aceitar que te amava? Lembra de como eu lutei contra meus próprios sentimentos, de como tentei negar o óbvio? Parte desse medo nunca me deixou completamente. Sempre tive medo de não ser suficiente para você, de não conseguir te fazer feliz, de um dia você acordar e perceber que merece alguém melhor.
E quando Raul apareceu, foi como se meu cérebro dissesse: "Viu? Eu sabia que você não conseguiria. Você não é capaz de amar ninguém direito." E em vez de lutar contra essa voz, eu a abracei. Destruí propositalmente a melhor coisa que já me aconteceu porque, no fundo, não achava que merecia.
Mas aqui está o que aprendi: autossabotagem não protege ninguém. Só machuca. Machuca você, machuca quem te ama, e deixa cicatrizes que podem nunca sarar completamente.
Lucas, eu penso em nós todos os dias. Penso nas nossas risadas, nas nossas brigas, nos nossos sonhos compartilhados. Penso em como você cuidava de mim quando eu estava doente, em como seus olhos brilhavam quando falava sobre seus planos para o futuro, em como você era gentil até quando estava com raiva.
Penso em Thanos e em como ele me aceitava completamente, sem julgamentos. Penso nos domingos preguiçosos quando eu acordava antes de você e ficava apenas observando você dormir, tentando memorizar cada detalhe do seu rosto, como se um dia você pudesse desaparecer.
E você desapareceu. Não fisicamente, mas emocionalmente — e foi culpa minha.
Eu sempre acreditei que éramos destinados a ficar juntos. Desde aquele primeiro dia, sempre soube que você era especial, que nossa conexão ia além do comum. Quantas vezes não nos separamos e voltamos? Quantas vezes o universo não conspirou para nos juntar novamente?
Terminamos diversas vezes... Voltamos…. Você ficou com Luke…. Voltamos. Brigamos mil vezes. Voltamos. Era como se, não importa o que acontecesse, sempre encontraríamos o caminho de volta um para o outro.
E parte de mim ainda acredita nisso. Parte de mim acredita que estamos destinados a ficar juntos de alguma maneira, em algum momento. Talvez não agora, talvez não da forma que imaginávamos, mas de alguma forma.
Porque o que temos — o que sempre tivemos — é raro. É aquele tipo de conexão que as pessoas passam a vida inteira procurando e nunca encontram. É entender um ao outro sem palavras. É rir das mesmas piadas idiotas. É saber exatamente o que o outro precisa sem precisar perguntar.
Será que jogamos tudo isso fora? Será que destruí algo tão precioso que nunca poderá ser reconstruído? Será que existe perdão para o que fiz?
Não sei. Honestamente, não sei.
Mas sei que te amo. Sei que sempre vou te amar. Sei que, mesmo se você nunca mais quiser falar comigo, mesmo se você seguir sua vida e encontrar alguém que te trate como você merece, uma parte de mim sempre será sua.
Porque você não é apenas meu ex-namorado, Lucas. Você é meu melhor amigo. Você é a pessoa que me conhece melhor do que eu me conheço. Você é meu passado, e eu queria tanto que fosse meu futuro também.
Será que a gente ainda vai ser feliz nessa vida? Juntos ou separados, será que encontraremos a paz que tanto merecemos? Será que existe um universo paralelo onde eu não fui um idiota completo, onde eu escolhi certo, onde estamos felizes construindo a vida que sempre sonhamos?
Espero que sim. Espero que, mesmo que não seja comigo, você encontre felicidade. Porque você merece. Merece ser amado da forma certa, ser tratado como a pessoa incrível que é, ser valorizado e respeitado.
E se houver uma chance — mesmo que pequena, mesmo que improvável — de nos reconectarmos, de tentarmos novamente, de construirmos algo novo sobre os escombros do que destruí... eu estarei aqui. Sempre estarei aqui para você.
Eu te amo, Lucas. Te amo de uma forma que dói, que queima, que me consome. Te amo apesar de todos os meus erros, apesar de toda a dor que causei, apesar de não merecer seu amor.
E mesmo que você nunca leia essas palavras, mesmo que esse diário seja apenas para mim, precisava colocar isso no papel. Precisava admitir, pelo menos uma vez, completamente e sem filtros: você foi o amor da minha vida.
E talvez, só talvez, ainda seja.
Com todo o amor que ainda tenho,
Carlos
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E então essas são minhas sinceras desculpas. Eu sei e reconheço que errei profundamente, mas precisava seguir em frente de alguma forma. Sei que deveria ter largado Raul imediatamente, mas infelizmente não foi isso que fiz.
Apesar de tudo, apesar de todo o arrependimento, eu gostava de Raul. Sei lá, era diferente, era gostoso de um jeito que não consigo explicar completamente. Ele tinha ótimas piadas, uma forma leve de encarar a vida que me atraía. Mas claro que, vez ou outra, eu sentia falta de Lucas — sentia falta profunda, dolorosa. Sentia falta de Thanos, daquelas manhãs cuidando dele enquanto Lucas dormia.
Mas eu sempre fui de respeitar limites. Entendia que Lucas ia seguir em frente em algum momento e até mesmo voltaria para Luke — era questão de tempo. Então simplesmente preferi deixar Lucas ir embora. Já que ele não queria minhas desculpas, eu seguiria minha vida também.
E meu romance com Raul foi acontecendo pouco a pouco. Fomos nos entregando gradualmente, conhecendo um ao outro de forma mais profunda. Apresentei ele aos meus pais — o que foi estranho e libertador ao mesmo tempo. Fazíamos viagens, tínhamos nossa rotina, nossa dinâmica.
Raul tinha um certo tom de mistério em algumas coisas, e talvez isso me deixasse mais curioso. O mundo dele era algo que eu queria desbravar, conhecer, entender — diferente do mundo de Lucas, que eu conhecia de cor e salteado.
Ainda tive uma oportunidade de ficar com Lucas uma vez, durante esse período. Nos encontramos por acaso, a tensão era palpável, e... bem, ele não resistiu aos meus encantos. Ou talvez eu não tenha resistido aos dele. Mas o que ele disse depois fez total sentido: eu estava prestes a entrar num ciclo vicioso.
Namorei com Lucas e o traí com Raul. Agora namorava com Raul e estava prestes a trair Raul com Lucas. Confesso que fiquei pensativo — por um lado, ele tinha razão. Eu estava repetindo padrões, sendo a mesma pessoa tóxica que sempre fuiQuerido diário,
Hoje aconteceu algo que não sei explicar completamente. Eu estava deitado com Raul quando meu telefone tocou. Era Lucas.
Achei estranho — afinal, fazia meses que não falávamos. Mas atendi. E a voz dele... a voz dele era puro choro, quebrada, desesperada. Ele pediu para eu ir buscá-lo.
Não hesitei nem por um segundo.
Lucas precisava de mim, e eu sempre estaria ali para ele, independentemente de qualquer coisa. Raul questionou, quis saber o que estava acontecendo, mas não disse nada. Não queria explicações, não queria brigas. Estava preocupado demais com Lucas para pensar em qualquer outra coisa.
Ele não estava bem — eu sentia isso na alma. Me vesti rápido, peguei meu carro e fui em direção a Lucas com o coração na mão, acelerado, preocupado, assustado.
Quando cheguei, a cena que encontrei me destruiu por dentro.
Lucas estava sentado no meio-fio, completamente destruído. O rosto inchado de tanto chorar, os olhos vermelhos e vazios, as roupas amarrotadas. Parecia uma versão quebrada dele mesmo, e algo dentro de mim se despedaçou ao vê-lo assim.
Não quis perguntar nada. Apenas me aproximei, puxei ele para um abraço apertado — aquele abraço que diz "estou aqui, você não está sozinho" — e entramos no carro.
Lucas se mantinha em silêncio, e eu respeitei completamente seu espaço. Perguntei se ele tinha planos, compromissos, algo urgente. Ele disse que não. Então resolvi fazer uma pequena viagem.
Quis levar ele para o chalé da minha família nas montanhas, onde fomos uma vez e foi incrível. Eu sabia que Lucas não estava bem e precisava de espaço, de um local seguro e isolado para processar o que quer que tivesse acontecido.
Resolvi mandar uma mensagem rápida para meu pai avisando onde estaria, e então desliguei meu telefone. Não queria ser interrompido. Não queria nada que tirasse meu foco de cuidar de Lucas.
Na minha cabeça passavam mil teorias sobre o que poderia ter acontecido, e eu sabia que tinha o dedo do Luke em tudo isso. Conhecia aquele cara bem o suficiente para saber que ele era instável, perigoso quando descontrolado.
O caminho foi tranquilo. Lucas falou poucas palavras, mas eu sabia que ele estava seguro comigo. E acho — espero — que ele sentia o mesmo.
Quando chegamos ao chalé, dei um abraço apertado nele, sentindo seu cheiro, tentando transmitir através do toque que eu estava ali, que não ia abandoná-lo. Ele foi tomar um banho, e eu fui ajeitar algumas coisas, preparar o espaço, tornar tudo o mais confortável possível.
Mandei mensagem para a mãe de Lucas avisando que ele estava comigo, que estava seguro. Não dei detalhes — não era minha história para contar.
Depois nos deitamos. Lucas estava exausto, física e emocionalmente. Ele não queria que eu fosse embora, e eu não tinha intenção alguma de sair. Então ele dormiu, finalmente, e eu fiquei ali.
Fiquei olhando seu sono como já fiz várias vezes ao longo dos anos. Admirando sua respiração profunda, o movimento suave do seu peito subindo e descendo. Tentando imaginar com o que ele sonhava, esperando que não fossem pesadelos.
E aqui estou agora, escrevendo enquanto olho para ele deitado ao meu lado. Sem saber exatamente o que ele vai me contar quando acordar. Sem saber o que aconteceu para deixá-lo naquele estado. Mas sabendo, com absoluta certeza, uma coisa:
Eu amo Lucas. Sempre vou amar, independentemente de qualquer coisa. E sempre vou fazer tudo por ele.
Pretendo entregar esse diário a ele. Não sei qual será a reação. Não sei o que ele vai achar de tudo que escrevi — das minhas confissões, dos meus erros, das minhas verdades cruas e sem filtro. Não sei o que será de nós.
Mas a verdade é que estou pronto. Tenho esperanças, sim — esperanças que talvez sejam tolas, que talvez sejam apenas ilusões de um homem que não sabe aceitar as consequências de seus atos. Mas também sou forte o suficiente caso ele me ache um grande idiota, caso ele nunca consiga me perdoar.
Porque ele tem todo o direito de não perdoar. Tem todo o direito de me odiar, de nunca mais querer me ver, de seguir sua vida longe de mim.
Mas se houver — se houver mesmo uma chance microscópica de recomeçarmos, de construirmos algo novo, de aprendermos com nossos erros e crescermos juntos — eu vou agarrá-la com todas as forças que tenho.
Lucas,
Se você está lendo isso agora, significa que reuni coragem suficiente para te entregar essas páginas. Significa que você está aqui, ao meu lado, depois de tudo que passamos. E isso, por si só, já é mais do que eu mereço.
Você sempre foi melhor do que eu. Mais gentil, mais generoso, mais puro de coração. Eu sempre soube disso, desde o primeiro dia. E talvez seja exatamente por isso que sempre tive tanto medo — medo de te contaminar com minha toxicidade, medo de não conseguir estar à altura do seu amor.
Mas não quero mais ter medo. Não quero mais fugir. Não quero mais autossabotar a melhor coisa que já me aconteceu.
Quero tentar. Quero ser melhor. Quero ser o homem que você merece — não perfeito, porque nunca serei perfeito, mas honesto, leal, presente. Quero acordar todo dia e escolher você, escolher nós, escolher o amor que sempre existiu entre a gente.
Você me conhece desde a quinta série. Conhece meus defeitos, minhas falhas, meus demônios. Conhece o pior de mim. E ainda assim, por algum milagre que não consigo compreender, você ainda está aqui.
Isso tem que significar alguma coisa, não tem? Tem que significar que não acabou. Que ainda há esperança. Que ainda há amor suficiente para tentar novamente.
Eu te amo, Lucas. Te amo com uma intensidade que me assusta, que me consome, que me transforma. Te amo de uma forma que nunca amei ninguém, que nunca vou amar ninguém mais.
E se você me der uma chance — só mais uma chance — eu prometo que não vou desperdiçar. Prometo que vou lutar por nós todo dia. Prometo que vou ser honesto, mesmo quando dói. Prometo que vou te escolher, sempre.
Porque no final das contas, depois de todas as idas e vindas, depois de todos os erros e acertos, depois de Luke e Raul e todos os outros, sempre fomos nós dois. Sempre foi você.
Você é meu melhor amigo. Você é meu amor. Você é minha pessoa.
E eu quero — preciso — acreditar que ainda podemos ser felizes juntos. Que ainda há tempo. Que ainda há amor suficiente para curar todas as feridas que causamos um no outro.
Será que você acredita nisso também? Será que você consegue me perdoar? Será que consegue confiar em mim novamente?
Não sei. Mas estou aqui, completamente vulnerável, coração aberto, esperando. Esperando que você diga que sim, que ainda há uma chance, que ainda me ama apesar de tudo.
E se a resposta for não — se você ler tudo isso e decidir que já chega, que o dano foi grande demais, que não há volta — eu vou entender. Vou respeitar. E vou passar o resto da minha vida sabendo que te amei da melhor forma que pude, mesmo que não tenha sido suficiente.
Mas por favor, saiba disso: você mudou minha vida. Me fez querer ser melhor. Me mostrou o que é amar de verdade. E não importa o que aconteça daqui pra frente, eu sempre vou ser grato por cada momento que passamos juntos.
Você sempre será o amor da minha vida, Lucas.
Sempre.
Te amo,
Carlos
[Fim do diário de Carlos]