O Despertar Digital e a Liberdade Proibida
Aos setenta e dois anos, sou conhecida como Dona Tereza na Vila Madalena, São Paulo, onde me reclino numa cadeira de vime que range como versos esquecidos. O sol filtra-se pelas persianas, desenhando sombras dançantes no teclado do notebook – presente dos meus filhos, que imaginam que o utilizo para receitas ou conversas com netos no WhatsApp. Mal sabem que essa máquina abriu-me portais inesperados: redes sociais exibindo vidas polidas, até que, num clique fortuito, descobri a Casa dos Contos Eróticos. Que revelação! Como se folheasse um tomo proibido, onde desejos pulsantes ganham vida, ecoando os sussurros sensuais de Marguerite Duras ou as curvas voluptuosas de um Di Cavalcanti.
Eu, Tereza, sempre fui tecelã de palavras: dona de casa por dever, professora de português e literatura por paixão, moldando almas jovens no colégio estadual da Liberdade. As artes eram meu santuário – a chamada educação artística, onde pincelávamos sonhos e esculpíamos o proibido. Para mim, tudo se entrelaça numa tapeçaria criativa: um soneto de Camões reflete-se no contorno de um corpo; o realismo cru de Portinari, nos desejos abafados. Nos anos 1950 e 1960, o erotismo era tabu: homens vangloriavam-se de conquistas, frequentando prostíbulos no centro, enquanto nós, mulheres, engolíamos silêncios, reprimidas por mães e pela sociedade. “Aguenta quieta, Tereza”, dizia a minha, voz de ferro. Hoje, mulheres tecem vidas livres, trabalham, amam quem desejam, quando desejam, e até lucram com admiradores sem tocar-lhes a pele. Invejo essa ousadia, mas, no site, encontrei minha redenção.
Comecei a compor confissões no Word, dedos trêmulos tecendo aventuras secretas, vividas às escondidas de namorados e do falecido Justino, meu marido. Não eram meros atos carnais, mas rebeliões poéticas, onde o desejo se erguia como uma escultura viva. Narrarei três fragmentos, do mais sutil ao abismo da entrega total, onde as pregas da memória quase se esvaem em êxtase. Se ecoarem estrelas e comentários, desenterrarei mais, sem véus.
O Primo e o Êxtase da Sombra
Era 1958, eu com dezenove anos, namorando Valdir, operário do Brás, fiel como um relógio de corda. Morávamos num sobrado na Vila Mariana, onde o ar úmido se impregnava de jasmim noturno. Meu primo Luiz, recém-chegado do interior mineiro, trouxe a força da roça: corpo esculpido, mãos calejadas como argila de Portinari, olhos castanhos guardando mistérios de florestas virgens.
Ele se instalou no sofá da sala, estofado puído. Após um jantar frugal – arroz soltinho, feijão temperado com alho, carne assada exalando aromas terrosos –, a casa mergulhou no silêncio. Valdir partira com um beijo casto na mão, deixando-me inquieta, o corpo ardendo sob a camisola fina, leve como seda de um haicai tropical. Desci as escadas rangentes em busca de água, o assoalho gemendo como um amante reprimido. Luiz velava, peito nu reluzindo de suor ao luar filtrado pela janela entreaberta, o cheiro de terra úmida e masculinidade crua preenchendo o espaço.
“Insônia da cidade, prima?”, perguntou, voz grave como trovão distante, ecoando no meu peito acelerado. Sentei-me na borda do sofá, pernas cruzadas em pudor fingido, e conversamos: a vastidão do campo contra o caos urbano, estrelas ofuscadas pelas luzes da metrópole. Seus dedos roçaram minha coxa, um traço leve como pincel impressionista capturando luz fugidia. Um arrepio subiu-me a espinha, o desejo serpenteando no ventre como um tango profano. Hesitei, mão sobre a dele, respiração ofegante no escuro. “Luiz, não devemos...”, sussurrei, mas o corpo traía as palavras, inclinando-se. Seus lábios capturaram os meus, macios e imperiosos, língua dançando em ritmo úmido, saboreando o sal da noite. Beijos demoraram-se, explorando a culpa e o anseio, seu hálito quente roçando minha nuca, enviando choques que eriçavam a pele.
Minhas mãos traçaram-lhe o torso, sentindo a textura áspera dos músculos, o pulsar das veias como rios em um mapa vivo. Ele ergueu-me a camisola com deliberação, expondo a pele arrepiada, e sua boca desceu em trilha de fogo: pescoço salgado de suor, nuca eriçada, seios inchando ao toque úmido, mamilos endurecendo como frutos maduros sob o sol. O joelho dele roçou o interior da minha coxa, demorando, provocando um calor úmido que se espalhava. O aroma de nossa excitação misturava-se, almiscarado, inebriante. Só então o guiei sobre mim, no sofá estreito que rangia em protesto. Penetrou-me devagar, centímetro a centímetro, esticando-me com doçura dolorida, o ritmo ondulante como marés internas. Mordi o lábio para abafar gemidos, o prazer irrompendo em ondas crescentes. O clímax veio em uníssono, fluidos misturando-se numa tela abstrata de êxtase – uma pincelada final, violenta, assinatura da minha rendição.
Ao amanhecer, Luiz partiu para o interior, e retomei a rotina com Valdir, o segredo velado como um quadro escondido. Mas aquela noite abriu uma galeria de desejos, onde a hesitação cedia ao fogo criativo.
O Amigo e a Dança da Tempestade
Aos vinte e cinco anos, noiva de Justino – contador meticuloso da Avenida Paulista, preciso como um soneto alexandrino –, o palco armou-se para o segundo ato. Pedrinho, amigo dele, era o contraponto: charmoso como um dândi de Clarice Lispector, olhos verdes cintilando mistérios, corpo esguio moldado pela boemia da Consolação. Lecionava meio período, habitando um quartinho na Liberdade, onde o aroma de incenso japonês se mesclava ao vapor de chás noturnos, sonhando com um casamento que prometia estabilidade, mas sussurrava monotonia.
Numa noite outonal chuvosa, após uma sessão no Cine Marrocos – um filme francês de erotismo velado –, Justino deixou-me em casa. “Vou ao bar com Pedrinho, amor”, disse, com um beijo frio na testa. A tempestade desabou, trovões ecoando como tambores wagnerianos. Horas depois, uma batida na porta: Pedrinho, encharcado, garrafa de vinho tinto na mão, sorriso maroto. “Justino mandou-me fazer-te companhia, a chuva está infernal.” Mentira improvisada, mas aceitei, o coração em compasso acelerado.
Secamo-nos com toalhas ásperas, o vapor subindo como névoa de Monet. Sentamos no sofá puído, o vinho fluindo em goles quentes, cor de rubi, eflúvios frutados embriagando o ar. A conversa desdobrou-se: livros – citei “A Paixão Segundo G.H.”, ele respondeu com anedotas picantes de boêmios paulistanos –, artes unindo-nos numa simbiose intelectual. Seus olhos devoravam meu robe de seda sintética, que mal disfarçava as curvas. “Você é uma escultura viva, Tereza, voluptuosa como Anita Malfatti”, confessou, voz rouca, enviando um formigamento pela espinha. O desejo enrolava-se no ventre, uma serpente freudiana, a tensão transformando o quarto num tango úmido.
Aproximou-se, dedos traçando-me o braço, a pele eriçando-se como tela sob pincel. “Apenas um beijo para aquecer”, prometeu. Os lábios colidiram, famintos, a língua dançando num tango prolongado, saboreando o vinho e o sal da chuva. O beijo demorou-se, explorado, cheio de culpa e anseio, suas mãos subindo pelas costas, roçando a nuca, enviando choques elétricos. “Não devíamos”, murmurei, hesitando, mas o fogo venceu. Desatei o robe, expondo a nudez à luz amarelada, e ele gemeu de admiração. Suas mãos moldaram-me os seios, apertando com firmeza controlada, polegares circulando mamilos endurecidos, reverberando até o âmago. Desci-lhe a calça, libertando o membro rígido, veias pulsantes como raízes ancestrais; chupei-o devagar, a língua traçando a glande salgada, o gosto almiscarado preencheu-me a boca, enquanto ele gemia, dedos enredados nos meus cabelos.
Ergueu-me, posicionando-me de quatro no sofá, a chuva martelando a janela como ritmo percussivo. Entrou por trás, potente e ritmado, cada estocada uma pincelada violenta numa tela expressionista, o atrito gerando calor que derretia resistências. “Mais fundo, Pedrinho, como se quisesses possuir-me inteira”, supliquei, voz entrecortada. Sua palma colidiu com minha nádega em tapas ardentes, deixando marcas vermelhas que latejavam em delícia. O orgasmo irrompeu como uma forma abstrata de êxtase, o corpo convulsionando em espasmos, uma pincelada final na tela dos sentidos, e ele jorrou dentro, a essência quente e pegajosa, o cheiro de sexo impregnando o ar.
Rimos depois, cúmplices numa narrativa compartilhada, limpando-nos com toalhas úmidas. Justino retornou ignorante, e prossegui, mas aquela dança na tempestade elevou meu erotismo a uma forma artística, selvagem e indomável.
O Cunhado e o Abismo da Entrega Total
Casada com Justino havia uma década, aos trinta e cinco anos, com filhos pequenos correndo pela casa na Mooca – bairro de pão fresco e clangor fabril –, Justino viajava a negócios para Campinas, deixando-me com rotinas domésticas, o corpo maduro ansiando por toques que o casamento negava. Carlos, seu irmão viúvo, aos quarenta, habitava um sobrado próximo; corpo atlético forjado em campos de futebol dominicais, rosto marcado por rugas de perdas, olhos negros como abismos de Lasar Segall.
Ele apareceu numa tarde abafada de verão para consertar uma torneira gotejante na cozinha. O sol entrava oblíquo, banhando-lhe o torso suado em tons dourados, o aroma de sabão de coco e suor masculino pairando como incenso profano. “Estás exausta, Tereza. Justino abandona-te demais nessas viagens”, observou, ferramentas tilintando, a voz grave ecoando sua viuvez. Conversamos, as palavras fluindo como riacho represado: a solidão do casamento, as artes que eu lecionava, ele compartilhando memórias de juventude boêmia. O ar crepitava de tensão, o desejo voraz colidindo com o dever, o ventre rugindo como um trovão wagneriano.
Ele ergueu-se, aproximando-se com lentidão predatória, o cheiro maduro invadindo-me os sentidos. Seus lábios colidiram com os meus num beijo invasor, a língua forçando entrada, explorando com urgência faminta. Resisti por um instante – “Aqui não, Carlos, é errado” –, mas o fogo venceu, guiando-o ao quarto, onde cortinas filtravam a luz em véus translúcidos. Despiu-me com mãos grossas, rasgando o vestido floral, expondo a carne farta e madura; seus dentes mordiscaram-me o pescoço, deixando marcas roxas que pulsavam como batimentos poéticos. “Deusa pagã disfarçada de esposa recatada”, rosnou, e ri, excitada pela crueza que contrastava minha erudição.
Jogou-me na cama de lençóis frescos, abrindo-me as coxas com autoridade, a face mergulhando na intimidade úmida. Sua língua lambia com voracidade, traçando o clitóris inchado, sugando os lábios carnudos, o sabor salgado e doce da excitação encheu-lhe a boca, enquanto eu arqueava as costas, unhas cravando-lhe os ombros. “Sim, devora-me como um banquete”, gemi, voz rouca de desejo acumulado. Os preliminares demoraram-se: beijos prolongados no interior das coxas, dedos traçando contornos, a respiração ofegante estendendo culpa e anseio. Então, o twist: virou-me de bruços, cuspindo na entrada traseira, dedos preparando o terreno virgem – um mistério erótico como um artefato antigo desenterrado. “Relaxa, cunhada, vou mostrar-te o paraíso proibido”, murmurou, penetrou devagar, o anel muscular esticando em agonia inicial que se transmutou em prazer lancinante, cada centímetro uma pincelada de fogo e delícia.
Bombava com ritmo crescente, mãos apertando-me as nádegas, o som de pele contra pele ecoando como tambor ritualístico. Estimulava-me à frente, dedos circulando o clitóris em movimentos frenéticos, o duplo estímulo construindo uma sinfonia: o ardor anal misturado ao pulsar frontal, texturas contrastantes – a rigidez dele contra minha umidade escorregadia, possuída inteira como eu pedia. O clímax explodiu em cataclismo, o corpo convulsionando em ondas sísmicas, gritos abafados no travesseiro – uma forma abstrata de êxtase, pincelada final violenta na tela dos sentidos, assinatura da rendição absoluta. Ele inundou-me o interior com jatos quentes e viscosos, escorrendo pelas coxas em trilhas pegajosas que ardiam e acalmavam. Quase sem pregas para narrar, o êxtase consumiu o pudor, numa liberação total.
Ecos de Uma Galeria Infinita
Estes três quadros são esboços de uma galeria vasta: encontros em salas de aula ecoando poetas, devaneios no Ibirapuera sob luas complacentes, uniões efêmeras com estranhos saídos de fábulas eróticas de Guimarães Rosa. Sei que vozes masculinas nos comentários me lapidarão – em contos, o homem transgride e é titã; a mulher, vilã. Aos enrustidos, que conquistam apenas em fantasias solitárias ou pagando por ilusões carnais, ergo o dedo médio, um traço bold numa tela de protesto.
Se estrelas e comentários fluírem, prometo desenterrar mais confissões, sem pudores. Toda mulher merece ser autora de sua epopeia sensual, pintando o desejo com as cores mais vibrantes da existência.