CAPÍTULO 18: A LIBERDADE E O LAR
O rugido do mar parecia ecoar o turbilhão dentro do peito de Fah. As palavras de Igor pairaram no ar salgado como uma faca reluzente, oferecendo um futuro dourado, um conto de fadas concreto. Case comigo. Vem comigo. Ela olhou para aquele homem, para suas mãos fortes que haviam escrito tantas histórias de prazer em sua pele, para seus olhos que a viam como uma rainha e uma devassa ao mesmo tempo. A tentação era um bicho vivo, se contorcendo dentro dela, doce e venenosa.
Mas então, como um farol cortando a névoa, a imagem do marido surgiu em sua mente. Não era uma imagem de posse ou de paixão ardente, mas de algo infinitamente mais profundo: a imagem dele ajudando-a a fazer a mala para a primeira noite com Igor, seu olhar uma mistura complexa e pura de ciúmes e desejo por sua felicidade. Lembrou-se da confiança absoluta, do presente mais precioso que um ser humano pode dar a outro: a liberdade de ser quem se é, sem medo, sem julgamento.
A respiração de Fah se acalmou. O coração, que batia descompassado, encontrou um ritmo familiar e seguro. Ela ergueu o queixo, e os olhos marejados encontraram os de Igor com uma doçura firme.
"Igor," ela começou, sua voz suave, mas incrivelmente clara contra o barulho das ondas. "O que a gente viveu... foram alguns dos momentos mais gostosos e intensos da minha vida. Você me fez sentir coisas que eu nem sabia que eram possíveis. Foi especial. Foi lindo. E eu vou guardar cada segundo, cada toque, cada gemido, aqui." Ela levou a mão ao peito, sobre o coração.
Ele olhou para ela, um lampejo de esperança nos olhos, mas ela continuou, sua voz ganhando uma convicção serena.
"Mas o que eu tenho com ele... não é um momento. É a minha vida. É a base de tudo que eu sou. É a pessoa que me deu asas, sabendo que eu poderia voar para longe, mas que confiava que eu sempre escolheria voltar para o meu ninho. E eu escolho. Eu o amo. Com ele, a felicidade não é uma chama que consome rápido e brilhante; é uma brasa constante e quente que aquece a minha alma todos os dias."
Igor ficou em silêncio por um longo momento, digerindo as palavras. A dor era visível em seu rosto, mas também um respeito profundo. Ele acenou com a cabeça, lentamente.
"Eu sabia," ele sussurrou, sua voz rouca. "No fundo, eu sempre soube. Um amor que permite o que o seu permite... é um amor que não se encontra todos os dias." Ele deu um passo para trás, abrindo espaço não apenas físico, mas emocional. "Mas não me arrependo de nada, Fah. E não vou embora sem uma última lembrança."
Um sorriso safado e triste brotou nos lábios de Fah. "Quem disse que eu quero que você vá embora agora?" ela disse, fechando a distância entre eles. "A noite ainda é nossa. E eu quero a minha despedida."
A Última Vez: Um Réquiem de Prazer
Eles não foram para um motel. Foram para o apartamento dele, que já cheirava a caixas e partida. A atmosfera era carregada de uma urgência final, uma mistura de dor e deselo puro. Assim que a porta se fechou, não houve preliminares lentas. Fah o empurrou contra a porta, sua boca encontrando a dele em um beijo que era uma tempestade de seis meses – agressivo, ganancioso, desesperado.
As roupas voaram, não arrancadas, mas retiradas com uma velocidade eletrizante. Ele a levantou, e ela enrolou as pernas em sua cintura, enquanto ele a carregava até o quarto quase vazio, o colchão no chão. Ele a deitou sobre os lençóis, mas ela se rebelou.
"Não," ela sussurrou, seus olhos faiscando no escuro. "Hoje, eu quero tudo."
Ela o empurrou para deitar e montou sobre ele, mas não para um ritmo lento e sensual. Era um ritmo feroz, um cavalgar de despedida, suas mãos agarrando seus seios, os dedos apertando seus mamilos até doer, enquanto seus quadris desciam com uma força que fazia Igor gemer e enterrar as unhas nos seus glúteos.
"Você é todo meu esta noite," ela rosnou, uma versão dela que só existia naquele espaço, com aquele homem. "Quero sentir você até não aguentar mais amanhã."
Ele virou-a de bruços com uma força bruta, sem delicadeza. A posição era animal, primal. Sua mão envolveu o cabelo dela, puxando levemente para trás, arqueando suas costas, enquanto a outra mão guiava seu membro para dentro dela, já encharcada, já latejante de necessidade. Cada investida era um ponto final, uma palavra em um adeus que doía e prazer. O som de seus corpos se encontrando era úmido, obsceno, a trilha sonora perfeita para o fim.
"Goza dentro de mim," ela ordenou, a voz abafada contra o lençol. "Pela última vez. Me enche. Quero andar por dias lembrando de como você me possuiu."
Foi a ordem que ele precisava. Com um rugido abafado, ele a atingiu com uma força total, seu corpo tremendo violentamente enquanto se esvaziava nela, profundamente, em jatos quentes e intermináveis que faziam Fah gritar, seu próprio orgasmo a atingindo como um maremoto, um espasmo que parecia querer extrair sua alma dali.
Eles ficaram entrelaçados por um tempo, ofegantes, suados, o cheiro do sexo e da despedida impregnando o ar. Não houve palavras. Nada mais precisava ser dito. Cada toque, cada beijo final que deram ao se lavar no banheiro, já era um epílogo.
O Retorno ao Lar
Quando Fah abriu a porta do seu apartamento, o sol da manhã já começava a clarear o céu. Ela estava com a mesma roupa do dia anterior, o corpo dolorido, marcado, ainda carregando o cheiro de Igor e do sexo, mas seu coração estava leve.
Ele estava no sofá, esperando. Não parecia ansioso ou irado. Parecia... em casa. Seus olhos encontraram os dela, e um sorriso pequeno e understanding apareceu em seus lábios.
Ela cruzou a sala e se ajoelhou no chão, entre suas pernas, colocando as mãos sobre seus joelhos. Seu olhar era intenso, cheio de uma verdade cristalina.
"Ele me pediu em casamento," ela disse, direto ao ponto. "Disse que me daria uma vida estável em São Paulo."
O marido dela não pareceu surpreso. Apenas acariciou seu rosto. "E você, minha amor? O que você quer?"
"Eu disse não," sussurrou Fah, suas lágrimas finalmente fluindo livremente, mas eram lágrimas de libertação, não de tristeza. "Eu disse não porque tudo que eu sempre quis está aqui. Em você. Você me deu a maior prova de amor que poderia existir: a minha liberdade. E a maior felicidade que eu posso ter é exercer essa liberdade escolhendo você, todos os dias."
Ela enterrou o rosto no colo dele, e ele acariciou seu cabelo, cheirando o vestígio de outro homem nela, mas sabendo que a essência, a alma, sempre foi e sempre seria dele.
"Obrigada," ela chorou, "por confiar em mim. Por me conhecer melhor do que eu me conheço. E por me deixar viver."
Ela ergueu o rosto, os olhos brilhando com uma paixão renovada, uma safadeza que agora era um segredo só deles.
"E eu preciso que você saiba de uma coisa," ela continuou, sua voz baixa e carregada de erotismo. "Todo esse tempo, toda essa liberdade... o maior fetiche de todos, o que realmente me excitava, não era estar com outro homem. Era saber que cada gemido que ele arrancava de mim, cada gozo que ele provocava, cada marca que ele deixava na minha pele... tudo isso era, no fundo, para você. Era a sua fantasia. Era sua mulher sendo desejada. Satisfazer você, realizar os seus desejos mais secretos... isso me faz sentir a mulher mais poderosa, mais amada e mais especial do mundo."
Ele a puxou para um beijo, era um beijo de posse, de reconquista, de um desejo reavivado pela jornada que ela havia feito. Era o beijo de um homem que não temeu perder, porque sabia o valor do que tinha.
Enquanto ele a levava para o quarto, para refazer suas próprias marcas na pele lavada dela, Fah sabia que um ciclo se fechava. Igor era um capítulo glorioso e ardente, mas o livro da sua vida era escrito a quatro mãos com o homem que agora a deitava na cama deles. E embora aquele triângulo específico terminasse, o princípio que o permitiu – a confiança absoluta, a comunicação aberta e o desejo de ver o outro pleno – permanecia. E no universo vasto e imprevisível do seu casamento, novas safadezas, novos fetiches e novas aventuras, certamente aguardavam por sua vez de serem vividos. A liberdade continuava lá, agora ainda mais doce, por tê-la levado de volta para casa.
Será o fim dos contos?