O apartamento de Narciso era um flat espaçoso e moderno, localizado em um dos bairros mais sofisticados de São Paulo. A sala principal, ampla e envidraçada, oferecia uma vista luminosa da cidade, com telas digitais espalhadas pelas paredes exibindo notícias, redes sociais e até o clima em tempo real. Tudo no lugar parecia pensado para impressionar: móveis de design arrojado, iluminação automatizada, caixas de som embutidas no teto. Mas, naquela noite, nada do luxo conseguia disfarçar a tensão que pairava no ar.
Helena, sua mãe, caminhava de um lado para o outro, os saltos finos ecoando pelo piso frio de porcelanato. Ela tinha o cabelo loiro cuidadosamente arrumado, embora alguns fios já escapassem pela agitação. Os olhos azuis denunciavam histeria, vermelhos de tanto chorar. O celular em sua mão vibrava sem parar, notificações de sites de fofoca pipocando a cada minuto, todas trazendo o nome de Narciso em letras escandalosas.
— Isso não pode continuar, Narciso. — exclamou ela, a voz embargada, mas firme. — Você ainda tem tanto pela frente, filho. A gente não pode ficar sem dinheiro.
Narciso, sentado no sofá de couro preto, massageava as têmporas como quem já não aguentava mais. O jovem, acostumado a posar para câmeras e viver de aparências, parecia exausto. Ele respirou fundo, olhou para a mãe e, sem rodeios, falou:
— Mãe, eu tenho propriedades em São Paulo e no Rio de Janeiro. Minha fortuna beira os dois milhões...
— Narciso! — interrompeu Helena, quase gritando. — Temos um estilo de vida que depende do que entra. O dinheiro que está no banco precisa ficar lá. Eu sou sua empresária e...
— Poderia agir mais como a minha mãe, então? — rebateu Narciso, erguendo o olhar. A voz saiu trêmula, mas carregada de mágoa. — A senhora não percebe que estou sofrendo? Que dói ter que esconder algo que faz parte de mim?
Helena parou no meio da sala. Os olhos marejados encararam o filho com surpresa.
— Narciso, não seja injusto comigo. E tudo o que eu abdiquei para a sua carreira?
O rapaz se levantou, a raiva misturada com alívio lhe dando coragem.
— Para a minha carreira, mãe? Ou para os seus sonhos frustrados? Afinal, de acordo com o meu pai, o seu verdadeiro sonho era ser cantora.
Helena engoliu em seco. A menção ao ex-marido era como uma facada. Ela se virou, dando alguns passos para trás, como se a simples lembrança fosse insuportável.
— Não mete o teu pai nessa história. Eu quero distância desse homem. — disse, a voz embargada, antes de deixar uma lágrima escorrer. — Filho, estamos com a cabeça quente. O pessoal da agência vai lidar com essa onda de ódio e com o cancelamento, mas por favor, eu te imploro: não poste nada por enquanto.
Narciso fechou os olhos, tentando controlar a respiração.
— Pode deixar. — respondeu seco.
Helena, ainda entre soluços, o encarou com um misto de dor e curiosidade.
— É ele, né? O João Paulo. Ele é o seu namorado?
Narciso não conteve um meio sorriso, tímido e vulnerável.
— Não. Mas eu gosto muito dele. — fez uma pausa, sentindo o peso do momento. — E dos meus amigos também. Eu não me sinto livre assim desde... desde a infância.
A sala ficou em silêncio. Apenas o som abafado do trânsito de São Paulo, vindo da janela panorâmica, acompanhava a respiração pesada dos dois. Helena, mesmo carregada de preocupação, parecia pela primeira vez realmente enxergar o filho, não como produto de uma carreira, mas como um jovem que apenas queria ser ele mesmo.
No colégio Discere, Narciso estava no olho do furacão. Os corredores fervilhavam de comentários sobre sua aproximação com os membros do Clube Gay. Todo o planejamento de Noah para criar um espaço acolhedor e diverso acabou reduzido, na boca dos mais maldosos, a três letras ditas com desdém: g-a-y.
Apesar disso, Narciso não estava sozinho. A maioria dos alunos de sua turma o defendia, alguns por genuína amizade, outros apenas por educação. Mas também havia aqueles que aproveitavam a confusão para semear intrigas, ou, pior ainda, os intolerantes que nunca perdiam a oportunidade de destilar preconceito.
Como de costume, o grupo de amigos se reuniu no jardim. O lugar, amplo e arborizado, era uma espécie de refúgio dentro do colégio, com bancos de madeira cercados por árvores altas que abafavam o burburinho das outras turmas. Valentim e Noah estavam inquietos; as fotos em que apareciam se beijando, publicadas nas redes sociais de Narciso, ainda repercutiam entre os alunos.
Narciso percebeu a tensão e, com um sorriso suave, tentou tranquilizar os amigos. Mas, antes que qualquer um pudesse se desculpar, ele tomou coragem e abriu o coração.
— Desde pequeno, eu me sentia diferente das outras crianças... — começou, a voz firme, embora os olhos revelassem vulnerabilidade. — Mas então veio o primeiro comercial. Eu era só uma criança bonita e expressiva. Aos poucos, meu mundo virou aquele: novelas, séries, sets de filmagem. Mas ninguém desconfiava que a minha atuação mais difícil era fingir ser quem eu não era. — Narciso apoiou os cotovelos nos joelhos, se curvando para frente. — Eu sou gay. — disse, e uma lágrima solitária escorreu por seu rosto.
Karla não pensou duas vezes. Sentou ao lado dele e o envolveu em um abraço apertado.
— Ei, tá tudo bem. — disse, com a sinceridade vibrando na voz. — Você não tem ideia do quanto significa pra mim te ouvir falar isso. Narciso, eu e o Noah sempre fomos teus fãs. Você salvou a minha pandemia com 'Lágrimas de um Anjo'. Aquela série foi incrível. Eu já te admirava como ator, mas, conhecendo você de verdade, vi que superou todas as expectativas. Você é atencioso, alegre, tranquilo... de verdade.
— É isso mesmo. — reforçou Noah, sorrindo. — Eu fiquei com medo de você ser só mais uma estrelinha inalcançável. Mas você é 100% do bem. Tenho orgulho em te chamar de amigo.
Valentim cruzou os braços e completou, rindo:
— Eu assino embaixo. Já fui em festas cheias de atores que se achavam a última bolacha do pacote. Escrotos, insuportáveis. Mas você, Narciso... você é diferente.
As palavras deixaram o ator mais aliviado, embora ele ainda enxugasse discretamente as lágrimas.
— Não chora, cara. — disse Breno, que estava de mãos dadas com Karla. — Você tem que ter orgulho de quem é. Haters sempre vão existir, eu falo por experiência. O segredo é andar de cabeça erguida e contar com os amigos certos.
Enquanto o grupo vibrava naquela união, João Paulo se manteve em silêncio. Por dentro, estava despedaçado. O apoio dos amigos a Narciso era emocionante, mas a culpa corroía seu peito. Ele pensava que, se não tivesse levado todos para sua casa, talvez Narciso não tivesse feito os vídeos, nem as fotos que agora alimentavam o cancelamento.
De repente, João Paulo levantou e saiu apressado, os olhos marejados. Os amigos se entreolharam, sem entender. Narciso, porém, não hesitou e foi atrás dele.
O encontrou em um corredor vazio, as paredes brancas refletindo a fúria contida. João Paulo, tomado pela revolta, gritou:
— Eu não aguento! Como as pessoas podem ser tão fechadas, tão cruéis?
Quando Narciso tentou se aproximar, João Paulo recuou, a raiva misturada ao medo. Mas Narciso não permitiu que ele se afastasse. Segurou o amigo pelo braço e o puxou com firmeza, o virando para si.
— Não faz isso. — pediu, a voz suave, mas firme, enquanto tocava o rosto do amigo. — Não acha que isso é culpa sua. Mesmo com toda essa onda de ódio... eu nunca me senti tão feliz. Obrigado, João Paulo.
As palavras desmontaram o rapaz.
— Eu só não quero te prejudicar, Narciso. — murmurou, a voz fraca e trêmula.
E, de repente, sem conseguir conter a emoção, João Paulo o abraçou. Um abraço forte, carregado de amor, medo e carinho. Narciso, um pouco mais alto, o envolveu também, apoiando o queixo no ombro do amigo.
Ficaram ali por um longo tempo, em silêncio, como se aquele gesto fosse capaz de blindá-los do caos das redes sociais e das vozes intolerantes. Narciso, pela primeira vez em muito tempo, se sentia inteiro.
Mesmo com o mundo ao redor virando de cabeça para baixo, ele estava feliz.
***
Valentim havia preparado aquele encontro com um cuidado especial. Normalmente, buscava Noah de carro por aplicativo ou com a ajuda de Raphael, seu motorista de confiança. Mas, naquela noite gelada, havia algo diferente.
Quando Noah chegou ao portão do condomínio, seus olhos se arregalaram diante da cena: um Range Rover Sport reluzente estava estacionado bem em frente à sua rua. Ele olhou em volta, procurando o namorado, mas não o encontrou. Foi então que o celular vibrou em sua mão.
— Amor, cadê você? — perguntou, encostando o aparelho no ouvido.
— Aqui na frente, meu tesouro. — respondeu a voz de Valentim, soando quase irreconhecível.
— Fala sério, Valentim. Tá um frio de rachar. Vem logo!
— Eu estou aqui, amor. — Valentim baixou o vidro, se revelando ao volante do carro novo.
Noah não conseguiu se conter. Saiu correndo até o veículo e ficou alguns segundos parado, admirando-o como se fosse uma joia rara. Nunca tinha visto um carro daquela marca tão de perto. Em seguida, deu a volta e entrou, vibrando de empolgação.
Valentim, orgulhoso, contou que havia tirado a carteira provisória e, junto do pai, foi até uma concessionária para comprar o carro.
— O carro é lindo, amor. Parabéns. Espero passar de primeira também. — disse Noah, animado com a ideia de se matricular em uma autoescola.
— Não se preocupa, lindo. Eu vou ser o seu motorista particular. — tentou brincar Valentim, mas não conseguiu sustentar o tom de galanteador por muito tempo.
— E para onde vamos? — Noah perguntou, curioso.
— Bem, eu não tenho horário para voltar pra casa. E você?
— Amanhã é sábado, né? O que você tem em mente?
— Só vamos. — Valentim piscou, escondendo o nervosismo.
Apesar da insegurança, Valentim dirigia com cautela. Seguia todas as regras, dava passagem, e tentava transparecer confiança — mesmo que, por dentro, o nervosismo tomasse conta e suas mãos suassem no volante. Com a ajuda do GPS, pegou a Rodovia Anchieta. Porém, não contava com o trânsito pesado da noite.
Ao invés de se irritarem, decidiram aproveitar. Ligaram a playlist que Valentim havia preparado especialmente para a ocasião e começaram a cantar juntos, como se o engarrafamento fosse apenas um detalhe.
Mas, quando o trânsito começou a fluir, algo inesperado aconteceu: o carro simplesmente parou. Valentim tentava dar a partida, mas nada acontecia. Atrás deles, as buzinas começaram a soar impacientes.
— O que houve? — perguntou, apavorado, olhando em volta.
— Eu lá sei! — Noah respondeu, se virando para os carros atrás. — Valentim, a gente precisa sair daqui!
— Empurra! — gritou o namorado, suando frio, mesmo com a temperatura próxima dos dez graus.
— Eu, por quê?
— A gente precisa levar pro acostamento! Eu solto o freio de mão, o carro fica mais leve e empurramos juntos!
— Eu não acredito, Valentim... — murmurou Noah, choramingando enquanto as buzinas aumentavam.
— Noah, pelo amor que você tem a Deus, me ajuda! — pediu Valentim, quase em desespero.
Noah suspirou fundo, puxou o capuz sobre a cabeça e desceu do carro. Se posicionou atrás, respirou fundo e começou a empurrar. Valentim soltou o freio de mão, e o veículo deslizou lentamente até o acostamento. Quando finalmente pararam, Valentim saiu do carro e fez um sinal de positivo. Noah revirou os olhos, exausto.
— Você colocou gasolina nesse carro? — perguntou, enfiando as mãos no bolso do moletom.
— Ele é elétrico.
— Você carregou? — Noah arqueou uma sobrancelha.
— Não... — Valentim coçou a cabeça, rindo nervoso, até perceber a expressão horrorizada do namorado.
— Valentim, o carro!!! — gritou Noah, apontando.
Ambos assistiram, impotentes, enquanto a Range Rover começava a descer sozinha um pequeno morro. Por sorte, não havia ninguém por perto. O carro andou até parar dentro de um córrego raso, com um barulho surdo.
Valentim, com as mãos tremendo, puxou o celular do bolso e discou seu primeiro contato de emergência.
— Alô, pai?
O frio da noite castigava. Valentim e Noah estavam encolhidos no acostamento, já sem sentir as mãos, quando finalmente viram os faróis de uma BMW se aproximando. O carro estacionou ao lado deles e Victor desceu apressado, o rosto carregado de preocupação.
Ele havia chamado um guincho para retirar a Range Rover de dentro do córrego, mas, ao ver o filho são e salvo, suspirou aliviado.
— O que aconteceu aqui? — perguntou, já imaginando o pior.
Valentim, envergonhado, explicou a sequência de desastres. Victor caminhou até a beira do barranco, observou o carro parcialmente submerso e, para surpresa dos dois, começou a rir.
Valentim e Noah trocaram olhares incrédulos. Estavam preparados para uma bronca severa, não para gargalhadas.
— Meu filho, você acabou de jogar um carro de quase um milhão por um morro. Isso é coisa que se faça?! — exclamou, rindo e puxando a orelha de Valentim com força.
— Para, pai! Tá doendo... — Valentim tentou se esquivar, mas Victor aumentou a pressão.
— É pra doer mesmo. Que ideia de girico é essa de vir pra uma rodovia sem supervisão de adulto? — Victor resmungava, enquanto Noah, ao lado, tentava segurar o riso.
— Mas eu sou adulto... — protestou Valentim, sem convicção.
— Sim, é adulto. E onde tá o carro? — rebateu Victor, soltando a orelha do filho.
— Credo, pai! Até parece que nunca cometeu uma gafe... — choramingou Valentim, massageando a orelha dolorida.
Victor suspirou fundo e encarou os dois adolescentes, ainda tentando conter a irritação.
— E para onde vocês iam a essa hora?
— Eu queria ver o sol nascer em Santos. — confessou Valentim, quase sussurrando.
Victor ergueu uma sobrancelha, incrédulo.
— De castigo, Valentim. Uma semana.
— Pai?! — protestou o rapaz, indignado.
— Se reclamar, vão ser duas. — decretou Victor, encerrando a discussão.
Noah abaixou a cabeça, escondendo um sorriso. A noite que deveria terminar com um nascer do sol romântico havia se transformado em um episódio digno de memória — e, para Valentim, de castigo.
Após alguns minutos de espera, o guincho finalmente chegou e, com um barulho metálico que ecoou pelo local silencioso, retirou o carro de Valentim do córrego. Assim que o veículo foi colocado de volta ao asfalto, todos suspiraram aliviados. O frio começava a incomodar e, após uma rápida conversa, decidiram ir juntos a um restaurante para se aquecer e comer alguma coisa.
No início, Victor manteve uma postura séria, observando o filho e o namorado com um ar calculista. Mas, conforme os minutos passavam, a tensão se dissipava. Quando os pedidos chegaram, ele não resistiu e acabou rindo, balançando a cabeça ao lembrar que aquele fora o primeiro passeio de carro do filho — e já tinha terminado com um guincho envolvido.
Valentim sorriu tímido, mas por dentro estava feliz. Estava sentado à mesa com o pai e com Noah, os dois homens mais importantes da sua vida. Um ano atrás, jamais imaginaria que isso seria possível.
Victor, agora mais descontraído, parecia até curioso em conhecer melhor Noah. O garoto aproveitou a deixa e contou sobre Doce de Leite, sua égua, que havia tido um filhote durante as férias. Com entusiasmo, mostrou as fotos no celular. Victor arqueou as sobrancelhas ao ver o potrinho.
— Leite Condensado? — repetiu o empresário, antes de rir. — Admito que é um nome criativo.
— Ele é a coisa mais fofa do mundo. — disse Noah, sorrindo orgulhoso.
A conversa seguiu leve até que, sem querer, caiu no assunto de ensino superior. Noah confessou que ainda não fazia ideia do que queria cursar, mas sabia que seria algo ligado às humanas.
— Ainda bem que o destino do Valentim já está traçado. — comentou Victor, com naturalidade.
Valentim quase derramou o vinho que bebia. Noah ergueu os olhos na mesma hora.
— Traçado? — questionou, confuso.
— Pai... — começou Valentim, mas Victor foi mais rápido.
— Sim. Estamos aplicando a ficha do Valentim para estudar em Dublin, um ótimo curso de administração. — disse orgulhoso, sem perceber o desconforto súbito do filho.
Noah forçou um sorriso, mas sua voz saiu mais baixa do que gostaria:
— Entendi... que bom, Valentim. Fico muito feliz que você vá fazer esse curso do outro lado do mundo.
— Mas um ano e meio passa rápido, Noah. — acrescentou Victor, como se fosse um consolo.
Noah apenas assentiu, engolindo em seco. Dentro de si, um turbilhão de pensamentos se formava, mas ele os conteve. Não iria dar um espetáculo ali, não depois de tanto esforço para conquistar a confiança de Victor. Limitou-se a comer e seguir o roteiro daquela noite como se nada tivesse acontecido.
Depois do jantar, Victor ofereceu carona a Noah, mas ele recusou educadamente, dizendo que sua casa ficava no sentido oposto e que já estava tarde. Victor se despediu com um aperto de mão firme e disse que esperaria Valentim no carro.
Assim que ficaram sozinhos, Noah respirou fundo e quebrou o silêncio:
— Dublin, hein... quando ia me contar?
— Estava procurando a oportunidade. — respondeu Valentim, cabisbaixo. — Eu não sabia como te dar essa notícia.
— Há quanto tempo você sabe?
— Isso importa agora?
— Há quanto tempo, Valentim? — insistiu Noah, cruzando os braços, tentando controlar a voz e as lágrimas que ameaçavam vir.
— Uns meses. Noah... nem eu sei se quero fazer esse curso e...
— Entendi. Quer saber, deixa pra lá. — cortou Noah, olhando para o celular. — O carro chegou. — Se aproximou e depositou um beijo tímido nos lábios de Valentim. — Até segunda.
— Avisa quando chegar em casa. — pediu Valentim, mas Noah já fechava a porta do carro e não respondeu.
Valentim ficou parado ali, sentindo o vazio que se abriu com o som da porta batendo.
***
Nota Oficial – Agência Moretti
A Agência Moretti vem a público esclarecer que os vídeos e fotos recentemente divulgados envolvendo o ator Narciso Figueiredo foram tirados de contexto e não refletem sua postura ou seus valores.
Narciso é um reconhecido defensor da comunidade LGBTQPIA+, nutrindo profundo respeito e admiração por todas as pessoas que dela fazem parte. Ressaltamos que qualquer informação que não seja emitida por esta agência deve ser considerada falsa ou sem credibilidade.
Prezamos pela liberdade de expressão; no entanto, quando a honra e a imagem de um de nossos talentos são afetadas, nos comprometemos a esclarecer os fatos de forma transparente.
Todos os comentários e publicações relacionados ao caso estão sendo acompanhados de perto. Se necessário, medidas jurídicas serão tomadas para garantir a verdade e preservar a integridade do ator.
Agência Moretti
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A campainha da casa dos Andrade soou de forma insistente, ecoando pela sala silenciosa. Quando João Paulo abriu a porta, se deparou com uma cena inesperada: Narciso, apoiado no batente, o rosto ruborizado e um sorriso bobo nos lábios.
— Narciso? — perguntou, confuso.
— Surpresa... — respondeu o ator, tropeçando levemente ao entrar.
Joana, que costurava na poltrona, ergueu as sobrancelhas, surpresa ao ver o jovem naquele estado.
— Eu já falei que vocês são as minhas pessoas favoritas? — Narciso anunciou, com um gesto amplo, antes de deixar o corpo desabar sobre o estofado.
— Ele está muito bêbado. — disse João Paulo, lançando um olhar de desespero para a mãe.
— Não me diga. — Joana soltou.
— Mãe! — Protestou João Paulo, que sentou ao lado de Narciso.
— Vou pegar uma muda de roupas sua. Esse rapaz precisa de um banho gelado e uma boa xícara de chá. — decidiu Joana, levantando-se e caminhando em direção ao quarto do filho. — Ajuda ele no banheiro, João Paulo.
Ela não lhe deu nenhuma bronca, embora no dia seguinte tivesse certeza de que o faria.
Enquanto ajudava Narciso a se levantar, João Paulo notou que as roupas de marca do colega estavam sujas, manchadas de lama e com um cheiro forte de bebida. "O que será que ele passou até chegar aqui?", pensou.
Joana deixou as roupas limpas na porta do banheiro e seguiu para a cozinha, determinada a preparar um chá calmante.
— Narciso, o que houve? Você não costuma beber... — João Paulo perguntou, tentando entender.
— Você é muito lindo, sabia? O homem mais lindo que eu já conheci. — disse Narciso de repente, os olhos semicerrados e o sorriso torto, antes de roubar um beijo dos lábios de João Paulo. — Quer namorar comigo?
— Narciso, você está bêbado e falando nada com nada. — argumentou João Paulo, sentindo o rosto esquentar, enquanto ajudava o outro a tirar a camisa molhada. — Toma um banho e depois vá para a sala. Vou te esperar lá. E água gelada.
Narciso entrou no box enquanto João Paulo, ainda um pouco atordoado pelo beijo, recolheu as roupas sujas e as dobrou com cuidado, como se fossem frágeis. Tentava manter a mente ocupada, mas seus olhos, teimosos, se voltaram para a figura de Narciso por entre o vidro embaçado. A água gelada escorria pela pele clara do ator, fazendo seus músculos se contraírem e sua pele se arrepiar. Era quase hipnótico, e João Paulo só voltou à realidade quando a voz da mãe o chamou da cozinha.
Minutos depois, com o banho tomado e vestindo roupas largas de João Paulo, Narciso se sentou à mesa. Tomou o chá quente e comeu a omelete que Joana preparara. Aos poucos, a alegria etílica foi se desfazendo, cedendo espaço às lágrimas silenciosas que escorriam por seu rosto.
Ele contou sobre a briga com a mãe — como ela só se importava com dinheiro e trabalho, como sua sexualidade não importava a não ser pelo impacto que isso poderia causar em sua carreira.
— Às vezes, nós mães só queremos fazer aquilo que é certo para os filhos. Dê um tempo para a sua mãe assimilar tudo, filho. — aconselhou Joana com doçura, enquanto ajeitava um colchão no chão do quarto de João Paulo. — Agora, vocês dormem. Amanhã precisamos ir cedo levar os recicláveis para a venda, João Paulo. Boa noite, meninos.
— Boa noite, mãe. — respondeu o filho.
— Boa noite, Joana. — murmurou Narciso, já deitado.
Joana apagou a luz e deixou os dois sozinhos no quarto escuro.
João Paulo estava tremendo, e não era por causa do frio. A pergunta de Narciso ainda ecoava em sua mente, embaralhando todos os seus pensamentos. Então, sentiu um toque suave em sua mão e o corpo inteiro pareceu estremecer outra vez.
— Eu estou bêbado, mas sou sincero quando digo que quero namorar contigo... mas, por favor, desconsidera esse pedido, foi horrível. Você não merece receber um pedido de namoro no banheiro. — disse Narciso com um sorriso triste.
— Você tem certeza disso? — perguntou João Paulo, a voz quase num sussurro.
— Absoluta... Olha, eu sei que não posso te oferecer um namoro normal, vamos precisar de regras, mas eu gosto muito de você. — Narciso confessou, antes de erguer a mão de João Paulo e depositar nela um beijo suave.