Duas horas depois, o frio da madrugada cortava o ar enquanto eu esperava na esquina indicada, a poucos quarteirões do epicentro da festa agora distante. A rua estava deserta, banhada pela luz amarelada e intermitente de um poste defeituoso. Cada sombra parecia uma ameaça, cada carro que passava ao longe acelerava meu pulso. Eu tremia, parte pelo frio, parte pela ansiedade crua que me consumia. Eu era um idiota. Um completo idiota por estar ali, alimentando essa esperança doentia. Mas que outra escolha eu tinha para estar perto dele? Para sentir essa intensidade?
Então, um carro de luxo escuro surgiu do nada, deslizando silenciosamente pela rua com os faróis apagados. Parou ao meu lado. O vidro do passageiro desceu, revelando o perfil dele, iluminado apenas pela luz azulada do painel. O queixo forte, os olhos claros fixos na estrada à frente, e aquele meio sorriso presunçoso brincando nos lábios.
"Entra."
A ordem foi curta, seca, sem espaço para hesitação. Abri a porta e deslizei para o banco do passageiro. O interior do carro era uma mistura inebriante de couro caro, o cheiro residual de álcool e, dominando tudo, o aroma pessoal dele – aquele musk forte, animal, misturado com algo amadeirado do perfume que ele usava. Testosterona pura. Ele não me olhou, não disse mais nada. Apenas manobrou o carro para dentro da garagem subterrânea do prédio, o silêncio tenso preenchido apenas pelo som do motor e pela minha respiração irregular.
Subimos pelo elevador privativo em silêncio. O apartamento era amplo, escuro, mobiliado com um minimalismo quase austero. Apenas as luzes da cidade entravam pelas amplas janelas cobertas por cortinas pesadas, criando longas sombras que dançavam pelo ambiente. Ele jogou as chaves sobre um aparador, tirou o paletó e o jogou displicentemente sobre uma poltrona de design. Então, virou-se para mim e começou a desabotoar a camisa. Devagar. Um botão de cada vez, como se estivesse consciente do espetáculo, me dando tempo para absorver cada centímetro de pele exposta. O peitoral definido, os músculos abdominais contraídos, aquele V perfeito que afunilava e desaparecia sob o elástico da mesma cueca branca que eu vira mais cedo.
"Vem cá."
Avancei hesitante, sentindo o carpete grosso sob meus sapatos. Ele esperou até que eu estivesse a um braço de distância, então ergueu a mão e segurou meu queixo com força, os dedos marcando minha pele, forçando-me a encará-lo.
"Sabe, por um momento, lá na festa," ele começou, o olhar um enigma frio, calculista, mas com uma nova intensidade, como se estivesse me estudando, "eu pensei seriamente em te arrastar pra um beco e te dar uma surra que você não ia esquecer tão cedo." Ele fez uma pausa, um lampejo quase imperceptível de algo que não era só crueldade passou por seus olhos. "Mas aí eu pensei... Tem jeitos mais... interessantes de lidar com gente como você. Que fica olhando."
Com um puxão súbito, ele colou meu rosto contra seu peito nu. Inspirei involuntariamente. O cheiro era avassalador: suor da dança, o perfume amadeirado, e por baixo de tudo, um traço mais doce, feminino, quase imperceptível, mas presente. O cheiro dela. O sexo deles. Ainda estava ali, na pele dele. "Tá sentindo?" ele murmurou, a voz vibrando contra meu ouvido. "O cheiro dela. Ainda tá aqui. Fresco."
Ele riu, um som baixo, quase forçado, que não alcançou seus olhos. "É isso que você queria, não era? Ficar imaginando? Se perguntando como é o gosto depois que eu fodo alguém?" Ele me afastou ligeiramente, apenas para poder ver minha reação, meu rosto corado, meus olhos arregalados, a mistura de repulsa e fascínio.
Minha boca já estava entreaberta, a respiração suspensa, quando ele me empurrou para baixo, de volta à posição que parecia ser meu destino naquela noite: de joelhos. A calça social dele desceu pelos quadris com um farfalhar suave, seguida pela cueca branca, agora visivelmente manchada – um amarelo pálido na lateral, talvez urina antiga, talvez pré-gozo acumulado ao longo da noite, talvez uma mistura de tudo. Ele puxou o pênis para fora. Semi-mole ainda, pesado na mão dele, a cabeça de um vermelho mais escuro, parecendo usada, cansada.
"Lambe." A ordem foi um sussurro carregado de desprezo e poder, mas havia uma tensão diferente em sua voz agora, uma curiosidade quase clínica em observar minha reação.
Obedeci, a humilhação se misturando à necessidade desesperada de agradá-lo, de ter essa conexão distorcida. A ponta da minha língua tocou a glande hesitante, depois com mais confiança. O gosto era complexo, uma mistura avassaladora: salgado do suor dele, o amargor residual do látex da camisinha talvez, um traço metálico, e por baixo, quase como um fantasma, o sabor adocicado e almiscarado dela. Fechei os olhos, perdido naquela sensação profana. Ele respirou fundo, o abdômen contraindo sob minha visão periférica, mas não emitiu som algum. Apenas observou, a cabeça ligeiramente inclinada, não como um cientista, mas como alguém... intrigado com o que via.
"Abre a boca."
Abri, o coração trovejando. Ele guiou o membro para dentro, devagar no início, depois com mais firmeza, empurrando até que a base estivesse pressionando meus lábios, a cabeça roçando minha garganta. Começou a pulsar, a inchar dentro de mim, respondendo ao calor, à umidade, à submissão que ele parecia precisar tanto quanto eu, mesmo que não admitisse. Ficou totalmente duro, grosso, latejante. Ele não se moveu, não fez menção de foder minha boca. Apenas deixou que eu o sentisse ali, dominando meu espaço, minha respiração. Minhas mãos trêmulas encontraram seus quadris, agarrando o tecido da calça como se ele fosse a única coisa sólida no universo.
"Isso aqui…" ele disse, a voz tensa, quase rouca, "…não é pra você. Você só... prova as sobras. Entendeu?"
Puxou meu cabelo com força, inclinando minha cabeça para trás, forçando meu olhar a encontrar o dele. Havia fogo ali, mas também algo mais, uma necessidade quase desesperada de controle, talvez sobre mim, talvez sobre si mesmo. E então começou a meter. Movimentos lentos, quase preguiçosos no início, permitindo que eu me acostumasse com o ritmo, com a pressão. Depois mais rápido, mais fundo, mais forte. Cada estocada era uma afirmação de poder, cada recuo uma promessa de mais. Eu sentia o tronco grosso pulsando contra minha língua, as bolas pesadas batendo ritmicamente contra meu queixo. O som da minha saliva, dos meus engasgos abafados, misturava-se à respiração pesada dele, que parecia cada vez mais difícil de controlar.
Eu estava perdido, afogando naquela sensação, o clímax dele parecendo iminente, quando ele parou. Abruptamente.
"Chega. Para."
Ele retirou o pênis da minha boca com um movimento rápido, deixando-me ofegante, a saliva escorrendo pelo queixo. O membro ainda estava duro, latejando, vermelho e brilhante. Ele o segurou por um instante, olhando para ele, depois para mim, uma expressão indecifrável, quase confusa, no rosto. Ajustou a cueca e a calça com uma pressa incomum, virou-se e caminhou em direção ao banheiro sem dizer mais nada.
Fiquei ali, de joelhos no meio da sala escura, confuso, humilhado, excitado e terrivelmente vazio. O eco da porta do banheiro se fechando pareceu reverberar no silêncio. Ouvi o som inconfundível dele se masturbando – rápido, urgente, os gemidos baixos, roucos, abafados pela porta. E então, o som final, quase um insulto: o jato de urina atingindo a água da privada.
Ele voltou alguns instantes depois, secando as mãos em uma toalha pequena. Parou na minha frente. E então, sem aviso, jogou a cueca suja que usara o dia todo – a mesma que eu cheirara na cabine, a mesma que ele acabara de tirar – no meu rosto.
O tecido úmido e ainda quente atingiu minha bochecha com um baque suave. O cheiro era ainda mais forte agora – urina, suor, o almíscar dele, talvez até um traço do gozo recente.
"Leva isso." A voz era fria, desprovida de emoção, mas seus olhos não sustentaram meu olhar por muito tempo. "E some daqui."
Ele apontou para a porta de entrada. Não esperei uma segunda ordem. Levantei-me, as pernas trêmulas, agarrei a maçaneta e saí para o corredor silencioso do andar, a cueca ainda agarrada na minha mão como um troféu grotesco.
A porta do apartamento se fechou atrás de mim com um clique suave e definitivo.
Fiquei parado ali por um longo momento, o tecido úmido e quente na minha mão. O cheiro era nauseante e, ao mesmo tempo, eletrizante. Era o cheiro dele, dela, da humilhação, do desejo, de tudo que eu provei e não pude ter por completo. Meu corpo inteiro ainda vibrava com a adrenalina e a frustração. Levei a cueca ao rosto, inspirei profundamente aquele aroma proibido, sentindo uma onda de vergonha e excitação me percorrer. Era doentio, mas era a única conexão que eu tinha, a única prova de que aquilo tinha acontecido.
O caminho de volta para casa foi uma névoa. As ruas agora estavam completamente desertas. O frio parecia ter penetrado meus ossos. Guardei a cueca no bolso da calça, sentindo o volume úmido contra minha coxa a cada passo. Minha mente repassava cada detalhe, cada palavra, cada toque, cada gosto, tentando encontrar sentido onde talvez houvesse apenas um vazio compartilhado e a confusão dele espelhada na minha.
Cheguei ao meu próprio apartamento sentindo-me esvaziado e, paradoxalmente, cheio de uma energia nervosa. Tirei a cueca do bolso, olhei para ela sob a luz fraca da minha cozinha. Um souvenir doentio. Joguei-a no cesto de roupa suja, depois a peguei de volta, indeciso. Acabei por escondê-la no fundo de uma gaveta, como um segredo sujo.
Foi então que meu celular vibrou sobre a mesa. Uma notificação de um número desconhecido. Meu coração deu um salto.
Mensagem privada:
"Gostou das sobras? Talvez tenha mais depois. Se você se comportar."
Fiquei olhando para a tela, as palavras brilhando no escuro. Não era um fim. Era um começo. Um começo perigoso, humilhante e irresistivelmente excitante. E eu sabia, com uma certeza que me assustava e me envergonhava, que eu me comportaria. Eu faria o que fosse preciso para ter mais daquilo, porque era a única linguagem que ele parecia usar comigo, a única forma de me manter em sua órbita confusa.