A leitura da carta de Chanel foi intensa de uma forma que eu não esperava. Claro que eu assumo, sim eu queria estar no mesmo ambiente que Carlos. Queria respirar o mesmo ar, sentir sua presença, receber um abraço daquele que tinha sido meu porto seguro tantas vezes. Afinal, ele tinha me dado todo apoio quando Chanel morreu, tinha estado ao meu lado naquele momento terrível, tinha me segurado quando desabei. E agora ali, na reunião sobre a carta dela, eu era somente uma pessoa qualquer para ele. Menos que isso, era invisível.
E isso me doeu de uma forma que eu não esperava. Doeu mais que raiva, mais que decepção. Era a dor da indiferença, do esquecimento, do apagamento completo. Como se todos os anos que vivemos juntos tivessem sido deletados da memória dele com um clique.
Aquele, eu acho, realmente era o nosso fim. Não tinha mais jeito, não havia mais volta. Naquele ponto da minha vida, naquele momento específico da minha história, meu envolvimento com Carlos era algo completamente indefinido e provavelmente impossível. E sinceramente, acho que seria melhor para ambos cada um ficar na sua até quem sabe, no futuro - talvez em anos, talvez nunca -, a gente se reencontrar como pessoas diferentes, amadurecidas, curadas.
O final de ano chegou trazendo aquela necessidade de fugir de tudo. Viajei para a fazenda onde minha mãe morava com o marido, e acabei passando as festas de fim de ano por lá. Dias de calmaria no campo, longe do caos da cidade, longe das memórias que me assombravam em cada esquina de Natal.
Quando retornei na primeira semana de janeiro, já tinha um encontro marcado da turma do LEI na casa de praia do Isaac. Iria todo o nosso grupo, menos Carlos, que tinha voltado para São Paulo logo após o Natal, como se não suportasse ficar na mesma cidade que eu por muito tempo. Além do do meu grupinho do LEI, viriam algumas outras pessoas do ensino médio também, expandindo aquela reunião para algo maior.
Cheguei na casa de praia no meio da tarde de um sábado escaldante. O sol queimava a pele, o mar estava perfeito, e a promessa de uma noite memorável pairava no ar salgado. Yan e Isaac já estavam lá, preparando as coisas. Taty chegou pouco depois, abraçando todo mundo com aquele entusiasmo característico. E então Luke apareceu.
Não vou mentir, meu coração deu aquela acelerada involuntária quando o vi. Fazia dias desde o último encontro cara a cara, desde aquele dia da carta de Chanel onde mal trocamos palavras. Ele estava diferente. Mais forte, mais definido, com novas tatuagens descendo pelo braço que eu não conhecia. O cabelo um pouco mais comprido, os olhos cor de mel brilhando com uma leveza que não existia antes.
Nos cumprimentamos com um aceno de cabeça, mantendo distância segura. Mas havia algo no ar entre nós, uma tensão não-resolvida, uma conversa pendente, um futuro incerto pulsando em cada olhar trocado.
A festa foi ganhando corpo conforme a tarde virava noite. Bebida rolando solta, música alta, risadas ecoando pela casa de praia. O mar de fundo criava aquela atmosfera perfeita de verão, liberdade, possibilidade, esquecimento temporário de todos os problemas.
Eu estava conversando com Isaac sobre treinos e suplementos - assuntos banais que preenchiam o silêncio - quando a música mudou. Um funk começou a tocar, com uma batida pesada e hipnótica. A letra provocante cortou o ar: "Sou problemático e um pouco ciumento, mas você sabe que sou foda na cama…".
E então eu vi Luke.
Ele estava somente de sunga, uma sunga laranja vibrante que eu sabia ser sua cor favorita. O corpo dele estava completamente transformado. Mais forte, mais musculoso, cada músculo definido pelo treino intenso que ele claramente tinha adotado. A pele bronzeada pelo sol do nordeste brilhava com uma fina camada de suor. As novas tatuagens que eu tinha notado antes se estendiam pelo braço e desciam pelo torso - desenhos florais que davam um ar ainda mais sensual ao seu corpo.
Ele dançava. Não apenas se movia - ele DANÇAVA. Com uma sensualidade natural, rebolando no ritmo do funk, os quadris se movendo de forma hipnótica. E me olhava. Seus olhos cor de mel fixos nos meus, um sorriso provocante nos lábios, como se estivesse me desafiando a desviar o olhar.
Eu não desviava.
Peguei minha Skol Beats e tomei um gole longo, sentindo o líquido gelado descer pela garganta enquanto meus olhos continuavam grudados nele. Era impossível olhar para Luke naquele momento e não lembrar dos bons momentos que já tivemos. Dos beijos que incendiavam, do sexo que nos levava ao limite, da conexão que tínhamos quando tudo estava bem.
Ele continuava dançando, rebolando cada vez mais, e eu podia ver claramente o volume pesado na sua sunga laranja. Aquilo me deu uma água na boca involuntária, uma memória corporal de todos os prazeres que aquele corpo já tinha me proporcionado.
Então a música mudou abruptamente. O funk deu lugar a um pagode - Sorriso Maroto começou a tocar "A Primeira Namorada". Luke sambava agora, junto com Isaac e Taty, completamente entregue à música. Sua voz se unia ao coro quando chegava nos trechos mais emblemáticos:
"Olha pra mim, vai ficar tudo bem quando a dor passar... Nossa história aconteceu no tempo errado... Vai ser sempre a primeira namorada..."
Ele cantava e me olhava diretamente. Não era mais só uma troca de olhares casual - era uma mensagem clara, uma indireta óbvia demais para ignorar. E eu sorri. Sorri sem conseguir conter, tomei mais um gole da minha Beats, e me levantei.
Me juntei ao grupo meio tímido, consciente de todos os olhares curiosos dos nossos amigos. Mas meus olhos só viam Luke. Ele sorriu quando me aproximei - aquele sorriso que sempre me desarma, que sempre me faz esquecer tudo de ruim.
A música mudou novamente, agora para um forró - Circuito Musical, uma banda local que todo potiguar conhece. E eu, já um pouco alto da bebida, já com aquela coragem líquida correndo nas veias, acabei puxando Luke para dançar comigo.
Dançamos de corpo colado, grudados, sentindo cada centímetro um do outro, meu pau reagiu assim que senti o seu pau meia bomba, e o dele também foi como se o meu pau fosse fogo, e o pau dele gasolina, uma explosão de tesão ali. Ele com sunga, eu com um short neon tactel e sem camisa, nossos torsos suados se encontrando a cada movimento. Dançávamos no embalo da música, nos movíamos como se fôssemos um só corpo, como se anos de separação não tivessem acontecido.
Me inclinei e sussurrei no ouvido dele, minha boca roçando levemente na orelha:
— Você é um dançarino nato, não conhecia esse lado que sabia todos os ritmos.
— Digamos que tive muito tempo para aprender novas coisas e ocupar minha cabeça — ele respondeu, a voz rouca, carregada de algo que não consegui decifrar completamente.
— Você dança muito bem. E de forma sensual.
— Obrigado — ele sorriu, as mãos descendo pela minha cintura — você também não dança mal. Até tá me fazendo girar.
E então, num impulso que não veio da razão mas de algum lugar mais profundo, pressionei o corpo de Luke contra o meu com força. Senti cada músculo dele contra mim, senti sua respiração acelerar, senti seu membro já duro pressionando contra minha coxa.
A música terminou, mas eu não queria que aquele momento terminasse. Peguei Luke pela mão e o puxei para fora da casa, tentando disfarçar os volumes que faziamos, e então fomos para a parte externa que dava direto na praia. Queria ficar um tempo a sós com ele, longe dos olhares curiosos, longe dos julgamentos, longe de tudo que não fosse nós dois.
Ele me seguiu sem questionar, deixando que eu o guiasse pela areia ainda quente da noite. Chegamos numa parte mais isolada, onde a música da casa chegava abafada e apenas o som das ondas dominava.
Segurei Luke pela cintura, puxando ele para mais perto. Olhei no fundo dos seus olhos cor de mel, que brilhavam sob a luz fraca da lua. Foram segundos - ou talvez minutos, perdi a noção do tempo - analisando cada centímetro do seu rosto. As mudanças que o tempo tinha trazido, as marcas que a dor tinha deixado, mas também a beleza que sempre esteve ali.
E então tomei aquela decisão. Aquela decisão que sei que muitos podem me julgar, que muitos podem me odiar. Sei que muitos leitores odeiam Luke, e com razão. Ele me machucou de formas inimagináveis, deixou marcas físicas e emocionais que nunca vão desaparecer completamente.
Mas sabe? Eu acho que nossa vida é de segundas chances. É sobre perdão, sobre saber perdoar - não porque a pessoa merece, mas porque você merece paz. Óbvio que eu não estava pensando no perdão do Luke naquele momento específico. Ali, na praia escura, com seu corpo contra o meu e a bebida correndo nas veias, eu não estava pensando em filosofias sobre redenção.
Mas era uma hipótese. Uma possibilidade. Ali naquele momento eu não queria pensar no passado nem no futuro. Estava carente, Luke estava bonito, estávamos ambos com vontade. E então eu me entreguei.
Puxei ele para um beijo lento, quase hesitante no início. Nossos lábios se encontraram com cuidado, testando, lembrando. Mas o beijo foi aumentando de ritmo pouco a pouco, a urgência tomando conta. Nossas mãos começaram a explorar os corpos um do outro - minhas mãos nos seus braços musculosos, nas suas costas suadas, descendo para sua bunda. Dele no meu peito, no meu pescoço, me puxando para mais perto como se fosse possível.
O beijo ficou mais forte, mais carregado de desejo e paixão reprimida. Eu sentia seu membro duro feito pedra pressionando contra mim, e pressionava de volta, querendo fundir nossos corpos num só. Não sei se era a bebida, ou a saudade, ou simplesmente o instinto animal que toma conta em noites de verão na praia. Mas me entreguei completamente ao Luke naquele momento.
Fomos para uma parte ainda mais isolada da praia, onde não tinha absolutamente ninguém olhando. E ali, na areia que ainda guardava o calor do dia, transamos. Foi rápido, urgente, desesperado - as poucas roupas sendo tiradas com pressa, nossos corpos se encontrando com uma fome que vinha sendo reprimida há meses. A areia grudava na pele suada, o som das ondas encobria nossos gemidos, e por alguns minutos nada mais existia além de nós dois, segurei firme o pau do Luke, e cai de boca, sentindo a sua baba, sentindo o seu gosto, sentido a maciez daquele pau que eu tanto gostava, eu chupava, me engasgava, e gemia, e o Luke tocava o meu corpo, passava a mão na minha bunda, me apertava, segurava a minha cabeça, nossa química era indiscutível, mas não quis perder tempo, logo puxei o Luke para outro beijo, segurei meu pau junto com o dele e comecei a masturbar os dois juntos, como se fosse somente um único pau, a grossura e o tamanho do seu pau me deixava maluco, e então o Luke me vira de costas, passa um cuspe no seu pau e cospe no meu raba e então começa a meter, ele não começa devagar, ele vai enfiando pouco a pouco, centímetro por centímetro, e eu gemendo de dor que logo vira prazer, e logo começou a rebolar no seu pau, e logo ele começa a acelerar os movimentos, não demorou muito e logo eu estava gozando e o Luke gozou dentro de mim logo em seguida.
Quando terminamos, ficamos deitados na areia por alguns instantes, tentando recuperar o fôlego, a realidade voltando aos poucos. Então nos vestimos rapidamente e voltamos para a casa. Alguns dos nossos amigos nos olharam com aquele olhar de quem sabia exatamente o que tínhamos feito - era óbvio pela areia grudada em lugares que não deveria estar, pelos cabelos bagunçados, pelos sorrisos que não conseguíamos esconder.
Yan me olhou com um olhar de aprovação misturado com preocupação. Conhecia aquela expressão - era o olhar de "espero que você saiba o que está fazendo".
Ficamos cada um em um canto por um tempo, evitando contato direto, como se precisássemos processar o que tinha acabado de acontecer. Mas quando começou a ficar tarde e alguns começaram a subir para os quartos, Luke me puxou pela mão.
Subimos para um dos quartos, nos trancamos, e lá transamos novamente. Dessa vez no conforto de uma cama, sem pressa, explorando cada centímetro um do outro como se estivéssemos redescobrindo um mapa que conhecíamos de cor mas há muito tempo não visitávamos, e então foi minha vez de comer o Luke, de sentir seu rabo engolir todo o meu pau, de fazer ele gemer, de pedir mais e mais pica, o Luke sendo passivo era uma coisa rara, a gente tinha transado poucas vezes, eu sendo ativo, e ali foi bom, confesso que bati nele, deu alguns tapas, pelo tesão e por “vingança” mas não exagerei, era um “tapinha de amor” e logo gozei dentro dele, e então ele se virou ficou em pé na cama, e gozou na minha boca me fazendo engolir toda a sua porra.
Depois, exaustos e satisfeitos, acabamos dormindo abraçados. Quando acordei no meio da madrugada, a cabeça doendo levemente do álcool, fiquei pensando no que tinha acontecido. Não sabia se tinha sido a coisa certa ou a atitude certa. Mas sabia que eu e Luke teríamos que ter uma conversa. Uma conversa real, honesta, dolorosa se necessário.
Nunca diga que dessa água nunca bebereis. É um daqueles ditados antigos que carregam verdades universais. Quem nunca pagou com a língua por algo que jurou nunca fazer, e foi lá e fez do mesmo jeito?
Quantas vezes eu não disse para mim mesmo , para Carlos, para meus amigos, para qualquer um que quisesse ouvir - que não queria ver Luke nem pintado de ouro? Que jamais iria ter contato com ele novamente? Que ele tinha morrido para mim e estava enterrado junto com o trauma que causou?
Mas a verdade, a verdade nua e crua que eu estava finalmente conseguindo encarar, é que eu tive meu tempo. Tive minha raiva do Luke, um ódio que queimava como ácido nas veias. Tivemos nossos encontros em silêncio, trocas de olhares carregadas de coisas não-ditas. Mas vendo ele ali dançando, sorrindo, livre de uma forma que não era antes - talvez eu estivesse simplesmente carente. Talvez estivesse com uma dor no peito que vinha da ausência do Carlos e estava procurando preencher com o que estava disponível.
Mas naquele momento, transando com Luke na praia e depois na cama, eu não queria falar do passado. Não queria reviver cada momento horrível, cada marca que ele deixou, cada palavra cruel. O que aconteceu ficou no passado - não esquecido, nunca esquecido, mas passado. E quanto ao futuro, eu não devia apressar as coisas, não devia criar expectativas ou promessas vazias.
Eu sabia que Luke me devia um pedido de desculpas real, um pedido de perdão de verdade. E talvez só faltasse essa conversa para que a gente seguisse em frente - juntos ou separados, mas em paz. Não tinha planos de reatar o namoro com Luke, pelo menos não ali naquele momento, deitado nu ao lado dele numa cama que ainda cheirava a sexo. Mas eu sabia, no fundo, que o perdão e dar uma segunda chance eram atitudes maduras. E acima de tudo, eu devia a mim mesmo ouvir Luke. A gente tinha essa conversa pendente há muito tempo, e por mais que eu tivesse fugido dela, apagado áudios, deletado conversas, bloqueado contatos - ainda assim a gente precisava ter.
Perdoar não é sobre a pessoa que te machucou merecer ou não. É sobre você escolher não carregar mais aquele peso. É sobre decidir que aquela dor não vai mais definir quem você é. Não significa esquecer, não significa que está tudo bem, não significa que você vai confiar de novo. Significa apenas que você escolhe paz em vez de guerra.
E talvez, só talvez, eu estivesse pronto para escolher paz.
Luke acordou quando o sol já estava alto, invadindo o quarto pelas cortinas finas. Ele se espreguiçou com aquele movimento preguiçoso de quem dormiu bem, e então me olhou. Havia um mistério naquele olhar, uma incerteza, como se ele também não soubesse direito o que dizer, como proceder, o que esperava daquele momento.
Decidi quebrar o gelo antes que o silêncio ficasse pesado demais:
— Bom dia. Dormiu bem? — falei tentando soar casual, mas minha voz saiu mais tensa do que pretendia.
— Sim, sim — ele respondeu, passando a mão pelos cabelos bagunçados — acho que bebemos demais ontem, né?
— Um pouco — concordei, dando um cheiro no pescoço dele, sentindo aquele perfume misturado com suor que sempre me deixava zonzo — mas foi bom.
— Lucas... — ele se sentou na cama, de repente mais sério — acho que precisamos conversar.
— Sobre o quê? — perguntei, embora soubesse exatamente sobre o quê — sobre o que você fez no passado? Sobre ontem?
— Sobre tudo — ele disse, se virando completamente para mim — acho que eu te devo uma explicação sobre aquele dia. Sobre meu ataque de fúria, de ciúmes. Não é mesmo?
— Eu tentei falar com você depois — continuou antes que eu pudesse responder — mas você me ignorou completamente.
— Claro que ignorei — respondi, sentindo a raiva antiga começar a ferver — eu estava traumatizado, Luke. Não queria ver você nem pintado de ouro.
— Eu sei. E você tinha todo direito — ele respirou fundo, preparando-se — bom, tudo bem. Vamos lá então. Eu sei que eu errei. Sei que "errar" é uma palavra fraca demais para o que fiz. Naquela época, eu achava que estava bem com meu tratamento. Achava que tinha tudo sob controle, sabe?
Ele pausou, escolhendo as palavras cuidadosamente:
— A minha felicidade toda estava atrelada a estar com você. Então eu fiz uma burrice gigantesca - parei com os medicamentos, parei a terapia. Achei que o amor era suficiente, que estar com você era remédio suficiente. A gente tinha voltado, estávamos vivendo algo novo, algo bom. E eu... eu me desequilibrei completamente.
A voz dele começou a tremer:
— Eu surtei quando vi as mensagens do Viny. E não queria te perder, mas fiz absolutamente tudo para garantir que te perdesse. Eu sei que fui um monstro, sei das coisas horríveis que fiz e falei, como te tratei que nem lixo. Foi um surto como eu nunca tive em toda minha vida. Foi raiva, foi medo, foi ciúme, foi insegurança - foram todas as coisas ruins reunidas em mim ao mesmo tempo, explodindo como uma bomba.
Lágrimas começaram a escorrer pelo rosto dele:
— E isso não tem perdão, Lucas. Não tem desculpa, não tem justificativa. Eu sei que se fosse ao contrário, jamais iria perdoar se você tivesse feito comigo o que fiz com você. E eu fiquei muito mal depois de tudo isso. Muito mal mesmo. Eu quis morrer, quis sumir, porque sabia que você jamais iria me olhar novamente. Tinha jogado fora toda nossa história, e isso me doeu mais do que qualquer coisa.
Ele limpou as lágrimas mas novas continuavam caindo:
— Porque você tinha razão em me odiar. E sempre vai ter razão quando se trata daquele episódio. Eu não quero seu perdão - não acho que mereço. Não quero que você esqueça, porque sei que é algo impossível de esquecer. Mas quero te falar que eu mudei. Fui para outros médicos, melhores. E hoje estou tomando um remédio novo, Vensanse, que me ajuda muito a me manter equilibrado, focado, com bom humor. E também estou trabalhando bastante na terapia. Duas vezes por semana, sem faltar nunca.
Ele me olhou diretamente:
— Eu estou bem, Lucas. Estou cada vez melhor, sem indícios de possíveis surtos. Sei que a gente ficou ontem, a gente transou, foi bom. E não tô preocupado com rótulos ou futuro agora. Mas se acontecer, se eu tiver seu perdão, saiba que hoje eu sou um novo homem. Um novo Luke.
Fiquei em silêncio por um longo momento, processando tudo que ele disse. Depois respirei fundo:
— Luke, sinceramente, acho que é como você disse. É algo que passou. Não tem perdão que apague, não tem palavras que mudem o que já foi feito. Acho que o melhor é a gente não tocar no assunto, sabe? Deixar quieto, enterrado.
Pausei, organizando meus pensamentos:
— Eu gosto de você, não vou mentir. Tive e talvez ainda tenha muita raiva de tudo o que aconteceu. Mas ficar remoendo não adianta. Sei lá, eu gosto de você e não sei o que vai ser do nosso futuro. Ontem foi bom, foi legal. Mas é tudo muito complicado. Acho que a gente tem que deixar as coisas acontecerem naturalmente, sem forçar, sem criar expectativas. Sem mágoas, certo?
— Tudo bem — ele concordou, um leve sorriso aparecendo — sem mágoas. Até porque você não fez nada de errado dessa vez — piscou o olho para mim com aquela malícia característica.
— Dessa vez? — arqueei a sobrancelha — então quer dizer que das outras eu fiz?
— Claro que fez — ele riu — mas enfim, sem mágoas e sem passado, ok? Vamos focar no agora.
E ali, naquele quarto bagunçado da casa de praia, com o som do mar entrando pela janela e nossos corpos ainda marcados pela noite anterior, minha paz com Luke foi selada. Sem mágoas, sem passado - pelo menos não um passado que a gente ficasse revirando toda hora.
Quanto ao nosso futuro, eu realmente não sabia. Não queria pensar, não queria planejar, não queria criar castelos que poderiam desmoronar. Mas Luke sempre ia ter um lugar no meu coração, na minha vida, na minha história. Talvez fosse que nem aquela música do Sorriso Maroto que ele cantou ontem dançando - ele seria para sempre meu primeiro namorado. O primeiro amor verdadeiro. Aquele que, não importa quantos outros venham depois, sempre vai ter um lugar especial guardado.
E talvez, apenas talvez, merecesse uma segunda chance de fazer dar certo.