A Corrupção 9 - A iniciação de Eduarda

Da série A corrupção
Um conto erótico de J.M.Calvino
Categoria: Heterossexual
Contém 6427 palavras
Data: 19/10/2025 03:10:27
Última revisão: 19/10/2025 03:12:51

CAPÍTULO 8 - A INICIAÇÃO DE EDUARDA

Baseado em fatos reais.

Aviso: Alguns personagens acreditaram poder negociar com o inferno — e, por um tempo, pareceram vencer.

Mas o preço cobrado por forças demoníacas nunca é o que se promete, e ninguém sai ileso de um pacto com o abismo.

Este livro não busca glorificar o mal, mas advertir: quem chama pelas trevas, cedo ou tarde, será atendido.

Se sentir algo estranho ao virar estas páginas — reze.

***

O céu da cidade brilhava com um azul profundo e estático, recortado apenas pelas fitas de neon que dançavam entre os prédios. A cobertura que Desiriel a tinha levado erguia-se acima desse cenário, abrigando um jardim suspenso e uma varanda que se projetava sobre o abismo de concreto e vidro. Lanternas japonesas antigas pendiam de fios pretos, lançando luz âmbar sobre mesas de vidro escovado e almofadas escarlates.

Eduarda hesitou diante do hall do elevador com detalhes forjados em ferro preto. O vestido vermelho colava-se ao seu corpo como se fosse uma segunda pele, expondo suas costas nuas e a tatuagem de dragão que subia, triunfante, da coxa ao abdômen. Seus saltos batiam ritmados no piso de granito, cada passo reverberando entre as colunas do hall privativo do elevador.

Desiriel a esperava encostado à porta, cigarro aceso nos dedos. Sua camisa preta exibia o peito musculoso entreaberto, e uma pulseira de couro com rebites envolvia o pulso esquerdo. Ele a cumprimentou com um sorriso enviesado, quase tímido, as pálpebras pesadas escondendo um brilho faminto.

— Chegou cedo, princesa — murmurou ele, soltando uma nuvem de fumaça em sua direção.

Eduarda tentou sorrir, mas tudo em seu corpo parecia vibrar em outro tom, como se a pele formigasse com o contato do ar úmido e das luzes sensuais — Você mandou mensagem dizendo que precisava conversar — respondeu ela, a voz tropeçando entre sílabas — Achei melhor vir logo.

Ele apagou o cigarro no próprio braço, nem sequer franzindo o cenho, e a puxou delicadamente pelo cotovelo. O calor de sua mão era quase indecente.

Vem, vou te mostrar o melhor lugar da casa — disse ele, guiando-a varanda adentro.

O terraço estava decorado para um pequeno ritual pagão: incensos exalavam um cheiro doce de sangue e canela, as mesas estavam repletas de taças de cristal e garrafas de bebidas exóticas. O fundo era preenchido por um chillwave etéreo, apenas ruído suficiente para preencher os silêncios. Duas figuras estavam à espreita junto ao parapeito envidraçado.

Marcelo era o primeiro — alto, ombros largos, barba aparada com precisão. Trazia uma camisa branca de linho aberta até o peito, deixando à mostra os antebraços tatuados com serpentes, olhos e palavras em latim. Um piercing brilhava no septo, mas era o sorriso canino que mais marcava sua presença. Quando Eduarda se aproximou, ele ergueu a taça num brinde informal.

— Essa é a famosa Eduarda? — perguntou ele, a voz grave mas doce como chocolate amargo.

Desiriel enlaçou a cintura dela num gesto de posse — A própria. Mas cuidado, Marcelo, ela morde.

— Ótimo. Prefiro assim — O engenheiro apenas riu, um som áspero e musical

Ao lado dele, Ana reluzia feito lâmina. Seu cabelo prateado caía reto até a cintura, e as unhas eram pintadas com um esmalte preto que parecia sugar a luz ambiente. Vestia um macacão de couro justo, acentuando curvas quase impossíveis. Um colar de pentagrama decorava o colo pálido.

— Não vai me apresentar? — indagou ela, arqueando uma sobrancelha. Sua voz era um assobio felino.

Desiriel largou o cigarro em um cinzeiro de prata e fez as honras — Essa é Ana. Moda, luxo e escândalo — Voltou-se a Eduarda, roçando os dedos pelas costas nuas dela — E Ana, essa é a garota que te prometi.

Ana sorriu com puro veneno nos lábios, mas tomou a mão de Eduarda com uma gentileza inesperada, os dedos frios, o toque lingerando — Adorei o vestido. Mas ficaria ainda melhor se fosse transparente.

Eduarda corou — não do insulto, mas do convite embutido nas palavras. Ela se perguntou se era sempre assim, se todas as festas de Desiriel tinham esse gosto de indecência desde o início.

— Vocês querem beber algo? — Marcelo ofereceu, já escorregando uma taça de vinho na direção dela — Tem de tudo aqui. Vodka com pimenta, tequila, vinho orgânico… ou sangue de virgem, se preferir.

O riso foi compartilhado, mas Eduarda sentiu que por trás da brincadeira algo era mais real do que todos gostariam de admitir.

Ela aceitou o vinho, sentindo o líquido robusto e apimentado descer queimando. Ana não desgrudava os olhos dela, e Eduarda, mesmo desconfortável, sentia-se inflando — a presença dos outros a fazia se sentir mais forte, mais desejada, menos vulnerável.

Desiriel encostou-se ao parapeito atrás dela, os braços em volta de sua cintura, e sussurrou ao ouvido:

— Queria você aqui hoje. Só você. Preciso de você pra algo especial.

O modo como ele disse isso fez com que Eduarda esquecesse as palavras de alerta de seu pai, as ameaças veladas de sua mãe, e até as promessas que fizera a Mariane de “não se meter em confusão”. Naquele instante, tudo parecia uma piada distante.

Ana interveio, tocando levemente o ombro de Eduarda — Vamos entrar? O resto da turma tá chegando, e você precisa conhecer o Malphas.

— Quem? — perguntou Eduarda, sentindo um calafrio que subiu da espinha até o topo da nuca.

— Malphas — repetiu Ana, os olhos faiscando — O anfitrião verdadeiro. O cara por trás de tudo isso. Dizem que é o líder de uma seita… mas pra mim, ele só sabe dar festas fodidas.

Marcelo gargalhou — Seita? É só um bando de adultos ricos brincando de culto secreto.

Mas até mesmo ele parecia desconcertado quando o nome era pronunciado.

Eduarda deu mais um gole no vinho, dessa vez com menos hesitação. Desiriel, percebendo o nervosismo dela, a puxou para si, afagando seus cabelos.

— Ninguém vai te fazer mal aqui — ele prometeu — Aliás, apostam mais em você do que em mim.

O toque dele era hipnótico. Com um aceno rápido, Marcelo abriu a porta de vidro para o interior da cobertura.

O corredor que levava à sala principal era forrado de tapetes persas, e as paredes ostentavam quadros expressionistas, todos em preto, vermelho e dourado. O aroma de flores mortas se misturava ao cheiro de incenso e álcool, criando uma atmosfera suspensa entre o sagrado e o profano.

Pelo caminho, casais se esbarravam — uma mulher de cabelos azuis e vestido de vinil trocava beijos com uma advogada de terno branco; dois garotos de suspensórios e olhos maquiados sussurravam segredos em tom quase lascivo. Ninguém parecia se importar com rótulos ou regras.

Na sala, um grupo maior já se formava em torno de uma lareira digital.

Havia uma estética peculiar naquele bacanal. Na penumbra avermelhada do salão, corpos reluziam com suor e gel, moldados não apenas pela genética ou acúmulo de prazeres, mas por bisturis, seringas e cicatrizes ocultas de intervenções estéticas. Os seios das mulheres siliconadas pareciam globos de vidro polido, sempre rijos, projetados a desafiar qualquer gravidade natural. Bocarras infladas por preenchimentos se abriam famintas, escancaradas para sugar, mamar, morder qualquer carne exposta. Cabelos recém-lamidos de escova e alisamentos; cílios tão longos que quando fechavam os olhos era como persianas descendo sobre o mistério do gozo.

Nada ali era inteiramente natural, nem mesmo o desejo. Ele era manufaturado, cultivado, reforçado por substâncias, circulando em sintonia com as batidas abafadas de uma música eletrônica que punha o coração das mulheres e dos homens no mesmo ritmo brutal.

Eduarda reconheceu uma das personal trainers do Instagram, famosa por vídeos de agachamento, agora ajoelhada junto a duas outras mulheres igualmente saradas, todas ocupadas num varal humano de pênis eretos. A moça alternava mamadas rápidas, quase esportivas, como se processasse cada pau em série para completar um circuito obceno. À direita, uma senhora que Eduarda jurava ter visto no último chá beneficente da Igreja segurava, com mãos delicadas de manicure francesa, dois jovens claramente universitários; ela os tocava com a serenidade de quem amassa pão, enquanto revezava a boca entre as pontas róseas e pulsantes.

A orgia culminava nos detalhes aparentemente irrelevantes: os anéis de compromisso deixados propositalmente à mostra, as meias sociais engatadas até metade da perna de um secretário do município que Eduarda reconheceu de um panfleto eleitoral. Quase não acreditou quando viu, na rodinha central, um conhecido velho juiz de direito, Geremias Hawson, em plena cavalgada com uma das garota que poderia ser sua neta, ambas as mãos ocupadas em segurar os quadris ossudos dela.

O que mais fascinava era a plasticidade absoluta das fronteiras: avôs com netas, mães e filhas em duplas ou trios. Tudo era permitido, tudo era incentivado — e ninguém ali parecia sequer fingir consentimento ou usar qualquer verniz de romantismo; o máximo mimo era um tapa na bunda ou um puxão de cabelo que atravessava gerações. Um jogador negro que era promessa do futebol era penetrado analmente por uma pequena garota trâns de cabelos loiros e encaracolados, a qual por sua vezera penetrada por uma outra garota que estava vestida no estilo townboy com muito laque prendendo seus cabelos. Ela uma influenciado conhecida por ser uma diácona de uma grande igreja neopetencostal e de estar a frente de um grupo que sempre ia evangelizar na África.

No extremo oposto da sala, uma MILF de quarenta e poucos, de seios grandes e exuberantes, alimentava dois homens que, pelo formato do nariz, podiam perfeitamente ser pai e filho. Os dois se revezavam em sugar os mamilos imensos enquanto ela, com mãos treinadas, masturbava ambos em sincronia, os três olhando para uma câmera profissional que registrava a cena para posteridade.

No centro, uma poltrona de couro branco ocupada por um homem de perfil aristocrático. Sua pele era branca como leite, e os cabelos, lisos e pretos, caíam sobre os ombros como um véu de tinta. Nos dedos, anéis de prata antigos. Os olhos, dourados, piscavam com uma malícia quase inumana.

Ana se curvou teatralmente diante dele — Mestre, trouxemos a convidada de honra.

O homem se levantou com a graça de um gato, aproximando-se de Eduarda. Seus olhos percorreram todo o corpo dela, lingerando na tatuagem do dragão, nas orelhas cravejadas de piercings, e finalmente no rosto — ainda marcado pela inocência, mas já deformado pelo desejo.

— Você é ainda mais bela do que disseram — falou ele, com uma voz tão macia que parecia uma ameaça sussurrada — Desiriel tem bom gosto.

Eduarda engoliu seco, tentando lembrar como se respirava.

— Sou Malphas — ele disse, inclinando-se para beijar a mão dela — Espero que aprecie o que preparamos para você esta noite.

— É só uma festa, certo? — tentou Eduarda, tentando se convencer mais do que a ele.

Malphas sorriu, expondo dentes perfeitos e levemente afiados — Claro. Apenas uma festa. Nada além do ordinário.

Mas seus olhos brilhavam como se soubessem de algo que ela ainda não imaginava.

Desiriel ficou ao lado dela, agora quase reverente. Os convidados se sentaram em almofadas dispostas em círculo; taças passaram de mão em mão, sussuros se misturaram ao zunido do som ambiente. Por alguns minutos, Eduarda relaxou, sentindo-se apenas mais uma entre pessoas estranhas — mas igualmente quebradas ou exiladas da normalidade.

—Mais tarde, Malphas vai querer te mostrar algo — Foi Ana quem voltou a encostar nela, sussurrando — Não precisa ter medo. O máximo que pode acontecer é você descobrir um novo lado seu.

Eduarda olhou para o fundo de sua taça, pensando se aquela noite seria o início de algo, ou apenas mais uma loucura para se arrepender depois. Mas quando Desiriel a apertou de leve contra o peito, ela sentiu a vontade de se jogar — não da varanda, mas no abismo de sensações que a festa prometia.

O tempo se diluiu em goles de vinho e conversas duplas. Marcelo a fez rir com histórias absurdas de projetos urbanos clandestinos, enquanto Ana mordiscava suas palavras ao contar dos bastidores do mundo da moda — orgias, chantagens, mulheres poderosas consumindo outras mulheres. O que mais a espantava era a naturalidade: ninguém ali tentava esconder suas perversões ou desejos, pelo contrário, celebravam-nos como medalhas de guerra.

Quando o relógio de prata bateu onze vezes, Malphas se levantou novamente. Seu gesto era sutil, mas todos entenderam: a verdadeira noite começava ali.

Ele ergueu uma taça preta de cristal, aguardando silêncio.

— Quero brindar à nossa convidada, Eduarda. À coragem dela, à sua beleza, e ao poder que reside em se reinventar.

O brinde foi acompanhado de aplausos e olhares — alguns de admiração, outros de pura lascívia. Eduarda sentiu cada um deles queimando sua pele, como se já estivesse despida ali mesmo.

Malphas continuou: — Que esta noite marque uma nova era. Que possamos todos sair daqui transformados.

Ao comando do anfitrião, as luzes foram atenuadas, as músicas trocaram para batidas mais graves, quase tribais. Desiriel segurou a mão de Eduarda, seu toque mais firme, mais urgente.

— Vem comigo — sussurrou ele, e a conduziu para uma área mais escura da sala, longe dos olhares imediatos.

O corredor era menos iluminado, quase clandestino. Desiriel parou Eduarda junto a uma janela, fitando-a nos olhos.

— Você tá bem? — perguntou, a voz menos segura do que o usual.

Eduarda assentiu, mas as palavras lhe fugiam. O cheiro de incenso, o vinho, e o toque dos outros ainda rodopiavam em sua mente.

— Eu não sabia que ia ser tão… intenso — confessou ela.

Desiriel sorriu, mas havia carinho em seu sorriso. Ele tirou uma mecha do cabelo dela do rosto, e beijou sua testa, quase reverente.

— Você é diferente de todas — disse ele — Por isso quero você comigo hoje. Quero mostrar que pode ter tudo. Pode ser tudo.

A frase ficou vibrando no ar entre eles.

Antes que pudesse responder, a porta no fim do corredor se abriu, e Ana apareceu, acompanhada de Marcelo. A stylist segurava uma caixa preta nas mãos.

— O mestre pediu para prepararmos você — anunciou ela, olhos brilhando — É tradição.

Eduarda olhou para Desiriel, esperando algum protesto, mas ele apenas assentiu.

— Confia em mim — murmurou ele — Vai gostar.

Ana se aproximou, puxando Eduarda para uma sala de paredes espelhadas e um divã no centro. Lá dentro, a luz era azulada, gelada. Ana abriu a caixa, revelando máscaras de cetim, um decote vermelho e um frasco de perfume.

— Veste isso — ordenou ela, entregando a máscara e o decote — É parte da cerimônia. Quando terminar, Desiriel vai te levar até o mestre.

Eduarda pegou a máscara com dedos trêmulos, mas ao sentir o tecido macio em sua pele, sentiu uma onda de poder: ali, atrás da máscara, poderia ser qualquer coisa, até mesmo quem nunca ousou ser.

Quando saiu da sala, Eduarda caminhou entre os convidados com passos vacilantes, mas cada olhar de desejo a deixava mais forte, mais viva. O decote expondo os seios, a máscara escondendo tudo o que era inseguro.

Desiriel aguardava na porta do salão, e quando a viu, mordeu o lábio inferior, os olhos negros iluminando o resto da noite.

— Você é uma deusa — sussurrou ele, a mão deslizando de leve pelo quadril dela.

Os outros convidados formavam um corredor, olhando-a como se ela fosse um sacrifício — ou uma rainha — pronta para ser coroada.

No fim do corredor, Malphas aguardava, um sorriso cruel e belo nos lábios. Ele estendeu a mão, e Eduarda não hesitou: pegou-a, sentindo a corrente elétrica percorrer seu corpo.

Por um segundo, ela pensou em Mariane, em Helena, no pai… e percebeu que nenhuma daquelas vidas importava ali, naquela noite.

Ali, era só desejo, poder e a promessa de transformação.

A porta se fechou atrás deles, selando o início do que seria a noite mais insana de sua vida.

A sala de estar era um zoológico de texturas — cortinas de veludo preto, tapetes orientais de padrão psicodélico, poltronas cravejadas de cristais e um sofá branco tão macio que afundava a alma. O teto refletia a luz das velas em prismas dourados, e as paredes ostentavam quadros abstratos, alguns tão ousados que pareciam corpos entrelaçados em orgasmo ou ruínas de igrejas após incêndios.

O cheiro do incenso se misturava ao de vinho e frutas cortadas, criando uma atmosfera de sonho, ou de emboscada. Eduarda entrou de braços dados com Malphas, sentindo o olhar de todos grudado nela — especialmente por estar de máscara e com os seios quase à mostra. O rubor era inútil; era impossível se encolher ali. Ao contrário, percebeu que quanto mais expunha a pele, mais os outros recuavam em respeito, como se a nudez fosse armadura.

Marcelo apareceu com uma taça de vinho do Porto quase negra.

— Bebe — ofereceu — ajuda a acalmar o coração — O olhar dele era felino, mas sincero, e Eduarda aceitou. O vinho era denso, quase amargo, e fez seu peito arder.

Ana deslizou ao lado dela, os cabelos prateados encostando de leve em seu ombro nu — Você tem uma aura deliciosa, sabia?. sussurrou, os olhos brilhando no escuro — Muitas mulheres vêm aqui para fugir de si mesmas. Você parece que veio pra se encontrar.

Eduarda sorriu, mas a frase ecoou fundo. Ela de fato não sabia o que buscava ali — talvez só sentir alguma coisa que não fosse remorso ou solidão.

Enquanto conversavam, Ana fez um movimento sutil: pegou um dos colares de taças e, com uma destreza quase invisível, pendurou um pingente de pentagrama no pescoço de Eduarda. — É tradição — disse — protege dos olhares ruins — O metal tocou a pele quente dela, provocando arrepios.

Marcelo, sempre atento, brincou: — Aqui celebramos a liberdade, de todas as formas — E deixou as palavras flutuarem, abertas como portas destrancadas.

A conversa girava em torno de banalidades — viagens, arte, escândalos — mas frases crípticas surgiam como armadilhas — Você já foi iniciada? — perguntou Ana, servindo morangos em uma bandeja — Dizem que a primeira vez é sempre a mais marcante.

Eduarda riu, nervosa, e Ana respondeu com um olhar de entendimento, como se soubesse todos os segredos que ela tentava esconder atrás da máscara.

Malphas se sentou na ponta do sofá, as pernas cruzadas com elegância. Observava todos com um ar de xadrezista, mas quando falava com Eduarda, havia uma ternura quase paterna.

— Gostou da máscara? — perguntou ele — Serve para lembrar que aqui ninguém é obrigado a ser quem é lá fora.

— É bonita — respondeu ela, surpresa com a própria sinceridade — Mas estranhamente confortável.

— Assim são as melhores máscaras — Malphas disse, piscando.

Os minutos evaporaram em goles de vinho e risadas — cada vez mais leves, mais soltas, mais carregadas de promessas. Em um momento, Ana tirou um pequeno frasco de perfume da bolsa e borrifou atrás das orelhas de Eduarda, massageando de leve a nuca dela.

— Esse cheiro é afrodisíaco — confidenciou — As pessoas não resistem quando sentem.

Eduarda sentiu o aroma floral, mas picante, invadir sua cabeça, e tudo pareceu mais nítido: os dedos de Ana roçando seu pescoço, o calor da sala, os olhos de Desiriel a vigiando da outra ponta. Ele não sorria, apenas mordia o lábio com um orgulho possessivo.

Marcelo sentou-se ao lado delas e colocou a mão no joelho de Eduarda. Era só um gesto trivial — mas não era. — Você confia em nós? — sussurrou, bem rente ao ouvido dela.

Ela hesitou. Mas ali, com o corpo já vibrando de expectativa, só conseguia sentir o desejo de dizer sim um fraco… Confio…

Ana então tirou do bolso um lenço de seda preto e dobrou-o com cuidado — Podemos te mostrar uma coisa? — perguntou, a voz doce, mas carregada de algo elétrico.

Eduarda olhou para Marcelo, para Ana, para Desiriel — todos a observavam, mas não havia medo. Só fome de futuro, de algo que nunca viveu.

— Pode — respondeu, o coração martelando.

Ana sorriu largo, como se tivesse vencido um desafio íntimo. — Então fecha os olhos — E amarrou o lenço sobre eles, ajustando para não machucar nem borrar a maquiagem.

O mundo virou cheiro, som, tato. Marcelo segurou a mão dela, guiando seus passos macios pelo tapete, enquanto Ana sussurrava palavras em latim que Ecoava como encantamento.

A cada passo, o medo diminuía e a curiosidade se inflava. Havia risos, sinos, o zumbido do vinho, e o perfume de corpos próximos. Alguém tocou de leve sua cintura — talvez Ana, talvez outra pessoa — mas era um toque de convite, não de ameaça.

Quando pararam, Eduarda sentiu um vento frio na pele, como se estivessem em um espaço maior, talvez outro salão ou um porão. Ela ouviu vozes — desta vez mais graves, mais sérias — e passos ecoando no piso de pedra;

— Estamos aqui — murmurou Marcelo, apertando sua mão — Confia?

— Sim.

O lenço foi removido, e Eduarda piscou, ajustando-se à luz tênue. Estava em uma sala circular, cujas paredes eram cobertas de veludo azul e símbolos dourados. No centro, um círculo desenhado no chão, com velas acesas em pontos cardeais.

Malphas aguardava, trajando agora um manto de cetim negro, olhos ainda mais brilhantes. Ao redor, convidados em silêncio, alguns de máscara, outros nus, todos atentos. O ar vibrava com a mesma energia que precede a tempestade.

Ana soltou a mão de Eduarda e sussurrou: “Agora, só deixa acontecer.”

O coração de Eduarda quase explodiu — de medo, de tesão, de saber que não haveria volta dali. Ela ficou, mesmo assim, no centro do círculo, à espera do que viesse.

E, curiosamente, nunca se sentiu tão viva.

A descida pela escada em caracol era vertiginosa. Os degraus, de mármore negro, absorviam todo som exceto o farfalhar dos mantos e o ocasional suspiro ansioso. O corrimão de ferro era frio, úmido, como se o próprio ar ali não tivesse permissão de se aquecer.

Desiriel conduziu Eduarda, firme e solene, enquanto atrás deles Ana e Marcelo seguiam em silêncio. Na base da escada, um corredor de veludo preto levava a uma porta pesada. Ao abri-la, um vento de velas acesas e incenso denso engoliu Eduarda, fazendo com que todo o resto do mundo se dissolvesse em fumaça e escuridão.

O salão subterrâneo era circular, as paredes revestidas de mármore esculpido com cruzes invertidas e símbolos arcanos. Luminárias em forma de crânios projetavam sombras delirantes no teto abobadado. O centro do cômodo era dominado por um altar de pedra, cravejado de quartzo, com uma toalha de veludo vermelho jogada por cima. Ali, Malphas aguardava — agora com ares de sumo sacerdote, envolto num manto negro cintilante, os cabelos presos por um aro de prata. Seus olhos queimavam em âmbar incandescente, e sua pele parecia translúcida sob a luz trêmula.

À frente do altar, uma almofada de veludo roxo sustentava um punhal de obsidiana, cuja lâmina absorvia todas as luzes e promessas da sala.

Desiriel parou Eduarda no círculo de velas ao redor do altar e recuou, deixando-a sozinha sob o olhar de dezenas de rostos, alguns ocultos por máscaras, outros nus em sua própria estranheza. O clima era denso — e não apenas de cheiro: era uma eletricidade entre as peles, uma corrente que exigia continuação.

Malphas se aproximou com passos silenciosos, as mãos ocultas sob o manto. Ele se curvou, primeiro num gesto de reverência à Eduarda, depois numa espécie de inspeção cerimonial.

— Eduarda — entoou ele, a voz ressoando como sino noturno — Você atravessou as barreiras do medo e do desejo. Agora está no limiar do poder. Sabe o que isso significa?

Ela balançou a cabeça, sem conseguir tirar os olhos dos dele.

— Significa que todos os que estão aqui abrem mão de seu eu antigo. Aqui, renascem. Aqui, tornam-se instrumentos de uma força que pulsa além da carne.

Malphas estendeu a mão direita, a manga caindo e revelando veias azuladas e anéis de prata em cada dedo. Em sua palma, uma gota de sangue — não se sabia se era dele ou de outra fonte.

Ele a levou até a face de Eduarda, desenhando uma linha rubra sobre o arco da sobrancelha. O toque era gelado e fez sua pele estremecer.

— Você aceita o dom? — perguntou ele, baixo o suficiente para só ela ouvir.

Eduarda queria dizer não — mas em vez disso, sentiu o corpo inteiro desejar o oposto — Sim — respondeu, sem hesitar.

O salão reverberou com um sussurro coletivo: vozes de homens e mulheres entoando frases em línguas mortas, preces que mais pareciam ameaças. Eduarda sentiu-se no centro de um furacão.

Malphas então inclinou-se, pegou o punhal e ergueu-o ao alto. A luz das velas dançou na lâmina, projetando reflexos de obsidianas na parede. Ele depositou o punhal sobre a almofada aos pés de Eduarda, depois tirou do bolso uma rosa seca e a despedaçou sobre o altar. Os fragmentos de pétalas caíram em círculo perfeito.

— Venha — ordenou ele, apontando para o degrau do altar.

Eduarda obedeceu, os passos ecoando, cada vez mais leves à medida que se aproximava do núcleo do círculo. Quando chegou ao topo, Malphas segurou suas mãos, uma em cada lado, e pressionou-as sobre o altar frio.

— Repita — instruiu ele — Eu abandono minha carne e meu passado.

A voz de Eduarda tremeu, mas saiu clara: — Eu abandono minha carne e meu passado.

Os sussurros dos convidados ganharam volume, formando um mantra que parecia rasgar a cabeça dela por dentro.

Malphas olhou fundo nos olhos de Eduarda — Receba o nome que escolheu para si.

Por um instante, o tempo parou — e ela sentiu que poderia escolher qualquer coisa. Mas, de algum modo, — Corrupção — foi a palavra que pulsou no fundo da língua, como se sempre tivesse sido sua.

— A corrupçãp — repetiu Malphas, um sorriso fantasmagórico nos lábios — Então que seja. Você será nossa Corruptora e a chama da transformação neste ciclo.

O salão explodiu em aplausos, mas não eram palmas: eram as vozes, cada vez mais altas, mais insanas. Eduarda sentiu uma onda de calor subir pelas pernas, inundando o ventre. A respiração ficou rápida; o coração, selvagem.

Malphas colocou as mãos nos ombros dela e pressionou até que Eduarda ficasse de joelhos sobre o veludo.

Ele tomou o punhal, ergueu-o novamente e, com precisão cirúrgica, fez um pequeno corte no próprio dedo. O sangue pingou, uma, duas, três gotas sobre a testa de Eduarda, escorrendo entre seus olhos.

— Está feito — proclamou ele, voz ecoando em todas as paredes.

No fundo do salão, Ana e Marcelo se entreolhavam, visivelmente excitados com a intensidade do rito. Desiriel mordia o lábio, cada músculo tenso, como se esperasse um sinal para se lançar sobre Eduarda.

O corpo dela tremeu, não de dor, mas de energia pura: sentia-se cheia, quase pronta para explodir. O perfume do sangue, das rosas mortas e do incenso misturavam-se a um cheiro animal, de cio coletivo.

Malphas voltou ao altar, recolheu o punhal, e, de modo solene, entregou-o a Eduarda — Você está pronta para conduzir seu próprio destino.

O círculo de velas parecia girar. Os outros convidados se levantaram em uníssono, baixando as máscaras. A maioria tinha olhos embriagados de tesão, outros choravam em silêncio, como se fossem tocados por algo que estava além do desejo.

Eduarda olhou para a lâmina de obsidiana nas mãos, sentiu-a vibrar. E ali, ajoelhada e ensopada de sangue alheio, entendeu: não era mais uma garota tentando se encontrar. Era a dona do ritual.

Malphas então disse, para todos ouvirem — Que comece a celebração.

E o salão explodiu em gritos, risos, beijos e toques. Os mantos caíram, as roupas foram rasgadas ou removidas com violência, e a sala virou um redemoinho de corpos que se atracavam sem hierarquia.

No altar, Eduarda — A Corrupção — era a protagonista, e todos a desejavam.

***

O círculo de velas tremulava como se fosse alimentado por um vento invisível. As chamas projetavam vultos gigantescos nas paredes de mármore, dançando com cada suspiro, gemido e riso que vibrava pela sala. Ao redor do altar, os convidados já haviam arrancado os mantos, expondo peles cravejadas de tatuagens, cicatrizes, músculos, curvas e todas as marcas possíveis de vidas dedicadas à intensidade.

Eduarda — ou Corrupção, como agora soava em sua cabeça — estava de joelhos no veludo, o peito arfando de excitação e medo. Ana foi a primeira a se aproximar, os cabelos prateados brilhando como uma coroa de relâmpagos. Ela se ajoelhou ao lado de Eduarda, retirou uma garrafa pequena do bolso do manto e despejou um pouco do óleo perfumado na palma da mão.

— Vai sentir calor, mas não dói — sussurrou, espalhando o óleo pelos ombros e pescoço de Eduarda. Seus dedos eram delicados, mas a pressão era firme, quase possessiva. Ana então traçou uma estrela no peito dela, bem acima do coração.

— Abre o peito pro desejo — murmurou.

Marcelo foi o próximo. Ajoelhado atrás, ele separou os cabelos dourados de Eduarda, começando a trançá-los. Os dedos habilidosos puxavam, apertavam, mas de modo sensual — o gesto era tão íntimo quanto uma penetração. Enquanto trançava, Marcelo sussurrava palavras de louvor — Linda, forte, nossa… Deixa o medo do lado de fora, Corrupção.”

Eduarda sentiu-se uma peça de arte sendo preparada para exposição. O calor das mãos de Ana, a tensão do couro cabeludo com a trança, o cheiro animal de corpos ao redor… tudo parecia parte de um mesmo feitiço.

Em volta, a orgia começava a ganhar contornos mais explícitos: mulheres se lambendo, homens se masturbando ao som dos sussurros, bocas e línguas explorando todas as possibilidades de prazer. Não havia pressa. Cada toque era estudado, cada aproximação uma oferenda.

Desiriel não tirava os olhos de Eduarda. O pau dele já estava duro, visível mesmo sob a sombra, mas ele se mantinha de pé, reverente, aguardando o sinal de Malphas.

O mestre finalmente se aproximou, o manto agora aberto, revelando um corpo magro, quase andrógino, coberto de símbolos ritualísticos tatuados a fogo. Ele se ajoelhou diante de Eduarda e segurou a mão dela entre as suas.

A ponta do punhal de obsidiana era gelada. Malphas pressionou-a contra a palma de Eduarda, com um movimento preciso — não um corte, mas uma incisão, quase um beijo de dor. Ela estremeceu, mas não recuou. O sangue escorreu lento, denso, pingando no altar.

— Agora é tua vez — disse ele, baixinho — Pode fazer o mesmo comigo, se quiser.

Eduarda sentiu uma onda de adrenalina e desejo. Pegou o punhal, estudando a lâmina negra, e então cortou levemente a palma de Malphas. O sangue dele era mais claro, quase rosado sob a luz das velas.

— Assim selamos — anunciou o mestre, erguendo ambas as mãos ensanguentadas.

A sala urrou, as vozes em uníssono: Selado! E então o espaço se dissolveu em carne, cheiro, gemidos e gritos.

Eduarda sentiu mãos múltiplas sobre si: Ana a puxou para um beijo molhado, a língua invadindo a boca com sabor de álcool e óleo. Marcelo a pegou por trás, mordendo o lóbulo da orelha, enquanto suas mãos apertavam os seios dela, brincando com os piercings até fazê-los latejar de prazer. O toque dos dois era simultaneamente cuidadoso e selvagem, como se soubessem exatamente até onde podiam ir antes que a pele dela explodisse de sensação.

Outros vieram. Línguas, dedos, paus eretos esfregando nas costas, nas coxas, nos lábios. Eduarda sentiu-se dissolver, mas, ao mesmo tempo, nunca tão consciente de si: cada gota de suor, cada arranhão, cada gemido arrancado de sua boca ecoava como música sacra.

Alguém — talvez Ana, talvez outra mulher — ajoelhou-se diante dela, abrindo as pernas e abocanhando a buceta recém-exposta com uma fome inédita. A língua deslizou, explorou, mergulhou fundo, tocando o piercing do clitóris e fazendo Eduarda perder o fôlego. Ela gritou, mas foi um grito de entrega, não de susto.

Marcelo então penetrou-a por trás, devagar no início, como se ensinasse o ritmo que o resto da noite deveria seguir. Cada estocada era um lembrete do novo poder de Eduarda, e do fato de que agora ela pertencia — e era pertencida — por todos naquela sala.

Malphas, observando, apenas sorria. Às vezes tocava a própria ferida, lambendo o sangue, como se absorvesse parte do êxtase dela.

O ritual progrediu em fases: primeiro o toque coletivo, depois a penetração, por fim a celebração. Eduarda foi erguida sobre o altar e, entre beijos e chupadas, gozos e unhas, sentiu-se explodir em orgasmo múltiplo, cada espasmo reverberando na sala.

A cada clímax, as velas pareciam tremer mais forte, como se consumissem a energia dos corpos. Eduarda já não sabia onde acabava seu suor e começava o dos outros; só sabia que cada sentido estava afiado ao extremo. Ana a abraçava e mordia, enquanto Marcelo a virava de bruços e a invadia com vigor renovado.

Outras mulheres vinham e se esfregavam nela, suas bocas alternando entre beijos e palavras indecentes: “Vadia linda… Gozando pra todo mundo ver… Isso, abre mais… deixa entrar…”

Eduarda absorveu tudo. Sentiu-se parte daquelas pessoas e, ao mesmo tempo, rainha do ritual. Até mesmo o corte na palma da mão latejava de um prazer estranho, misturando a dor ao gozo numa corrente elétrica.

Em um momento, Eduarda percebeu que Malphas a observava com um sorriso novo: não mais de poder, mas de respeito. Ele se aproximou, tirou uma gota do sangue da mão dela e desenhou o símbolo da estrela em sua testa.

— Agora, és nossa — disse, e beijou o símbolo, selando o pacto.

A noite avançou em ondas de sexo, suor e vinho. Os corpos se revezavam, misturando-se, transformando-se em constelações de desejo. Quando finalmente caíram, exaustos, um silêncio quase sagrado se instalou.

Eduarda respirava com dificuldade, o corpo dolorido mas leve, e olhou ao redor: as outras mulheres deitadas como deusas nuas, os homens desfalecidos e sorrindo. Ana a abraçou, envolvendo-a num cheiro de vitória.

— Você foi perfeita — disse ela, sussurrando no ouvido — Agora você é de verdade.

Eduarda sorriu, fechando os olhos, sentindo a estrela desenhada com sangue na testa. Por fim, era quem sempre quis ser.

***

O silêncio que sucedeu à orgia era quase sobrenatural. O ar estava saturado de cheiro de sêmen, suor e velas derretidas. As peles reluziam como se tivessem sido untadas com óleo santo. Eduarda ficou algum tempo deitada entre Ana e Marcelo, o corpo tremendo de prazer residual, a cabeça nadando num mar de vazio confortável.

O salão era agora um templo de corpos exaustos. Os iniciados cochilavam abraçados, alguns ainda trocando beijos e carícias preguiçosas, outros apenas rindo ou chorando baixinho, como se tivessem renascido depois de um parto coletivo.

Malphas, vestido novamente com o manto negro, cruzou o salão com passos de quem caminha sobre a própria sombra. Ele parou diante de Eduarda e estendeu uma mão fina, decorada com anéis que pareciam sugar luz do ambiente.

— Vem comigo — ordenou, a voz sem tom de ameaça, só certeza.

Eduarda levantou-se devagar, os músculos doloridos e deliciosamente fatigados. Ao passar pelo círculo de velas, sentiu cada olhar grudado em sua pele nua, e sorriu ao perceber que não havia vergonha — apenas desejo e respeito.

Malphas a guiou por um corredor estreito, os pés descalços pisando em tapetes surrados que abafavam qualquer som. No final, uma porta de madeira escura; ao ser aberta, revelou uma sala pequena, circular, quase monástica. No centro, um pedestal de pedra, e sobre ele, uma única vela preta, a chama alta e inabalável.

Nas paredes, símbolos gravados em baixo-relevo. Ali dentro, o tempo parecia suspenso, o ar mais frio, mais denso.

Malphas esperou até que Eduarda estivesse de pé diante do pedestal. Só então falou:

— Você sente? — perguntou, a voz baixíssima.

Ela assentiu, sentindo o sangue correr quente pela palma cortada.

— É a presença de Asmodeus — sussurrou ele — O demônio da luxúria. O patrono dos prazeres sem limites.

Malphas pegou a mão de Eduarda, examinando o corte ainda fresco. Seu toque era suave, quase maternal — Ele está em você agora. É seu condutor, seu aliado. Se souber abraçá-lo, não haverá nada que deseje e não possa tomar.

A ideia, em vez de assustar, despertou uma voracidade estranha em Eduarda. Sentiu o próprio corpo retesar, a ferida da palma latejar em sintonia com o baixo de um som invisível.

Malphas inclinou-se para a frente, os olhos dourados fixos nos dela.

— Mas tudo tem preço. O desejo alimenta, mas também consome. Asmodeus é abundância, mas também fome infinita. Você está pronta?

Eduarda sabia que não havia resposta certa. Mas a única que fazia sentido era “sim”.

Malphas ficou satisfeito. Ele se afastou por um momento, abrindo um compartimento secreto na parede. De lá, retirou uma taça de prata antiga, cujos relevos mostravam cenas de orgias e batalhas demoníacas. Ele encheu a taça com vinho escuro e espesso, misturando uma gota do sangue de Eduarda que colhera com um lenço de seda.

— Beba — ordenou, entregando a taça.

Eduarda sentiu o metal gelado na boca, o vinho queimando a língua com notas de canela, ferro e algo adocicado, quase como mel. Ela tomou um gole hesitante, mas logo o desejo de mais a fez esvaziar a taça de uma vez.

Malphas recitou palavras em uma língua desconhecida, o som reverberando nas paredes e dentro do crânio dela. À medida que ele falava, Eduarda sentiu o corte da palma formigar, espalhando uma energia quente por todo o corpo — não dor, mas um gozo elétrico, profundo, como se todos os orgasmos da noite se condensassem em um só ponto na base da espinha.

— Está feito — declarou Malphas, os olhos brilhando de satisfação — Você é uma portadora. Agora, leve o dom ao mundo. Seduza, corrompa, transforme.

O silêncio voltou, mas era outro tipo de silêncio: não mais ausência de som, e sim uma presença viva, sussurrando promessas e comandos dentro da cabeça de Eduarda. “Vá… Sua missão é destruir a igreja de seu pai… levar muitos ao pecado… se fazendo de falsa pregadora.

Ela olhou para a taça vazia, depois para a própria mão, onde o sangue se coagulara em um pequeno pentagrama escuro. Sentiu vontade de rir, de chorar, de foder de novo, tudo ao mesmo tempo.

Malphas tocou seu rosto com delicadeza. “Vá. Desfrute. A noite é tua.”

Eduarda saiu da sala, ainda nua, mas sem peso. Pelo contrário: sentia-se mais leve do que jamais sentira, o corpo vibrando em cada célula, como se fosse feito de puro desejo.

No salão principal, os outros já começavam a se levantar, vestindo-se devagar, retomando conversas sussurradas e olhares cúmplices. Ana correu até Eduarda, abraçando-a com força, lambendo de leve o sangue seco do corte.

— Você tá brilhando — disse, admirada.

Eduarda riu, um riso novo, limpo — Acho que agora sou mesmo.

Marcelo apareceu, o rosto ainda ruborizado, e beijou-a no ombro — Bem-vinda à família.

Por alguns instantes, Eduarda se permitiu apenas existir ali, no meio do grupo, sentindo o cheiro do vinho, dos corpos, do poder. Não era mais a menina da igreja. Era um bicho novo, perigoso, insaciável.

Quando a festa finalmente acabou, Desiriel acompanhou Eduarda até a varanda. Lá fora, o céu começava a clarear, e as luzes da cidade pareciam insignificantes diante do fogo que ardia nela.

Ele segurou o rosto dela entre as mãos, um gesto quase carinhoso.

— Você mudou tudo — sussurrou, tocando de leve a tatuagem do dragão — Agora não tem volta.

Eduarda olhou para ele, depois para o horizonte.

— Eu nunca quis voltar mesmo — respondeu.

E, de algum modo, ambos sabiam que o mundo nunca mais seria o mesmo.

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Para mulher virar a cabeça e se tornar uma Vagabunda bem puta, fogosa uma fudedeira!

MÀ Rainha Maria Padilha (Pomba Gira); Ao SÃO Cipriano; MÀ Maria Mulambo (Pomba Gira);

Ao Exu Duas Facas Musifim; Ao Exu Caveira; MÀ Arrepiada (Pomba Gira); MÀ Cigana Iris(em nome de todo povo cigano); MÀ Pomba Gira da Calunga (cemitério); MÀ Pomba Gira das Almas; MÀ IemanjÁ¡; MÀ Rosa Caveira(Pomba Gira); Ao Exu Marabó; MÀS DAS Almas. Bençãos e Salve 13

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vezes, em 7 sete dias seguidos, e vossos nomes serão também divulgados, e terão sempre minha gratidão, respeito e devoção, eu suplico me deem um sinal, agora. Que Assim seja, assim será, assim já¡ é.

Minhas Amadas 13 Entidades invocadas, tenho muito temor, amor, carinho, devoção e respeito por cada uma de vocês, me atendam vos suplico!! Sei que dominam tudo e a todos transformando qualquer pessoa em PUTA, VAGABUNDA, INFIÉL, FOGOSA e FUDEDEIRA!! Que assim seja, assim será, assim já é, pelo poder das 13 Amadas Entidades invocadas, está selado, está consumado, éstá selado, está consumado, está selado, está consumado.

Laroyê, Exu! Exu é Mojubá! Exu! A Vós, Meus respeitos

Orixá Exú e também entidades Pombagiras e Exús. Ogum yê! Ogunhê!3

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