Do Paraíso ao Abismo 6.

Um conto erótico de Lukinha
Categoria: Heterossexual
Contém 6349 palavras
Data: 21/11/2025 15:24:57
Última revisão: 21/11/2025 15:45:52

Eu ainda estava de pé no meio da sala, rígido. Sara, que ainda segurava meu braço, falou com cuidado, devagar, como alguém que se aproxima de um animal ferido:

— Jorge… senta, por favor. A gente tem muita coisa pra te contar.

Eu olhei para ela, depois para a mulher à minha frente — Ana Beatriz — e voltei a olhar para as minhas próprias mãos, que tremiam como se eu tivesse acabado de sair de uma briga.

Antes que eu conseguisse reagir, alguém surgiu da cozinha. Um homem alto, roupas justas, sobrancelha arqueada num desenho quase perfeito e um copo em mãos. O primo, o mesmo que apareceu lá no Espírito Santo. Ele caminhava com uma leveza quase teatral, e quando abriu a boca, a voz saiu melodiosa, meio debochada, meio maternal.

— Pelo amor de Beyoncé, bebe isso. — Ele estendeu o copo com água e açúcar para mim. — Antes que você desmaie e eu tenha que te abanar, ou fazer uma respiração boca a boca. — Rindo, ele tentava aliviar a tensão.

Eu pisquei duas vezes, sem saber se estava no meio de um pesadelo ou de um episódio caótico de reality show. Peguei o copo com cuidado.

— Valeu… — Falei baixo, com a voz estremecida.

— De nada, amor. — Ele respondeu, dando dois tapinhas leves no meu ombro. — Respira pelo nariz, solta pela boca… Isso, igual mulher grávida prestes a parir um filho chamado arrependimento.

Ana Beatriz revirou os olhos.

— Samuel… menos.

Ele colocou a mão no peito, ofendido, mas sem perder o drama:

— Eu tô literalmente salvando vidas. Tenha um pouco de respeito, tá?

Apesar do caos dentro de mim, uma parte pequena, minúscula, quase riu. Eu tomei um gole da água, mesmo achando que não ia parar no estômago.

Ana Beatriz deu dois passos na minha direção, e quando ela sorriu… aquele sorriso… aquele sorriso que eu lembrava do Nordeste… por um segundo, tudo ao meu redor silenciou.

— Jorge… — Ela disse, e havia um carinho estranho na forma como pronunciou meu nome. — Eu sei que tudo isso é um pesado. Assustador. Surreal… mas… — os lábios dela se curvaram num sorriso tímido, quase brincalhão — …será que eu sou tão esquecível assim? Pra você não perceber que a pessoa com quem está agora… não sou eu?

Eu engoli seco. A sala pareceu girar. Eu tentei responder, e a voz saiu falhada, desordenada.

— É que… eu… ela era tão convincente… — Passei a mão no rosto, tentando encontrar palavras — …ela sabia coisas que… só nós dois… coisas muito íntimas… detalhes que ninguém poderia saber…

Ela apenas sorriu, sem julgamento.

— Eu sei. — E respondeu com ternura. — E eu tô brincando, tá? Não é pra te machucar.

Ela me encarou um pouco mais séria.

— Minha irmã… sempre foi uma especialista nisso. Manipular. Fingir. Observar. Entrar na vida das pessoas e virar exatamente o que elas querem… ou temem.

Meu peito ficou pesado. Um nó subiu pela garganta.

— Então… — Minha voz saiu quebrada, falhando. — Ela me enganou desde o início…

Ana Beatriz respirou fundo.

— Sim, Jorge. — Ela concordou, falando com suavidade. — Ela te estudou, planejou, se preparou…

Eu senti a cadeira atrás de mim antes de perceber que tinha me sentado. Sara se aproximou, ficando ao meu lado. Samuel cruzou os braços e completou com a sabedoria dramática de quem já viu muito:

— Amor… tu caiu na teia de uma cobra com pós-graduação em fingimento e doutorado em canalhice. Não foi o primeiro e com certeza, não será o último. Relaxa.

Eu deixei o ar escapar, finalmente, num suspiro longo. E desde que comecei a descobrir a verdade, eu realmente senti medo. Raiva. A traição.

Uma pergunta ecoava dentro de mim: Quem diabos era a mulher que eu deixei entrar na minha vida?

Ana Beatriz respirou fundo antes de continuar. O ar na sala parecia mais denso, como se todo mundo soubesse que dali pra frente nada seria leve. Ela se sentou no sofá à minha frente, com postura firme, quase profissional, mas com os olhos denunciando o cansaço de quem estava prestes a abrir uma ferida antiga.

— Jorge… — Ela começou, entrelaçando os dedos — eu queria que isso tudo fosse apenas uma coincidência, um mal-entendido, ou até uma brincadeira de mau gosto. Mas não é. Minha irmã não entrou na sua vida por acaso. Ela nunca faz nada por acaso.

Eu engoli seco, tentando me preparar.

— Desde adolescente… — Ana continuou — …a Ana Flávia sempre teve… digamos… uma habilidade. Ela conseguia fazer as pessoas acreditarem nela. Sempre foi inteligente, articulada… mas também sempre foi perigosa. Manipuladora. Ela aprendeu cedo que podia conseguir tudo usando uma combinação de sedução e mentira.

Samuel bufou baixinho.

— Uma femme fatale versão maldosa e sem roteirista ético, basicamente.

Sara lançou um olhar rápido para ele pedindo silêncio e ele levantou as mãos como quem diz “ok, parei”.

Ana retomou:

— Quando fizemos dezoito anos, fomos morar numa cidade pequena, pois nosso pai foi transferido. Todo mundo conhecia todo mundo. A cidade era pacata, conservadora… e ela odiava aquilo. Queria brilho, dinheiro, poder, atenção. E encontrou jeitos de conseguir.

Ela olhou pra mim e não havia julgamento no olhar, só dor pela lembrança.

— Foi aí que começou a pior parte.

Eu senti meu corpo tenso outra vez.

— Ela se envolveu com um vereador. — continuou Ana Beatriz. — Um homem bem mais velho, casado, com filhos da nossa idade. E quando ele tentou terminar o relacionamento… ela deu o primeiro grande passo na vida que escolheu.

Minha respiração acelerou sem eu perceber.

— Ela disse pra ele que era menor de idade. — Ana falou sem desviar o olhar. — Disse que se não recebesse dinheiro… iria expor tudo. Fotos. Mensagens. Vídeos.

Minha mente tentou recusar a informação, mas tudo fazia sentido demais.

— Ele pagou. Pagou muito. — Ela continuou, a voz tensa. — E não foi o único. Quando viu que funcionava, ela repetiu. Empresários. Donos de loja. Um médico. Um pastor. Quase uma dezena de homens… todos casados, vulneráveis, carentes, ou com o ego maior que a própria noção.

— Meu Deus… — Soltei num sussurro involuntário.

Ana assentiu lentamente.

— Mas um escândalo daquele tamanho, após outros, não some sozinho. Ele foi abafado com dinheiro. Muito dinheiro. Meu pai precisou afastá-la, deixar a poeira baixar, mas a família sabia exatamente onde ela estava e o que estava fazendo. Sempre soubemos.

Ela passou a mão pelos próprios braços, tentando se livrar das sensações ruins, revivendo aquele tormento.

— Ela nunca parou de conspirar e destruir pessoas. Ela aperfeiçoou a técnica. Estudou perfis. Observou comportamentos. Aprendeu a se moldar ao que o homem do momento precisava. A carente. A tímida. A sensual. A inocente. A apaixonada. A expert…

Eu fechei os olhos. A memória do sorriso dela, do toque… nada daquilo era real.

Ana Beatriz concluiu com a voz mais baixa, mas firme:

— Então sim, Jorge. Aqueles dois anos em que ela desapareceu das redes, dos registros, da vida… não foram um hiato. Foram treinamento. Foram aperfeiçoamento. Foram… construção de personagem. E tudo com liberdade para aprontar, para se tornar ainda mais sem caráter.

O silêncio caiu como uma sentença. Eu senti a garganta fechar, o estômago virar, e o mundo ficar menor. Mas, por incrível que pudesse parecer, saber que ela não era a pessoa que eu achava que ela fosse, deu todo um novo sentido para a minha vida. Ela não era a “minha Ana”.

Finalmente, consegui perguntar, mesmo que já soubesse a resposta.

— E eu…? O que eu era no roteiro dela? — A frase saiu arranhada, quase irreconhecível.

Ana Beatriz me olhou com uma mistura de pena e verdade nua e crua.

— Você? — Ela respondeu com cuidado. — Você era o prêmio maior, Jorge. O bonzinho. O emocionalmente aberto. O homem que ama de verdade. O que sente. O que protege. O que se culpa. E, principalmente, o herdeiro de uma família importante.

Ela respirou fundo e completou:

— O tipo de homem perfeito… para alguém como minha irmã destruir.

Suas palavras ficaram ecoando dentro de mim, como se tivessem sido gravadas a ferro quente: “Você era o prêmio. Alvo perfeito. Tipo ideal para destruir.”

Eu senti o ar faltar. O peito apertar. Me bateu uma náusea amarga, daquelas que começam no estômago e sobem devagar. E antes que eu percebesse, estava pensando em voz alta, ou talvez apenas deixando escapar:

— Então… tudo foi uma mentira.

Aquelas palavras me quebraram por dentro. Doeram mais do que ouvir a voz dela naquele depósito da faculdade. Mais do que todas as mensagens falsas, promessas vazias, declarações ensaiadas. Mais do que a traição. Foi como se eu estivesse confessando algo que eu já sabia, mas me recusava a admitir.

Ana Beatriz não respondeu de imediato. Em vez disso, ela se inclinou devagar, e segurou minhas mãos. Suas mãos eram mornas. Firmes. Humanas.

— Não para mim. — Disse, com uma sinceridade que quase me fez desmoronar. — O que nós vivemos foi lindo, forte, importante, mesmo que por pouco tempo.

Eu finalmente levantei o olhar e nossos olhos se encontraram. Naquele instante, tudo ficou em silêncio. Sem Sara. Sem Samuel. Sem mentira. Sem ruído. Só nós dois. Aquilo foi mais do que suficiente para soterrar os pensamentos ruins que me passavam pela cabeça.

Ana Beatriz respirou fundo antes de continuar.

— Aquela semana… a nossa semana… foi real, Jorge. Incrivelmente real. Você foi gentil, sensível, transparente. Você me ouviu, me respeitou, me fez rir… me fez sentir importante. Mais alguns dias… só alguns… e eu teria me apaixonado ainda mais por você.

Meu coração bateu forte o suficiente para doer. Eu tentei sorrir, mas saiu torto, quase frágil.

— E por que não aconteceu? Se você me pedisse, eu teria ficado mais tempo, ou te traria comigo…

Ela suspirou, desviando o olhar por um segundo antes de voltar para mim, me interrompendo.

— Nós vivemos em mundos diferentes.

A frase caiu pesada, mas não tinha crueldade. Era constatação.

— Mundos diferentes? Como assim?

Por um momento, achei que ela fosse explicar. Mas ela respirou fundo, piscou de um jeito lento e mudou de assunto com suavidade quase cirúrgica:

— E isso nos leva à próxima parte. Mas essa, Jorge… essa você precisa ver com seus próprios olhos.

Antes que eu pudesse perguntar, Sara entrou na conversa, sentando-se ao meu lado com o tom prático que eu conhecia desde criança.

— Nós conseguimos acesso à próxima festa onde a Ana… — ela enfatizou o nome com veneno — …vai trabalhar. Não é um evento comum. Não é público. E ninguém entra sem ser… avaliado.

Samuel apareceu atrás dela com uma expressão teatral, balançando a cabeça.

— Avaliado, categorizado, e se bobear até leiloado. — Disse ele, cruzando os braços.

Sara continuou, calma e assertiva:

— Nós vamos disfarçados. Todos nós. E vamos ter a chance de pegar ela em flagrante. Mas isso é amanhã.

Eu olhei de uma para outra, ainda perdido, ainda tentando entender se tudo aquilo era um pesadelo, um filme ou a minha vida patética.

— E agora? — Perguntei, porque era a única coisa que ainda conseguia pensar.

Sara colocou a mão no meu ombro e disse com uma calma quase fraternal:

— Agora… você e a Bia têm muita coisa pra colocar em dia.

Ela se levantou e chamou Samuel com um estalar de dedos.

— Vamos, dona língua solta. Privacidade.

Samuel colocou a mão no peito, indignado:

— Ah, mas agora que o drama virou romance vocês expulsam o gay da sala? Que absurdo. Discriminação seletiva.

Mesmo quebrado por dentro… eu ri pela primeira vez naquele dia. Eles desapareceram pelo corredor, e a porta se fechou, ficando apenas o silêncio, eu e a mulher que eu realmente conheci, mas nunca soube quem era.

Ana Beatriz respirou fundo e disse baixinho.

— Pronto, Jorge. Agora podemos recomeçar de verdade.

Ela deu uma risada gostosa, me encarando.

— Me lembrei do camarão. — Disse, inclinando a cabeça enquanto olhava para mim com aquele ar de nostalgia divertida. — Eu achei que você fosse morrer. E você só gritava "eu tô bem, eu tô bem", enquanto sua cara parecia um balão vermelho prestes a explodir.

Eu não consegui evitar. Ri também. Ela continuou:

— Eu lembro do garçom ligando pro SAMU, depois o quarto de hotel, você achando que ia morrer…

— Eu nem sabia que era alérgico, mas minha avó sempre inventava receita nova com frutos do mar, e tinha um primo com alergia. A regra era: ninguém come sem ter Loratadina por perto. E, sinceramente? Depois do susto, virou uma lembrança divertida da viagem.

Me ajeitei no sofá e confessei:

— Foi a primeira vez que eu desconfiei dela. — Respirei fundo, enquanto Ana Beatriz apenas me esperava continuar. — Ela não sabia disso, disse que esqueceu, mas a bandeira vermelha está ali… eu deixei passar.

Ela se ajeitou melhor no sofá, os dedos brincando distraídos com o cordão no pescoço.

— Eu lembro da orla de Aracaju… lembra? Aquele vento batendo, as luzinhas dos quiosques iluminando tudo… e você andando devagar, como se tivesse medo de que, se andasse rápido demais, a noite acabasse.

Eu fechei os olhos por um instante, podia sentir: a brisa salgada, o som do mar, o cheiro de água de coco e bronzeador.

— Eu lembro da última noite. Lembro do silêncio cheio de significado entre nós antes de nos tocarmos. Lembro de pensar: eu encontrei alguém.

Ana Beatriz suspirou, não melancólica, mas com saudade.

— Eu não estava lá de férias. — Ela disse, receosa. — Fui porque era a única da família que podia cuidar da minha avó. Eu estava perdida, sem rumo, e… honestamente, a gente nunca planeja quando a vida dá uma virada de cento e oitenta graus.

Ela mordeu o lábio, hesitando por um segundo antes de continuar.

— Quando minha avó melhorou, quando pude voltar… eu tinha esperança de te encontrar. Não de um jeito romântico ou desesperado, só… esperança. Você morava aqui. Eu morava aqui. A vida podia, sei lá, cruzar nossos caminhos de novo. Só que… eu nunca imaginei que ela faria o que fez.

Ana baixou o olhar por um instante, depois me fitou de novo.

— Jorge… você conhecia ela. A Ana Flávia. Na empresa da sua família. Ela trabalhou lá como menor aprendiz… você realmente não lembra?

Eu pisquei, sentindo aquela estranha névoa mental se formar de novo, um déjà-vu desconfortável, mas que não chegava a se materializar.

— Eu… não sei. É confuso. Não me lembro de nenhuma Ana Flávia daquela época. — Admiti.

Ana franziu a testa, confusa.

— Ah. É verdade. — Disse ela, num tom ameno. — A Sara não te contou ainda, né? Sobre a investigação dela. Sobre como ela me encontrou… e sobretudo mais.

— Investigação?

Antes que eu pudesse perguntar mais, Ana levantou um pouco a voz:

— Sara? Volta aqui, por favor.

Sara apareceu na porta segundos depois, expressão firme, postura reta, olhar que dizia “eu já sabia que chegaria essa hora”.

Ela sentou-se ao meu lado. E por quase meia hora, eu ouvi. E ela falou tudo, não apenas fatos, mas linhas do tempo, nomes, lugares, datas, prints, cruzamentos, padrões, comportamento, histórico… Enquanto explicava, Ana Beatriz observava em silêncio. Cada detalhe que Sara revelava só confirmava aquilo que, lá no fundo, eu sempre soube, mas tinha ignorado: a lealdade dela sempre esteve ali. Eu é que fui um idiota. Eu deixei que uma desgraçada manipuladora me afastasse de uma das pessoas mais leais que eu já tive ao lado.

Eu fui burro, cego, carente e ela, uma artista do caos, soube exatamente como me dobrar. Se não fosse por Sara, eu ainda estaria enredado naquela teia de mentira, de charme falso, de controle emocional. Preso, feito marionete, nas mãos daquela vadia.

Quando Sara terminou, ela não disse “eu te avisei”. Ela só suspirou e esperou. E eu finalmente enxerguei.

O clima pesado finalmente começou a se dissolver quando o silêncio foi substituído por aquele olhar coletivo que todo mundo faz quando percebe que está faminto. Samuel foi o primeiro a admitir:

— Tá… alguém mais tá com fome ou sou só eu morrendo aqui?

Sara levantou a mão na hora.

— Se você estiver morrendo, eu tô em decomposição.

Ana Beatriz riu, finalmente relaxando.

— Pizza? Japonês? Hambúrguer? O que vocês querem?

Eu levantei a mão, rindo sozinho ao lembrar.

— Qualquer coisa… desde que não tenha camarão.

Ana Beatriz gargalhou alto, jogando a cabeça para trás.

— Ok, anotado.

Depois de quinze minutos debatendo como se a escolha fosse diplomática e crucial para o destino da humanidade, acabamos pedindo uma mistura de tudo, porque adultos indecisos funcionam assim.

Quando a comida chegou, o clima já era outro. Teve música baixa no fundo, Netflix passando algo que ninguém realmente assistia, conversas cruzadas, risadas leves, e todo o peso das últimas horas tinha sido colocado num armário e trancado.

Em algum momento, Sara abriu uma garrafa de vinho e Samuel fez um brinde desengonçado, mas sincero:

— A reencontros, revelações… e, por favor, sem surtos alérgicos.

As taças bateram — algumas tortas, outras exageradas — mas nenhuma vazia.

Com o tempo, as conversas se dividiram naturalmente, e eu percebi que estava sentado cada vez mais perto da Ana Beatriz. Não porque eu quis, mas porque parecia o único lugar onde meu corpo fazia sentido.

Ela falava e eu ouvia como se o mundo inteiro tivesse diminuído o volume. Eu falava e ela sorria como se cada palavra fosse importante. Não era esforço. Não havia cautela, máscara, controle. Era simples. Era natural. E era… certo. Uma sensação completamente diferente da tensão constante, da necessidade de aprovação, do medo silencioso que existia com a outra. Com Ana Beatriz, era paz. E naquele pequeno universo que só cabia nós dois, o resto desapareceu.

Até que Samuel interrompeu, com a sutileza típica de um caminhão:

— Vocês já perceberam que eu e a Sara praticamente deixamos de existir? — Ele disse, apontando entre nós como se apresentasse provas num tribunal. — Porque vocês dois aí já criaram um planeta só de vocês.

Sara levantou a taça, divertida, e completou:

— Quando é de verdade… não tem jeito. Todo o resto vira cenário.

Eu e Ana piscamos quase ao mesmo tempo, despertando do transe, e só então percebemos que estávamos praticamente colados, joelhos encostados, mãos quase entrelaçadas sem perceber. Ficamos corados, meio sem graça, e nos afastamos rapidamente.

Ana tentou disfarçar rindo. Eu passei a mão na nuca, sem saber onde colocar os olhos. Silêncio por dois segundos. Depois Samuel concluiu, rindo:

— Eu tô brincando com vocês… — Ele olhou para mim. — Ela estava muito ansiosa antes de te encontrar. Parecia uma garotinha esperando o papai Noel chegar…

Sara veio em defesa de Ana Beatriz e levantou a mão, pedindo silêncio, cortando a onda do Samuel. A música baixou, as risadas morreram e todos instintivamente a olharam. Havia algo diferente em seu olhar. Foco, estratégia… e um brilho satisfeito.

— Meu infiltrado já conseguiu o que precisávamos. — Ela disse, calma, mas com a voz carregada de significado.

Ninguém perguntou o quê. Ninguém ousou interromper. Era como se todos sentissem que qualquer palavra fora de hora poderia estragar algo grande.

Sara então explicou, com precisão cirúrgica, como aconteceria o flagrante no dia seguinte. Detalhes suficientes para deixar claro que nada ali era improviso, que cada movimento já estava previsto, calculado.

Enquanto ela falava, eu sentia o estômago apertar, mas era um desconforto diferente: esperança misturada com indignação. Quando terminou, Sara se virou para mim

— Você precisa voltar pra casa. — A voz dela veio firme, porém gentil. — Aguenta só mais uma noite, amigo. Amanhã você vai estar livre disso tudo.

Eu respirei fundo, tenso. Meu olhar automaticamente procurou o de Ana Beatriz. Foi um daqueles silêncios cheios de medo, vontade, coragem e algo que ainda não tinha nome. Eu queria ficar ali. No sofá. No riso. No cheiro dela.

Mas eu me levantei. Lentamente, tentando prolongar cada segundo. Ao me despedir, Ana segurou a minha mão por um instante. Rápido demais para ser considerado um gesto íntimo para os outros, longo demais para ser apenas social.

Samuel, como sempre, quebrou o clima:

— Relaxa, primo. Quando tudo isso acabar, vocês dois vão ter tanto tempo que eu aposto que a gente vai enjoar de ver vocês grudados.

Ana Beatriz ficou vermelha na hora.

— Samuel! — Ela reclamou baixinho, empurrando o braço dele. — Depois do que aquela… — Ela respirou para não xingar — aprontou, assim que ele ver com os próprios olhos, o Jorge vai é fugir correndo de qualquer Ana.

Eu não disse nada, mas meu sorriso, pequeno, sincero, e meu olhar fixo nela foram resposta suficiente.

Eu finalmente fui embora. E aquele mundo leve que tinha nascido naquela sala ficou suspenso no ar.

De volta ao meu apartamento, a atmosfera era outra: fria, pesada, desagradável. Tomei um banho rápido, sem vontade de pensar muito. Me deitei e fechei os olhos, respirando fundo, me preparando para uma batalha invisível.

Algum tempo depois, ouviu a porta abrir. Passos rápidos. Perfume forte. Ana Flávia entrou no quarto e acendeu a luz. Naquela noite estava impecável: maquiagem intacta, roupa alinhada, postura controlada.

Ela se aproximou esperando contato, mas eu permaneci imóvel, respiração lenta, olhos fechados, em silêncio, fingindo dormir. A frustração dela foi impagável. Uma pequena diversão para mim.

Sem dizer nada, ela apagou a luz, mas não saiu. Por um momento, achei que ela finalmente fosse se deitar, mas ela se virou e saiu do quarto. Seu passos pelo corredor, sussurros, e então eu a ouvi ao telefone:

— Deixa de ser chato, cara. Eu já te mandei um bom dinheiro hoje…

Uma pequena pausa.

— Amanhã eu vejo o que faço.

Um suspiro irritado.

— O Jorge tá apagado e eu não posso, do nada, começar a pedir ajuda depois de bancar a superior, recusar o emprego que ele pediria pro pai.

Ela bufou mais alto.

— Você tá comigo ou não tá? Seja paciente. Vai valer a pena.

E então o silêncio. Eu senti o corpo inteiro vibrar: raiva, desgosto, incredulidade. Mas, junto com tudo aquilo, senti o controle. Como se a minha vida, minhas escolhas, fossem apenas minhas outras vez. E com uma certeza que finalmente libertava: Amanhã tudo mudaria. Para sempre.

Dormir foi quase impossível. A noite passou entre cochilos e sonhos ruins. Quando Ana Flávia se levantou pela manhã, eu já estava desperto, mas continuei imóvel, respirando devagar, encenando um sono profundo.

Acompanhei mentalmente o ritual dela. O perfume exagerado. A maquiagem calculada. O salto alto. A risada forçada enquanto falava no viva-voz com alguém, provavelmente o mesmo imbecil da noite anterior.

Só quando ouvi a porta de entrada bater e a chave girar na tranca, eu finalmente me levantei. Era o último dia.

O trabalho passou arrastado, mas passou. Não houve vida, só espera. Quando anoiteceu, eu não fui para a faculdade, fui direto para a casa da Sara.

Ela abriu a porta antes mesmo de eu bater.

— Entra. — Disse baixinho, com um sorriso cúmplice.

Assim que entrei, meu olhar percorreu a sala, procurando por Ana Beatriz.

Nada.

— Eles não estão? — Perguntei, tentando parecer indiferente, mas falhando miseravelmente.

Sara sorriu com pena e com malícia.

— A vadia reconheceria os dois de longe. Era arriscado demais que eles fossem com a gente.

Assenti, mas a frustração me atravessou como um punhal sem afiação.

— E nós dois? — Perguntei. — Ela conhece a gente muito bem também.

Foi quando Sara abriu uma sacola enorme que estava sobre o sofá, me surpreendendo.

— O que é isso?

Ela tirou os itens um a um com orgulho teatral: Tintura de cabelo temporária. Lentes de contato. Adesivos faciais para alterar formato ósseo. Base de alta cobertura. E uma caixa que parecia saída de um estúdio de cinema.

— Trabalho da melhor maquiadora de efeitos especiais da região. — Ela anunciou. — Ela já trabalhou em série policial, novela e até filme independente. A mulher faz milagre.

Enquanto ela nos arrumava, não perdeu a chance:

— Tudo isso foi caro. Eu não sou rica como você. Vai me ajudar a pagar, né?

É claro que eu ajudaria e ela sabia muito bem.

Duas horas depois, quando me olhei no espelho, fiquei sem palavras. Meu reflexo não era meu. Era um estranho com cabelo mais escuro, olhos de outra cor, sobrancelhas mais grossas, mandíbula mais marcada, uma barba incrivelmente real.

— Eita porra! — Quase gritei. — Eu lembrei daqueles programas de TV em que transformam famosos pra fazer pegadinha com público. Isso aqui tá absurdo. Parecemos outras pessoas.

Sara ajeitou a própria lente de contato, orgulhosa.

— E é exatamente essa a ideia.

Ela me entregou uma aliança, enquanto colocava a outra no próprio dedo.

— Agora falta a história — Disse. — Somos um casal recém-casado… liberal… em sua primeira experiência no swing.

Quase engasguei.

— Swing???

Ela deu um tapa leve no meu braço.

— Ah, deixa de drama. Não é o seu primeiro rodeio.

Eu dei um sorriso torto.

— Velhos tempos… bons tempos…

Sara levantou uma sobrancelha, divertida.

— A gente aprontou, né?

Mas ela nem deixou que eu respondesse:

— Aliás… — Ela disse casualmente — a Bia também é do circuito. Então…

Eu arregalei os olhos.

— Você tá falando sério?

— Seríssima.

Ela cruzou os braços.

— Se você realmente cogitar algo com ela quando tudo isso acabar… já sabe que ela não vive uma vida convencional.

Eu balancei a cabeça, incrédulo.

— Você só pode tá zoando a minha cara… mundos diferentes… agora eu entendi.

— Não! — Ela sorriu, com aquele deboche afiado. — Mas ao contrário da traidora, tenho certeza de que a Bia vai ser honesta com você. Se tudo der certo.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, ruminando a informação.

— Depois de tudo isso… dessa… desse circo emocional… você realmente acha que existe uma chance entre eu e a verdadeira Ana?

Sara se aproximou e arrumou meu cabelo tingido com delicadeza, como uma irmã carinhosa faria.

— Os olhos não mentem, Jorge. — Ela disse suavemente. — O jeito que vocês se olham… a calma que você tem perto dela… a forma como ela respira quando está perto de você… eu já vi isso antes.

Ela sorriu, um sorriso pequeno, confiante.

— Vocês nasceram um para o outro. Só não tinham se reencontrado da forma certa.

O ar ficou denso. Cheio. Mas Sara bateu palmas e destruiu o clima com eficiência cirúrgica:

— Pronto. Chega de novela. Já está na hora. Vamos chegar atrasados de propósito. Assim, quando entrarmos, a pilantra já vai estar trabalhando e reduzimos o risco de ela nos analisar com calma.

Peguei a jaqueta. O coração batia rápido demais, mas não era medo. Era algo parecido com justiça. E com destino.

— Vamos!

E desde que tudo começou, eu senti: agora é ela quem precisava ter medo.

Chegamos ao local quase às nove da noite. O motorista do aplicativo nos deixou um pouco antes da entrada principal, como Sara tinha orientado, para evitar câmeras externas. Caminhamos alguns metros pela calçada arborizada, e então a mansão surgiu diante de nós. Era impossível ignorá-la.

O casarão parecia ter saído de outra época — paredes de pedra, colunas neoclássicas, vitrais antigos e detalhes esculpidos que denunciavam sua história centenária. Mas ele havia sido transformado, modernizado, polido, adaptado a um outro tipo de público.

Os jardins externos estavam discretamente iluminados com luz âmbar. O portão de ferro era grosso, pesado, e dois seguranças gigantes, vestidos de preto, pareciam mais estátuas do que homens.

— Lembra do personagem. — Murmurou Sara, segurando meu braço como se fôssemos recém-casados de verdade. — Estamos aqui porque escolhemos. Estamos curiosos. Estamos animados.

Concordei, mesmo com o coração batendo forte o suficiente para vibrar no peito. Caminhamos até o portão.

— Convite? — Um dos seguranças perguntou, sem expressão.

Sara entregou o cartão metálico, sem nome, apenas um símbolo dourado. Ele colocou o cartão sobre um scanner. Uma luz verde acendeu.

— Sem celulares. — Disse o outro segurança.

Entregamos os aparelhos. Eles foram colocados em saquinhos numerados, lacrados na nossa frente e nos entregaram o ticket.

Era um protocolo frio. Cirúrgico. Nada ali era improvisado.

Ao cruzar o portão, senti a primeira onda de ansiedade. Tensão misturada com expectativa. Logo no hall de entrada, uma recepcionista jovem, elegante, com um sorriso treinado, nos aguardava. Assim que seus olhos encontraram os nossos, ela fez um aceno quase imperceptível. O sinal combinado com Sara. Ela era o contato de dentro.

— Boa noite e bem-vindos — Disse ela, com formalidade impecável. — Vocês são… o casal novo, certo?

— Isso. — Sara respondeu no mesmo tom, como se aquela fosse uma rotina normal para nós.

A recepcionista nos entregou duas pulseiras pretas com um pequeno pingente metálico.

— Regras básicas: consentimento explícito, nada de gravações, nada de nomes reais. Se quiserem sair, avisem um dos anfitriões. Se precisarem de ajuda, apertem o pingente. — Explicou.

Depois inclinou-se levemente e, com a voz mais baixa, completou:

— E por favor… sem escândalos. Eu preciso desse emprego.

— Vai ficar tudo bem — Sara respondeu com um sorriso tranquilizador. — Somos apenas convidados… nada mais.

A recepcionista soltou um suspiro sutil de alívio e gesticulou para uma porta dupla de madeira.

— Aproveitem a noite.

Quando atravessamos aquela porta, o som tomou forma. Música eletrônica suave. Conversas abafadas. Risos. Toques de taças…

O salão principal era amplo, com pé direito alto e lustres antigos restaurados. Poltronas de veludo, cortinas pesadas, mesas com drinks finos servidos por garçons impecáveis. Havia grupos conversando, observando, flertando… tudo com uma calma quase ensaiada, como uma coreografia silenciosa.

Alguns já estavam mais íntimos, mas tudo ainda parecia dentro de um ritual elegante, estudado.

Sara, interpretando seu papel com perfeição, apoiou a cabeça levemente no meu ombro, como se estivéssemos fascinados com aquele universo. E por um instante, talvez estivéssemos mesmo.

Segui o movimento do ambiente, observando com cuidado, sem parecer vigilante demais. Até que meus olhos pararam. O tempo não desacelerou. Ele travou. E mais a frente, no centro de um sofá semicircular, rindo, tocando a perna de um homem enquanto acariciava o ombro da mulher ao lado dele, estava ela: Ana Flávia. Sedutora. Treinada. E completamente… no controle.

Eu prendi a respiração sem perceber.

— Achou? — Sara perguntou baixinho.

— Achei — Respondi.

Meus punhos se fecharam. E tudo dentro de mim ficou silencioso. Porque naquele instante, enquanto ela entretinha aquele casal com a mesma expressão falsa que um dia usou comigo… eu entendi quem ela era realmente.

{…}

Ana Flávia:

O som baixo da música era apenas um zumbido sob a cacofonia de risos e sussurros. O ar estava pesado, cheiro de suor fino, champanhe doce e um perfume caro. Eu me ajustei no corpete de cetim preto, sentindo a fina renda pressionar minha pele. Este é o meu palco.

Um casal me observava de um sofá baixo, mais afastado do centro, na sacada protegida por vidros escuros. Ele com os dedos entrelaçados nos dela, os olhos escuros fixos em mim, avaliando. A mulher tinha um sorriso tímido, quase nervoso. Eu me aproximei, os saltos altos afundando silenciosamente no carpete espesso.

— Estão se divertindo? — Minha voz saiu mais baixa, mais íntima do que o meu tom normal, projetado para se misturar com a música.

Ele sorriu, os olhos percorrendo meu corpo sem pudor.

— Muito mais agora.

A mulher, Lena, segundo a pulseira de identificação, corou levemente.

— É a sua primeira vez em um lugar assim? — Perguntei, dirigindo-me diretamente a ela.

Ela assentiu, engolindo seco.

— Sim. A ideia foi do Marcelo.

— Uma ideia excelente. — Eu disse, me abaixando até que nossos olhares estivessem no mesmo nível. — Não há regras. Apenas o que vocês dois desejarem.

Meu dedo mindinho tocou o pulso dela, um leve contato. Ela estremeceu, mas não recuou. Interessante. Uma mistura de curiosidade genuína e medo. É sempre assim com os novatos.

Marcelo puxou Lena para perto dele.

— E o que você sugere? — Sua voz era suave perto do ouvido dela, mas os olhos ainda perfuravam os meus.

— Sugiro que vocês relaxem. — Eu respondi, minhas palavras só para ela. — Apenas se entreguem.

Minha mão deslizou pela perna dela, a seda do vestido sob meus dedos. Eu senti os músculos da sua coxa tensionarem, depois amolecerem sob meu toque deliberado.

— Você tem mãos lindas, Lena. — Peguei sua mão e guiei até a minha cintura, colocando sua palma quente sobre o cetim. — Sinta.

Ela respirou fundo, seus olhos arregalados. Suas digitais exploraram o tecido, a curva do meu quadril. Marcelo observava, fascinado, sua respiração um pouco mais acelerada. A mão dele apertou o ombro de Lena, possessivo, encorajador.

— Agora você… — Sussurrei para Marcelo, e sem hesitar, me virei para ele.

Ele já estava pronto, seus olhos escurecidos de desejo. Ajoelhei-me entre suas pernas, o jeans áspero contra a pele nua dos meus joelhos. Coloquei as mãos em suas coxas, sentindo o músculo duro sob o tecido.

— Você sabe exatamente o que quer, não é?

Um sorriso torto surgiu em seu rosto.

— Totalmente.

— Então mostre para ela.

Eu me inclinei para frente, minha boca a centímetros da dele, mas desviei no último segundo, roçando meu lábio em seu pescoço. Ele tinha o cheiro de tabaco e perfume amadeirado. Poder. Inclinei a cabeça e mordisquei suavemente o lóbulo de sua orelha. Ele emitiu um grunhido abafado, suas mãos agarrando os braços do sofá.

— Lena… — Chamei. — Venha aqui.

Ela obedeceu, movendo-se em transe. Peguei sua mão e a coloquei no peito do Marcelo.

— Ele está pulsando por você. Sente? — Sua mão tremeu sobre o coração acelerado dele.

Então guiei a mão dela para baixo, sobre o volume rígido e evidente em suas calças. Ela arfou.

— Ele quer. As duas. E eu estou aqui para lembrá-los de como é bom compartilhar.

Os olhos de Lena se encontraram com os de Marcelo, e uma centelha de pura luxúria passou entre eles. A mão dele desapareceu sob a barra do vestido dela. A respiração ofegante de Lena se juntou aos gemidos abafados de Marcelo.

Eu tirei o pau para fora e lambi suavemente a cabeça, sentindo as pernas de Marcelo tremerem. Lena olhava hipnotizada.

Eu aumentei o ritmo, abocanhando a rola inteira, minha cabeça subindo e descendo… minha mão punhetando pela base, enquanto minha boca sugava sem parar.

Era um ritmo, uma dança. Eu olhava para cima, através dos meus cílios, vendo a expressão de êxtase torturado no rosto de Marcelo. Lena se masturbava, os dedos movendo-se freneticamente sob o tecido, seus quadris contraindo.

— Eu… não vou aguentar… — Marcelo rosnou, seus dedos enterrando-se no meu cabelo, não guiando, apenas segurando.

Eu me afastei, um fio de saliva conectando meus lábios à ponta brilhante da cabeça da pica..

— Não ainda… calma… — Me virei para Lena. — Sua vez.

Ela parecia atordoada, mas ansiando. Eu a puxei para o tapete, deitando-a ao lado dos pés dele. Seu vestido foi levantado até a cintura, revelando que ela estava sem calcinha. Maravilhosa. Sua pele depilada, lisa e úmida à luz suave.

— Linda… — Eu sussurrei, afastando suavemente suas coxas.

Ela estava tremendo, seus olhos implorando. Eu baixei minha cabeça e lambi o grelo. Uma longa e lenta linha… e de novo… do centro até o clitóris inchado.

— Ahhhhhhhh… — Ela gemeu alto.

Seu grito foi abafado pelo som da música. Seu corpo arqueou fora do tapete. Eu a prendi pelos quadris, mergulhando minha língua dentro dela. Ela estava quente, com um gosto de mar e mel. Eu suguei e lambi, mordisquei, voltei a sugar, focando no ponto sensível, circulando e pressionando.

Marcelo assistia, completamente imóvel, masturbando-se devagar, seu olhar fixo no meu rosto enterrado entre as pernas da sua mulher.

A tensão em Lena estava se acumulando, um arco prestes a quebrar. Eu enfiei dois dedos dentro dela, sentindo suas contrações internas. Ela gritou, um som agudo e quebrado, e o orgasmo a atingiu.

— Ahhhhhhhh… isso é incrível… — Seu corpo convulsionou sob minha boca, seus dedos se enterrando em meus cabelos.

Eu continuei até o último tremor, até ela ficar mole e ofegante. Então, me virei e olhei para Marcelo. Seus olhos estavam selvagens.

— Agora… vem pra mim…

Ele se levantou, puxou-me pelos braços e me virou, me pressionando contra o sofá. A madeira era sólida e fria contra minha pele quente. Suas mãos ásperas agarraram meus quadris. Ele não foi gentil. Ele não precisava ser.

Ele me colocou de quatro, vestiu o preservativo e pressionou a cabeça da rola na entrada da minha buceta já encharcada. Ele entrou de uma vez, um preenchimento brutal e perfeito que me fez gritar.

— Caralho… que tesão… Ahhhhh…

Deus, sim. Ele era grande, esticando cada centímetro de mim. Seus braços envolveram minha cintura, puxando-me para trás contra cada uma de suas investidas.

Eu me curvei contra o sofá, me oferecendo a ele completamente. Cada impacto abalava meu corpo, enviando ondas de prazer puro pela minha espinha. Eu podia ouvir a respiração ofegante de Lena, ainda no chão ao nosso lado, assistindo. Isso apenas me excitou mais. Ser o centro, o pivô, o objeto de tanto desejo cru.

Marcelo enterrou o rosto no meu pescoço, seus dentes roçando minha pele.

— Você é incrivelmente gostosa… — Ele arfou, sua voz saindo em um rugido abafado.

Eu apenas gemi em resposta, perdendo-me na sensação dentro de mim, no som úmido de nossos corpos se encontrando, no cheiro do nosso suor misturado. Meu próprio orgasmos se aproximando, rápido demais… aquele homem sabia como dar prazer a uma mulher.

Uma tempestade se formava nas profundezas do meu ventre. Ela massageava meu clitóris, a pressão firme e constante, estocadas rápidas, profundas, certeiras…

Ele sentiu minha tensão, minha resposta, meu controle preciso, pompoando os músculos, ordenhando aquele pau enorme, devolvendo todo o prazer que ele me proporcionava.

Seu ritmo ficou mais irregular, mais desesperado.

— Vou gozar, sua gostosa… — ele rosnou, se rendendo.

— Goza… — Eu provoquei. — Goze pra mim e pra Lena.

Foi o suficiente. Com um gemido profundo que parecia vir de suas entranhas, ele explodiu. Eu senti o jato quente enchendo a camisinha e a sensação, combinada com a pressão no meu clitóris, me fez desabar. Meu próprio orgasmo me atingiu como um choque, silencioso e total, um tremor violento que me travou no lugar enquanto ondas de êxtase me invadiram por dentro, minha visão escurecendo nas bordas.

— Puta que pariu… Ahhhhh…

Ele desabou sobre minhas costas, ofegante. Ficamos assim por um momento, os dois encharcados de suor, ainda conectados. A música mudou para uma batida mais suave.

Ele saiu de mim devagar, e eu me virei, me apoiando no sofá. Lena estava de pé agora, olhando para nós com um novo tipo de fome no olhar. Ela se aproximou de Marcelo e o beijou, profunda e possessivamente.

Eu me ajustei, puxando minha saia para baixo. Minha pele estava vibrante, viva. Apenas outro ato. Apenas outra cena.

Do outro lado da sala, outro casal me observava. Ele sinalizou com a cabeça, um convite claro. Ela sorriu. Eu precisava me recompor rapidamente.

Continua…

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Comentários

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Shhhhhooooooooowwwwww de bola Lukinha!

Só quero ver por que pegar a Ana errada na festa é tão mais eficiente que pegar ela com o amigo...

Curiosíssimo! Chega 2026 mas não chega semana que vem com o último capítulo... É semana que vem, né?

Parabéns, novamente.

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Deliciosa trama o confronto vai ser magnifico

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Amigo, por favor continue com esse conto maravilhoso, caso tenha e possa, me informe ok aosoriorj1950@gmail.com obrigado

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Lukinha sem palavras meu nota mil parabéns

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