O último dia de aula do terceiro ano não tem cheiro de giz ou de caderno novo. Tem cheiro de liberdade, de suor e de caos.
A escola estava em colapso. Ninguém respeitava mais os sinais. Havia gente correndo pelos corredores com camisetas rabiscadas de canetão, confetes no chão, professores desistindo de manter a ordem e apenas sorrindo, resignados, dando conselhos sobre "juízo na faculdade" que entravam por um ouvido e saíam pelo outro.
Nós estávamos na sala do Professor Almeida, de História. Ele era um senhorzinho de óculos fundo de garrafa, a pessoa mais doce e mais lenta do mundo. Ele tentava falar sobre a Queda da Bastilha, mas a sala estava uma zona. Bolinhas de papel voavam, grupos conversavam alto.
Eu olhei para o lado. Lucas estava sentado duas carteiras atrás de mim. Ele girava a caneta nos dedos, parecendo entediado.
Nossos olhares se cruzaram.
Não precisamos de palavras. A telepatia que tínhamos desenvolvido — na cama, no olhar, no toque — funcionava perfeitamente no caos da sala de aula. Ele ergueu uma sobrancelha, inclinou a cabeça levemente em direção à porta e deu aquele meio sorriso que fazia meu útero contrair.
Eu senti o arrepio descer pela espinha. Agora.
Levantei a mão.
— Professor? Posso ir ao banheiro?
O Professor Almeida nem olhou direito. Apenas acenou com a mão, murmurando um "vá, vá, minha filha".
O corredor estava estranhamente deserto naquele bloco. A muvuca estava toda concentrada no pátio central. O som da gritaria chegava abafado, distante.
Caminhei devagar, sentindo meu coração acelerar. Fui em direção ao fundo do bloco C. Ali, escondida atrás do laboratório de química desativado, ficava a lenda: a "Salinha da Pegação".
Era, na verdade, um antigo depósito de carteiras quebradas que a escola fingia que não existia. A porta ficava sempre destrancada porque a fechadura estava emperrada há anos. Gerações de alunos tinham passado por ali. Havia nomes riscados na parede com corretivo, datas de 1998,era um monumento histórico da libido adolescente.
Esperei encostada na parede fria, o cheiro de poeira e mofo antigo me envolvendo.
Dois minutos depois, passos rápidos.
Lucas apareceu na esquina do corredor. Ele tinha deixado a mochila na sala. Ele veio caminhando rápido, olhando para trás para garantir que nenhum inspetor estava no encalço. Quando ele me viu, o sorriso dele aumentou.
Ele me empurrou para dentro da salinha e fechou a porta atrás de nós.
A escuridão era cortada apenas por um feixe de luz poeirento que entrava por uma fresta na janela pintada de tinta cinza. O lugar era apertado, cheio de cadeiras empilhadas até o teto, mesas velhas e caixas de papelão.
— Achei que o Almeida nunca ia parar de falar sobre a Revolução Francesa — Lucas sussurrou, me prensando contra a única parede livre.
— A nossa revolução é mais interessante — eu respondi, puxando-o pela camisa do uniforme.
O beijo foi urgente. Tinha gosto de despedida e de começo.
Havia algo incrivelmente simbólico naquele momento. Estávamos usando o uniforme pela última vez. Aquela saia azul pregueada, que eu usei por três anos sentindo vergonha das minhas pernas finas, agora subia pelas minhas coxas com a ajuda das mãos ávidas do meu namorado. A camisa branca com o brasão da escola, que eu sempre achei larga demais, agora era aberta com violência, botões abertos sem a menor preocupação. Quem ligava? Eu nunca mais ia usar aquilo.
— Você tá de calcinha branca hoje... — Lucas notou, quando levantou minha saia e encaixou a perna dele no meio das minhas. — Deixou a vermelha em casa?
— A vermelha é pra ocasiões especiais. A branca é pra dar tchau pra inocência — provoquei.
Ele riu, um som baixo, e apertou minha bunda.
— Você não tem mais nada de inocente, Clara.
Ele me levantou. Como eu era leve, "magrinha" como ele adorava dizer, ele me ergueu sem esforço nenhum e me sentou em cima de uma mesa velha de madeira maciça, cheia de riscos de caneta. A mesa rangeu, balançando um pouco, mas aguentou.
— Rápido — eu pedi, ouvindo passos correndo no corredor lá fora. — Alguém pode vir.
A adrenalina do risco era o melhor tempero.
Lucas abriu a calça dele. Ele não tirou nada, só baixou o suficiente. O pau dele saltou para fora, duro, pulsando.
Ele afastou o fundo da minha calcinha para o lado. Eu já estava molhada. A ideia de transar na escola, no último dia, naquela sala lendária, tinha ligado meu corpo no máximo.
Ele nem precisou guiar. Ele segurou meus quadris e impulsionou o corpo para frente.
— Ahh... — o gemido escapou da minha boca quando ele entrou.
Foi um encaixe perfeito, imediato. Ele entrou fundo, até o fim, me preenchendo. Eu cruzei os tornozelos nas costas dele, travando-o contra mim.
Começamos a nos mexer.
Não havia espaço e nem tempo para carícias lentas. Era fricção pura. Era a necessidade carnal de sentir o outro. A mesa batia contra a parede a cada estocada dele — e a gente tentava compensar segurando o riso e o gemido.
— Se alguém entrar aqui... — ele sussurrou no meu ouvido, mordendo o lóbulo.
— Ninguém vai entrar. E se entrarem... vão ver o melhor aluno de Direito fodendo a futura veterinária.
Isso fez ele perder a cabeça. Ele aumentou o ritmo. Ele segurava minhas coxas com força, deixando as marcas dos dedos. Ele me fodia com uma paixão que misturava orgulho, posse e amor.
O cheiro de poeira velha se misturava com o nosso cheiro. O feixe de luz iluminava o rosto dele, contorcido de prazer, o suor brilhando na testa.
Eu olhei em volta, vendo os nomes na parede. "Bia + Rafa 2003". "Te amo Ju". E agora, nós. Nós estávamos deixando nossa marca ali, não com caneta, mas com energia.
— Clara... eu vou gozar... a mesa tá fazendo muito barulho... — ele avisou, ofegante.
— Não para! Não para!
Eu sentia meu orgasmo chegando, rápido e furioso. A pressão dele dentro de mim, o risco de sermos pegos, a despedida da escola... tudo culminou numa explosão.
Eu apertei os olhos e enterrei o rosto no ombro dele para abafar meu grito. Meu corpo tremeu inteiro em cima daquela mesa velha.
Sentir meus espasmos foi o fim dele. Lucas deu algumas estocadas fundas, brutais, que fizeram a mesa arrastar uns dez centímetros no chão, e se derramou dentro de mim. Ele gemeu baixo, um som que vibrou no meu peito, enquanto me apertava contra ele como se quisesse nos fundir num só.
Ficamos ali parados por um minuto, abraçados no escuro, o coração batendo descompassado, ouvindo o sinal da escola tocar ao longe.
Triiiiiiiiiiiiiim!
O sinal do recreio. Ou talvez o sinal da saída. O último sinal.
Lucas levantou a cabeça, o cabelo bagunçado, os lábios inchados. Ele sorriu.
— Acabou — ele disse.
— A escola acabou — eu corrigi, descendo da mesa e sentindo as pernas bambas, aquele líquido quente escorrendo um pouco. — A gente tá só começando.
Arrumamos as roupas rápido. Ajeitei a saia, fechei os botões da camisa, passei a mão no cabelo. Lucas fechou o cinto e limpou um pouco de poeira do ombro.
Trocamos um último beijo rápido — um selinho de cúmplices.
Ele abriu a porta devagar, espiou o corredor. Vazio.
Saímos da salinha da pegação como se nada tivesse acontecido. Caminhamos de mãos dadas pelo corredor em direção ao pátio, onde a multidão de alunos gritava e celebrava.
Ninguém sabia o que tínhamos acabado de fazer. Ninguém sabia que, enquanto eles assinavam camisetas, nós tínhamos assinado nossa despedida com suor e prazer na sala dos fundos. Eu apertei a mão do Lucas, me sentindo leve, me sentindo mulher, pronta para enfrentar o mundo, a faculdade e qualquer coisa que viesse pela frente. O uniforme podia ficar para trás, mas o que eu tinha com ele... ah, isso ia longe.