A corrupção 10
Caros leitos, desculpem-me a demora. Devo informá-los que essa história, é, no que possível, realmente baseada em fatos reais. Alguns personagens acreditaram poder negociar com o inferno — e, por um tempo, pareceram vencer. Mas o preço cobrado por forças demoníacas nunca é o que se promete, e ninguém sai ileso de um pacto com o abismo. Este livro não busca glorificar o mal, mas advertir: quem chama pelas trevas, cedo ou tarde, será cobrado.
Se sentir algo estranho ao virar estas páginas — reze.
***
O salão da orgia era vasto, redondo, feito para amplificar vozes e vontades. O teto em cúpula parecia um céu noturno invertido, coberto de drapeados rubros que desciam em cachos, sugerindo vinhas ou línguas flamejantes. Dos candelabros, uma luz dourada se filtrava em prismas quentes, e as sombras dançavam preguiçosas sobre o tapete bordeaux, de fios tão longos que era possível afundar os dedos como em lã viva. O cheiro do sândalo vinha da base das cortinas, misturado ao sal de mar e a um jazz que mal se deixava ouvir, como um fantasma de club nova-iorquino.
Eduarda entrou e soube de imediato que estavam esperando por ela. O robe escarlate era mais translúcido do que previra — e por um instante se envergonhou, antes de lembrar-se de que ali, vergonha era senha de entrada e não senha de fuga. O tecido desenhava silhuetas no corpo recém-iniciado, a tatuagem do dragão projetando uma sombra irregular na coxa e o piercing do mamilo criando uma minúscula estrela fosca no meio do peito. A cada passo, os joelhos rosados abriam o robe, sugerindo mais do que mostravam.
No meio daquela balburdia Henrique estava no divã, meio de lado, a camisa de linho aberta até o peito, o cabelo grisalho penteado para trás com disciplina de quem nunca perdeu um duelo de olhares. Nos dedos longos, um copo de conhaque reluzia sob a luz, como se ele mesmo comandasse o foco dos holofotes. Rafael se postava de pé, atrás da poltrona do pai, braços cruzados, terno preto alinhado, mas o sorriso nos lábios era o de um adolescente prestes a cometer um crime gostoso.
— Humm… A novata, não é mesmo? — disse Henrique, erguendo o copo num brinde informal. O som da voz dele era tão aveludado que, por um momento, confundiu-se com a trilha jazzística ao fundo.
— Ainda tenho muito a aprender com vocês — retrucou Eduarda, aproximando-se com o andar calculado de quem atravessa uma sala de tribunal, e não um teatro de prazeres. O tom era desafiante, mas doce. O robe colava-se ainda mais ao corpo, úmido do suor que brotava nos cotovelos e atrás dos joelhos.
Rafael não disfarçou o olhar: percorreu cada centímetro exposto, dos mamilos aos tornozelos, antes de sorrir com dentes perfeitos.
— Acho que ela veio pronta pra hoje — comentou, ainda sem encostar nela, mas tão perto que o cheiro da pele de Eduarda misturou-se ao aroma cítrico do aftershave.
— Veio ou nasceu pronta? — Henrique ponderou, batendo de leve os dedos no copo.
Eduarda riu, sentando-se no divã, as pernas cruzadas de forma a esconder e exibir alternadamente o que havia sob o tecido. Henrique olhou para o filho e, numa espécie de trégua, ofereceu a taça.
— Bebe comigo — propôs, e Eduarda aceitou, lambendo o conhaque antes de sorver.
— Você gosta de ser observada? — perguntou Henrique, voz rouca de desejo e desafio.
Eduarda não hesitou: — Adoro. Ainda mais quando sei que quem observa vai querer se juntar depois.
Os olhos de Henrique escureceram, e o cheiro do conhaque pareceu evaporar, substituído pelo do suor que começava a brotar dos três.
Rafael deslizou a mão pela coxa de Eduarda, parando no joelho — O velho tem razão. É melhor dividir do que esconder. Não gosto de mentiras.
— Por isso você me trouxe aqui hoje? — Eduarda alternava o olhar entre os dois, sentindo-se presa em uma rede muito confortável.
Henrique assentiu.
— Hoje você é o segredo. Mas não por muito tempo.
O jazz do fundo subiu mais um tom, e as luzes dos candelabros pareceram baixar de intensidade. Os três ficaram em silêncio por alguns segundos, ouvindo apenas o pulsar acelerado de seus próprios corações.
Então Eduarda se levantou, o robe agora totalmente aberto na frente, e andou até o bar lateral, onde serviu mais uma dose para cada um. Ao voltar, sentou-se entre Henrique e Rafael, entregando-lhes as taças como se fosse uma sacerdotisa pagã distribuindo vinho sagrado.
Henrique tomou de um gole, os olhos fixos no decote que mal cobria os seios de Eduarda. Rafael apoiou a taça no chão e, sem pedir permissão, tocou o joelho dela de novo, desta vez subindo até a base da coxa.
— Você sabe que a gente não pode mais viver sem isso — disse Rafael, o timbre da voz vibrando de desejo, mas também de tristeza.
Henrique concordou:
— Agora que começamos, não tem volta. Você entendeu isso, Eduarda?
Ela sorriu, erguendo o copo para um brinde silencioso.
— Eu nunca quis voltar mesmo — repetiu, a frase tão sincera que foi preciso contê-la na garganta.
O sândalo ardeu mais forte, e o jazz virou pura eletricidade. No salão, não havia mais passado ou futuro — apenas a certeza de que dali em diante, tudo que se fizesse seria lembrado, não pelo que era, mas pelo que representava.
Henrique a puxou para perto, Rafael a envolveu por trás. E, no calor silencioso do salão, os três se perderam em risos baixos e olhares cúmplices, sabendo que, depois daquela noite, não existiria mais segredo capaz de prendê-los.
***
As lanternas de vidro espelhado lançavam sobre o divã uma luz tépida, tão suave que era impossível distinguir o início e o fim das sombras. O veludo vermelho absorvia cada faísca de eletricidade no ar, amplificando o contraste da pele branca de Eduarda contra o tecido. Havia silêncio, mas não era vazio: era silêncio prenhe, vibrando como um filamento antes de queimar.
Eduarda ajoelhou-se no tapete, de frente para Henrique, o robe finalmente abrindo como flor de outono. Os mamilos brilhavam rosados e rijos, e a pele dos ombros cintilava no clarão das velas. Henrique, sem um pingo de arrogância, apenas contemplou. Parecia um cirurgião à espera do paciente, ou um leão à espera do sangue — em ambos os casos, a fome era mais nobre do que vulgar.
— Posso? — Eduarda perguntou, com uma polidez indecente.
— Pode tudo — respondeu Henrique, a voz falha pela primeira vez.
Ela desabotoou a calça dele com gestos cirúrgicos, puxando para fora o pau semi-ereto, grosso e marcado de veias roxas. O cheiro era familiar, mas carregado de algo novo: o perfume da velhice bem cuidada, da testosterona destilada em luxo e comando. Ela começou devagar, lambendo só a ponta, depois descendo a língua pela base, enquanto olhava Henrique nos olhos, saboreando cada centímetro de constrangimento que arrancava dele.
Rafael, de pé atrás de Eduarda, não conteve um sorriso de fera. Ajoelhou-se também, bem rente à coluna dela, e deslizou as mãos pela linha das costas, traçando o dragão tatuado com os dedos. O toque era quase carinhoso, até que ele subiu pelas costelas e agarrou os seios, comprimindo-os contra o veludo do divã.
— Sempre sonhei em ver isso de perto — sussurrou ele, com a respiração já ofegante.
Eduarda sorriu sem soltar o pau de Henrique, murmurando algo incompreensível com a boca cheia, e Rafael riu baixo, mordendo de leve a nuca dela antes de escorregar a mão para dentro do robe. Encontrou a buceta depilada, quente e já úmida; passou dois dedos pelo clitóris e depois pela entrada, onde fez círculos, alternando lentidão e brusquidão.
Henrique ficou ali, imóvel, olhando o filho e a mulher com uma admiração estranha. Como se, naquele momento, compreendesse tudo que nunca soubera. O pau dele agora pulsava nas mãos de Eduarda, que acelerava o ritmo da boca, alternando entre mamadas profundas e lambidas circulares, cada vez mais insaciável.
Rafael abriu o robe de Eduarda por trás, expondo as costas nuas e as nádegas compactas. Ele cuspiu na mão e umedeceu a própria glande, esfregando-a entre as nádegas dela antes de pressionar de leve a entrada do cu. Eduarda estremeceu, mas não recuou: apenas arqueou mais as costas, expondo-se com a naturalidade de quem nasceu para ser devorada.
— Assim? — perguntou Rafael, a voz falha de tesão.
— Assim mesmo — respondeu Henrique, numa ordem velada.
Eduarda tirou a boca do pau e olhou Henrique nos olhos, com um sorriso felino.
— O senhor gosta de ver? — perguntou, e Henrique assentiu, os olhos tão escuros que pareciam duas bocas sedentas.
— Quero ver você inteira — disse ele. — Quero ver você sendo de todos.
Eduarda obedeceu, subindo no divã e ficando de quatro, as mãos apoiadas no veludo, o cabelo dourado caindo de um lado só. Rafael não perdeu tempo: com um gesto, abriu a calça, baixou a cueca e direcionou o pau já melado para o cu de Eduarda, forçando a entrada centímetro por centímetro.
Ela gemeu, mas não era dor; era alívio, urgência, gozo antecipado. Henrique também se levantou, ficando à frente dela, e segurou o rosto de Eduarda com uma das mãos, guiando o pau dele de volta à boca dela. Agora, a respiração dos três era tudo que se ouvia, além do som úmido da penetração e do ocasional estalo de pele contra pele.
O ritmo era perfeito, uma dança pré-histórica ensaiada milênios antes de qualquer um deles nascer. Henrique encaixava na boca de Eduarda com movimentos curtos, controlados, mas a cada estocada de Rafael por trás, ela era empurrada mais fundo no pau do “sogro”. O cu se dilatava em torno do pau grosso, e Rafael gemia baixinho, como se rezasse para uma deusa esquecida.
Em dado momento, Henrique puxou Eduarda pela cabeça, forçando-a a engolir tudo de uma vez. Ela deixou o corpo relaxar, aceitando o afogamento, as lágrimas escorrendo pelo canto dos olhos e borrando sua maquiagem, o nariz pressionado contra a barriga peluda de Henrique. Quando ele recuou, puxou-a para um beijo, lambendo o próprio gosto nos lábios dela.
— Isso — disse, com ternura misturada a puro desespero — Isso mesmo.
Rafael acelerou atrás, agora metendo com força total, os dedos apertando as laterais do quadril de Eduarda até quase marcar. O cu dela latejava, quente e lubrificado pelo próprio esforço. Henrique, ainda com a mão na nuca dela, inclinou-se para frente e passou a língua pelas costas de Eduarda, do topo até o cóccix, lambendo o suor e o cheiro de veludo misturado ao sal da pele.
Eduarda sentiu uma onda de prazer subir pelo corpo, um calor líquido que irradiava do cu e da garganta ao mesmo tempo. A sensação de estar completamente cheia, tomada, era mais do que física; era a concretização de um desejo antigo, que talvez nem fosse dela, mas da linhagem que a precedeu.
— Vai gozar? — perguntou Henrique, olhando o filho por cima da cabeça de Eduarda.
— Vou — respondeu Rafael, a voz rouca, quase infantil de tão entregue.
— Gosta de dar o cu? — Henrique perguntou a Eduarda, que só conseguiu gemer em resposta.
Rafael riu, já no limiar do orgasmo:
— Ela goza mais assim. Sempre gozou.
Henrique então se ajoelhou no tapete, ficou cara a cara com Eduarda, e a beijou de novo, agora lambendo as lágrimas do rosto dela.
— Você é perfeita — sussurrou ele, e foi a única vez que Eduarda acreditou na palavra.
A pressão aumentou, o ritmo ficou insano. Henrique masturbava o próprio pau com força, mirando na boca e no rosto de Eduarda. Rafael, por trás, agarrou o cabelo dela e forçou o rosto para trás, abrindo ainda mais a garganta dela para o pai.
— Vai, filha da puta — gemeu Henrique, a voz explodindo pelo salão.
E então, juntos, eles gozaram: Rafael primeiro, espirrando quente e grosso dentro do cu de Eduarda, depois Henrique, jorrando no rosto e na boca dela, os dois gemendo alto como se chorassem ou agradecessem. Eduarda sentiu a explosão por dentro, um orgasmo tão intenso que fez as pernas dela tremerem, os braços cederem e o corpo colapsar no veludo.
Os três ficaram ali, suados, imundos, felizes. Rafael beijou a base das costas de Eduarda, lambendo a mistura de sêmen e suor. Henrique, ainda ajoelhado, limpou o rosto dela com um lenço branco, sorrindo como se tivesse encontrado a paz na própria perdição.
— Agora você é nossa — disse Rafael, ainda sem fôlego.
— De verdade — completou Henrique, com os olhos brilhando de satisfação.
Eduarda sorriu, sentindo o cheiro de incenso, suor e sexo misturados. Era o cheiro do novo mundo, aquele que não exigia mais segredos nem máscaras.
E no silêncio que se seguiu, até o jazz de fundo parecia render-se à potência do prazer que os três haviam criado.
***
O aposento era só respiração, ofego e o farfalhar quase imperceptível dos drapeados carmesim envolvendo os três corpos. A luz das velas projetava sombras líquidas sobre as paredes, que se moviam como serpentes, imitando os movimentos que momentos antes haviam consumido Eduarda, Henrique e Rafael.
O corpo de Eduarda arqueava no divã, ainda involuntariamente, como se a descarga de prazer demorasse a decantar nos ossos. Henrique, com o rosto brilhando de suor e gozo, deixou-se cair para trás, apoiando-se nos cotovelos, incapaz de se mover além disso. Rafael colapsou sobre as costas de Eduarda, a testa enterrada entre as omoplatas, os quadris ainda pressionados contra o cu dela, tremendo em espasmos prolongados.
O sêmen escorria pelas nádegas, misturava-se ao suor e ao cheiro quente do veludo. O rosto de Eduarda, sujo de lágrimas e conhaque, agora recebia os respingos do gozo de Henrique — e ela não fez menção de limpá-los. Deixou que o líquido deslizasse pelas têmporas, pela raiz dos cabelos, descendo até a base do pescoço. Parecia confortável naquele estado, como se o excesso de fluido selasse a pele, formando uma nova epiderme — úmida, viva, intocável.
Henrique limpou a testa de Eduarda com a mão trêmula, retirando uma mecha dourada que grudara ali. Passou o dorso do dedo pela linha do nariz dela, admirando a delicadeza do traço, e depois encostou a ponta dos dedos nos lábios úmidos, recolhendo o que ainda restava de si nela.
Rafael, com a respiração descompassada, só ergueu o rosto quando conseguiu controlar o próprio corpo. Ficou olhando, por longos minutos, o modo como Eduarda segurava o silêncio — não de vergonha ou timidez, mas de pura contemplação. Ele então desceu a mão pelo rosto dela, da têmpora até a mandíbula, espalhando o sêmen e o suor em uma carícia lenta, hipnótica.
— Sempre achei que isso era fantasia de adolescente — murmurou Rafael, a voz rouca, quase falha.
Henrique riu baixinho, um riso de veludo, e passou a mão livre pelos cabelos do filho. — O que é real sempre supera a fantasia — disse. — Quando é feito certo.
Eduarda olhou para os dois e, pela primeira vez, enxergou o parentesco: as mãos, os olhos, até o modo de sorrir depois de vencer uma batalha íntima. Ali, naquele instante, ela era parte do clã, não por imposição, mas por escolha — a dela, a deles, de todos.
Henrique suspirou fundo, sentindo as costas colarem no veludo, e virou-se para Eduarda com um olhar de gratidão.
— Fazia tempo que eu não me sentia vivo desse jeito — confessou, tocando o próprio peito como se checasse o pulso.
Rafael assentiu, lambendo o sal dos lábios.
— Acho que agora entendo por que todo mundo fica obcecado por você — falou, sorrindo torto para Eduarda.
Ela retribuiu, inclinando-se para frente até encostar a testa na de Rafael. Por um momento, ficaram assim, compartilhando apenas o calor dos corpos e o cheiro denso do quarto.
— Tem mais? — perguntou Rafael, a frase brincalhona, mas o olhar sério.
— Sempre tem — respondeu Eduarda, e dessa vez era promessa.
Henrique se aproximou, pegando Eduarda pela mão, e então todos os três se deitaram juntos, braços e pernas enroscados, sem medo do contato. A sensação era de véspera: como se aquilo fosse só o começo, um ritual inaugural de algo maior, mais profundo.
O silêncio voltou, mas era um silêncio novo. Não do vazio, mas da paz; da certeza de pertencimento. As velas queimavam até o fim, consumindo a noite em cheiro de cera e sândalo, e o jazz recomeçou, baixinho, quase como uma bênção final.
Lá fora, o mundo rodava — mas ali dentro, o tempo se transformara em matéria: o som abafado do coração de Henrique, o cheiro de Rafael, o suor de Eduarda. Cada um impregnado no outro, e todos satisfeitos.