A corrupção - 12 - O dominador - A terceira transgressão

Da série A corrupção
Um conto erótico de J.M.Calvino
Categoria: Heterossexual
Contém 3738 palavras
Data: 01/11/2025 22:47:24

Quando Eduarda voltou ao salão principal, a orgia ainda fervilhava. O chão estava polvilhado de taças de vinho quebradas, petálas de rosas esmagadas, preservativos explodidos como balões de aniversário e, por todo canto, vestígios de fluidos — humanos ou não — secando nas superfícies de vidro, acrílico e veludo. O cheiro era de suor, esperma, perfume importado e derrota. Ninguém ali parecia lamentar nada.

Ela caminhava nua, e a nudez, naquela altura, já era mais confortável do que qualquer roupa. Ainda sentia na pele os rastros dos outros: saliva de Ana, sangue seco do ritual, a viscosidade residual de Marcelo entre as coxas. Seus próprios piercings ainda doíam em algum lugar entre o físico e o simbólico. Cada passo era uma vitória sobre a antiga Eduarda, a menina de família, a que chorava se pegasse um hematoma. Agora, as marcas eram medalhas.

Quase não percebeu o trio parado na lateral do salão, junto à prateleira de bebidas. O homem era impossível de ignorar: alto, magro, pele translúcida como folha de papel manteiga, o rosto era um exercício de ossatura e geometria. Tinha o cabelo azul petróleo, liso e lustroso, caindo até os ombros em desalinho programado. Os olhos eram tão negros que pareciam não ter íris, e os cílios longos davam ao olhar uma espécie de tristeza animalesca. Dentes de vampiro em versão boutique. Brincava com uma chibata negra, batendo-a lenta e levemente na palma da sua mão.

O nome dele corria solto nos círculos mais depravados da cidade. Lúcifer Blackforge — ou apenas Blackforge, para quem queria fingir que não era groupie — era um cantor gótico de média fama, ex-líder do Lesionário, uma banda que em algum momento ameaçou virar culto, depois sumiu para voltar mais obscena. Nos últimos anos, Blackforge vivia de fetiches. Era figura carimbada em festas como aquela, sempre rodeado de mulheres tão belas quanto mortas por dentro.

Mas não era só. Ao lado dele, duas gêmeas de visual absoluto: pele de mármore, cabelos tingidos de um preto ultravioleta, maquiagem carregada, espartilhos pretos que as afinavam até parecerem bonecas de corda. As bocas, carnudas, tingidas de vermelho extremo. O batom parecia recém-passado, mas era impossível dizer se era Ruby Woo da MAC ou sangue de algum desafeto. Ambas tinham coleiras de couro cravejadas de metais. Nos olhos, delineado tão agressivo que fazia inveja a drag queens russas. Até os movimentos eram sincronizados: inclinavam-se para o lado ao mesmo tempo, cruzavam os braços, depois relaxavam, todas as ações milimetricamente ensaiadas para maximizar o impacto.

Lúcifer Blackforge girava entre os dedos uma chibata de couro legítimo, preta e de acabamento primoroso. As gêmeas seguravam drinks incolores, talvez vodca pura, e sorriam para quem ousasse encarar mais de três segundos.

Quando Eduarda passou perto, ele a fisgou com a voz de cantor rouco, uma voz que já tinha roçado a garganta de milhares de mulheres em CDs piratas.

— Olha só — disse ele, nem um pingo de embaraço — Quem te tatuou tem bom gosto, mas você melhora tudo.

A frase deveria soar como cantada barata, mas a forma como Blackforge a disse era diferente: havia nela mais apreciação estética do que concupiscência. Ele olhou o dragão tatuado, o piercing no septo, os mamilos cravejados de aço dourado. Sorriu, mostrando dentes que podiam, ou não, ser limados de propósito.

— Sente aqui, — ele indicou o sofá de couro branco ao lado — Você parece que merece lugar de destaque.

Eduarda sentou sem hesitar, cruzando as pernas e descansando as mãos sobre o joelho. Uma das gêmeas imediatamente ajeitou o corpo para que seus ombros ficassem alinhados ao de Eduarda, a outra encostou a perna na dela, como se quisesse passar energia, ou roubar.

— Eu sou o Lúcifer, mas prefiro Blackforge, porque já cansaram de me crucificar. Essas duas — ele gesticulou para as gêmeas, que sorriram em uníssono — são minha obra-prima.

— Chamo-as de Irmãs Black. Elas têm nome de batismo, mas não precisa. O melhor de gente é o que a gente inventa.

Eduarda riu.

— Você faz cosplay de Marquês de Sade em festa temática, ou é um trabalho em tempo integral?

Ele gostou da provocação. Ajeitou a chibata no colo e respondeu:

— Trabalho integral, mas com intervalos generosos. Meu hobby é escultura. Só que não mexo com mármore: moldo carne humana. Às vezes, dou de presente para amigos, outras guardo para mim. E você, Eduarda? Qual é tua tara secreta?

Ela pensou em negar, mas algo nela queria ver até onde ele iria.

— Gosto de garotas, gosto de apanhar. Mas também gosto de virar o jogo — disse, olhando diretamente para Blackforge.

A resposta agradou o trio. Uma das Irmãs Black encostou a cabeça no ombro de Eduarda, o cabelo exalando cheiro de coco queimado e alguma flor noturna. A outra passou a mão, de leve, pela coxa de Eduarda, sentindo o relevo da tatuagem.

— Sabia que elas não eram góticas nem gemeas quando as conheci? — Blackforge prosseguiu, com orgulho — Uma era cirugiã bucomaxilofascial, extremamente germofóbica, a outra promotora especializada em crimes do colarinho branco, era insuportavelmente fria e cheia de ética. Transformei corpo e mente. Levei um ano pra chegar nesse ponto.

— Por que não pegar góticas originais? — Eduarda questionou, sabendo a resposta mas querendo ouvir.

Ele sorriu.

— Original não tem graça. Prefiro criar do zero, imprimir minha marca. Dou o nome, escolho o uniforme, mudo a cor do cabelo. Até as tatuagens, fui eu que desenhei. Viu as caveiras no pulso? Eu mesmo tatuei, bêbado, numa sexta-feira de lua cheia.

Eduarda examinou, e era verdade: caveiras gêmeas, de traço simples, com um detalhe sutil de cruz invertida na testa. Não era só fetiche. Era projeto de vida.

— Gosto do seu método — admitiu Eduarda, olhando agora para as gêmeas, que sorriam com adoração bovina para o mestre — Mas e se alguém não quiser ser moldado?

Blackforge aproximou o rosto, tanto que Eduarda sentiu o hálito de vodca e anis.

— Todo mundo quer. Só precisa de incentivo certo. Ou do ritual certo.

Houve uma pausa. As luzes do salão, agora mais baixas, deixavam a cena ainda mais teatral. As outras festas aconteciam em paralelo — um grupo cheirava cocaína atrás da cortina, três mulheres se chupavam debaixo da mesa de sinuca, um velho com cara de ex-desembargador recebia um boquete de um garoto andrógino em cima do piano. Mas, ali, o tempo parecia congelado para os quatro.

A mão de Blackforge deslizou pelo ombro de Eduarda, com precisão de quem sabe a força exata para não assustar, mas eletrizar.

— Curto mulheres como você. Gente que já vem semi-pronta. Só precisa de lapidação. — Ele acariciou de leve o piercing do mamilo direito, depois deixou a mão repousar — Posso? — perguntou, não à Eduarda, mas às gêmeas.

— Claro, mestre — disseram em uníssono, as vozes afinadas, meio sem sotaque.

— Você topa um experimento? — Blackforge perguntou, agora bem rente ao ouvido de Eduarda.

Ela não respondeu. Só olhou nos olhos dele, depois nos das gêmeas. Havia neles um vazio ansioso, um desejo de agradar sem limites.

Blackforge se recostou no sofá, abriu as pernas, e puxou as gêmeas pelo cinto das coleiras.

— Quero ver como você reage sob pressão — disse ele. — Gosto de surpresas.

O desafio estava lançado, e Eduarda sentiu o corpo inteiro vibrar de antecipação. Aquilo não era só sexo, era uma luta pelo controle do próprio destino.

Ela olhou para a chibata, depois para o sorriso canino de Blackforge, e percebeu que talvez tivesse encontrado, enfim, alguém à altura da sua nova fome.

— Pode me moldar — ela sussurrou. — Mas aviso: posso quebrar o molde depois.

Ele riu, e até as gêmeas riram, como bonecas programadas para gozar da piada.

No fundo do salão, alguém gritou, outro alguém chorou de prazer. Blackforge passou a mão pelo queixo de Eduarda, analisando cada detalhe como quem avalia um diamante.

— Acho que a noite vai ser melhor do que o anunciado — declarou.

E, de repente, Eduarda soube: era verdade.

***

O jogo não demorou a começar. Blackforge encostou as costas no sofá branco, abriu mais as pernas e bateu levemente com a chibata na coxa — um convite, não uma ordem. As Irmãs Black se moveram em sincronia, deslizando até o chão e posicionando-se ajoelhadas, cada uma de um lado do mestre. Olhavam para cima com olhos de gata doméstica faminta.

Eduarda demorou meio segundo para decidir que não seria a última a agir. Ajoelhou-se entre as gêmeas, sentindo o veludo do tapete pinicando as canelas, e esperou o próximo passo. Blackforge não hesitou. Abaixou a calça de couro com os próprios punhos, revelou a cueca preta colada ao corpo, a glande do pau já prensando a malha para fora. O membro era grosso, veias azuladas saltando sob a pele de porcelana. Tinha uma pinta no lado esquerdo da base, e era de um comprimento que beirava a intimidação.

— Vocês três, agora — disse, calmamente.

Foi a senha. Uma das Irmãs Black puxou a cueca para baixo, liberando o pau ereto e quente, que imediatamente pulou, quase atingindo o queixo da outra. Eduarda foi a primeira a encostar a boca na glande, mas uma das gêmeas já lambia a base ao mesmo tempo, a língua girando ao redor como serpente. A outra gêmea sugava o saco de Blackforge, alternando beijos e pequenas mordidas com precisão cirúrgica.

Eduarda sentiu o gosto metálico do pré-gozo, misturado ao cheiro de couro, suor e perfume de lavanda barata. Não era um sabor ruim — era animal, quase sacramental. Ela aumentou o ritmo, enfiando o pau de Blackforge mais fundo na garganta, mas logo percebeu que as gêmeas estavam adestradas: elas alternavam, cada uma sugando um tempo, depois lambendo juntas, depois trocando entre si como se tivessem nascido para aquilo.

— Faz melhor, Eduarda — sussurrou Blackforge, segurando os cabelos dela, apertando só o suficiente para estimular, não machucar. As gêmeas riram, sussurrando “melhor, melhor”, como coro de torcida organizada.

Eduarda não recuou. Engoliu o pau até a garganta fechar, forçando até sentir as lágrimas começarem a escorrer pelos olhos. Blackforge gemeu baixo, mas não soltou. Puxou a cabeça dela para trás, só para que as gêmeas pudessem lamber juntos o pau babado, limpando com as línguas a saliva que escorria pelo tronco.

Em dado momento, Blackforge parou o trio. — Chega — disse, voz de general. — Quero ver vocês entre si.

As gêmeas não hesitaram: levantaram, empurraram Eduarda de leve até que ela sentisse as costas baterem no assento macio do sofá. Blackforge guiou os ombros dela, deitando-a de costas. O corpo dela afundou um pouco na almofada, e as pernas abriram-se, reflexo de quem já esperava o próximo comando.

Uma das gêmeas subiu no sofá e montou sobre Eduarda, posicionando-se de modo que a buceta depilada e brilhante de umidade tocasse o rosto da novata. A outra gêmea ficou na altura dos seios de Eduarda, e, com destreza de ladrão profissional, começou a sugar os mamilos cravejados, alternando mordidas e chupadas, os dedos estimulando os seios com carinho quase maternal.

Blackforge se levantou, pegou Eduarda pelas têmporas e forçou a boca dela na buceta da gêmea. O clitóris já estava inchado, o sabor intenso, amargo e salgado ao mesmo tempo. Eduarda lambeu, chupou, sentiu a outra estremecer, enquanto a segunda gêmea gemia com os mamilos de Eduarda presos entre dentes e língua.

— Quero ver você gozar, — disse Blackforge, não se sabe a quem. O pau dele ficou alinhado com a boca de Eduarda, que já estava engolindo a buceta da gêmea de olhos fechados.

A mão firme de Blackforge puxou a cabeça da gêmea para cima, liberando espaço para que ele mesmo avançasse com o pau. Segurou a mandíbula de Eduarda, guiando-a, depois forçou a glande entre os lábios, enfiando fundo logo de primeira.

Eduarda quase engasgou, mas a mão forte segurou sua cabeça para não recuar. O pau de Blackforge desceu mais, atravessando a língua, forçando a garganta até bater no fundo. A sensação era de sufoco, mas também de poder absoluto: ela sentia o calor do pau expandindo dentro do pescoço, e via as gêmeas olhando com admiração, como se aquilo fosse arte.

Blackforge começou a bombar, devagar no início, depois mais rápido. Cada estocada fazia o pau sumir na boca de Eduarda, e ela sentia o esôfago ser invadido, o lado esquerdo do pescoço formando um calombo com o formato exato do pau de Blackforge. Era grotesco e belo. O rosto dela foi ficando molhado de saliva e lágrimas, e, a cada novo golpe, as gêmeas lambiam o excesso, mantendo tudo limpo como boas crias de laboratório.

Quando Eduarda achou que fosse desmaiar, Blackforge recuou. As gêmeas entraram em ação: uma lambeu a glande ainda escorrendo baba, a outra beijou a testa de Eduarda, depois voltou a sugar os seios. Em meio ao caos, uma das gêmeas desceu os dedos pela barriga de Eduarda, alcançando a buceta, que latejava de excitação.

— Assim, querida, assim — murmurou ela, introduzindo dois dedos de uma vez, movimentando-os rápido, pressionando o ponto exato para acender a explosão. A segunda gêmea encostou a boca no clitóris de Eduarda, e começou a chupar com ritmo matemático, sem hesitar, sem piedade.

O pau de Blackforge voltou a invadir a boca de Eduarda, agora com uma velocidade brutal. Ela sentiu os músculos do rosto arderem, a garganta queimando, a cabeça girando de tanto ar faltando. Mas não queria recuar. Segurou nas coxas do dominador, forçou ele mais fundo, até a visão ficar embaçada de lágrimas.

De repente, veio: um orgasmo tão violento que fez o corpo inteiro de Eduarda se contrair, as pernas chutando o sofá, os braços agarrando quem estivesse perto. Ela gritou, mas o som saiu abafado pelo pau de Blackforge. O gozo fez a buceta espirrar, respingar até nos dedos da gêmea que a estimulava. O orgasmo não foi um, mas vários, uma sequência de explosões intercaladas por microdesmaios, até que a cabeça dela caiu para o lado, exausta e feliz.

Só então Blackforge retirou o pau, com um estalo molhado, e logo se ajoelhou sobre o rosto de Eduarda. Masturbou-se rápido, olhando nos olhos dela, e quando gozou, o jato quente de porra cobriu o queixo, os lábios, até o nariz de Eduarda. As gêmeas imediatamente lamberam a mistura de sêmen e saliva, dividindo o prêmio como gatas gêmeas famintas. Cada uma enfiou um dedo na boca de Eduarda, revezando para que ela provasse o próprio sabor misturado ao do mestre.

No fim, Eduarda ficou ali, deitada de costas, os olhos marejados, o rosto melado de suor, saliva e gozo. As gêmeas se deitaram de cada lado, acariciando seus cabelos, como quem embala um bebê depois de um parto bem-sucedido.

Blackforge apenas sorriu, com a chibata de novo na mão, os olhos brilhando de vitória.

— Você supera todas — disse, voz de exausto. — Pode quebrar quantos moldes quiser.

Eduarda não conseguiu responder de imediato. Só respirava, ofegante, sentindo o corpo inteiro vibrar de energia residual.

Quando, enfim, abriu a boca, sua voz era a de uma rainha recém-coroada:

— Ainda não terminei — sussurrou, olhando para as gêmeas, que riram, cúmplices.

No espelho da parede, Eduarda se viu — rosto borrado, olhos vermelhos, pescoço marcado, mas o sorriso no canto da boca era o de quem não tinha perdido nada, só ganho. Ela entendeu, então, que estava pronta para o próximo round.

E, ali mesmo, no sofá encharcado de suor e fluidos, já começava a planejar o próximo ataque.

***

Mal tinham se recomposto, Blackforge decidiu que ainda não era hora de acabar o espetáculo. Bateu duas vezes na lateral da coxa de Eduarda, e as Irmãs Black entenderam o comando: deitaram Eduarda de bruços no sofá, abrindo as pernas dela com gestos firmes, mas sem crueldade. Uma das gêmeas ficou de joelhos, prendendo os pulsos de Eduarda acima da cabeça, enquanto a outra segurava as canelas da novata, impedindo qualquer movimento súbito.

Blackforge pegou a chibata de couro com a mão direita e, sem aviso, estalou-a na bunda de Eduarda. O som foi seco, como tiro de pistola. A pele branca ficou marcada imediatamente, uma faixa vermelha que emoldurava as nádegas com perfeição geométrica.

— Não é suficiente apanhar, Eduarda. Tem que gostar — disse ele, voz de quem recita mantra.

A segunda chicotada veio rápida, dessa vez atravessando a curva da bunda para a parte superior da coxa. Eduarda estremeceu, mas não gritou; mordeu o lábio, os olhos brilhando de um misto de dor e prazer. As gêmeas observaram, excitadas, as mãos roçando de leve o corpo dela enquanto Blackforge desferia a terceira e a quarta chicotada, cada uma mais incisiva que a anterior.

Na quinta, Eduarda decidiu que bastava. Fingiu resignação, relaxando os braços, e esperou o momento exato em que a chibata fosse novamente levantada. Blackforge, confiante, se inclinou para trás para ganhar mais impulso, e foi aí que Eduarda girou o quadril com força e, com uma precisão acrobática, agarrou a ponta do chicote.

Por um segundo, todos congelaram.

Com um puxão seco, Eduarda arrancou a chibata da mão de Blackforge, virou-se de lado e, antes que ele pudesse reagir, golpeou o rosto do dominador com a ponta flexível, bem na lateral da bochecha. O estalo foi ainda mais alto, e uma linha fina de sangue apareceu, quase instantânea, desenhando uma diagonal perfeita no rosto de Blackforge.

Silêncio absoluto no salão. As gêmeas abriram um sorriso enviesado, como se esperassem aquilo a vida inteira.

Blackforge levou a mão à face, analisou o sangue nos dedos e, em vez de se irritar, lambeu o corte. Depois, soltou uma risada rouca, metade surpresa, metade tesão.

— Eu devia saber — disse ele, voz agora mais grave. — Sempre tem um demônio novo querendo derrubar o velho.

Eduarda se levantou, ainda nua, a bunda marcada pelas faixas vermelhas. Girou o chicote nos dedos, testando o peso, depois apontou a ponta para o peito de Blackforge.

— Não nasci para ser esculpida por ninguém. Se for pra moldar alguém, que sejam as minhas.

Blackforge abriu os braços, rendido.

— Faz sentido. Gente como você tem que ter escravas próprias.

As Irmãs Black se entreolharam, então olharam para Eduarda, olhos brilhando de entusiasmo. Pareciam, de fato, prontas para se render ao novo comando.

Eduarda sorriu, um sorriso quase cruel.

— O que eu quero — ela disse, virando para as gêmeas — é alguém que seja minha extensão. Que faça o que eu mando. Que esteja pronta pra qualquer coisa, sem vergonha, sem pudor. Gente assim, eu vou transformar em arte.

Blackforge assentiu, o corte ainda sangrando lentamente, mas o orgulho intacto.

— Você já tem o dom, Eduarda. Falta só a matéria-prima.

A noite parecia não ter mais fim. E, naquele momento, Eduarda entendeu que o próximo projeto dela não seria mais sobre sobreviver ou se adaptar.

Seria sobre criar um novo mundo a partir do velho, do jeito que quisesse.

E, pela primeira vez, sentiu-se realmente livre para começar.

***

O silêncio pós-batalha tinha gosto de nova era. Eduarda permaneceu em pé, nua e marcada, segurando a chibata como um cetro. Blackforge, agora sentado no chão, lambia a própria ferida e olhava para ela com olhos de guri travesso que acabou de perder no esconde-esconde. As Irmãs Black continuavam à disposição, uma delas já começando a tocar a própria buceta, talvez para mostrar serviço, talvez para processar o que tinha acabado de ver.

Eduarda examinou as gêmeas com olhar de crítica de arte. Chegou perto, circulou ao redor delas, ajeitou uma mecha de cabelo da primeira atrás da orelha, apertou de leve o queixo da segunda, como quem testa a densidade da argila antes de modelar. Blackforge observava, satisfeito, como pai que vê o filho ultrapassar o mestre.

— Quero elas menos dark — decretou Eduarda, num tom que não admitia réplica. — Bronzeadas, de preferência. E nada de preto no cabelo. Platinum, ou descolorido até quase azul. Sobrancelhas finas, maquiagem de loja de shopping. Piercings pelo corpo, no umbigo e, se aguentarem, no clitóris também. Tatuagens vão ser obrigatórias — Eduarda deu um risinho sarcástico — inclusive vou tatuar minhas iniciais em cada uma delas.

As gêmeas olharam uma para a outra e assentiram, o olhar submisso e curioso.

— Ler demais também não me agrada, elas devem ser menos eruditas que eu — continuou Eduarda. — Se tiverem algum diploma, rasgarão. Só irão consumir TikTok, ou vídeo de unboxing, ou receita fitness. Nada de filosofia, nada de livro, nada de discussão política. Quero elas meio burras mesmo. Daquelas que irão me obedecer cegamente, espionar, me dar privilégios, encobertar, para fazerem sexo comigo ou com quem eu mandar.

Blackforge gargalhou, aquela risada que atravessa a infância e volta cheia de malícia adulta.

— Você está descrevendo um bimbo, Eduarda.

Ela virou o rosto, intrigada.

— Bimbo?

— Sim. É um fetiche novo — explicou ele, com voz de palestrinha pós-moderno. — Mulher bronzeada, corpo fake, boca carnuda, cabelo de Barbie. Só fala besteira, vive pra sexo e pra consumo. Se deixar, faz preenchimento até no cérebro. Homem adora porque parece pornografia ambulante, mas as melhores bimbos são mulheres que já foram inteligentes e decidiram parar. Eu já modelei umas três, mas a maioria não tem disciplina. Faltou mestre de verdade, né?

Eduarda ponderou, balançando a chibata como metrônomo.

— Então eu quero isso. Mas melhor. Quero que obedeçam tudo, não só na cama. Quero que vistam o que eu mandar, que transam com quem eu mandar, que estejam sempre disponíveis. E se quiserem pensar, que seja só em como me agradar.

Blackforge sorriu, genuinamente impressionado.

— Você está pronta pra comandar um culto, Eduarda.

Eduarda riu e se virou para Blackforge.

— Sabe, Eduarda, o bimbo é só o começo. Gente como você vai querer mais. Vai querer moldar homens também, ou transformar garotas normais em monstros do próprio desejo.

— Eu já faço isso. Só faltava coragem de assumir. — Eduarda deu de ombros, os olhos brilhando de ambição. — Mas me diz, Blackforge. Depois que a gente molda, o que vem? Que graça tem usar o brinquedo novo pra sempre?

— A graça — respondeu ele, voz rouca e pensativa — é quando o brinquedo decide moldar os outros. Aí você vai entender que nunca termina, só escala. Se precisar de dicas, me chama. Conheço umas clínicas clandestinas que fazem milagres em matéria-prima humana. E o segredo do bronzeado é melanotana, mas cuidado: vicia.

Blackforge sumiu pelo corredor, a risada dele ecoando até virar poeira.

Eduarda sabia que o prazer não era mais no sexo, ou na transgressão. Era no controle, na estética, no poder de transformar o banal em sublime.

E, ao olhar para o espelho, Eduarda viu não só a si mesma, mas o reflexo de todas as futuras criações — loiras, burras, perfeitas, à imagem e semelhança de uma deusa recém-nascida.

Naquela noite, o verdadeiro culto começava.

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Comentários

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O aspecto visual dessa história é essencial. Você fez uma descrição muito boa sobre o corpo , roupas, acessórios, todos detalhes. Eduarda esculpindo suas obras de arte humanas, até transformando a mentalidade delas. O prazer dela em criar um culto é imenso e profundo, e o prazer das pessoas dominadas é o contrário do dela, a submissão total a uma mestra do erotismo mais profundo que torna-se quase religioso.

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Provavelmente vai gostar dos próximos capítulos, já lancei alguns.

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O arco da faculdade será do agrado de quem curte bdsm e lavagem mental.

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