A cobertura estava muito quieta. O silêncio era pesado e frio, como o chão de mármore e as janelas de vidro que mostravam a cidade lá embaixo. O único som era o dos talheres caros batendo nos pratos.
Heitor estava na ponta da enorme mesa de jantar. Ele não comia, apenas olhava. Seus olhos cinzentos olhavam primeiro para a comida (que parecia mais um enfeite) e depois para sua esposa.
Lívia estava perfeita, como uma boneca. Usava um vestido de seda claro e um penteado arrumado. No seu pescoço, brilhava um pesado colar de diamantes. Era o seu papel ali: ser bonita e ficar quieta.
De repente, o barulho do elevador quebrou o silêncio.
Heitor e Lívia olharam para cima na mesma hora. Ele ficou sério. Ela prendeu a respiração. A porta do elevador se abriu.
Júlia apareceu na porta. Ela estava parada, como se estivesse posando para uma foto provocante. Ela estava atrasada, mas esse não era o maior problema.
Ela usava um vestido preto muito justo. Tinha um rasgo (fenda) que subia alto na perna, quase até o quadril. O decote era muito profundo, mostrando bastante pele. O cabelo estava solto e bagunçado, e a boca pintada de um vermelho forte.
"Boa noite," ela disse, com voz entediada.
Os olhos de Heitor a fuzilaram. "Você está atrasada."
"Trânsito," ela mentiu, sentando-se em frente a Lívia.
Ela cruzou as pernas devagar, e o vestido se abriu de propósito, mostrando boa parte da sua coxa.
Heitor a ignorou e voltou a falar com Lívia. "Como eu dizia sobre os negócios..."
Lívia tentava prestar atenção, mas não conseguia parar de olhar para Júlia. Júlia parecia trazer o caos para a sala. Ela observou Júlia pegar um morango da sobremesa. Júlia olhou direto para Lívia, levou o morango à boca e o mordeu lentamente, ainda olhando para ela.
Era um claro desafio.
Naquele momento, o celular de Heitor tocou. "Licença, é de Tóquio." Ele se levantou e foi para o escritório, fechando a porta.
O silêncio voltou, mas agora era um silêncio diferente. Estavam apenas as duas.
Lívia olhou para o prato. Ela sentia o olhar de Júlia queimando nela.
"E aí," disse Júlia, quebrando o silêncio.
Lívia olhou para ela. Júlia estava inclinada sobre a mesa, com um sorriso perigoso. Os olhos dela desceram para o colar de Lívia.
"Colar bonito," ela sussurrou.
Lívia tocou os diamantes. Estavam gelados. "Obrigada. Foi..."
"Eu sei quem deu," Júlia a cortou. Ela chegou ainda mais perto, e sua voz ficou baixa, como se contasse um segredo sujo. "A questão é: você ganhou por ser obediente... ou por ficar quieta?
