Era Halloween.
Meu primeiro Halloween.
Nunca tinha ido a uma festa desse tipo. Pra mim, tudo era “festa à fantasia”, mas esse tema específico eu nunca tinha visto. Animei de ir porque uma amiga mais alternativa disse que precisava de companhia; não queria ir sozinha de jeito nenhum. Pensei: vamos ser uma boa amiga, então.
Como não estava acostumada com esse tipo de evento, comprei uma dentadura falsa de vampiro e passei uma maquiagem preta do jeito que consegui. Preciso dizer que a dentadura eu só colocava na hora de tirar fotos — era desconfortável demais, demais.
O evento acontecia numa casa adaptada que tinha virado bar. A iluminação era baixa, e as músicas góticas dominavam o ambiente. Eu não conhecia nenhuma, mas achei legal.
Minha amiga dançava sem parar — rebolava de um jeito que quase hipnotizava. Vestida de pirata, com a maquiagem de caveira borrando um pouco por causa do calor, ela conseguia ser engraçada e bonita ao mesmo tempo.
A parte ruim era o banheiro: extremamente pequeno, um dos menores que já vi. Desconfortável demais.
No meio da madrugada, a gente já tri bêbada, começou a dar vontade de ir ao banheiro.
Presta atenção nessa parte da história, porque a porta de plástico do lugar não fechava direito, um pesadelo pra qualquer pessoa.
— Segura a porta pra mim — ela pediu.
— Claro — concordei.
Fiquei lá esperando ela sair. Qualquer mini movimento fazia a porta abrir uma fresta. Ela, com certeza, estava desconfortável. Sugeri uma nova estratégia.
Entrei no espaço apertado e empurrei a porta com as mãos. Assim não tinha mais problema. Malditas portas que abrem pra dentro.
Tinha a parte ruim de ouvir a amiga fazendo xixi, mas era o melhor que a gente podia arranjar..
Do nada começo a sentir ela apertar minha bunda.
— Nossa, amiga, que bundão — ela disse
— Presta atenção no que você tem que fazer ai
— Mas como que presta com uma bunda dessa.
E apertou outra vez.
— Fica alisando ai, depois eu gosto e você não aguenta.
— Aaaaa eu aguentava sim.
Posso ter só 1,60 de altura, mas sou bunduda — todo mundo fala isso.
É o meu charme. Se eu fosse baixinha assim e não tivesse nada pra chamar atenção, desaparecia na multidão.
Voltamos pra festa. Ignorei as piadas dela com teor adulto — ela sempre foi assim, fazendo gracinha toda hora. Uma vez quase arrumou briga por apertar uma ex-professora. Lembro como se fosse hoje: a mulher gritando no meio da rua e minha amiga ficando vermelha de vergonha. Quem brinca demais tem dessas.
Não tem jeito: depois que você aprende a beber cerveja, aprende também que, se for ao banheiro uma vez, acabou — vai precisar ir toda hora.
Chegou minha vez.
Adotamos a mesma estratégia de antes: ela entrou comigo naquele espaço apertado e empurrou a porta.
Fiz meu xixi com toda a paciência do mundo.
Quando fui me levantar, ela estava lá, me olhando.
— Não deu tempo, amiga — ela perguntou.
— De que?
— Você sabe.
Eu estava mesmo sem me depilar já tinha uns dias.
— Você não gosta assim não — falei brincando.
— Gosto de você de qualquer jeito.
— Como é?
Ela segurou a porta com o pé e, se equilibrando, me agarrou.
Pensei, no início, que fosse cair — que tivesse perdido o equilíbrio ou algo assim.
Mas depois entendi que era de propósito.
Passou a mão na minha ppk, brincando com os dedos nos meus pelinhos. Depois desceu um pouco e senti o toque nos meus lábios. Fiquei molhada na hora! Demorei um minuto para tomar uma atitude, ela aproveitou do meu susto.
Quase enfiou um dedo em mim.
Empurrei ela.
Olhei com desconfiança, e o assunto morreu ali.
Ainda olhei pra trás, só pra ver ela cheirando os dedos.
