Sabe meus amigos, minha relação com a Luana está cada vez mais complicada e ainda não sei qual rumo tomar. Só sei que o meu reencontro com ela não foi nada bom.
O cheiro de Porto Alegre e o suor da noite passada ainda estavam impregnados nas minhas roupas quando pousei em Florianópolis, no final da tarde de sábado. A viagem de volta foi um borrão. Enquanto o avião subia e descia, eu revivia o corpo de Clara, de Laura, o olhar lascivo de Henrique e, por fim, o rosto pálido de Clara ao saber que seu marido, o canalha, havia sido espancado. O aviso: "Mexer com mulher casada só traz azar". Aquilo era um fardo novo e pesado para carregar.
Não avisei Luana. Não queria alardes ou um reencontro forçado no aeroporto. Abri a porta do nosso apartamento com a chave, o peso da mala no chão ecoando no silêncio.
O apartamento estava vazio.
Uma ponta de alívio atravessou meu peito. Eu não sabia como enfrentar Luana, como reagir à sua presença depois de vinte dias e de tudo que eu tinha feito para me vingar. A casa vazia era um adiamento bem-vindo. Ela deveria estar com a mãe ou, talvez, em alguma das reuniões de trabalho que ela usava como desculpa. Meu lado mais cínico pensou: ou com o Maurício, de novo.
Fui direto para o banheiro. Precisava lavar a poeira da viagem, o cheiro de suor e a memória da hidromassagem promíscua em Porto Alegre. Deixei a água quente cair no corpo por longos minutos, sentindo a tensão se esvair.
Ao sair, vesti apenas uma bermuda, larguei-me no sofá e liguei a TV em algum canal de esportes aleatório. O cansaço me abateu como um martelo. Não demorou, e o sono me puxou para baixo, um sono pesado e merecido.
Acordei com o cheiro de café fresco e pão na chapa.
A luz forte da manhã de domingo invadia a sala, e eu senti um peso familiar sobre mim: um cobertor leve. Luana estava de costas para mim, os cabelos longos e brilhantes, vestindo um robe de seda. Ela estava na cozinha, concentrada, arrumando a mesa.
Luana não tinha passado a noite em casa.
Meu coração, que eu achei que estava petrificado, deu um salto dolorido. Vê-la ali, tão perto e tão minha, acendeu uma chama de nostalgia e desespero. Apesar de toda a traição, de todo o caos, meu coração se desmanchou por um segundo. A Luana que eu amei estava ali.
Ela se virou, e seus olhos encontraram os meus. Não houve gritos, nem lágrimas imediatas, apenas um silêncio carregado. Um sorriso pequeno e frágil surgiu em seu rosto. Ela parecia aliviada, até mesmo feliz.
Eu me levantei. Não consegui dizer uma palavra. Não consegui perguntar onde ela estava, o que estava fazendo. Fui direto para o banheiro, o único lugar onde eu podia me esconder. Fiquei no banho por longos minutos, sentindo a água quente, o vapor embaciando o espelho e a minha mente. Tentava encontrar uma estratégia, a palavra certa para começar a guerra ou o armistício.
Quando finalmente saí, de calça jeans e camiseta, Luana estava sentada à mesa, o café intocado. Ela me esperava.
Seus olhos, verdes e intensos, cravaram-se nos meus.
"Vai continuar fugindo, Jonas?" A voz dela era baixa, mas firme.
Fui até a garrafa de café, preparei uma xícara para mim. O aroma forte era o único escudo. Respirei fundo, me virando para ela.
"Não estou fugindo," respondi, a voz rouca. Segurei o olhar dela, sem desviar. "Estou apenas tentando entender qual deve ser o próximo passo."
Ela mordeu o lábio, a frustração nítida. "Você não vai perguntar onde eu passei a noite?"
Um sorriso amargo cruzou meu rosto. Tomei um gole do café, que desceu queimando, mas me dando força.
"Não importa, Luana." Deixei a xícara na mesa com um clique seco. "Esta noite, nao tenho ideia, talvez com o Maurício.. não me importar mais com o seu paradeiro de sábado à noite."
O golpe a atingiu no lugar certo. O controle dela se desfez. Os olhos se encheram de lágrimas, e ela colocou as mãos sobre o rosto, soluçando baixinho.
"Não! Não, Jonas! Você está errado!" Ela se levantou da cadeira, as lágrimas escorrendo por seus dedos. "Eu juro! O que aconteceu no vídeo... foi a primeira e única vez que rolou algo entre nós! Foi um erro horrível e eu nem sei por que deixei acontecer, eu estava vulnerável e..."
A voz dela se quebrou. Ela tentou tocar meu braço, mas eu recuei instintivamente.
"E você acha que eu vou acreditar nisso?" Minha voz subiu um tom. "Uma e única vez? Luana, você estava me traindo com seu chefe, na sua festa de aniversário, quando eu tentei fazer um dia especial para nós! Você se deita com o Maurício e depois volta para casa, me beija e finge que nada aconteceu?"
Ela soluçou mais forte, olhando para a aliança em sua mão antes de me olhar com desespero.
“Eu nunca me deitei com ele, aquele momento do vídeo foi a única vez que aconteceu. Eu pedi demissão, Jonas! Eu pedi demissão do meu emprego na agência, você entende? Justamente para não dar mais nenhuma esperança a ele! Para cortar o mal pela raiz! Eu estou tentando consertar, mas você nem me dá uma chance de te explicar!"
As palavras dela pairaram no ar, pesadas. Pediu demissão. Era um sacrifício? Luana estava ali, as lágrimas escorrendo. Ela esperava compreensão, talvez perdão.
Eu permaneci parado, olhando para ela com uma frieza que eu não sabia que possuía. A demissão não era o suficiente para apagar o vídeo, a traição, nem o que veio antes.
"Pediu demissão," repeti, a voz baixa e perigosa. "Parabéns, Luana. Você finalmente fez a coisa certa. Mas você acha que isso resolve? Você acha que cortar o Maurício, o sintoma, apaga a sua natureza, o problema?"
Ela estremeceu com a palavra.
"Eu não estou falando só do Maurício, Luana. Estou falando de você. Estou falando da sua necessidade doentia de se entregar, de se provar, de ir além do limite a cada maldita chance que você tem."
Dei um passo em direção a ela, e Luana recuou, assustada com a intensidade da minha voz e do meu olhar. Eu não gritava, mas cada palavra era um punhal frio.
"Você quer que eu te lembre, Luana? Quer que eu desenhe a lista de todas as vezes que você vacilou e eu engoli? Você é a mulher que eu amo, mas você não tem freio, e isso é o que me destrói."
Comecei a enumerar, cada lembrança um estalo na nossa bolha de silêncio:
"A primeira vez que você me fez engolir o seco foi lá na mansão, naquele maldito evento. Aquele era para ser um jogo entre nós, um esquenta. Mas o que você fez? Você se entregou de corpo e alma naquela noite. Você transou com dois estranhos, o Diego e o Henrique, sem nem me consultar, sem me dar tempo de respirar. E não foi só isso..."
Parei, o olhar cravado no dela, que se encolhia.
"Você deu o seu cuzinho, Luana. Aquele que eu tanto pedi e que você nunca havia me dado, dizendo que não era a sua praia, que não se sentia à vontade... Você deu para dois estranhos na primeira oportunidade. Isso é amor, ou é descontrole?"
O rosto dela estava em chamas, uma mistura de vergonha e culpa.
"Depois disso? Pouco tempo depois, na viagem para Aracaju. Um ambiente novo, um cheiro novo, e o que você fez? Você se jogou para um estranho, o Renato. Flertando, buscando a atenção dele na minha frente. E por azar seu, quase me perdia para a mulher dele, a Marize. Você não consegue segurar a sua impulsividade por um fim de semana sequer!"
Eu andava pelo cômodo, como um predador. Luana estava paralisada.
"E lá no início, Luana! Antes mesmo de tudo isso, quando o Pedro era apenas um conhecido... Você acha que eu não havia percebido suas jogadas com a Luiza? A tensão, o olhar, o jeito que vocês se tocavam? Eu te perdoei porque achei que era imaturidade, que era o calor do momento."
Bati a mão na bancada, fazendo as xícaras tremerem.
"Depois, em Camboriú! Lembra? Você queria se envolver com aquelas pessoas desconhecidas, entrar no jogo deles. Só não foi adiante porque eu me posicionei contra, porque eu te segurei. Você cede a tentações externas a todo momento!"
Finalizei, voltando a encará-la, a dois passos de distância.
"Nós fizemos um acordo, Luana! Um pacto! Que faríamos trocas de casais, sim, mas que seria somente com o Pedro e a Luiza, que é o único casal que confiamos e que tem uma conexão real com a gente. E mesmo assim, você não tem freio. Você cede a tentações externas. Como você quer que eu acredite que o Maurício foi apenas 'a primeira e única vez'? O problema não é o Maurício, Luana. O problema é você."
As lágrimas dela agora eram soluços desesperados. Ela tentava falar, mas as palavras não vinham.
"E agora, depois de tudo isso, você volta para casa, monta o café da manhã, e quer que eu finja que os vacilos não aconteceram? Me diz, Luana. O que exatamente você quer de mim?"
A raiva de Luana secou as lágrimas. A humilhação deu lugar a uma fúria defensiva.
"Pare de agir como a vítima moral da história, Jonas!"
A voz dela, antes um sussurro trêmulo, subiu, cortante como vidro quebrado. Ela deu um passo à frente, fechando a distância entre nós.
"Você fala da mansão como se eu tivesse sido a única a perder o controle, a única a 'vacilar'! Mas você não lembra, Jonas? Você não me impediu!"
O impacto da minha própria acusação refletida em mim me fez cambalear.
"Quando o Diego me escolheu, entre todas as mulheres, e eu te olhei, eu esperei! Eu esperei que você se levantasse, que dissesse 'não' ou 'ela fica comigo'. Que me tirasse das mãos deles, que me fizesse sentir desejada por você antes de ser entregue. Mas não, Jonas! Você não fez nada! Você ficou lá, sorrindo, com aquela excitação fria de quem estava prestes a assistir a um show!"
Ela estava descontrolada agora, o dedo apontado para o meu peito.
"Você deixou o Diego me levar para aquele quarto! E mesmo lá, eu aguardei! Eu aguardei que você viesse, que batesse na porta e entrasse para nos assistir, para participar, para me lembrar que eu era sua! Mas você ficou se divertindo! Ficou com a Raquel (a mulher do Diego) e com a Laura (a mulher do Henrique)! Você estava assistindo com tablet, eu me entregar ao Diego, e ao mesmo tempo, estava entretido com a esposa dele e com a outra!"
O ar na cozinha ficou mais denso, cheirando a café frio e rancor.
"Eu também não sou de ferro, Jonas! Eu também tenho fantasias sexuais, eu também tenho curiosidade, e eu também queria provar o limite! "
Ela me olhou, os olhos verdes brilhando com malícia e vingança. A próxima parte veio como uma bomba, revelando a crueza daquela noite:
"Você fala que eu dei o cuzinho, aquele que você tanto pedia, para dois estranhos. Mas enquanto eu estava ajoelhada no Diego, sentindo aquela rola enorme me penetrar pela primeira vez... Você estava comendo o cuzinho da Raquel!"
A revelação foi um soco no estômago, tirando meu fôlego. Eu me lembrava da Raquel... mas o anal? A balança da minha memória se inclinou, pesada e inegável.
Luana não parou. Ela estava determinada a provar que a culpa era mútua.
"E depois! Quando eu estava com o Diego e o Henrique em dupla penetração, sentindo os dois foderem minha buceta e meu cuzinho ao mesmo tempo, a coisa mais selvagem que eu já fiz... Você estava com a Raquel e a Laura, comendo o cuzinho das duas!"
Ela arfou, exausta pela explosão, mas vitoriosa na réplica.
"Não venha me falar de freio, Jonas! Naquela noite, a balança estava equilibrada! Você se libertou tanto quanto eu. Você fez coisas que nunca tínhamos feito juntos! Se eu não tenho freio, a culpa é sua por ter cortado os cabos de propósito e, de quebra, ter me ultrapassado!"
O silêncio que se seguiu não era mais de tensão, mas de verdades cruas e inegáveis. A fúria em mim se esvaiu, substituída por uma consciência pesada. Ela tinha razão. Eu também havia me excedido naquela noite, e a excitação de vê-la se entregar só me fez ir além com as outras.
"Então, qual é o seu ponto, Luana?" consegui dizer, a voz baixa. "Que eu te dei permissão para trair? Que o Maurício é só uma extensão daquela noite?"
Ela balançou a cabeça, as lágrimas voltando, mas agora eram lágrimas de desespero e incompreensão.
"Meu ponto, Jonas, é que eu voltei para casa e montei a mesa de café. Eu me demiti para você ter certeza de que cortei o último elo. Eu escolhi você, Jonas."
O tom de Luana se tornou mais desesperado e, ao mesmo tempo, mais frio. Ela não estava apenas se defendendo; estava jogando na minha cara que eu também tinha tirado proveito do caos que ela criava.
"Equilíbrio, Jonas! É disso que você gosta, não é?"
Ela ofegava, as lágrimas secando nas bochechas, dando lugar à determinação.
"Você tem razão sobre Aracaju!"
Ela jogou as mãos para o alto em um gesto de rendição e raiva.
"Eu não me contive! Eu vacilei, me joguei em cima do Renato e me arrependo muito daquilo. Foi horrível, eu perdi o controle! Mas você sabia muito bem, Jonas! Você me conhece! Sabe que eu sou fraca para bebidas e que, se eu bebo além da conta, eu... eu me solto demais! Isso me envergonho até hoje. Você sabe Jonas, me tornei sua mulher sem experiência alguma da vida. Nunca havia beijado nenhum homem. Fui sempre sua. É fato, uma pessoa sem experiência ficar perdida em tantas coisas novas. Mas, eu te amo Jonas."
Ela parou, respirou fundo e o olhar dela se tornou uma lâmina afiada.
"Mas não venha me dizer que você saiu como o mártir traído dessa viagem! Enquanto eu me envergonhava e tentava juntar os cacos daquela noite, você, Jonas, também se deu bem!"
Seu sorriso foi sarcástico, um golpe calculado.
"Você transou com a Marize, a mulher dele! Uma mulher que, diga-se de passagem, é bem mais linda que a Luiza, muito mais experiente e com um corpo que faz o seu olho brilhar até hoje! E você comeu ela."
Eu abri a boca para protestar, mas a verdade me sufocou. Sim, a noite com Marize tinha sido intensa.
"Você acha que eu não percebi a sua excitação quando ela te agarrou? A maneira como você me deixou de lado para 'dar o troco'? O ciúme que você sentiu do Renato... foi substituído pela satisfação de ter a mulher dele na sua cama, gozando com você."
Luana avançou mais um passo, diminuindo a distância perigosa entre nós.
"Então, não, Jonas. Naquela viagem, a balança também estava equilibrada! Você diz que eu 'dei', e você 'comeu'! Tanto eu vacilei, como você tirou proveito. Nós dois pegamos o que queríamos fora do casamento. A única diferença é que eu me arrependo do meu deslize, e você parece orgulhoso da sua vingança com a Marize!"
Ela balançou a cabeça em negação, com o desespero de quem expõe a própria dor para provar um ponto.
"Eu já te disse. Eu escolhi você. Eu me demiti. Você vai continuar usando meus erros para se justificar ou vai admitir que nós dois temos esse lado selvagem, e que o Maurício foi só a gota d’água em um casamento que já estava aberto para a perdição?"
A acusação de Luana era irrefutável. Eu não era um santo. Eu gostei de Marize, da Marize e da noite em Aracaju. Eu tinha provado o veneno da traição e gostado do sabor da minha vingança.
A raiva de Luana se transformou em uma lucidez cruel. Ela não estava mais apenas chorando; estava desmembrando, friamente, a minha hipocrisia.
"E não me venha com a história do Pedro, Jonas! Aquele seu ar de 'sacana' que faz a caridade de perdoar a esposa impulsiva não cola!"
A voz dela estava agora carregada de desprezo.
"Você fala de 'flerte' e 'jogadas', mas quem foi o 'sacana' nessa história? Você! Você comeu a Luiza várias vezes, Jonas! Você usou a mulher dele até se cansar, até a buceta dela virar paisagem para você, até a Luiza virar uma coisa familiar e sem graça. Você 'deu o troco' e colheu todos os frutos antes mesmo de o Pedro ter a sorte de ter, finalmente, o meu corpo!"
Ela cuspiu as palavras, furiosa:
"Nessa balança de trocas, Jonas, você se deu muito melhor! Você estava colhendo os frutos da Luiza enquanto eu ainda estava me segurando, pensando que o nosso acordo era mais… sentimental! Mas para você, era só sexo, só prazer, só a chance de comer uma mulher nova sem culpa. Você sempre tendeu mais para o llucro sexual do que eu!"
O golpe acertou em cheio. Eu tinha, de fato, explorado Luiza ao máximo, e a troca só se equilibrou depois, quando Pedro finalmente a teve. Luana estava certa: eu usufruí da liberdade primeiro.
"E o que te leva a Camboriú, Jonas? Por que eu fiquei tão 'empolgada' com aquela casa?"
Ela questionou, voltando a si com uma racionalidade fria.
"Porque eu pensei que o nosso casamento estava evoluindo! Nós tínhamos feito a troca controlada com Pedro e Luiza. E nós fizemos aquela noite selvagem em Trancoso, com o Diego e a Raquel, que você adora esquecer os detalhes onde a balança também pesou para o seu lado!"
Luana gesticulava, a urgência em seu corpo.
"Eu dei o cuzinho para o Diego, você comeu o da Raquel, nós fomos a quatro, fizemos coisas que nem sabíamos o nome! Depois de tudo isso, quando apareceu a chance de ir a uma casa de orgia, de experimentar algo mais avançado com o casal que a gente confiava, é claro que eu fiquei animada! Eu achei que a gente tinha rompido a barreira do ciúme e do limite, que nosso casamento tinha evoluído para esse nível de experimentação. Não é 'falta de freio', Jonas! É adaptação ao novo padrão que você estabeleceu!"
Ela parou, exausta, mas vitoriosa em sua defesa. Sua respiração estava acelerada.
"Então, me diga a verdade, Jonas! Você vai continuar usando meus erros para se justificar, ou vai admitir que nós dois temos esse lado selvagem, e que o Maurício só te incomodou porque foi a única vez que a balança do prazer pesou só para mim?"
Eu estava sem palavras, sem escapatória. A acusação dela era a verdade fria e crua. Eu também era culpado.
A fúria de Luana se tornou um argumento estratégico, um ataque direto à minha covardia. Ela não estava apenas me defendendo; estava me desnudando.
"Você fala tanto em 'freio', em 'limite', mas quando as coisas saem do controle, quando o caos fica grande demais, o que você faz, Jonas?"
Ela perguntou, a voz em um crescendo acusatório.
"Você foge! Você agarra a primeira mulher que aparece, que te dê prazer, e tenta usá-la como tábua de salvação! O intuito não é só transar, Jonas. É fugir do casamento, é tentar forçar a barra, se separar, e depois, quando não dá certo, você volta para casa querendo fazer as pazes e se passar por vítima!"
Ela respirou fundo, me encarando com desdém.
"Primeiro foi a Marize, em Aracaju! Você tentou me trocar por ela, usá-la para construir sua vida 'monogâmica' perfeita! E agora? É a Clara! A mulher do Maurício! Você acha que eu sou burra? Você some por vinte dias, me dá o gelo, e reaparece com a mulher do meu amante no seu currículo de vingança! Você está sempre tentando achar a sua 'saída de emergência'!"
Eu não aguentava mais ouvir. A verdade dela era dolorosa demais. Eu precisava interromper, cravar um ponto final no passado e injetar o presente, o meu presente, na discussão.
"Chega, Luana!" Minha voz ecoou na cozinha. Dei um passo à frente, forçando-a a recuar.
"Você está certa sobre uma coisa: eu tentei fugir!" admiti, a contragosto. "Eu realmente pensei em seguir minha vida com a Marize. E não era por vingança, era por... por desespero! Porque, embora esse mundo liberal que você tanto ama fosse, de certa forma, vantajoso para o meu prazer, eu não queria viver nele, Luana! Eu queria um casamento normal! Eu queria ter isso com a mulher que eu sempre amei: você!"
O calor voltou aos meus olhos, mas não era mais fúria, era uma mágoa profunda.
"Mas como não era possível ter isso com você, Luana, já que você insiste em quebrar o freio... Pensei em seguir adiante com outra mulher, uma que quisesse a monogamia. Mas, com seu poder, Luana, você também conseguiu contaminar a Marize com esse desejo de poligamia! ."
Mudei o foco, cortando o ar: "Com a Clara, eu não planejei nada. Ela que foi atrás de mim, me pegou num momento de fraqueza e raiva. Mas ela me ajudou muito e, aliás, através dessa viagem, acabei descobrindo quem realmente nos meteu em tudo isso, quem nos indicou para aquele evento na mansão."
O ar de Luana mudou. Seu rosto, antes raivoso, ficou pálido, confuso.
"No final de tudo, Luana, a resposta estava ligada a você. Você estava envolvida, mesmo que inconscientemente."
Luana piscou, espantada e incrédula.
"Do que você está falando? Eu não tenho ideia do que é isso!"
Ignorei seu protesto. A lembrança da conversa com Henrique em Porto Alegre e o nome me atingiu com força total.
"Foi seu antigo chefe, Luana. Aquele que mandava flores para você me desrespeitando. Aquele que te assediava veladamente e que fazia questão de mostrar que tinha poder sobre você... Você lembra?"
Observei o terror crescer em seus olhos.
"Na viagem de lá para cá, de Porto Alegre para Floripa, eu juntei as peças. O nome era Fernando Correia. Seu chefe. Ele pagou uma nota preta para que nós dois estivéssemos naquela festa. Era ele quem queria você lá."
Dei mais um passo, terminando a distância entre nós. Eu estava perto o suficiente para que ela sentisse minha respiração em seu rosto, mas longe o suficiente para que não pudesse me tocar.
"O que me diz disso, Luana? Por que seu antigo chefe pagaria uma fortuna para ter você naquela festa? Na minha opinião, você só pode ter tido um caso com ele! Um caso que ele não superou. Para mim, Luana, não há mais dúvidas."
Luana me encarou, o terror em seus olhos, mas não era o terror da culpa; era o da incredulidade.
"Não! Não, Jonas, você está louco! Que diabos você está falando?"
Ela recuou, balançando a cabeça em negação frenética.
"Um caso com o Fernando Correia? Meu Deus, Jonas! Não! Eu juro pelo nosso casamento, pelo que resta dele! Eu nunca tive um caso com o Fernando! O que você está sugerindo é absurdo! Ele era meu chefe, sim, mas ele era um tarado, um velho nojento que mandava as flores e fazia piadinhas nojentas! Ele me assediava, Jonas, ele me perseguia! Você acha que eu não percebia as intenções dele? Por isso eu odiava aquele lugar! Por isso eu falava que ele me desrespeitava!"
Ela chorava de novo, mas desta vez era de pura frustração e medo.
"Eu te contei sobre as flores, Jonas! Eu te mostrei as mensagens que eu apagava de medo! Eu tentava te proteger dele! Eu jamais teria um caso com aquele homem! Ele me dava nojo! E ele mandou as flores justamente porque eu me recusava a dar moral para ele! Aquele evento...se ele armou aquilo, Jonas, ele armou o evento para me desmoralizar!"
A negação dela era visceral, mas a minha certeza era inabalável.
Eu a empurrei, sem tocá-la, apenas com a força das minhas palavras. "Pense! O Fernando Correia paga uma nota preta para ter você e o seu marido, o casal 'perfeito', lá! Ele queria te ver no meio do jogo! Ele não queria só te desmoralizar, Luana. Ele queria te possuir, te ver entregue a outros homens como um prêmio que ele comprou. E a maneira de fazer isso sem 'sujar as mãos' era te colocar em um ambiente onde você inevitavelmente se entregaria! E você se entregou! Você me fez engolir o fato de ter fodido com Diego e Henrique, e agora quer que eu acredite que a pessoa que armou tudo isso para você era apenas um 'tarado' que você rejeitou?"
Minha voz tremia de raiva. "Não, Luana. Para mim, a única explicação é que ele te queria, e você, com a sua falta de freio, deu alguma esperança. O seu real caso, o seu maior segredo, é o Fernando Correia!"
Luana gritou, as mãos na cabeça, desesperada.
"Isso é mentira, Jonas! Mentira! Ele queria me destruir! Ele é um monstro! Eu não tive nada com ele!"
Os gritos dela eram histéricos. O medo do Fernando Correia se misturava à dor das minhas acusações. A explosão era inevitável.
Naquele exato momento, a porta do apartamento abriu.
Olhei para trás, atordoado. Parados na soleira, com rostos assustados e curiosos, estavam Pedro e Luiza.
Luana, em lágrimas e gritando, estava no meio da cozinha. Eu, de jeans e camiseta, parecia o acusador cruel.
Pedro, com a expressão tensa de quem esperava uma briga, mas não um campo de batalha, deu um passo incerto. "Jonas? Luana? O que está acontecendo? A gente ouviu os gritos do corredor..."
Luiza estava ao lado dele, mas seus olhos não se fixaram no drama. Eles se fixaram em mim. Vinte dias longe haviam apagado o meu cheiro do apartamento, mas o meu corpo, ali, era familiar e irresistível para ela.
Seu olhar, cheio de cumplicidade e desejo reprimido, percorreu meu corpo rapidamente. Não havia medo ou julgamento em Luiza. Havia apenas uma ponta de encanto, um vislumbre de alívio por me ver de volta, inteiro, e uma curiosidade excitada pelo caos que eu havia trazido. Ela sabia que, onde havia briga entre Luana e eu, havia chance para ela.
A presença dos dois transformou o drama em um espetáculo constrangedor.
"Não! Parem de nos olhar como se estivessem assistindo a um circo!"
O grito de Luana rasgou o ar, dirigido a Pedro e Luiza, que recuaram um passo, incomodados.
Luana se levantou do chão, enxugando as lágrimas com as costas da mão, e usou a presença deles como um palco para sua defesa final. Ela me encarou, os olhos vermelhos, mas a postura reta, tentando restaurar alguma dignidade.
"Eu te amo desde a adolescência, Jonas. Você foi o meu **primeiro beijo**, o meu **primeiro amasso**, o meu **primeiro sexo**! Eu conheci a vida inteira ao seu lado! Eu te respeitei! Eu te amei!"
O coração me apertou. Ela estava apelando para a nossa história, para a fundação que eu mesmo havia ajudado a quebrar.
"Como qualquer mulher que é... que é bonita, eu era assediada, sim. Nos ambientes de trabalho, na faculdade, em qualquer lugar. Mas eu sempre te respeitei, Jonas! Eu me orgulho de dizer isso! Eu nunca vacilei com você, nem pensei em fazer isso, até o evento da mansão!"
Ela olhou rapidamente para Luiza, depois para mim, buscando validação.
"Toda mulher tem seus **fetiches**, suas **fantasias sexuais**. Elas afloram quando outras amigas relatam experiências, quando vemos filmes, quando lemos! Mas cabe a nós, cabe à mulher casada, respeitar o casamento e a escolha que ela fez! E eu sempre fiz isso, Jonas! Sempre, até aquela maldita noite em que você permitiu eu me entregar!"
Luana voltou a focar na minha acusação mais grave.
"E o Fernando? Você tem coragem de dizer que eu tive um caso com ele? Eu era ingênua, jovem e imatura naquela época. Ele era poderoso, e eu sabia que ele tinha intenções. Mas eu nunca dei ousadia alguma a ele, Jonas! As flores, as mensagens... eram porque eu o rejeitava e ele queria se vingar. Ele queria me comprar ou me quebrar, e você caiu direitinho no jogo dele, me arrastando para aquele evento para me ver desmoronar!"
A acusação era clara: eu a acusei de ser promíscua por natureza, e ela me acusava de ser o cúmplice que a levou para a perdição, desmoralizando-a perante o chefe que a assediava.
Eu estava prestes a responder, a refutar, a exigir que ela me olhasse nos olhos e jurasse que não havia nada, quando a voz grave de Pedro me interrompeu.
"Jonas, chega."
Olhei para Pedro. Eu o considerava um irmão, parte da nossa família escolhida. Ele era o único que via o pior e o melhor de nós, e eu sabia que ele não estava ali para julgar, mas para proteger.
"Vamos dar um tempo,"
ele continuou, a voz baixa e firme.
"Vamos sair daqui. Vocês dois precisam de ar e de tempo para processar isso. O que Luana precisa agora não é de mais acusações, Jonas. E o que você precisa é de um banho de mar gelado. Vamos."
Pedro não me deu opção.
Olhei para Luiza. Ela estava parada, os braços cruzados, observando a cena de forma hipnótica. Quando nossos olhos se encontraram, ela deu um sorriso pequeno e cúmplice. Não era de pena por Luana, mas de fascínio por mim.
Eu sabia que, se ficasse mais um minuto, eu cederia à atração dela ou cederia à fúria de Luana.
"Você tem razão, Pedro," eu disse, a voz cansada. "Vamos sair."
Olhei para Luana, que estava parada no meio da cozinha, a rainha derrotada do nosso tabuleiro de xadrez sexual.
"Depois a gente conversa, Luana," eu disse. "Vamos resolver isso. Mas eu preciso de tempo para processar o Fernando Correia... e a sua 'evolução' sexual."
A caminhada com Pedro sob o sol de Florianópolis foi silenciosa por um tempo. Eu precisava do ar salgado para lavar a raiva e a humilhação das palavras de Luana. Pedro me levou até um quiosque na beira da praia, longe da confusão. Depois de três cervejas geladas e muito tempo olhando o mar, eu não aguentei. Pedro era meu irmão, e eu precisava desabafar a parte mais escura da minha fuga.
"A Luana tem razão, eu fugi," eu confessei, virando a garrafa. "Fugi para Porto Alegre, e sim, me envolvi com a Clara, a mulher do Maurício."
Pedro apenas assentiu, sem surpresa. Ele me conhecia.
"Mas a coisa ficou feia, Pedro. Eu voltei apressado porque ela saiu às pressas. O Maurício... o canalha foi espancado e está no hospital, todo rebentado."
Pedro ergueu a sobrancelha, o copo parando no meio do caminho.
"Espancado? Assalto?"
"Não foi assalto, não foi comum," eu revelei, baixando a voz. "Os bandidos o obrigaram a desbloquear e remover a senha do celular dele. E o pior: antes de irem embora, um deles virou e disse: 'É bom aprender a lição. Mexer com mulher casada só traz azar'."
O olhar de Pedro endureceu. Ele engoliu a cerveja e fitou o oceano.
"Isso é pesado, Jonas. Não é coincidência."
"Não é," eu concordei, sentindo o arrepio de novo. "Você sabe de alguma coisa, Pedro? Você ouviu algum rumor de marido traído que resolveu se vingar? Algum cara grande que foi desmoralizado?"
Pedro hesitou por um segundo longo demais. Ele desviou o olhar para o horizonte.
"Não, cara. Eu não sei de nada sobre isso. É a primeira vez que ouço esses detalhes,"
Ele negou, a voz um pouco apressada.
"E honestamente? Não quero saber. Essa merda de vida de vocês está virando filme. Tenta tirar isso da cabeça. O que importa é que você voltou. Vamos mudar de assunto."
A negativa dele, rápida demais, não me convenceu, mas eu não tinha energia para pressionar. Aceitei a mudança. Passamos mais algumas horas falando de trabalho, de investimentos, de qualquer coisa que não fosse troca, traição ou vingança.
Voltei sozinho para o apartamento já era noite de sábado. O ar frio da capital catarinense me abraçou. Eu estava mais calmo, mas exausto e pesado de culpa.
No corredor, a luz fraca iluminava a porta do meu apartamento, mas meu olhar parou ao lado. Luiza estava na porta do apartamento dela e de Pedro, mexendo na bolsa.
Ela me viu e um sorriso lento, de pura felicidade e malícia contida, se abriu em seu rosto.
"Jonas," ela sussurrou, a voz melodiosa.
Parei ao lado dela. "Oi, Luiza. Está tudo calmo lá dentro?"
"Sim. A Luana chorou, desabou e eu dei um calmante para ela. Está deitada. Vim pegar umas coisas."
Ela fechou a porta devagar. Seu corpo estava muito perto do meu no corredor apertado.
"O Pedro me ligou e disse que você estava voltando. Eu precisava te ver."
Eu estava esgotado, mas o cheiro de Luiza — *o meu cheiro favorito, o cheiro de casa sem drama* — me acalmou instantaneamente. Eu gosto muito dessa mulher.
"Eu também precisava te ver, Lu. Foi... foi um inferno," eu disse, a voz baixa. "A briga foi feia. Não aguento mais."
Antes que eu pudesse falar mais, Luiza agiu. Ela não precisava de palavras. Ela me agarrou pelo braço, me arrastando para dentro do apartamento dela.
"Vem cá, seu idiota," ela sibilou. A porta bateu, e ela me jogou contra a madeira, atacando minha boca.
O beijo de Luiza não era o fogo explosivo de Luana, nem a entrega sensual de Clara. Era um beijo faminto e doce, cheio de saudade e conforto. A mão dela deslizou para a minha cintura, e a outra me puxou pela nuca, a boca trabalhando na minha com urgência.
"Eu estava morrendo de saudade, seu gostoso,"
Ela murmurou entre beijos, descendo a mão para o meu pau, que já estava duro, e apertando-o por cima do jeans.
Retribuí o beijo com toda a força, sentindo a necessidade urgente de me afogar nela. Eu precisava de um amasso bem gostoso, de um contato que fosse fácil e que não me exigisse explicações ou promessas.
O sexo foi rápido, ali mesmo, apressado pela urgência e pela adrenalina. Luiza me despiu com pressa, o corpo dela se esfregando no meu, a pele quente e macia. Eu a ergui, e ela se enroscou em mim como uma trepadeira, com as pernas em torno da minha cintura. Eu a penetrei ali mesmo, em pé, sentindo a buceta apertada e úmida que eu tanto conhecia e amava. Não era sobre performance, era sobre alívio. Eu a comi com fome, e ela gemia baixo, o som de quem recebia o que esperava há muito tempo.
Em poucos minutos, descarreguei tudo, a raiva, o medo e a tensão se esvaindo com o gozo. O corpo de Luiza era meu remédio instantâneo.
Ofegante, ela beijou meu pescoço.
"Você não vai embora, né, Jonas?"
Ela sussurrou, carinhosa.
"Não termine com a Luana. Não quero que você vá embora daqui, do prédio. Não é bom para ninguém. Somos uma família, Jonas."
A chantagem emocional disfarçada de carinho. Eu sorri.
"Se você for, eu vou com você. É só você pedir. Mas, por favor, não vá."
A simplicidade e a lealdade dela me tocaram profundamente. Luiza era o meu porto seguro no meio do furacão. Eu a amo, de verdade, de um jeito que não tem a ver com casamento.
"Você é incrível, Luiza. Eu gosto muito de você," eu disse, beijando-a na testa. "Vou ver como as coisas vão se desenrolar com Luana. Mas a gente se vê por aí, tá? Eu preciso ir para casa agora."
Dei mais um beijo demorado em sua testa, como uma promessa silenciosa, e saí do apartamento deles. Voltei para o corredor e abri a porta do meu apartamento, o apartamento com Luana. Minha prisão, minha cama, meu caos.