O Ex-Presidiário

Um conto erótico de Morena Casada
Categoria: Heterossexual
Contém 1184 palavras
Data: 17/11/2025 05:25:41

A minha vida tinha entrado num ritmo perigoso e delicioso. Eu tinha me tornado uma equilibrista de tesão. De um lado, a corda bamba do meu casamento, com o Ricardo, que me garantia a vida de "Dona Luana" e me deixava com uma fome de dias. Do outro, o meu abismo particular.

E que abismo.

O Cadu, meu Rei do Morro, estava perfeito. Aquele churrasco no sítio, a punição na despensa e a redenção no freezer... aquilo mudou nossa relação. Ele estava mais carinhoso, me ligava, queria saber de mim. Mas o "carinho" era só o tempero. Na hora de me pegar, ele continuava sendo o mestre da batida, firme, dono, me afinando sem piedade.

E a Gisele... ah, a Gisele. Ela tinha deixado de ser minha empregada para ser minha sacerdotisa. Nossa relação era o meu segredo mais sujo e, talvez, o mais íntimo. De vez em quando, quando Ricardo viajava, ela "dormia" no serviço. A gente transava por horas, e ela, com aquela boca mágica, me levava a lugares que homem nenhum, com pau nenhum, conseguiria sequer encontrar.

Eu estava no céu. Um harém particular de um rei, uma rainha e um bando de peões.

Mas o problema, como eu já disse, sou eu.

Eu não gosto de me prender. Eu não sei ser de um só. Eu sou viciada na caça, na oportunidade, no gosto novo. E a vida, essa minha cafetina particular, sempre me traz uma nova oportunidade.

Aconteceu numa terça-feira. Um calor infernal em BH. O ar parecia uma sopa quente. E, claro, o ar condicionado da minha sala, o aparelho central, decidiu morrer. De novo.

"Porra," eu praguejei, de robe de seda, suando.

Eu liguei para a empresa de sempre. "Dona Luana? De novo? Aquele aparelho seu tá pedindo arrego, hein?"

"Eu sei, Marcos. Manda alguém. Rápido. Eu tô derretendo."

Era sempre assim. Eu conhecia a empresa, mas não os funcionários. Vez ou outra, sempre dava defeito, e eles sempre mandavam rapazes diferentes. Um loirinho novo, um coroa barrigudo, um rapaz sério... eu nunca dei muita bola. Eram só... funcionários.

A campainha tocou. Área de serviço.

Eu abri. E lá estava ele. O "rapaz diferente" da vez.

Alto. Bem alto. E negro. A pele escura brilhava com o suor da manhã. Ele usava o uniforme padrão da empresa, uma camisa polo cinza e uma calça de brim azul. Carregava a maleta de ferramentas.

"Bom dia, senhora. Dona Luana? Eu vim ver o ar."

A voz dele era grave. E ele não me olhou nos olhos. Parecia... tímido. Ou só cansado.

"Bom dia. É na sala. Por aqui."

Eu o guiei, o perfume caro do meu robe se misturando com o cheiro fraco de suor que vinha dele. Eu me sentei no sofá, fingindo ler um livro, enquanto ele abria a maleta e pegava a escada de alumínio.

Eu o observei. Eu sempre observo.

Ele era forte. Não o forte do Cadu, que era um rei. Nem o do Damião, que era uma montanha. Era um forte... contido. Músculos definidos, mas magros. Os braços que apertavam os parafusos da carcaça do ar eram longos, as mãos grandes.

Ele estava concentrado. Subiu na escada, e a barra da calça dele subiu alguns centímetros.

Eu estava prestes a oferecer uma água, meu movimento clássico de "patroa", quando eu vi.

Na canela esquerda dele, logo acima da bota de segurança suja, havia uma faixa preta. Grossa. De plástico. E nela, uma caixinha com uma luz verde que piscava.

Blink.

Blink.

Meu coração não acelerou. Ele parou. E depois bateu com uma força surda no meu peito.

Eu conhecia aquilo. De filmes. De reportagens.

Uma tornozeleira eletrônica.

Eu olhei de novo. Sim. Sem dúvida. O "rapaz diferente" era um prisioneiro.

Eu me levantei. O livro caiu no chão. Eu não me importei.

Fui até a cozinha, peguei um copo d'água com gelo. Minhas mãos estavam perfeitamente calmas. Mas a minha buceta... a minha buceta deu um pulo.

O Cadu era o rei da favela. Perigoso. O Damião, o peão da obra. Bruto. O Robson, o mecânico. Sujo.

Mas isso... isso era outro nível. Isso era o Estado. Isso era crime. Isso era real.

Eu voltei para a sala. Ele estava de costas, mexendo nos fios.

"Moço," eu disse. Minha voz saiu suave.

Ele se virou na escada, assustado. "Senhora?"

"Uma água. Tá muito quente hoje."

Ele desceu um degrau, pegou o copo. As mãos dele eram grandes, mas os dedos tremiam um pouco.

"Obrigado, senhora. Desculpa o barulho."

"Não é nada." Eu parei, e fingi olhar para o tornozelo dele. "Me desculpa a pergunta. Eu sou... muito curiosa. Isso... na sua perna."

O corpo dele inteiro enrijeceu. Ele desceu da escada, rápido, e puxou a barra da calça para baixo, cobrindo o aparelho. O rosto dele se fechou. Ele parecia... com medo.

"Não é nada, senhora. É só... um aparelho da firma."

"Da firma?" eu sorri. Um sorriso calmo, de "Dona Luana", de quem sabe das coisas. "Não mente pra mim, moço. Eu não sou polícia. Eu não vou te denunciar."

Ele me olhou. Os olhos dele eram fundos. E tristes. Ele viu minha cobertura, meu robe de seda, meu mundo. Ele era um rato no meu palácio.

Ele suspirou. Um suspiro que parecia vir de anos de cansaço.

"É uma tornozeleira, sim, senhora," ele disse, com a voz baixa, derrotada. "Eu tô no semiaberto."

Eu me aproximei. Eu não estava com medo. Eu estava... fascinada.

"Semiaberto?"

"É. Fiz... fiz coisa errada, um tempo atrás," ele disse, olhando para o chão. "Fiquei uns anos preso. Saí agora. Tô tentando me recuperar. A firma... a firma me deu essa chance. Mas eu tenho que usar isso. Pra eles saberem onde eu tô."

Fiz coisa errada. Anos preso.

Um criminoso. Um ex-presidiário. Aqui. No meu tapete persa.

Não sei o porquê.

Quer dizer... eu sabia exatamente o porquê.

O Cadu era o rei, mas ele tinha as leis dele. Esse homem... ele quebrou as nossas. Ele foi enjaulado. Ele era um animal que o sistema tentou domar.

E não sei porquê... mas aquilo me excitou de um jeito que eu não sabia explicar.

Era o perigo. O tabu absoluto. A "Dona Luana", a esposa do Doutor, e o ex-presidiário. Era a minha próxima caça.

"Qual o seu nome?" eu perguntei, com a voz baixa, suave.

"Jonas, senhora."

"Pois é, Jonas," eu disse, e dei um passo para trás, voltando a ser a patroa. "Acho que essa placa aí... vai demorar pra consertar, não vai?"

Ele me olhou, confuso. "Vai, senhora. Eu vou ter que... voltar na empresa, pegar outra."

"Ótimo," eu sorri. "Então... você vai ter que voltar aqui amanhã, não é?"

Jonas me olhou. E pela primeira vez, eu vi algo nos olhos dele. Ele entendeu. Ele não entendeu o quê, mas ele entendeu que o jogo tinha mudado.

"Vou, senhora. Amanhã. De manhã."

"Estarei esperando, Jonas," eu disse. "E... fica tranquilo. Seu segredo... tá guardado comigo."

Ele subiu na escada, e eu voltei para o sofá. O ar da sala continuava quente, abafado. Mas o meu corpo... meu corpo estava pegando fogo.

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