Não foi uma semana fácil. Uma porque eu me irritava quando meus pais demoravam para sair me impedindo de assistir aos filmes que meu pai escondia no dvd de capa preta. Outra porque até o cara que vendia picolé se tornou alvo das minhas imaginações.
“Que braços sarados…”, isso passou a me interessar como nunca antes.
Quando eu via um homem sem camisa, e tinha alguma definição, bastava!
O repositor do supermercado erguendo uma caixa de verduras e forçando os bíceps era amor a primeira vista.
- Henrique!
Mamãe me surpreendeu um dia enquanto eu a acompanhava ao supermercado, eu havia acabado de sair da escola, ainda com a farda, estávamos na parte de verduras.
- O quê? - respondi.
Ela arfou irritada puxando-me pelo ombro:
- Por que você está alisando o pepino?
- Eu o quê?
Olhei para minhas mãos e realmente, lá estava, reto, grosso, e verde! Um senhor pepino!
Só então percebi que ela estava certa, e no carro, de volta para casa, decidi:
- Vou passar o final de semana na casa da minha avó… - avisei enquanto mamãe manobrava para fora do estacionamento.
Eu precisava encontrar com o João talvez assim aquela consumição diminuísse um pouco pelo menos. “Se é que vai acontecer alguma coisa…”, pensei desejando imediatamente que acontecesse.
- Vê lá se não apronta, - ela disse.
- Não entendi, - respondi no automático.
- Não? Sonso. Não suje as cuecas com sua imundícia na casa dos outros, se eu receber reclamação sua, o couro vai comer – disse mamãe e não falou mais nada.
“Mãe sabe sempre mais do que transparece”, apesar disso, eu gelei, sem coragem de olhar para a cara dela, com a minha ardendo de vergonha.
Meu pai por sua vez fazia questão de me deixar na porta da casa dos meus avós, depois descobri o porquê disso, com minha ausência meus pais ganhavam privacidade e liberdade. Por isso amavam me ouvir dizer que iria passar uns dias fora de casa.
A bola acertou o para-brisa do volvo e trincou o vidro.
- Eita! - falei.
Meu pai abaixou a janela e gritou para fora:
- No meu tempo eu acertava o gol – papai sorriu.
O menino com um boné para trás, o cabelo preto liso colado na testa e o peitoral suado, aproximou-se com os braços para cima tocando a cabeça.
- Foi mal! - o rapaz disse.
As axilas do menino me fizeram sentir tesão. Não sei explicar direito… eu o achei lindo, corei pensando nisso.
- Se eu não tivesse atrasado ia ensinar a vocês o que é jogar bola – papai disse e destravou a porta.
João estava pegando no gol marcado por um par de chinelos.
- E aí tio! - ele gritou para meu pai. - Raul, manda para cá…
O menino do boné chutou a bola para meu primo que a pegou no peito e a deslizou para a ponta do pé.
- Entra Henrique – ele chamou.
Eu deixei a mochila deslizar dos ombros e a coloquei na porta da casa de vovó, logo ali na frente.
- Eu vou sair, - pedi depois de quinze minutos.
Os outros com as bochechas vermelhas e a testa suadas ainda continuavam a todo o vapor. João com as mãos na cintura cuspiu para o lado.
- Eu também...
O portão da casa de vó estava arreganhado. Os meninos reclamaram da saída de João mas meu primo prometeu voltar no dia seguinte, e àquela hora a toda hora tínhamos que interromper o jogo por causa dos carros e motos.
- Já para o banheiro! - vovó disse ao nós ver.
João passou correndo e deixou o short no caminho correndo pelado pela casa até alcançar a mangueira no quintal. Ele não tinha vergonha alguma, acionou a torneira e deixou o jato de água bater em seu rosto.
- Vem a água está fresca! - me convidou.
Não houve maldade.
Eu tirei a camisa, tomamos banho junto, sorrimos, nos enxugamos, almoçamos, e caímos no chão do quarto da vó, com o ventilador em cima de nós.
...
AVISO: "Meu primo virou um gostoso" é a primeira parte de uma história que começa nos anos de descoberta de dois primos e avança para a idade mais madura, onde acontece o desfecho propriamente dito. Desde já agradeço a todos que leram, e deram a estrelinha, obrigado, boa leitura!
