Queria Ser Síndica, mas Porteiros e Zeladores Me Viram Pelada - Parte 01 de 02

Um conto erótico de Tatiana
Categoria: Heterossexual
Contém 7262 palavras
Data: 02/11/2025 19:07:52
Última revisão: 02/11/2025 20:34:14

AVISO AOS LEITORES: O capítulo a seguir fala de uns temas mais sensíveis que o padrão pra novela: revenge porn.

Meu nome é Tatiana, tenho 32 anos e sou jornalista investigativa em um dos principais jornais da cidade. Gosto de dizer que nasci com o faro pra achar sujeira onde dizem que está tudo limpo. Sou movida por curiosidade e uma espécie de teimosia natural, dessas que não me deixam dormir quando sinto que tem algo errado.

Tenho por volta de 1,70m, mas com o corpo firme de quem sempre cuidou bem de si. Tenho a pele clara, que pega um bronze bonito no verão. Meu rosto é oval, o nariz fino, os lábios medianos. O cabelo é castanho e liso, cortado pouco abaixo dos ombros, com uma franja longa que insiste em cair sobre meus olhos. Tenho seios pequenos, mas bem proporcionais, com a firmeza de quem ainda não se rendeu ao tempo, uma cintura estreita e um quadril discreto, que termina em um bumbum arredondado, firme, que chama atenção quando caminho. Gosto das minhas pernas longas e das linhas sutis que aparecem no abdômen quando me estico diante do espelho. Sempre achei que meu corpo fosse o retrato da minha personalidade: discreto, mas forte e disciplinado.

Tenho braços longos e musculosos, com bíceps que se destacam sempre que levanto algo mais pesado ou cruzo os braços. São em definidos, resultado de anos de treino e disciplina. Adoro a sensação de força que eles me dão, de controle sobre o próprio corpo. Minhas coxas seguem a mesma linha: firmes, torneadas e densas de músculo. Sinto o peso e a potência delas quando cruzo as pernas, e às vezes brinco sozinha com a ideia de que, se tentasse, talvez conseguisse destruir uma melancia apenas com a pressão delas.

Mudei-me para este prédio há sete anos, junto com o Rômulo, meu marido na época. Estávamos recém-casados, cheios de planos e com aquela ilusão doce. Era a nossa primeira casa, um apartamento num edifício de 1988, não novo, mas charmoso e muito bem localizado. O tipo de lugar que mistura passado e prestígio.

Aos poucos, começou a nascer em mim a vontade de me candidatar a síndica. Quando cheguei, soube que o síndico, seu Alberto, havia sido eleito três anos antes com a promessa de evitar dores de cabeça e manter tudo exatamente como estava. E ele cumpriu o prometido à risca. Nada mudava. As paredes descascavam, o jardim morria aos poucos, mas a paz reinava.

Nada acontecia, exceto a taxa de condomínio aumentar ano após ano. Qualquer tentativa de reforma era rechaçada com a mesma veemência com que um padre repele o diabo. "Pra que mexer no que está funcionando?", dizia o seu Alberto. Mas eu via que não estava. Conversando com os porteiros, descobri que, antes dele, o prédio era um campo de batalha. Brigas, intrigas, ameaças de processo. Ele foi eleito justamente porque todos queriam paz. E ninguém queria a Marieta. O problema é que o preço da paz foi a estagnação. E, de quebra, a expulsão velada dos moradores mais antigos, que não conseguiam acompanhar o aumento dos preços e do custo de vida do entorno.

Em poucos anos, o prédio mudou de cara. Famílias que moraram décadas aqui venderam seus apartamentos. Aposentados foram embora. Vieram casais jovens, recém-formados, gente com dinheiro novo e pressa de parecer bem-sucedida. Eu achava aquilo injusto, sobretudo porque ninguém sabia exatamente pra onde o dinheiro das taxas ia. Tudo era vago, embrulhado em atas confusas e discursos de boa intenção.

Tentei ser síndica duas vezes. Na primeira, perdi feio. Na segunda, foi pior: Rômulo, meu próprio marido, levantou-se no meio da assembleia e declarou apoio ao seu Alberto. Na frente de todos. Aquilo me destruiu mais do que eu admiti na época. Não era só sobre o cargo. Era sobre respeito. Sobre ver o próprio marido me reduzir a uma mulher teimosa, como se fosse um capricho.

Mas essa ainda não é a história da minha terceira tentativa. Antes de chegar lá, preciso contar um evento muito chato que aconteceu comigo um ano antes. Um evento que, de certo modo, mudou tudo.

Ao longo dos anos, aprendi que a portaria de um prédio é um confessionário involuntário. Gente que entra, gente que sai, fofoca que sobe e desce no elevador. E eu acabei fazendo amizade com porteiros, zeladores, faxineiras e diaristas. Sempre soube que, se quisesse entender de verdade o que acontecia no condomínio, era com eles que eu devia conversar. Morador só vê o que quer ver; funcionário vê tudo.

Por exemplo, o seu Geraldo. Um nordestino de fala mansa e sorriso esperto. Uns 60 anos, barrigudo, mas com um olhar vivo que nunca envelheceu. Ele tratava todas as mulheres com uma gentileza exagerada, principalmente as mais velhas. Eu sempre achei que ele tinha um fraco pela mulherada da terceira idade, aquele tipo de paquera respeitosa, só no olhar e no jeitinho de falar. Nunca desconfiei de nada mais sério, mas, às vezes, eu via um brilho maroto demais nos olhos dele quando a Odete passava. Ainda assim, eu gostava do seu Geraldo.

— Dona Tatiana, saiu reportagem sua de novo, né? — ele me dizia, ajeitando o boné. — Vi seu nome lá no rodapé. Fiquei todo orgulhoso.

— O senhor fala isso pra todas as jornalistas do prédio.

— Só tem a senhora, ué. E olha, escreve bem demais, viu? Até quando eu não entendo metade do que tá escrito, sinto que é coisa importante.

Era impossível não gostar dele.

Já o Zé Maria era outro tipo. Magricela e um pouco calvo, sempre com cara de quem tava no meio de uma fofoca que ainda não podia contar. Era o zelador há mais de vinte anos e conhecia cada cano, cada rachadura e cada segredo do prédio. Falava baixo, como se tudo fosse confidencial. E de fato, quase tudo era.

Com o tempo, eu percebi que meu nome circulava mais nas bocas da portaria do que nas assembleia do condomínio. O seu Geraldo e o Zé Maria sempre traziam o jornal dobrado, o caderno de cidades aberto, e apontavam o meu nome com os dedos sujos de tinta. Era uma sensação estranha. Eu sabia que as minhas reportagens tinham impacto, que eram sérias, mas dentro do meu próprio prédio, parecia que ninguém ligava. Os moradores viam em mim só “aquela que se candidata a síndica pra perder de novo”. Já os porteiros e zeladores me viam com respeito.

Mesmo o Rômulo nunca me entendeu.

— Você devia escrever sobre celebridades. Isso, sim, dá retorno financeiro hoje em dia — resmungava ao comparar meu salário com os rendimentos dos fofoqueiros de influencers.

Eu sorria sem vontade, pensando em como o seu Geraldo e o Zé Maria que, mesmo sem entender de política pública ou orçamento municipal, liam tudo que eu escrevia e me elogiavam impressionados. No fundo, eles me davam mais forças que o marido pra continuar.

Foram anos assim. Um aceno, uma conversa, um café apressado em pé na portaria. Eu nunca fui do tipo de moradora que passava apática pelos funcionários. E eles, por sua vez, me ensinaram o valor de observar. De ouvir o que ninguém mais ouvia.

Naquela época, eu e o Rômulo ainda estávamos em um clima de lua de mel permanente, trepando como dois coelhos insaciáveis.

Eu lembrava de como a gente se conheceu. Eu era repórter, ele fotógrafo do mesmo jornal. Eu correndo atrás de pauta, ele sempre alguns metros à frente, procurando o melhor ângulo. Um dia, na cobertura de um protesto, uma bomba de gás estourou perto demais e eu me joguei atrás de um carro. O Rômulo me puxou pelo braço e me arrastou pra longe, tossindo e rindo ao mesmo tempo. Depois disso, ele me convidou pra um café, e o resto aconteceu quase naturalmente.

— Você é teimosa pra caramba — disse ele na primeira semana que saímos juntos.

— E você é um exibido com essa câmera pendurada no pescoço o tempo todo.

— Alguém precisa registrar a teimosia em ação.

A gente se apaixonou assim, entre risadas e olhares curiosos, cada um tentando decifrar o outro. Ele tinha um jeito leve, mas uma intensidade no olhar que me desmontava. Sempre via beleza nas coisas mais banais. E, de algum modo, começou a ver beleza em mim também.

Anos depois, naquela época de casados, por volta de 2022, um não precisava dizer muita coisa pra putaria começar. O Rômulo só me olhava nos olhos e me puxava pro quarto. Enquanto eu sentava na cama, os dois já começavam a tirar a roupa. Quando ele abaixava a cueca, já via aquela rola que conhecia tão bem, grande mas meia-bomba, balançando na minha frente. Eu nunca resistia em cair de boca.

Puxava o Rômulo para a cama, pra deita-lo, sem desgrudar do pau dele. Me afastava só pra terminar minhas roupas de qualquer jeito, exibindo meus peitinhos pequenos de mamilos durinhos. Como sempre, aos poucos, o cacete ia crescendo na minha boca. Foi quando ele me parou, me puxou para cima dele e me beijou de novo, enquanto explorava minhas costas com suas mãos.

Foi quando o Rômulo me girou na cama, se deitando sobre mim. Foi descendo com sua língua, mordiscando meus mamilos, lambendo a minha a barriga e descendo cada vez mais. Passou a chupar a minha bucetinha após passar pelos meus pentelhos que ele tanto gostava. Como sempre, mesmo sabendo que eu não curtia anal, ele tentava brincava com os dedos na entrada do meu cuzinho. Eu suspirava com sua língua na minha buceta e um dedo no cuzinho.

Logo, ele me puxou pra cima, pedindo pra eu ficar de quatro. Obedeci sem pestanejar, fiquei de quatro enquanto ele ficou de joelhos atrás de mim e encaixou a cabeçona do seu pau na entradinha da minha buceta. E estocou com vontade, me fazendo gemer alto.

O Rômulo era bem experiente. Enfiava tudo de uma vez e depois metia de novo. E de novo. E de novo. Sempre estocando com força, querendo ouvir o barulho dos nossos corpos. Me fazendo gemer mais, querer mais. Quando ele sentiu que podia se soltar ainda mais, me agarrou pelos quadris e começou a socar com força, acelerando mais e mais.

O Rômulo metia pra valer na minha buceta, com força mesmo. Acelerava, diminuía. Às vezes tirava o pau todo para fora, depois enfiava de novo. Ele era o dono do ritmo e eu só conseguia suspirar e aguentar aquele ritmo. Ninguém me fodeu como ele (bem, não até seis meses atrás, no começo deFoi quando o Rômulo se desgrudou de mim, me virou na cama, abriu minhas pernas e passou a meter comigo em frango assado. Ele queria me ver arreganhada, a bucetinha exposta, recebendo tudo como sua putinha. Mais umas bombadas e passou a me beijar na boca, o que retribuía com tesão.

Já tinha gozado duas vezes enquanto o Rômulo se esbaldava em mim, me fodendo sem dó. Ele não se fazia de rogado, me segurando pela cintura e meteu até o fundo, me fodendo sem parar.

Foi quando ele parou de repente e disse que estava quase gozando. Ele segurou o próprio cacete, apontou pros meus peitos, e soltou jatos e mais jatos de porra que pegaram nos meus seios, no meu colo, pescoço e rosto. Extasiada, me deixei cair derrubada na cama. E ele aproveitou pra tirar fotos minhas assim.

Ah, sim, ele adorava tirar fotos minhas pelada.

No começo, ele tirava fotos minhas lendo, cozinhando, rindo sozinha. Eu fingia reclamar, mas no fundo, adorava. Ele dizia que eu era mais bonita quando esquecia que estava sendo observada. E tinha razão. A naturalidade era algo que ele sabia capturar como ninguém.

Com o tempo, comecei a posar pra ele de propósito. Primeiro, tímida. Uma camiseta grande, sem maquiagem, luz suave entrando pela janela. Depois, com mais confiança. Eu adorava o modo como ele olhava pra mim através da lente: não havia julgamento, só desejo e admiração. Depois de uns meses, ele sugeriu, quase como quem não quer nada:

— E se a gente fizesse umas fotos mais... íntimas? Mas só pra gente, claro.

Sorri, meio nervosa. Ele não insistiu. No dia seguinte, deixou a câmera sobre a mesa da sala e foi fazer café. Quando voltou, eu já estava no sofá, enrolada num lençol branco, olhando pra ele por cima do ombro. Ele não disse nada, apenas ligou a câmera.

Daquele dia em diante, as fotos ficaram mais ousadas. Eu me acostumei à presença da lente, à sensação de estar nua e confiante diante dele. Era libertador. Ele adorava tirar closes dos meus mamilos durinhos e dos meus pelos pubianos castanho-escuros, que eu sempre mantinha curtinhos como um triângulo compacto sobre a buceta.

Quase sempre, as sessões terminavam em sexo.

E foi assim que começaram os vídeos. No início, curtos, experimentais. Depois, cenas inteiras, com o quarto iluminado por abajures e a câmera captando cada movimento nosso. Ele tinha um cuidado quase profissional com os ângulos, a luz, o som. Depois de um tempo, ele passou a filmar nossas transas. Às vezes, nós transávamos seguindo o roteiro das lentes, voltando pra câmera, pensando em cortes e ângulos.

Eu não havia vulgar. Ele era fotógrafo, aquiloera como se estivéssemos criando arte, ainda que a arte fosse só nossa.

As pastas no computador dele tinham nomes neutros — “projeto-luz”, “ensaio1”, “cotidiano”. Ele guardava tudo com cuidado, criptografava os arquivos. Eu nunca desconfiei de nada, nunca senti medo. Era o nosso pequeno segredo. As fotos, os vídeos, as risadas entre uma tomada e outra. Tudo parecia protegido pelo mesmo pacto silencioso que sustentava nosso amor.

Naquele 2023, ocorreram dois eventos que mereceram ser citados com um pouco mais destaque.

O primeiro foi o dia o seu Eustáquio e a dona Marlene fecharam a porta do apartamento deles pela última vez. Eles moravam no 404-A desde 1989. Eram quase uma instituição do prédio. Eu e o Rômulo ajudamos na mudança, mesmo que eles insistissem que não precisava.

— Obrigada por tudo, minha filha — respondeu Marlene, com aquele sorriso conformado que me partia o coração. — O Eustáquio não podia subir e descer muito com esse joelho

Assenti, mas por dentro eu estava revoltada.

— Eu acho tão injusto isso — falei quando a gente subiu de volta. — Eles moraram aqui por 34 anos e agora têm que sair porque o Arnaldo decidiu aumentar as taxas de novo.

— Isso é coisa da vida — dizia Rômulo, pra quem tudo sempre era simples. — As pessoas envelhecem, a aposentadoria não acompanha os custos... Não tem o que fazer.

— Claro que tem. A gente podia propor uma taxa de condomínio proporcional aos rendimentos. E uma fiscalização decente de pra onde vai o dinheiro. Ninguém nunca viu um relatório detalhado das contas.

Ele riu como quem já tinha ouvido aquilo dez vezes.

— Amor, você já propôs isso antes, lembra? Foi rejeitado de forma unânime. E o advogado do prédio ainda disse que provavelmente era ilegal cobrar valores diferentes.

— Ilegal é deixar gente velha sendo expulsa do próprio lar porque o síndico quer por uma taxa extra para repintar algo que deveria ter sido repintado há 6 anos.

— Você é jornalista, Tati. Devia saber que o mundo não é justo. É assim que funciona.

— Então quer dizer que a gente só aceita? Faz cara de paisagem enquanto os velhinhos empacotam a própria vida?

Ele me olhou com aquele ar cansado.

— Eles votaram no Arnaldo todas as vezes, Tati. Mesmo contra você. Lembra? Você acha que eles são teus amigos, mas ainda assim, eles votaram nele.

Eu fiquei em silêncio. Não porque ele não tivesse razão, mas porque era isso o que mais doía. Eu tinha lutado por aquele prédio mais do que por qualquer causa profissional. Cada discurso em assembleia, cada e-mail de prestação de contas, cada tentativa de convencer os vizinhos de que dava pra mudar. E, no fim, até as vítimas do sistema que eu tentava enfrentar preferiam continuar submissas a ele.

— Você acredita demais nas pessoas. Devia ter aprendido que elas sempre vão te decepcionar.

Nesse momento, lembrei da despedida da dona Marlene. Eles estavam se mudando pra um apartamento bem menor no subúrbio, mas ela sorria como quem tenta esconder o próprio desamparo. Eu não consegui sorrir de volta pra ela.

— Eu prefiro continuar tentando e tentando — falei baixinho. — Porque ainda acredito que vou ser surpreendida positivamente por alguma delas.

O segundo evento aconteceu meses depois. Estava saindo do meu carro, após chegar do trabalho. Eu só queria subir, tirar a roupa do trabalho e tomar um banho quente.

Enquanto esperava o elevador chegar no estacionamento, senti o ar esfriar. Um frio súbito, quase cortante, como se tivesse descido uns cinco graus de uma vez. E, junto dele, uma voz rouca e seca, que soou atrás de mim:

— Boa noite.

Virei o rosto instintivamente. Um homem que eu nunca tinha visto antes. Alto, magro, levemente corcunda. A pele pálida contrastava com o cabelo escuro e ralo, penteado para trás, como se tivesse sido engraxado. A camisa preta de gola alta, de tecido pesado, a calça escura e o sapato de bico fino completavam a figura lúgubre. Ele segurava uma pasta de couro gasta, e os olhos atentos, mas sem brilho.

Não lembrava de tê-lo visto antes. Era raro alguém novo passar despercebido por mim no condomínio, mas aquele homem, aquele tal de Lucério, me escapara completamente. Ele tinha um ar de quem saía de casa apenas o estritamente necessário. Parecia mais máquina que homem.

Algo em mim se acendeu. Não era medo, era curiosidade. Tinha algo diferente ali. Só que, ao mesmo tempo, percebia que era algo pequeno demais, doméstico demais. Provavelmente nada além de uma esquisitice local. Um homem excêntrico entre tantos outros.

Enquanto eu o analisava discretamente, ele apenas esperava o elevador. Nem me olhou mais depois do cumprimento. Foi um “boa noite” dito por pura formalidade, sem intenção de conversa. A frieza dele não parecia maldade, mas desinteresse.

Entramos juntos no elevador e as portas estavam prestes a fechar quando uma voz feminina surgiu:

— Segura aí!

Instintivamente, apertei o botão e entrou uma mulher, exausta, mas linda. Cabelos presos num coque improvisado, alguns fios soltos pelo rosto. Ainda com um crachá pendurado torto sobre o bolso “Dra. Jéssica”. As pernas dela estavam envoltas numa calça social escura, mas o tecido marcava a silhueta de quem passava o dia em movimento. O corpo era magro, firme, de uma elegância sem esforço. O rosto tinha aquele brilho das pessoas que trabalham muito, mas conseguem ser belíssimas sem maquiagem.

— Boa noite — disse Jéssica, com um sorriso educado, sem entusiasmo.

— Boa noite — respondi.

O Lucério repetiu o cumprimento, mas de um jeito arrastado, quase gutural. Algo no timbre dele fez a Jéssica se encolher levemente, talvez sem perceber. Eu observei. E foi aí que notei o olhar dele. Um olhar que se demorava demais nela. Não era curiosidade. Era desejo. Um desejo silencioso, unilateral, incômodo. A Jéssica, por sua vez, parecia completamente alheia. Nem reparava nele. Parecia apenas mais uma médica voltando de um plantão, cansada, ansiosa por chegar em casa.

Algo me dizia que aquele homem não era apenas um esquisitão de condomínio e que aquela mulher não era apenas uma médica gostosona que o ignoraria pra sempre.

O ano de 2023 também foi o ano da destruição do meu casamento. Embora, ele tenha acabado mesmo no começo de 2024, todas as fissuras foram ao longo do ano anterior. Eu nunca pensei que meu casamento terminaria daquele jeito. Talvez ninguém pense, quando ainda acredita estar construindo uma vida a dois. Não foi uma explosão, mas de uma erosão lenta.

No início, eu achava que era só uma fase ruim. O trabalho dele estava puxado, o meu também. Eu cobria um escândalo político na redação, passava madrugadas revisando textos, enquanto ele chegava em casa tarde. Jantávamos quase em silêncio. Ele falava pouco, eu tentava puxar assunto, mas parecia sempre distraído.

— Rômulo, você vai dormir já? — perguntei uma noite, enquanto eu ainda revisava uma matéria no notebook.

— Tô cansado, Tatiana. Foi um dia longo.

— Eu sei, mas a gente mal se fala.

— E precisa? A gente se vê todo dia, não vê?

Nos dias seguintes, ele começou a dormir cada vez mais cedo, e eu a ficar acordada cada vez mais tarde. Às vezes, eu ficava só observando o perfil dele dormindo, a respiração calma, o rosto que eu já não reconhecia mais. Um estranho deitado ao meu lado.

O silêncio foi crescendo, tomando conta do apartamento. Cada refeição parecia uma convenção de estranhos. Eu falava do trabalho, ele respondia com monossílabos. Comecei a notar pequenos gestos. O celular virado pra baixo, o olhar distante, o toque frio. E um dia, por volta de outubro, percebi que não lembrava mais o som da risada dele.

A primeira briga feia veio por causa de uma toalha molhada em cima da cama. Ridículo, eu sei.

— Rômulo, quantas vezes eu já pedi pra não deixar a cama molhada? — falei, exasperada.

— Meu Deus, Tatiana, é só uma toalha!

— Não é só uma toalha! É falta de respeito! É você fingindo que eu não existo!

— Você quer brigar por qualquer coisa, é isso? É sempre drama, sempre um discurso moral.

— Porque você não liga pra nada! — gritei.

Ele jogou a toalha no cesto e saiu batendo a porta do quarto. Eu fiquei na sala, tremendo de raiva e de tristeza. Aquela não era uma discussão sobre uma toalha. Era sobre tudo o que estava desmoronando.

Nos dias seguintes, nos evitamos. Ele começou a jantar fora com “os colegas do escritório”. Eu fingia acreditar, mas o perfume feminino no paletó dele denunciava algo mais. Eu nunca o confrontei sobre isso, porque parte de mim não queria saber. Era mais fácil fingir que a traição não existia.

Passei a mergulhar no trabalho. Comecei a chegar tão tarde que ele já dormia. Tomava café sozinha de manhã. As pautas mais tensas e complicadas começaram a ser minhas por escolha. Reportagens sobre corrupção, tráfico de influência, desvio de verbas. Eu era conhecida por não recuar diante de ninguém. A verdade é que eu só não queria recuar diante de mim mesma. Quanto mais me jogava no caos jornalístico, menos pensava no caos dentro de casa.

Em janeiro, depois de meses de silêncio, discussões pequenas e distância crescente, a conversa que temíamos aconteceu. Sentamos na mesa da sala, sem pratos, sem comida.

— Eu acho que não dá mais — disse ele.

— Também acho. — A minha voz saiu firme, mas por dentro eu desmoronava.

— Então, é isso?

— É.

Ele acendeu um cigarro, mesmo eu odiando o cheiro, e sorriu.

— Lembra quando eu dizia que você era teimosa e nunca desistia de ninguém? Continuava tentando e tentando e tentando? — Ele deu uma tragada cuja fumaça veio pra mim, se querer. — No final, você desistiu de mim tão fácil que me deixou envergonhado.

A última briga, que levou três meses pra resolver, foi sobre o apartamento. Era o único bem realmente valioso que tínhamos. E eu me recusei a abrir mão.

— Eu paguei metade, Tatiana. Tenho direito! — ele dizia, com os olhos faiscando.

— E eu paguei com tudo o que sobrou de mim! Esse apartamento é a única coisa que ainda é minha.

— Isso não é justo.

— Não é justo o que você fez comigo nos últimos meses.

Ele me olhou, respirou fundo, e saiu. Não disse mais nada. Um dia, mandou uma mensagem: “Quer tanto ficar aqui? Quer tanto ser síndica? A queridinha dos funcionários? Pode ficar com o apartamento, então. Foda-se!”

Quando ele veio buscar as coisas, eu estava em casa. O silêncio entre nós era insuportável. Ele abriu o guarda-roupa, pegou as roupas, colocou numa mala. Nenhum de nós falou. Quando ele saiu, fechei a porta e deslizei até o chão, chorando baixinho.

Dias depois, assinamos o divórcio. Quando o advogado entregou os papéis finais, eu não chorei. Não consegui. Senti um vazio limpo7. Fiquei com o apartamento e com o maldito presente de despedida que ele deixou.

“Você acredita demais nas pessoas, Tatiana. Elas sempre vão te decepcionar.”

Isso foi um alerta e uma maldição que ele me deixou.

Depois que o Rômulo saiu do prédio, notei que algo tinha mudado no modo como os porteiros e zeladores me olhavam. Não era paranoia. Eu conhecia bem o olhar de um homem. Principalmente o olhar malicioso, disfarçado de cordialidade. Eles passaram a olhar mais fixamente pros meus peitos, por vezes escorregavam pela minha virilha, mal esperavam eu virar as costas pra secar minha bunda. Tentavam fingir normalidade, mas eu sentia quase como se eles tivessem visão de raio-x. Havia risinhos abafados, cutucadas discretas, e até um ou outro sussurro.

Um dos poucos que não agia assim era o seu Geraldo. O velho parecia desconfortável na minha presença, mas como quem carregava um segredo que não queria ter. Evitava me encarar, falava baixo, quase sempre olhando pro chão.

A oportunidade de descobrir a verdade, veio numa terça de noite, quando fui buscar uma encomenda e a portaria estava vazia.

— A gente precisa conversar.

Ele engoliu seco.

— Conversar? Sobre o quê, dona Tatiana?

— Sobre o que está acontecendo com os seus colegas. Esses olhares, esses risinhos. — Me inclinei levemente pra frente, só pra ver a reação dele. O homem empalideceu.

— Eu não sei do que a senhora tá falando.

— Sabe, sim. Me conta o que é que tá rolando.

Ele coçou a nuca, desviando o olhar pra câmera de segurança no canto da sala, como se esperasse que ela o salvasse.

— Olha, dona Tatiana, eu...

— Geraldo. — Usei o tom que usava em entrevistas quando alguém tentava me enrolar. — Eu quero saber agora. O que é que tá acontecendo?

Ele suspirou fundo, parecendo se render.

— A senhora promete que não vai se zangar comigo?

— Depende do que você vai me dizer.

Ele olhou pros lados, abaixou a voz.

— É que o pessoal recebeu umas fotos suas, dona Tatiana.

Por um instante, achei que não tinha escutado direito.

— Tipo, uns... uns nudes, sabe? — Ele sussurrou, vermelho de vergonha. — No grupo dos porteiros e zeladores.

O chão pareceu sumir debaixo dos meus pés.

— Como assim vazaram nudes meus? Eu nunca mandei nada pra ninguém daqui!

— Pois é, eu imaginei. Eu juro que também achei estranho. Eu não baixei as fotos. Eu juro! Juro pela alma da minha mãe, dona Tatiana! — Ele fez menção de entregar o celular como prova de honestidade, quase em súplica. — Eu só vejo esse tipo de coisa de quem manda pra mim, eu juro!

— E quem foi que mandou isso? — Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia.

— Eu não sei, dona Tatiana. De verdade. Digo, eu sei quem recebeu, mas não quem achou essas fotos e as deu pra quem recebeu.

— Claro, claro... — murmurei, mordendo o lábio de raiva. — E ninguém pensou em me avisar?

— Como se avisa uma coisa dessas? Se a gente não falar direito, quem perde o emprego é quem avisou. E capaz de ser justa causa.

— Aham. — Cruzei os braços, olhando fixamente pra ele. — Pois eu quero falar com todos os porteiros e zeladores, seu Geraldo. Mesmo os de folga. Amanhã sem falta aqui na hora do almoço. TODOS!

— Eu não sei, dona Tatiana. Não me bota no meio, não, por favor. Eu só quero trabalhar em paz.

— Calma, seu Geraldo. — Respirei fundo, tentando controlar a fúria. — Você não vai sobrar pra nada pra ti, tá me ouvindo? Eu só quero descobrir quem fez isso. Me arrume os contatos de todos os porteiros e zeladores. Eu vou resolver isso do meu jeito.

Ele hesitou, mas acabou abrindo o celular e encaminhou os contatos todos pro meu WhatsApp.

— Mas, por favor, dona Tatiana, se a senhora for falar com eles, não diz que fui eu que passei, tá?

— Você não me conhece, seu Geraldo. Eu sei ser discreta. — Eu me virei pra sair, mas parei na porta. — E, Geraldo, obrigada por ter me contado. Mesmo com medo.

— Eu não gosto dessas coisas, dona Tatiana. A senhora não merece isso.

No dia seguinte, eu entre na portaria com passos firmes. Todos os 9 tinham atendido meu ultimato. Tinha me vestido de forma pensada para me dar um ar de autoridade: blazer cinza-claro, camisa branca abotoada até o colarinho, calça de alfaiataria preta, sapatos baixos, óculos de armação retangular.

De braços cruzados, deixei que o tecido do blazer se ajustasse aos meus bíceps definidos. Eu sabia que aquela postura impunha respeito. Os quatro porteiros e cinco zeladores estavam diante de mim, mesmo os que estavam de folga vieram. Nenhum ousava me encarar diretamente. As mãos inquietas, os olhares trocados, o silêncio tenso. Eles sabiam por que estavam ali. E sabiam que o que viria a seguir não seria bonito.

— Eu sei o que vocês fizeram — comecei, a voz firme, sem elevar o tom. — Eu sei que meus nudes foram vazados no grupo de vocês. Eu também sei que isso é crime. E, juridicamente, vocês todos poderiam ser demitidos por justa causa e processados.

Alguns abaixaram o olhar.

— Mas eu não quero transformar isso num circo — continuei. — Estou disposta a fazer um acordo.

O João ergueu o queixo, talvez achando que eu estava blefando.

— Que tipo de acordo, dona Tatiana? — perguntou, a voz meio trêmula.

— Dos simples. Vocês podem ficar com as fotos. Podem fazer o que quiserem com elas. Podem bater punheta a vontade olhando pras fotos da minha buceta, se é isso que fazem. Não vou impedir, não vou julgar. Se fizerem o que eu quero agora, pra todos os efeitos, será como se eu tivesse as enviado pra vocês.

O murmúrio coletivo foi instantâneo, e eu ergui a mão para silenciá-los.

— Mas há condições. Elas não podem ser impressas, nem enviadas pra mais ninguém fora desta sala. Nenhum novo porteiro ou zelador vai as receber e nenhuma outra pode saber que isso aconteceu. A partir de agora, isso vai ser um segredo entre nós dez.

Os murmúrios voltaram, eles pareciam surpresos. Eu tinha o emprego deles nas mãos e estava sendo bondosa demais.

— E vocês nunca mais vão tocar no assunto comigo. Sem comentários. Sem piadinhas. Sem sussurros quando eu passar. Vocês vão continuar me tratando com o mesmo respeito que dariam a qualquer moradora. Se um só de vocês quebrar o acordo, eu vou considerar que todos quebraram. E aí eu acabo com todos vocês de uma vez.

O silêncio que se seguiu foi quase sufocante. Zé Maria coçou a cabeça, desconfortável. Seu Geraldo suspirou. O João, ainda com o chiclete, foi o primeiro a criar coragem pra falar.

— Tá bom, a gente aceita.

— Eu tenho umas perguntas pra vocês e quero apenas a verdade — continuei. — Quantas fotos eram.

Eles trocaram olhares, um breve silêncio. Foi o próprio João quem respondeu, com a voz mais baixa:

— 53 fotos e 12 vídeos.

Por dentro, senti o estômago afundar. Eu sabia exatamente quem teria um acervo desse tamanho. Só uma pessoa tinha e era tudo que eu mais temia. Respirei fundo, contive o tremor nos dedos e segui em frente.

— E quem postou essas fotos no grupo? — perguntei.

João hesitou por um instante, mas acabou levantando o braço, como um aluno confessando ter colado na prova.

— Fui eu, doutora. Mas... eu juro que não foi por mal. Eu só... só repassei. Achei que era... brincadeira, sabe?

O ar ficou mais pesado. Eu o encarei por longos segundos antes de perguntar:

— E quem te deu essas fotos, João?

Ele engoliu em seco.

— Foi o senhor Rômulo. Na noite em que foi embora. Disse pra eu espalhar, que era um presente de despedida pra galera.

Por um segundo, tudo ao meu redor pareceu girar. Era isso. Minhas piores suspeitas, confirmadas. Tinha sido o filho da puta do meu ex-marido. Claro que ele iria querer destruir minha reputação no prédio de birra por eu ter ficado com o apartamento. Tentei manter a compostura, mas a minha voz saiu mais gelada do que eu esperava.

— Você tem ideia do que acabou de admitir, João? — perguntei, aproximando-me um passo. Ele recuou meio instintivamente. — O que o Rômulo fez é “revenge porn”. Um crime. E o que você fez foi ser cúmplice. Você distribuiu material íntimo sem consentimento. Sabe o que isso significa? Se eu quisesse, você passava a noite na delegacia.

— Eu... eu não sabia que era crime, dona Tatiana, eu juro! — balbuciou, tirando o boné e apertando-o entre as mãos.

Ele sabia que era errado.

— Você acha que expor o corpo de uma mulher é de boa? Que transformar a intimidade dela em piada é normal? — Eu dei um passo à frente, encostando quase o dedo no peito dele. — Você acha que pode compartilhar fotos de uma mulher só porque o ex dela te mandou? Você acha que isso te faz homem, João?

Ele ficou imóvel. Seu Geraldo pigarreou de novo. Zé Maria desviou o olhar, fingindo olhar para o chão. Ninguém respirava.

— Escuta bem o que eu vou te dizer — continuei, com a voz agora mais baixa, mas carregada. — Eu prometi anistia a todos vocês, e eu vou cumprir. Pode ficar com essas malditas fotos e bater punheta com elas até morrer anêmico, se quiser João. Mas, se um dia, se eu sentir seu olhar sobre mim por mais de um segundo, você vai se arrepender de ter me conhecido. Entendido?

Ele apenas assentiu, trêmulo.

— Sim, senhora.

— Ótimo. — Cruzei novamente os braços, firme. — Agora, falta uma última pergunta.

Eles olharam assustados. Eu mantive o olhar firme.

— Eu quero saber se algum de vocês repassou essas fotos pra mais alguém. Pra outro grupo, amigos, vizinhos, qualquer um. — Cruzei os braços novamente. — E quero a verdade.

— Não, senhora — respondeu seu Geraldo, quase num sussurro. — Ninguém aqui repassou nada pra ninguém. Juro por Deus. O pessoal não pode fazer isso.

Os outros confirmaram, cada um à sua maneira: alguns acenando, outros murmurando um tímido “é verdade”. Mas havia algo estranho naquela unanimidade. O tipo de silêncio que vem mais do medo do que da inocência.

— E por que não fariam isso? — insisti. — Se vocês já tinham o material, por que não repassariam pra outros grupos? — dei uma pausa, observando os rostos deles — Ou será que eu tenho que acreditar que vocês todos são santos de repente?

O desconforto cresceu. O Zé Maria olhou pro seu Geraldo, que olhou pro João, que olhou pro chão. Finalmente, o Zé Maria pigarreou e decidiu falar:

— É que... existe um acordo, dona Tatiana.

— Que tipo de acordo?

Ele coçou o queixo, sem coragem de me encarar.

— Um acordo entre nós, os funcionários. O pessoal da portaria, os zeladores, as diaristas. A gente tem umas regras, sabe? Coisas que combinamos pra não ter confusão no prédio.

— E uma dessas regras — completou seu Geraldo —, é que fofoca ou nude vazado de morador não sai daqui. Nunca. Morre entre a gente.

— Desde quando isso existe? — perguntei.

— Faz uns anos — respondeu Zé Maria. — Ele disse pra gente fazer isso. Guardar os segredos. Sufocar tudo quando chegar na gente pra nada ser espalhado. Em troca, ele nos ajudaria em tudo que precisássemos.

— Teve um zelador que descumpriu — disse outro zelador. — Ele repassou uma foto de uma moradora pro grupo dos porteiros de outro prédio. No dia seguinte, foi demitido por justa causa. Sem direito nem a aviso. Desde então, ninguém faz isso. Tudo morre na gente. Fofoca, dizer ou foto.

— Quem é “Ele”? Quem mandou vocês seguirem isso? — perguntei. — Foi o síndico?

Quatro deles mal conseguiram conter o risinho. Era óbvio que o síndico não fazia ideia desse acordo. O Zé Maria olhou para os outros antes de responder.

— Não foi a gente que inventou, dona Tatiana. Foi um morador. Ele ajuda todos os funcionários. Garante aumento, melhores horários, revezamento mais justo... Até fez o síndico segurar umas broncas que podiam ter rendido demissão. Em troca, pediu umas coisinhas.

— “Coisinhas”?

— Tipo... manter o prédio funcionando em paz. E, principalmente, proteger a imagem dos moradores. Matar todas as fofocas e nudes entre nós mesmos, e só contar essas coisas pra ele. Assim, ele impede que as coisas voltem ao que eram antes do seu Alberto. E acho que a maioria de nós prefere assim. — Ele deu de ombros. — Tinha morador que espalhava fofocas pesadas dos outros, moradora que usava as diaristas pra espalhar mentiras. Não era certo, não era justo. Sempre caía a culpa nelas.

Fiquei em silêncio por alguns segundos. Um condômino que controlava fofocas e tinha influência sobre o síndico... Alguém com poder. Mas quem teria tanta força assim?

— E quem é esse condômino? — perguntei. — Quero um nome.

O grupo inteiro ficou imóvel. O João parecia querer desaparecer. Seu Geraldo suspirou. O Zé Maria balançou a cabeça, nervoso.

— A gente não pode, dona Tatiana. É segredo. Todo mundo jurou.

Dei um passo à frente.

— Pois, eu juro também. — Olhei pra cada um deles, um a um. — Juro por tudo o que há de mais sagrado que esse nome morre comigo. Não importa o que aconteça, nem quanto tempo passe. Eu só quero saber quem é.

O silêncio durou longos segundos. Então, finalmente, o Zé Maria falou:

— É o senhor Lucério.

Meu coração deu um pequeno salto, mas mantive o rosto neutro. Por dentro, o turbilhão começou. Lucério. Claro que o mestre das marionetes seria alguém que passaria despercebido até mesmo por mim.

— Entendi. — Fiz uma pausa curta. — Bom, fico mais tranquila em saber que vocês têm um código. Isso mostra que, apesar do erro, vocês ainda têm alguma ética.

Suspiraram.

— E lembrem-se do que eu disse: o assunto morre aqui. — Dei um passo atrás, sinalizando o fim. — Podem ir.

Eles começaram a se dispersar, cada um indo em silêncio, sem coragem de olhar pra trás. Quando fiquei sozinha, apoiei as mãos no balcão da portaria e respirei fundo. O nome do Lucério ainda ecoava na minha cabeça. Esse maldito era o responsável por tudo de ruim que acontecia no condomínio. Agora, eu tinha um nome e uma vingança.

Mas antes de mirar no Lucério, eu ainda tinha uma ponta solta a aniquilar.

Assim, a primeira coisa que fiz foi garantir que o Rômulo não teria coragem, ou a oportunidade, de repetir a canalhice. Não fui impulsiva.

Procurei uma advogada que eu já conhecia da cobertura de um caso sobre assédio. Relatei tudo, entreguei as provas que tinha, e ele recebeu uma notificação extrajudicial. Era simples. Ela teria que vir até o escritório do advogado e, na nossa frente, apagar as cópias que tivesse no celular, no notebook e na nuvem. E assinar um termo de responsabilidade. Se ainda houvesse uma cópia que vazasse, ele seria criminalmente responsável.

Ele gaguejou e tentou se justificar, com aquela voz de sempre, meia culpa, meia arrogância. Mas acatou tudo com o rabo entre as pernas. Sabia que eu tinha contatos e ninguém confiaria mais nele como profissional.

Eu não queria tornar público aquele vazamento e ele não queria ser preso. Com o cu na mão, ele fez tudo que foi ordenado. Mesmo assim, ainda tenho o processo guardadinho pra entrar em ação caso ele mudasse de ideia.

Do ponto de vista público, mudei a minha forma de me vestir, talvez mais profissional. Adotei uma nova imagem: óculos de armação maior, blazers bem cortados, saias lápis que cobriam mais do que as calças justas faziam antes, camisas de manga comprida quando possível.

As coisas seguiram em calmaria depois disso.

Com o tempo, o comportamento dos porteiros e dos zeladores voltou a um simulacro do que era antes. No início, eu ainda pegava olhares rápidos demais, mas tratavam de agir como profissionais. Seu Geraldo e Zé Maria continuaram a falar das minhas reportagens.

Mas eu soube que o seu Geraldo, após a minha “autorização”, não resisti à curiosidade de ver minha nudez e baixou todas as fotos e vídeos. Provavelmente, eles estavam na mesma pasta com outros nudes de outras moradoras que enviaram diretamente pra ele. Não liguei, eu tinha autorizado e ele nunca agiu como se eu sou fosse uma modelo da Playboy.

O João evitou olhar diretamente para mim por meses, e quando cruzávamos no corredor suas desculpas eram curtas e mecânicas. Um “boa tarde, dona Tatiana” murmurante. Com o tempo, a própria sede ao pote deles secou. Eles me viram pelada, mas já tinham visto dezenas de mulheres peladas. A frieza de eu ser apenas mais uma no mundo fez com que a esmagadora maioria mal lembrasse das minhas fotos depois de uns meses.

Continuei trabalhando nas pautas que realmente interessavam, fiz entrevistas, cobri duas reportagens investigativa, entre outras coisas.

Faltando um ano pra próxima eleição para síndico, eu já fazia contas. Não poderia mais mirar apenas no seu Alberto, mas sim na força que o mantinha no cargo: Lucério.

E eu o derrubaria desse poder que ele guardava oculto há, pelo menos, uma década. Mesmo que isso trouxesse o caos temporário pro condomínio.

No entanto, antes de contar o que eu fiz em minha guerra pra derrubar o Lucério, precisava contar dois eventos que aconteceram.

O primeiro foi sobre quando conheci uma fonte charmosa e de sorriso torto seis meses atrás.

O segundo aconteceu durante a semana após o divórcio de Rebecca e Maurício. E foi o momento mais baixo da minha vida. Um episódio de hipocrisia que me colocou no lado oposto daquele que eu tanto condenara. O meu maior erro.

Todos sempre vão me decepcionar. A história que contarei a seguir foi de quando eu mesma me decepcionei.

Pois bem, leitor. Na próxima e última parte deste one-shot que virou microssérie, contarei desde os eventos acontecido seis meses atrás até os eventos mais recentes após as mulheres da turma da academia replicaram o crime dos porteiros e zeladores com os nudes da rola quilométrica do Antônio.

Algumas questões que gostaria que os leitores respondessem nos comentários (mais sobre a narrativa):

I) Vocês acham que a Lorena merece um one-shot narrado pela em que é apresentado qual o acordo que ela fez com o Jonas (tal qual Carolina, Sarah e Eliana estão tendo) ou acreditam que é IMPOSSÍVEL que a Lorena tenha algum telhado de vidro vulnerável ao Jonas ou que o Jonas tenha algo a oferecer à Lorena que ela precise?

II) Vocês acham que a Tatiana está justificada em mirar sua vingança contra o Lucério em vez do síndico ou outras pessoas?

III) Vocês acham que a Tatiana está justificada em arriscar trazer de volta as guerras internas do condomínio como um preço a pagar pra destruir a suposta paz ilusória imposta pelo Lucério (pelo menos tal como ela vê)?

Agora, por este e pelo próximo capítulo, vou deixar as opções em aberto pra votação sobre o que deve acontecer.

Coloquem nos comentários quais homens vocês torcem que comam a Tatiana antes do final da novela e POR QUE torcem por eles:

1) Jonas

2) Lucério

3) Antônio

4) Seu Geraldo

5) Zé Maria

6) Síndico Alberto

Na verdade, dois deles (provavelmente é bem óbvio quais os dois) irão comer ela (provavelmente, um deles é o possível par romântico dela). No entanto, eu vou considerar a inclusão das demais opções mais votadas ou as que tiverem os melhores argumentos a favor.

Coloquem nos comentários para o que vocês torcem que aconteçam nos próximos capítulos. Em breve, teremos a continuação.

Os próximos capítulos serão:

* Passando a Vara nas Vizinhas. Ou Não. - Capítulo 13

* Neste Condomínio em que Ninguém é de Ninguém, Exijo o Meu Vintém - Parte 01

* Eu, minha amiga gostosa e os vizinhos dela - Parte 02

* Minhas coleções de calcinhas, amantes e putinhas - Parte 10

* Queria Ser Síndica, mas Porteiros e Zeladores Me Viram Pelada - Parte 02 de 02

* Eu e Minha Esposa Pulamos a Cerca... E o Caos Explodiu - Parte 11

* Louco para enrabar a professora ruivinha, enrabei a <SPOILER> primeiro

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Foto de perfil genéricaAlberto RobertoContos: 96Seguidores: 272Seguindo: 0Mensagem Em um condomínio de classe média alta, a vida de diversos moradores e funcionários se entrelaça em uma teia de paixões, traições e segredos. Cada apartamento guarda sua história, no seu próprio estilo. Essa novela abrange todas as séries publicadas neste perfil. Os contos sempre são publicados na ordem cronológica e cada série pode ser de forma independente. Para ter uma visão dos personagens, leia: Guia de Personagens - "Eu, minha esposa e nossos vizinhos"

Comentários

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Em geral gostei da personagem. Ela parece ser uma boa pessoa e ela demonstra preocupações mais profundas que ninguém da série sequer pensa. Sabendo a história dela eu estou muito surpreso com a posição dela no lance do Antônio (por mais que eu saiba que vai ser explicado no próximo conto, é algo que eu não vejo a personagem que narrou o conto se posicionando daquela forma, por mais que ela dê indícios que não ta numa fase boa da vida desde o divórcio e que isso possa estar afetando o julgamento / ações dela).

I) Merecer ela merece, mas pode tranquilamente vir do POV do Jonas se for o caso. Eu acho que algo deveria acontecer, mesmo que seja só uma vez.

II) Não sei se eu chamaria de vingança. Ela ta se opondo a pessoa que ela acredita (e está certa) que tem o controle.

III) Não é tão simples como dizer que ela está certa ou errada. Ela tem bons motivos pra querer a mudança.

1,2 e 3.

O Jonas acho que é o mais neutro dessa história. Não sei se ela transaria com o Jonas depois de saber que estão querendo colocar ele na briga pra síndico, mas vejo possibilidades (por ex um acordo em que ele transa com ela, ela sai da corrida pra ser síndica mas ele concorda em apoiar todas as mudanças que ela propuser quer ele seja eleito ou não). Curiosamente o Jonas é um personagem que gosta de fazer e guardar para ele ensaios sensuais de quem ele domina. Por um lado ela vai odiar isso, porque ela não confia em ninguém que faz isso por causa do ex-marido, por outro pode reviver um "fetiche" dela e mostrar pra ela que apesar de cuzão o Jonas tem princípios)

Antônio poderia ser casualmente, ou até talvez eles pudessem terminar juntos se ele se redimir e no fim ele não voltar com a Letícia. Acho que ela pode ter uma relação boa com o Antônio mesmo que não fiquem juntos. Ele precisa de gente com a cabeça no lugar pra ajudar ele, e ela está solteira, reparou no pau dele e vai ter uma empatia por ele por causa do que ela passou. (Sugerir que ela seja amiga do Antônio certamente não estava no meu bingo).

Lucério só se for em um "jogo" que nem o dele com a Jéssica ou se ele terminar junto com ela. No momento não acho que ele merece.

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Alias algumas observações sobre a situação dos nudes do Antônio que provavelmente vão ser um destaque nos próximos contos.

1) Seria legal ver o Jonas conversando a sério com a Letícia e falando como o que ela fez foi errado e muito escroto. Sem joguinho, sem manipulação, só o Jonas puto e decepcionado e não cortando a seriedade nem se a Letícia tentar levar o assunto pra outro caminho.

2) Acho que tem que ser explorada no POV do Antônio a dualidade dele. Por um lado eu tenho quase certeza que se a Letícia tivesse perguntado pra ele, ele teria deixado (e provavelmente ia querer que ela mostrasse pra ajudar o "plano" dele, mas ele provavelmente disfarçaria), mas ao mesmo tempo isso sendo uma puta traição de uma pessoa que ele ainda gosta apesar de tudo. Ia ser legal ver ele refletindo tipo "ela está certa. ela fez exatamente o que eu queria, porque eu to tão irritado e chateado com isso?"

3) e do outro lado a Letícia conhece o Antônio e que tem certeza que o Antônio ia gostar, mas ao mesmo tempo confusa e puta porque tão jogando a culpa nela sendo que ele ia querer que ela mandasse as fotos. Pique "eu sei que ele ia gostar se eu mandasse as fotos, qual o problema de eu não ter perguntado? Eu sabia que se eu perguntasse ele ia dizer que sim, porque eu to saindo de errada da história.

E ela tendo que entender o erro dela e crescer como ele também vai ter que crescer.

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Outra coisa importante pra Letícia. Ela pode se defender com aquele papo de que "ah ele me traiu, ele fez isso e aquilo, me fez quase reprovar e ter que dar pro Jonas... Mas as pessoas tem que deixar claro que os erros dele como namorado dele na época não justificam o que ela fez.

Pode até ser o caso do Antonio ou do Jonas virar o jogo e falar "ah mas e se fosse ao contrário e ele mandasse uma foto sua pros amigos".

Não tem problema a Letícia ser escrota, ficar tentando se justificar e afins, desde que a história e os personagens não passem o pano pra merda que ela fez e ela aprenda com o erro.

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1, 3,4,5 e 6... Na vdd imaginei q os 9 ia comer ela kkk mais acho q tirando o Lucerio e o ex dela, tô torcendo pra ela da pra todos kkkk

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Também pensei que iria rolar uma suruba...hahaha

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Então,esses contos é da mesma série o colecionador de calcinhas, que foi postado a uns anos atrás?

No caso o colecionador era o porteiro.

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Nesses contos, tinha um professor aposentado, que era louco para comer a ex nora,e esposa dele era uma safada que transava com vários.

Esse é uma repostagem daqueles contos?

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N gosto desse vc decide. Perde o inédito. Pense nisso

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