Uma enorme prova de amor

Um conto erótico de Melga38 (Por Leon Medrado)
Categoria: Heterossexual
Contém 4137 palavras
Data: 21/12/2025 20:17:58
Última revisão: 21/12/2025 21:42:46

A história de como um delegado machista se apaixonou por uma dançarina de cabaré, garota de programa, e renunciou a quase todos os seus preconceitos e mudou toda a sua vida por amor a ela. Baseada nas narrativas feitas por personagens verdadeiros de uma história real, obtida em conversas durante algumas noites de boemia nas mesas de um cabaré de luxo. Eu era o fotógrafo de ensaios sensuais das garotas de programa.

[Nota do Autor] – Quem me contou esta história foi meu grande amigo e parceiro, mestre da escrita, Melga38, já faz alguns anos. Ele tinha o projeto de fazer um filme com essa trama, mas a produção ainda não saiu. Eu jamais poderia imaginar que contaria aqui esta história, pois estou escrevendo um romance bem longo com ela, e seus desdobramentos. Nunca pensei em publicar no site, mas, neste caso, para atender o desafio do Baioux, decidi pedir a autorização do Melga38, tomei a iniciativa e fiz uma versão reduzida. Usarei a narrativa dele ao me contar.

Eu era o fotógrafo das meninas do cabaré “Seduce”, e conhecia muitos dos fiéis clientes, um seleto círculo de ricos empresários e políticos nacionais que frequentavam aquele ambiente de luxo e sedução. Salas de jogos, mesas de jogo bacará e pôquer, salas de banho turco, Spa de águas quentes, massagens tailandesas, relaxantes e pedras quentes, além de shows eróticos alucinantes. O elenco de modelos e garotas de shows tinha presença das mais destacadas do Brasil.

Muitas vezes, nas noites em que havia novos shows de strip-tease e danças eróticas, eu me sentava a uma mesa do salão principal, para assistir aos espetáculos, na companhia da proprietária, Suzelle Mouche, de quem eu era amigo e seu confidente. Ela é uma loira oxigenada, 38 anos, baixinha, 1,56 m de altura, toda recauchutada de cirurgias plásticas, modelada de Botox e de intervenções estéticas. Ex-garota de programa que teve o apoio de políticos e empresários para montar o seu cabaré “Seduce”, um dos mais luxuosos e surpreendentes do Brasil. Suzelle é competente, exigente, rigorosa e conhece do seu ofício. Administra a parte artística da casa, e as garotas, e seu marido, o “Messieur”, como é conhecido, cuida de toda a logística e administração, contratos, pagamentos, acertos, segurança e outros detalhes. Suzelle é minha amiga, e gosta de minha sinceridade e objetividade, usando-me como consultor para muitos assuntos de divulgação e promoção.

Estávamos distraídos, vendo o espetáculo de strip-tease, de uma linda loira de Santa Catarina, a Mayri De Vassa, numa noite de grande movimento na casa, quando meu telefone celular recebeu uma mensagem:

“Socorro por favor. É urgente”.

Era a Sol Martinez, uma das garotas, dançarinas, enviando mensagens de texto para meu celular. Logo a seguir, outro texto dela:

“Estou atendendo o Dr. Ju. Meu marido invadiu a suíte. Está armado, nos ameaçando”.

A Sol Martinez, 23 anos, era uma misteriosa e belíssima dançarina de shows eróticos e garota de programa exclusiva do Cabaré Seduce. O marido ciumento havia se rebelado.

No andar de cima do luxuoso cabaré, algumas suítes de luxo, serviam de motel para que as garotas fizessem seus atendimentos aos clientes exclusivos de um seleto grupo de ricos e poderosos.

Mostrei a mensagem na tela do meu celular para a Suzelle e ela empalideceu.

— Santa mãe das putas! Isso não podia acontecer! – Ela exclamou.

— O que pensa fazer? – Perguntei intrigado.

Suzelle baixou a voz:

— A Sol estava atendendo um cliente especial da casa, de posição profissional muito destacada e com cargo público importante na cidade, mas o Moadyr, marido dela, invadiu a suíte, revoltado de ciúme, os está ameaçando de morte. Temos que fazer alguma coisa. Não sei como…

Naquele ambiente enfumaçado, com as luzes muito tênues, flashes dos refletores que iluminavam o show, e repleto de sons intensos, da música da Beyoncé que o DJ tocava em volume alto, das conversas e gargalhadas femininas, do tilintar dos copos, minha imaginação voltou vertiginosamente para algum tempo atrás.

Eu estava no salão de sinuca do bar “O Pecado Mora ao Lado”, vizinho do cabaré Sedude, num começo de noite qualquer, quando vi entrar um sujeito forte, moreno, tipo másculo e bonito, corpulento, com seus 26 anos e 1,80 m de altura. Ele perguntou se eu aceitava jogar sinuca com ele, e na falta de outros adversários, e do que fazer, aceitei.

À medida em que jogávamos, alternávamos as vitórias, ele era bom jogador e um adversário à altura. Aos poucos, fomos tomando umas bebidas, doses de caipirinha, e a conversa fluindo.

Conforme jogávamos, fomos trocando ideias. O nome dele eu soube ao se apresentar. Era Moadyr Medanha, advogado, trabalhava como delegado suplente da polícia, filho de família classe média alta, fazendeiros do Mato Grosso do Sul.

Alguns copos a mais, e umas tantas derrotas no feltro verde da sinuca, e a história do Moadyr foi saindo aos poucos, conforme a bebida fazia efeito. Moadyr contou:

— Eu acabara de me formar, em direito, e conheci uma garota muito linda na faculdade, deliciosa, e começamos a namorar. Aos poucos, me apaixonei por ela, uma paixão tórrida, e em pouco tempo passamos a viver juntos no meu apartamento. Ela sempre tomou aulas de dança, com sonho de ser dançarina de shows. Eu sempre insisti para que ela fizesse um estágio num escritório renomado de advocacia. Queria que ela se dedicasse à carreira de direito, mas ela não desistia de seu sonho de dançarina. Isso me revoltou. Passamos a nos desentender. Ela é uma pessoa sonhadora, insegura, e ao mesmo tempo teimosa. Numa noite de briga, eu perdi a cabeça em uma discussão, ela foi agressiva na resposta, eu me descontrolei, me tornei violento, com ciúme, a agredi com força, e depois, cheio de raiva e arrependido, saí de casa.

Moadyr deu um gole grande na bebida e fez sua tacada na sinuca. Tremia as mãos de nervoso. Errou a bola cinco, e eu para deixá-lo animado, e não acelerar o término do jogo, também errei propositalmente. Perguntei:

— Fizeram as pazes?

Ele deu outro gole na bebida e respondeu abanando a cabeça em negativa:

— Nada! Ela é tinhosa! Esperou que eu saísse, juntou as suas coisas, e se mandou. Despareceu. Sumiu sem deixar pista.

Ouvindo-o contar, na mesma hora associei com a história de uma das garotas dançarinas no cabaré, que eu havia fotografado em um ensaio sensual. Todas as garotas faziam ensaios comigo, para publicar as fotos nos anúncios do site do cabaré. Eram ensaios sensuais, muitas das fotos nuas, exibindo seus lindos corpos e marcas de biquini mínimas. A maioria tinha corpos de uma plástica impecável.

Uma das mais belas, a Sol, num ensaio sensual, me deixou perceber o seu segredo. Praticamente ninguém sabia que ela era uma travesti lindíssima, não operada, e seus clientes nunca revelavam esse segredo. Ela fazia seus shows como se fosse mulher cis gênero, e apenas a Suzelle Mouche, a dona do cabaré, e alguns clientes muito seletos, sabiam da sua condição.

Perguntei ao Moadyr:

— Por acaso, essa moça que você se refere, é a Sol?

O Moadyr na hora teve um sobressalto, me olhou muito atento, meio assustado, e perguntou rápido:

— Você a conhece?

Tive que explicar que sou o fotógrafo que faço as fotos dos anúncios das dançarinas. E contei:

— Fiz fotos com ela. Talvez, por eu ser mais velho, um coroa atencioso e tratá-la com respeito, conquistei a simpatia da Sol. Ela passou um bom tempo solitária, sem amigos, sozinha aqui, sem ter com quem conversar, com medo de ser descoberta. Confiou em mim, me contou sua história, estabelecemos boa amizade, sem nenhum tipo de envolvimento ou interesse. Na carência de sua vida solitária e secreta, Sol se tornou uma confidente, e me contou sua vida. Ela confiou em mim. E eu vi que é uma moça de caráter.

Moadyr me olhava com uma expressão diferente, que eu não sabia dizer se era timidez, vergonha, ou insegurança. Ele perguntou:

— Então você sabe o segredo dela?

Fiz que sim, calado, sem mudar minha postura séria. Ele esperou alguns segundos, pensando, e finalmente se abriu:

— Não assumo isso publicamente ainda. Poderia acabar com minha imagem e meu prestígio profissional. Ela também não quer que outros saibam. Mas eu me apaixonei completamente. Passei dois anos como um louco, procurando pelo paradeiro dela. Só recentemente a reencontrei aqui, já com carreira de bailarina consolidada.

— Isso prova que você realmente a ama. – Eu disse.

Moadyr fez que sim em silêncio. Depois, com um esgar de tristeza, falou:

— Abandonei tudo, a fazenda, que deixei com meu irmão, e pedi licença da carreira policial. Deixei uma vida muito estável para vir atrás dela.

— Mas agora já estão juntos? – Perguntei.

Ele olhou de lado, e vendo que estávamos sozinhos na sinuca, revelou:

— Quando a reencontrei, ela não queria ter nada mais comigo, com medo do que eu poderia fazer. Eu tinha sido agressivo e violento. Ela disse que me amava, mas temia pelo nosso futuro, e que iria destruir a minha vida. Tive que implorar, jurar que não ia interferir nos sonhos de dançarina de shows, e permitir que ela atenda seus clientes no cabaré. Como ela diz, é trabalho, não tem envolvimento. Eu acabei aceitando.

Olhei para o rapaz, antes de matar a bola cinco com uma tacada seca, e depois, encaçapar a seis com uma tabela no meio. Estava ganhando e dei uma tacada fraca apenas para isolar a bola sete.

Moadyr olhava o jogo, mas parecia distante. Ali eu tomei conhecimento do drama do casal. Ele, machista, cheio de preconceitos, tendo que violentar seus próprios princípios, diante da paixão avassaladora que aquela linda travesti havia lhe despertado. E ele ainda tinha muita vergonha de admitir aquilo. Sabia que eles guardavam uma bomba relógio, e o tempo era cruel. Uma hora poderia explodir.

Todas as noites, Moadyr trazia a Sol, sua companheira, a travesti bailarina, para trabalhar no cabaré, e ficava por ali, no bar “O Pecado Mora ao Lado”, fazendo hora, jogando sinuca, à espera de que por volta de três ou quatro da madrugada, ele a pudesse levar para casa. Era uma prova de fogo e de amor irrefutável. Mesmo sem que outros soubessem que ela era travesti, o fato dela ser garota do cabaré e sua esposa, já era um caso muito peculiar.

Confesso que naquela noite, eu olhei para ele com um olhar muito diferente. Admirei sua força de vontade para se adaptar e se transformar. Tudo nele revelava uma pessoa forte, masculina, rude na sua formação “agrobusiness” e de policial durão. Vivendo dentro dele, um conflito intenso, mantendo em segredo aquela relação com aquela garota dançarina, que se prostituía e fazia programas mantendo o sigilo de sua condição de travesti não operada.

Continuei a tratá-lo com respeito, e fui conquistando sua confiança. Levei alguns dias para questioná-lo novamente sobre seu relacionamento com ela. Devido a termos passado muitas noites, bebendo, conversando, jogando, e estabelecendo uma relação muito próxima e de boa camaradagem, sem que eu perguntasse, ele mesmo voltou ao assunto. Certamente, não tinha também como falar com mais ninguém. Ele se abriu:

— Eu sou heterossexual. Sempre fui. Me apaixonei e namorei na faculdade, uma garota, muito linda e feminina. Só depois de um tempo, quando fomos ao motel, que eu soube que ela era travesti. Ninguém sabia e nem desconfiava. E ela tinha medo de revelar e receber rejeições.

Com aquela abertura, perguntei:

— Mas você não teve nenhuma reação contrária? Aceitou naturalmente?

Moadyr bebeu mais uns goles de sua caipirinha e em voz baixa, perguntou:

— Posso confiar? Posso ter certeza de que não vai trair nosso segredo?

— Não tenho nenhuma razão para não manter seu segredo. – Respondi.

Ele me olhava com uma expressão estranha, eu não sabia se era ansiedade ou temor. Finalmente, falou:

— Eu tive um choque ao descobrir. Fiquei muito assustado, não sabia o que fazer. Nunca imaginei que iria encarar tal situação. Mas eu já gostava muito da Sol, e tentei me adaptar. Eu nunca imaginei que gostaria tanto de uma pessoa, agora gosto ainda mais. Ela é uma garota maravilhosa, amorosa, cuidadosa, e carente também de amor. Eu fiz um grande esforço para superar toda a minha formação machista, que me fazia rejeitar essa relação. Aceitei a Sol, sem dúvida, mas confesso que ainda tenho uma série de conflitos.

Curioso, eu quis saber:

— O que você teme? Quais são esses conflitos? Você é só ativo, ou é passivo com ela?

Moadyr me olhou calado, por quase um minuto. Achei que ele nem fosse responder. Mas, do nada, ele falou em voz sussurrada, como se me contasse o maior segredo.

— Eu aprendi com ela, por ela, a ser ativo e passivo. Ela também gosta de ser ativa, e sente muito tesão. Nem sei como estou lhe contando isso. Mas acabei gostando dessa relação com ela. Eu a amo de verdade. Somos felizes.

— Não faço juízo nenhum disso. Tenho amigos assim como você. – Respondi.

Minha frase parece que destravou mais seus receios. Ele falou:

— Sei que ela, no cabaré, atende clientes. Faz sexo com eles, ativa e passiva, com preservativo, mas é por dinheiro. Isso não me violenta mais, como antes. Aprendi a respeitar a individualidade dela. Mas, se eu souber que ela tem algum caso amoroso, uma relação afetiva com algum, eu fico completamente furioso. Só de pensar me dá calafrios de tão nervoso. Sou muito ciumento.

Era uma coisa aparentemente contraditória, mas foi como ele contou. Foi assim que eu soube daquela relação secreta e proibida, abafando ciúmes inconfessáveis.

Eu continuei tratando os dois de forma igual, respeitosa e cortês. Até que a bomba ameaçou estourar naquela noite.

Sol tinha imposto ao marido um rígido código de conduta. De dia ela era a esposa dedicada em casa, e de noite, no cabaré, voltava a receber clientes. Moadyr parecia aceitar com naturalidade, mas por dentro, a cada noite, uma bomba relógio de suas inseguranças pulsava prestes a explodir em tragédia. Somente eu e a Suzelle Mouche, a dona do cabaré, e os fiéis clientes de um seleto círculo de ricos empresários e políticos da cidade, sabiam o segredo que Sol e Moadyr ocultavam.

Naquela noite, diante do apelo no meu telefone, Suzelle e eu precisávamos encontrar uma forma de contornar a situação, sem provocar escândalo. O incidente, nos obrigou a tomarmos providências e iniciativas, sem causar alarde, tentando não chamar a atenção para o que estava acontecendo.

Como pano de fundo dessa história, havia todo um cenário de uma sociedade conservadora, machista, com valores puritanos, hipócritas e preconceituosos. Num mesmo contexto, pessoas de grande sensibilidade e humanismo, sofrimentos e traumas, amores e paixões incontroláveis, vivendo sentimentos e situações em total ebulição num ambiente onde nada deve parecer alterado. E o desfecho dependia de o amor ser mais forte do que a raiva.

Naquele momento, sem ter outra solução, combinei com a Suzelle, que ia tentar fazer uma mediação do conflito. Pedi à Sol para falar com Moadyr ao celular. Ele relutou, discutiu um pouco com a Sol, mas, finalmente aceitou.

Pedi um outro telefone celular emprestado, que a Suzelle me entregou, e deixei digitado o número de telefone da Suzelle. Levei esse telefone na minha mão, enquanto eu tentava no meu telefone, convencer o Moadyr de me deixar mediar aquela crise. Depois de uns dois minutos de troca de argumentos, que ele rejeitava, decidido e botar fim naquela relação, ele me permitiu entrar. Resolvi entrar sozinho na suíte onde estavam.

Combinei antes com Suzelle que se eu apertasse a tecla do celular, fazendo a chamada para ela, deveria na mesma hora permitir que os seguranças invadirem a suíte, pois a situação teria ficado fora de controle.

Moadyr abriu a porta e eu entrei. Ele voltou a fechar. Dentro, me deparei com uma cena bizarra. O Dr. Ju, (que significa Juiz nos códigos dos clientes do Cabaré) era Juiz de Direto, e tivera recentemente sua imagem pública atrelada ao combate à corrupção. Com 48 anos, casado, homem de porte elegante, com fama de combater rigorosamente o crime, tinha se tornado muito conhecido. Estava vestido de mulher, completamente montado com peruca comprida, espartilho, meias de seda, salto alto, cílios postiços, batom e todo muito maquiado. Parecia apavorado, num canto do quarto, lívido, da cor de um cadáver.

Uma música “BAD LIAR do Imagine Dragons tocava em alto volume no ambiente. Moadyr possesso, transtornado, ameaçava Sol e o juiz com uma arma. Uma pistola Glock automática. Ele dizia que estava decidido a acabar com toda aquela loucura, que o estava alucinando.

A canção Bad Liar, parecia fazer parte da trilha sonora daquele drama:

Oh, calma, minha querida, tem sido um ano difícil

E terrores não caçam vítimas inocentes

Confie em mim, querida, confie em mim, querida

Tem sido um ano sem amor

Eu sou um homem de três medos

Integridade, fé e lágrimas de crocodilo

Confie em mim, querida, confie em mim, querida

Então me olhe nos olhos

Diga-me o que você vê

Paraíso perfeito

Rasgando as costuras

Eu gostaria de poder escapar

Eu não quero fingir

Gostaria de poder apagá-lo

Faça seu coração acreditar

Mas eu sou um mentiroso ruim, mentiroso ruim

Agora você sabe

Agora você sabe

Que eu sou um mentiroso ruim, mentiroso ruim

Tentei entabular com eles uma conversa, me lembrando de flashes das conversas que já tivera com o casal. Nunca fui mediador de coisa alguma. Buscava encontrar algum elemento onde pudesse me agarrar para demover Moadyr de seus intentos. Inspirado na canção, tentei encontrar as palavras certas. A música continuava:

Agora você sabe, você está livre para ir

Todos os meus sonhos nunca significaram uma coisa?

A felicidade está em um anel de diamante?

Oh, eu tenho pedido por

Oh, eu tenho perguntado por problemas, problemas, problemas

Eu travo minha guerra, no mundo interior

Eu tiro minha arma para o lado do inimigo

Oh, eu tenho pedido (confie em mim, querida)

Oh, eu tenho pedido (confie em mim, querida)

Problemas, problemas, problemas

Então me olhe nos olhos

Diga-me o que você vê

Paraíso perfeito

Rasgando as costuras

Eu gostaria de poder escapar

Eu não quero fingir

Gostaria de poder apagá-lo

Faça seu coração acreditar

Mas eu sou um mentiroso ruim, mentiroso ruim

Agora você sabe

Agora você sabe

Que eu sou um mentiroso ruim, mentiroso ruim

Agora você sabe, você está livre para ir

Não consigo respirar, não posso estar

Eu não posso ser o que você quer que eu seja

Acredite em mim, desta vez

Acredite em mim

Eu sou um mentiroso ruim, mentiroso ruim

Agora você sabe

Agora você sabe

Que eu sou um mentiroso ruim, mentiroso ruim

Agora você sabe, você está livre para ir

Oh… Por favor acredite em mim

Por favor acredite em mim

A Sol também estava transtornada. De sangue violento, impulsiva, revoltada com o que o marido fizera, parecia disposta a detonar com tudo aquilo. Num relance de intuição, eu achei que deveria fazer o Moadyr ouvir o que ela tinha a dizer:

Falei para ele:

— Olha, já que você está tomado pelo desejo de justiça, e tudo vai acabar em merda, melhor todos falarem o que acham que devem. Vamos pelo menos dar o direito a cada um, ao último depoimento.

Moadyr não esperava aquela minha atitude. Ficou calado me olhando sem reação, e eu pedi imediatamente:

— Fale Sol, diga o que você tem a dizer.

Chorando, a travesti, nua, com o corpo cheio de brilho de purpurina que ela havia usado na montagem do Juiz em boneca, se abriu e confessou suas angústias e necessidades, suas taras, suas paixões, e desejos. Falou:

— Seu machão filho da puta, eu amo você, seu puto. Estou aqui trabalhando seriamente, e você não me respeitou, duvidou de minha palavra, e veio me ameaçar armado.

Ela chorava e falava:

— Eu já disse que atendo clientes, não tem nada de envolvimento. É tudo profissional. Eles não podem ser expostos publicamente. Mas, eu devia ter adivinhado que você não ia cumprir sua palavra. Você só sabe resolver na porrada e no tiro.

Nesse ponto o Moadyr interrompeu, raivoso:

— Então, explique, esse safado lhe mandar presentes, todas as semanas, em caixas fechadas, e com bilhetinhos de amor! Eu andei espreitando, e vi que ele a trata de meu amor.

Sol interrompeu repentinamente:

— É uma Sissi, seu estúpido. Não é um caso amoroso. Ele me paga para montá-lo, manda as roupas que ele compra para que eu as traga, e depois que está montada, tenho que possuí-lo como se fosse uma vadia, levando tapas e ofensas. É um fetiche dele, não tenho nem nunca tive nada com ele.

Num primeiro momento, parecia que aquilo iria funcionar ao contrário, e piorar ainda mais a situação. Moadyr, irritado com a revolta da esposa, se transtornou ainda mais. Ele pediu aos gritos que a Sol se ajoelhasse no chão, ao lado do juiz, que também chorava aos soluços.

Tudo levava a crer que ele iria mesmo cometer dois crimes e depois o suicídio, como ele ameaçou. Ele apontava a arma para o Juiz. Nesse momento, eu encontrei o ponto exato onde pegar para emocionar o Moadyr, e à Sol também. Comecei a falar em voz forte:

— Eu não posso acreditar que um grande amor, liberal e transformador como o de vocês, tenha que terminar desse jeito tão estúpido. Moadyr, por noites a fio, me contou da paixão que tem pela Sol. Aprendi a admirar isso. A Sol, sempre me confessou que nunca amou a mais ninguém e morria de saudade do marido abandonado. Agora estão juntos, vivem felizes, e vão deixar uma grande cagada, um erro de interpretação detonar essa relação? Já imaginaram o caos que será.

Vi que o Moadyr me olhava intrigado. Não esperava a minha reação intempestiva. Continuei:

— O que conseguem? Detonam a vossa vida, a vida do Juiz, da família dele, o cabaré, o negócio da Suzelle que alimenta tantas bocas. E o que se aproveita? A sua família, Moadyr, vai ficar sabendo de tudo. Vai ser destruidor. Uma coisa dessa tem um poder devastador na vida de muitos! Deixem de ouvir o demônio e ouçam o coração.

Aos poucos, Moadyr começou a respirar mais intensamente e acelerado. Parecia se sentir muito emocionado e perguntou para a Sol:

— Então? O que quer que eu faça?

A Sol, em lágrimas, disse:

— Declarar amor só, não basta, eu quero a sua atitude. O momento é este. Ou põe a nossa vida no esgoto, junto com a de todos, ou nós saímos daqui fortalecidos. Você tem que me aceitar como eu sou, eu aceitei você de volta porque eu o amo. Se é que você ama mesmo, como diz que ama.”

Moadyr ficou transtornado, perdeu o fôlego, chorou parecendo ainda mais irado. Ele apontou a arma para mim, que o observava assustado. Por um segundo, pensei que ele ia começar pipocando em cima de mim. Depois ele apontou a pistola para o juiz. Tremi por dentro. Ele ia foder com a vida deles. Moadyr esperou que o Juiz abaixasse a cabeça, resignado. E em seguida colocou a arma na cabeça da Sol.

Sol falou:

— Adeus amor. Vou sem medo. Eu o perdoo por tudo. Pode dar um fim nisso se é o que você quer.”

Ouvi um estampido forte. Com o clarão do tiro, tudo pareceu escurecer. Pensei: "Mais uma morte violenta de uma travesti".

Quando a luz se fez novamente estável na suíte, vi que todos estavam bem. O tiro foi para o chão.

Respirei aliviado e disse:

— Você foi corajoso. E ela também. Todos foram muito fortes.

Finalmente o Moadyr me entregou a sua pistola e se abraçou à Sol, ambos chorando convulsivamente.

Tratei de orientar para que a Sol se vestisse rápido, e com o Moadyr, saíssem dali. Pedi ao juiz para que se recompusesse com calma e esperasse. Ele iria sair em segurança e sigilo.

A seguir eu saí da suíte e entreguei a pistola para Suzelle que se encontrava no corredor, acompanhada de quatro brutamontes da segurança. Na casa noturna, com o som alto da música o estampido do tiro não causara espanto. Tranquilizei e expliquei que tudo estava em paz.

Tive que ir ao banheiro, pois estava quase mijando nas calças. A adrenalina havia me deixado uma pilha de nervos. Dez minutos depois, eu saí do cabaré, e fui para o estacionamento. Lá eu avistei a Sol e o Moadyr abraçados, perto do carro dele. Eu disse:

— Para quem queria uma prova de amor, tiveram a maior delas.

Eles sorriram e entraram no carro. Não foram precisas palavras. Eu me afastei enquanto eles seguiam.

Desde esse dia, que eu saiba, a vida deles foi de total harmonia. Mantiveram seu segredo. E eu fique com muita vontade de transformar essa história num filme.

Claro que ao ficcionar a história, troquei os nomes para preservar quaisquer semelhanças com a realidade.

e-mail: leonmedrado@gmail.com

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Comentários

Foto de perfil de Dani Pimentinha CD

AS vezes as coisas funcionam perfeitamente maravilhosas, mesmo que não pelos melhores caminhos...

Parece que se acertaram, mas é um longo caminho, desfazer preconceitos de criação como esses, é um trabalho de uma vida inteira, mas ele parece tão disposto, que acho que serão felizes para sempre.

Emcionada e feliz, uma prova de amor, que também parece um conto de natal com fantasmas metafóricos e um final onde a redenção é possível apra todos.

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