⚠️ Aviso tentativa de estupro, morte no mar…
Pois é eu tinha sido exposto, eis a questão… Agora fudeu… Quer dizer, como venho dizendo desde o começo da série a violência é a nossa maior inimiga, ainda hoje em dia, mas naquela época, era pior, muito pior, vocês não fazem ideia do medo que a gente tinha, nas capitais era diferente, mais ou menos também, dependia do bairro, da região.
Mas no interior… No interior era o inferno…
Com o Edson e o Vicente sabendo era uma questão de tempo para o nosso nome, principalmente o meu rolar por toda a cidade… E a partir daí as coisas poderiam ficar horríveis, infernais ou só muito ruins… Meu pai com certeza não aceitaria, então podia contar no mínimo com alguma violência dentro de casa, mesmo que fosse só psicológica.
Eu estava amedrontado, no dia seguinte, minha mãe chegou, finalmente, eu ajudei ela na casa, mas era a última vez que eu escapava de ir para o barco, aquele dia quando meu pai chegou, ele disse que eu não poderia sair, me pediu para ajudar em várias coisas em casa, eu não tive como falar com o Fábio e algo me dizia que isso era um mal sinal, algo lá no fundo, uma intuição forte.
Naquela noite tive um sonho agitado, alguém, ou melhor alguma coisa, me guiava, através das ondas, estávamos na praia caminhando para dentro do mar, enquanto aquilo dizia, “Hora de cumprirmos nosso pacto…”, acordei com o grito do meu pai como sempre, hora de ir para o barco.
………..
Eu sentia meu corpo frio, estava agitado, um frio na espinha, na barriga, olhava em volta, algo estava errado, algo estava muito errado, sinto a mão no meu ombro, um homem forte um pouco bruto, olho para trás, para ele, apesar de tudo ainda sou alto, então ele olha para mim, fixando nos meus olhos.
“Seu pai falou que vai me emprestar você hoje, porque você carrega bem a rede, meu filho não é dos melhores e a roldana está com defeito.”, estranhei e olhei para o meu pai, “Sim filho, eu tinha combinado com ele ontem, o Fábio vai vir comigo.”, ele aponta para o Fábio, que como eu, parecia sentir algo.
Quando os dois foram preparar os barcos e falar com os motoristas dos tratores, eu aproveitei para falar com o Fábio, “Fábio, estou com um…”, ele me interrompeu, estava com uma marca vermelha no rosto. “Não discute, quando a gente sair daqui juntos depois do pesqueiro a gente vai para a casa da minha tia e de lá vamos fugir.”, ali eu entendi a seriedade e fiz que sim com a cabeça.
Fomos para os barcos designados, eu estava com o pai dele e ele com o meu, eu sentia que algo estava muito errado o medo pesava na minha barriga, na minha espinha, eu sentia, que nada estava certo e algo horrível ia acontecer e o mar… Nunca vou esquecer aquele mar… O barco na distância correta conseguia quase ficar parado.
Isso são os melhores dias do ano, mas eu não conseguia olhar para o mar sem sentir a urgência de perigo, já estávamos lá há algumas horas, a pescaria estava indo relativamente bem, eu falhei em descobrir qualquer defeito na roldana, o que me fez ficar alerta, algo realmente errado estava acontecendo e as palavras de Fábio…
O pânico começou a tomar conta de mim, mas aí eu vi o barco do meu pai, não tão distante, eu vi Fábio trabalhando na rede, nos fundos do barco, assim como eu, ele me viu, nossos olhos se cruzaram e eu sorri…
Mas então eu vi meu pai atrás dele com uma vara de pescar, não era uma ação normal, era uma agressão eu tentei gritar, tentei apontar, mas quando eu vi meu pai já tinha batido e ele tinha caído para dentro do barco se seguindo outros golpes, mas logo minhas costas ardem como o inferno.
“É isso que viadinho merece.”, o pai dele dizia isso e coisas similares, enquanto me batia, eu tentei levantar o braço e me soltar, mas não era possível, então ele se afasta, comigo tentando me levantar, sentindo o sangue nos lábios onde uma das pancadas pegou.
“Ao contrário do Fábio, você é só um tipo de puta, por isso trocamos.”, ele fala com voz sarcástica, ele começa a abrir o zíper da calça, “Já que gosta de pau, eu vou te ensinar a levar pau….”, eu entrei em pânico, mas aí o barco deu um solavanco, forte e repentino e eu fui jogado no mar.
Eu tento nadar, tento olhar para o barco, percebo ele gritando, não está me xingando, ele está preocupado, eu olho para o outro barco, vejo meu pai e meu namorado em pânico, também tentando me avisar de algo, eu olho para trás e vejo a barbatana, um tubarão se aproxima, a morte rápida e silenciosa.
Eu tento nadar, tento mergulhar e me aproximar do barco mais próximo, que é o do pai do Fábio, infelizmente, mas mesmo assim, ele parece aflito, não é esse o fim que ele queria, mas quando tento subir sinto a fisgada na perna e sou puxado com força, não consigo lutar, vejo a água envolvendo tudo.
O animal afunda comigo e tudo fica rapidamente vermelho e depois escuro…
………
Vocês já tiveram um pesadelo do qual queriam acordar mas jamais acaba? Eu sonhava com a praia, eu estava na praia, aí via o Fábio a gente se beijava, se amava, isso acontecia em dias consecutivos, eu sempre vinha do mar, mas um dia eu não conseguia sair do mar, ele tentava me alcançar nadando, algo segurava meu pé, algo grande, algo firme…
Ele morria… Aí o sonho repetia novamente…
Eu sentia que estava me perdendo cada vez que o sonho acontecia, então tentava instintivamente me lembrar do que a mãe do Fábio me falou, lembrar quem eu sou, quem amo, pensava em mim, nos meus pais, no Fábio e nada adiantava, até que lembrava do nosso último dia, marido e mulher, no sítio, aí todas as lembranças voltavam avassaladoras e eu chorava…
Mas um dia, algo aconteceu totalmente errado, eu estava lá, estava no mar, eu sabia que iria encontrar meu amor novamente, eu sabia que ele ia acabar novamente do mesmo jeito, afogado no mar, só que dessa vez algo agarrou meu pé, firmemente, eu senti que meu calcanhar fosse quebrar enquanto nadava.
Eu tentei mergulhar mais fundo, eu lembrei da mandíbula daquele animal presa em mim, eu queria fugir, gritei, me debati, mas quando vi já estava em um barco, o mar em volta estava furioso, as ondas pareciam querer partir o barco em dois, o céu estava escuro, trovejando, relampejando, o vento estava tão furioso quanto o mar.
A primeira coisa que eu senti foi frio, mas também um desespero crescente, um homem me segurava firme, enquanto desenrolava meu calcanhar da rede, ele dizia coisas, dizia para eu me acalmar, dizia para não se preocupar, eu estava em pânico, gritando, quando consegui me soltar eu corri para a lateral do barco.
Quando olhei pelo mar, senti algo no meu cérebro me avisando, pedindo para não entrar na água, eu estava ‘livre’, o que isso significa, o cara me puxou pelo ombro, segurando firme, pela primeira vez eu percebi que ele era bem mais alto, que eu, deveria ser um gigante, não… Havia algo errado comigo… Ele me levou para a cabina.
“Coloca essas roupas, antes que você fique doente, vou te levar para a praia.”... Eu olhei as roupas, uma calça cargo vermelha, uma camiseta azul, um moletom preto e lingerie branca de algodão, olhei para ele sem entender, enquanto ele saia e me deixava sozinha na cabine e aí eu comecei a perceber… Eu era uma garota… Os seios, médios e bonitos, o quadril bem marcado.
Não tive dúvidas, ou confusão, foi como se meu cérebro entendesse isso antes de mim, como se eu já soubesse disso, por um momento pensei se não sonhava, mas meu cérebro dizia que não, pensei se o que houve antes não seria sonho, mas eu também sabia que não… Algo estava errado e eu não sabia o que era.
Me vesti e resolvo ficar quieta, eu sentia que aqui dentro estava segura, bem mais do que lá fora, como se a fúria do mar, fosse, sei lá, carcereiros tentando me levar de volta… Era assim que meu cérebro interpretava o que estava acontecendo, então fiquei quietinha enquanto ele nos levava para a praia.
“Vem a Dona Isabel quer falar com você.”, pela primeira vez um nome conhecido, Isabel a tia do Fábio, ao menos isso era bom, quer dizer, era?? Eu sentia que talvez um pouco, ou melhor eu sentia que estaria segura com ela, então acompanhei esse homem estranho que me tirou do mar.
Ele olhava o tempo inteiro em algo… Um… Não sei explicar, uma calculadora, mas toda de vidro???... Aí também comecei a reparar nas minhas roupas, pareciam tão femininas, mas esquisitas de certo modo… Quando chegamos no sítio eu fui levada para dentro com um guarda chuva, porque a tormenta que caía do céu estava implacável um verdadeiro vendaval.
Uma senhora, deveria ter uns 60 anos, veio ao nosso encontro na sala, seus olhos brilharam ao me ver… “Dani…”, “Eu conheço a senhora.”, ela me olhou quase chorando e se apressou em dizer, “Primeiro um banho e depois que estiver banhada a gente conversa enquanto você janta, se não vai pegar um resfriado, vou conseguir roupas para você.”, ela me indica o banheiro e o quarto, que eu já conhecia, mas…
Algo não se encaixava, após um banho quente eu entro no quarto e me olho no espelho…
E é assim que viemos parar aqui, na exata primeira frase dessa série… Essa gostosa no espelho, até ontem era homem…
======== ……FIM…… ========
Hora da magia, espero que gostem, essa primeira temporada dessa série ficou com um tom bem pesado, não que a série inteira não seja um pouco, mas se tiver uma segunda temporada, ao menos nossa menina terá como lugar... Espero que estejam gostando... Por favor, votem e comentem.
Lembrem-se que eu só vou escrever a segunda temporada se vocẽs quiserem, (não importa quanto vocês são, mas estou realmente indecisa se devo.)...
