Ela me via só como amigo - Cap. 9

Um conto erótico de Bruno (por Carlos_Leonardo)
Categoria: Heterossexual
Contém 9002 palavras
Data: 23/12/2025 10:13:33
Última revisão: 23/12/2025 10:22:01

Primeiramente, muito obrigado por todos os comentários no capítulo anterior. Fico grato por todas as críticas, os elogios e as sugestões, elas sempre me edificam e me fazem ser um escritor melhor. Só não respondo alguns comentários para evitar spoilers, mas garanto que leio todos, sem exceção.

Segundo, acho que fui muito ousado quando disse que essa série terminaria em dez capítulos. Estamos na reta final, isso é verdade, mas acredito que precisarei de mais uns três capítulos se eu quiser entregar o que realmente prometi para essa história. Já está acabando, isso é fato. Vou tentar lançar dois capítulos por semana para acelerar o fim.

Por fim, desejo um feliz natal a todos!

===

- Que foi? Perdeu a voz? – Wis abriu um sorriso, me fazendo reagir.

Estendi minha mão um tanto trêmulo e pude sentir seu aperto decidido.

- Wis! – exultei – Há quanto tempo... não é mesmo? E que milagre é esse… você não está fugindo de mim?

Wis veio em minha direção, me dando um abraço seguido de um beijo no rosto. Ainda impactado com sua presença, fiquei imóvel.

- Quem disse que eu tinha medo de você? – Ela se afastou, ainda se divertindo – Eu só era tímida… isso ficou para trás.

- Que bom! Eu… eu fico feliz de revê-la. Você está tão... – pensei em elogiar sua aparência, mas me lembrei de Trajano, que nos observava com um ar de quem entendia mais do que demonstrava – elegante!

- Impressão sua. Também estou muito feliz de revê-lo.

- Bruno – Trajano nos interrompeu – Wis Nara está aqui porque precisará dos seus serviços.

- Meus?

- Sim, ela quer contar com os seus em vez dos meus. E olhe que sou o pai dela…

Não havia rancor na voz de Trajano, apenas uma cumplicidade quase imperceptível.

- Não entendi.

Com minha confusão cada vez mais nítida, Wis resolveu esclarecer:

- Papai me deu uma herança. Um capital para investir. E agora quero sua consultoria para me ajudar nisso.

Trajano complementou:

- Quando minhas filhas completaram 18 anos, eu as presenteei com um capital para investir, para garantir o futuro delas. É um presente para a fase adulta, embora elas o entendam como herança. Wanda e Wendy deixaram para eu decidir onde investir. Mas a Wis Nara é diferente… – ele fitou a filha como quem reconhece sua singularidade.

Wis assentiu e continuou:

- Prefiro entender onde meu dinheiro está e participar das decisões. Por isso, achei que você seria a pessoa certa.

- Claro! Eu… eu ajudo com maior prazer, mas você quer mesmo abrir mão da experiência do seu pai? Ele quem me ensinou, não tem nada que eu saiba que não tenha vindo do Seu Trajano…

- Não seja tão humilde assim, Bruno – observou Trajano, em tom seguro – Você tem uma visão que eu respeito e confio, além de ser o mais antenado entre nós às modernidades de hoje em dia. Para a Wis Nara, isso faz diferença. Além disso, você terá a paciência necessária para essa menina muito questionadora.

Assenti levemente, me virando para Wis:

- Estamos falando de quanto?

- Quinhentos mil reais.

- Bom para começar – sorri.

- Então, temos um acordo? Eu quero pagar.

- Esquece isso! Você não vai me pagar nada. O prazer será meu em te ajudar!

- Não. Eu faço questão de formalizar isso. Gosto de relações claras.

- Então, quem sou eu para questionar, não é? – abri os braços, em um gestão de rendição amigável – Temos um acordo!

- Ótimo! – Trajano reagiu satisfeito – Deixo minha filha sob seus cuidados, Bruno.

Fomos para minha sala e passamos a tarde discutindo estratégias para estruturar a aplicação do capital. Wis estava longe de ser leiga. Tinha clareza sobre os princípios que queria seguir: diversificação, exposição a ativos não correlacionados, uma parcela em criptoativos e foco absoluto no longo prazo. Onde ela ainda demonstrava insegurança e me enchia de perguntas era na leitura de balanços, avaliação de fundamentos e projeções financeiras, algo que ela admitiu sem constrangimento.

- Papai disse que você é excelente analisando empresas e ativos – ela comentou – Eu gostaria de aprender isso com você. A prática me parece mais valiosa do que só teoria.

- Você tem razão. Posso te orientar, sim – respondi, com naturalidade.

Ela sorriu, visivelmente animada.

- Tem certeza? Não quero invadir sua rotina.

- Não invade. Mas quero alinhar expectativas – completei – Análise fundamentalista exige método, paciência e, principalmente, tolerância emocional.

- Em que sentido?

- No sentido de que o mercado não é linear. Em um bear market, seus quinhentos mil podem virar trezentos mil em poucas horas, sem que nada de errado tenha acontecido com seus ativos. Quem não entende esses ciclos, entra em pânico.

- Eu sei – Wis respondeu com convicção tranquila – Já estudei os ciclos do S&P 500. Crises vêm e vão. O erro é confundir volatilidade com perda permanente. Eu penso em um horizonte de décadas, não de meses.

Sorri, satisfeito com a resposta.

- É exatamente isso que seu pai teme: não a perda financeira, mas o impacto emocional.

- Talvez – ela concordou – Mas é por isso que quero aprender. Quero entender de valuation, de risco, de cenário macro… e não só terceirizar decisões.

- Isso muda tudo – respondi – Com essa forma de encarar o mercado, o aprendizado se torna muito mais sólido.

Ela parecia satisfeita com os rumos da conversa, mas, de forma quase abrupta, hesitou por um instante e comentou:

- A ideia é ficar no Brasil até o casamento da Wanda.

Senti um frio involuntário na espinha. Wis percebeu.

- Uns quarenta e cinco dias – ela completou – Dá tempo?

- Dá sim – respondi após um breve silêncio – E depois seguimos por chamadas de vídeo. Investimento não depende de geografia.

Wis assentiu, como quem vê seu ponto compreendido.

No final do dia, ela já tinha uma visão clara de como queria investir. Alinhamos um cronograma de aportes usando o método DCA, distribuindo entre renda variável, ativos defensivos e uma pequena parcela em ativos alternativos. Nas poucas interrupções que tivemos, percebi Wis me observando com atenção, aparentemente admirada com a dinâmica de um escritório de investimentos.

Na hora de ir embora, Trajano passou em minha sala:

- E então, filha, deu tudo certo? Bruno foi um bom consultor?

- Ele foi incrível.

- Fico satisfeito. Agora, precisamos ir. Vamos?

- Papai… eu quero ficar mais um pouco – Wis se virou para mim – O Bruno pode me deixar em casa, não pode? Acho que ele ainda lembra o caminho.

Trajano não respondeu de imediato. Apenas me lançou um olhar carregado de intenção. Ele parecia querer aquilo mais do que ela. Hesitei por um instante antes de responder:

- Posso sim, mas ainda pretendo ficar cerca de uma hora por aqui. Pode ser, Wis?

- Pode sim. Eu aguardo. Será mais uma hora aprendendo – ela sorriu, empolgada.

- Então está bem – Trajano aceitou – Vou indo. Peço pra sua mãe guardar a janta para você, gatinha. E se cuidem.

Na hora seguinte, respondi alguns e-mails e li alguns informes publicados após o fechamento do mercado. Wis me acompanhava em silêncio enquanto eu tentava manter uma aparência de rotina e de normalidade. Ainda assim, o olhar atento dela sobre mim me afetava de uma forma difícil de explicar.

No carro, a caminho de sua casa, o silêncio se prolongou além do esperado. Nenhum dos dois parecia saber como iniciar uma conversa. Quando minha barriga roncou, perguntei, por educação, se ela gostaria de comer algo antes de ir para casa. A mudança em sua expressão foi imediata.

- A ideia é boa, mas minha mãe não guardou o jantar para mim? – ela perguntou, com um sorriso travesso, como se testasse minha memória.

- Verdade. Eu tinha esquecido desse detalhe. Fica para outra vez.

- Minha mãe não vai achar ruim se eu voltar de barriga cheia.

Meu coração deu uma acelerada.

- Então… aceita comida italiana? – perguntei – Conheço um restaurante muito bom no Jardins.

- Por que restaurante? Vamos comprar os ingredientes e fazer no seu apartamento. Aposto que economizaremos o suficiente para comprar algumas ações ou fundos imobiliários.

- Sua alma é de investidora mesmo – observei, num tom de admiração contida.

- Preciso ser. E então, gostou da ideia?

- Gostei… mas como você sabe que moro em um apartamento?

- Sei muito sobre você, Bruno.

- Espero que só coisas boas.

- A esmagadora maioria, sim…

- Agora fiquei curioso com o resto.

- Quem sabe eu te conto…

- Vou cobrar – disse, entrando no jogo dela – Mas já aviso que não sei cozinhar. Tenho vivido à base de comida por aplicativo.

- Isso não é muito saudável, você sabe. Mas não se preocupe, eu cozinho.

- Sério?

- Por quê? Não confia nos meus dotes culinários? Vai ser uma macarronada simples. Acho que você vai gostar. Vamos?

- Então… vamos!

Passamos em um mercado e me chamou atenção a forma como ela escolhia os ingredientes. Lia rótulos, comparava preços, fazia contas rápidas, sempre com uma leveza que tornava o gesto… bonito. Nada de semblante fechado ou concentração pesada. Havia juventude e naturalidade em cada movimento. Eu ainda resistia a admitir, mas ela parecia fotogênica em qualquer situação, como se estivesse sempre sendo observada por uma lente invisível.

No meu apartamento, Wis entrou observando tudo, com uma curiosidade genuína. Coloquei os ingredientes sobre a mesa e voltei minha atenção para ela.

- Gostou da minha decoração minimalista? – perguntei.

- Decoração minimalista… ou decoração de homem?.

- Tá muito ruim?

- Não. Apenas está de homem.

- O que você mudaria?

- Tudo.

Não consegui conter o riso, e ela sorriu de volta, satisfeita por não ter sido mal interpretada. Não parecia se importar se eu achava graça ou não do comentário. Era a opinião dela, simples assim.

- Você tem um avental? – ela perguntou, já caminhando em direção à cozinha.

- Não. Não cozinho praticamente nada, esqueceu? Vou pegar uma camisa para você não sujar a blusa.

Fui até o quarto e peguei uma camisa antiga, mas limpa. Quando voltei, ela me esperava apoiada de costas na pia, numa pose instigante, observando o ambiente. Seus olhos se fixaram em mim quando voltei e, depois, na camisa.

- Vai servir – ela disse.

Ela vestiu a camisa, criando em mim um contraste difícil de explicar. Quem olhasse de fora diria que aquilo era típico de casais de namorados.

- Como estou? – ela me perguntou, fazendo uma pose divertida.

- Você está… – a palavra “linda” quase escapou – diferente. Estilosa!

- Obrigada!

Wis começou a preparar a macarronada com uma perícia e concentração que me surpreendeu. Até então, eu a imaginava restrita aos livros e às planilhas. Ali, porém, segura nos movimentos e atenta aos detalhes, desmontava essa ideia sem esforço.

- Faz quanto tempo que você chegou no Brasil? – perguntei, tentando quebrar o silêncio que se formara. Logo me corrigi – Perdão, não quero te atrapalhar. Vou ficar na sala…

- Não – ela disse, interrompendo o movimento – me faz companhia. Só estou separando os ingredientes…

Sentei-me à mesa e passei a observá-la. Wis conseguia ser graciosa e decidida ao mesmo tempo. Não havia nada de ensaiado nela. Era direta, moderna, consciente do que queria e isso me atraía mais do que eu estava disposto a admitir.

- Então… desde quando você voltou para o Brasil?

- Cheguei ontem, no começo da noite.

- E hoje você está aqui, no meu apartamento.

- É onde quero estar.

- Imagino que seus pais, suas irmãs e seus amigos quisessem estar com você hoje à noite, para matar a saudade…

- Mas eu queria te ver – disse, sem me encarar. Ela continuou preparando os ingredientes em uma tigela de vidro – Tenho um capital elevado pra investir e não queria perder tempo. E agora, estou retribuindo o que aprendi hoje fazendo uma macarronada para nós.

- É justo.

- E também… não estou com paciência para os dramas da Wanda.

- Dramas?

- É… Wanda está uma pilha de nervos com os preparativos do casamento. Todo dia é um drama diferente. Por mim, ela adiaria. Sei que ela ainda está numa fase difícil, mais introspectiva. Todos estamos ao lado ela. Mas quando o assunto vira a cor do guardanapo, eu tiro meu time de campo. Prefiro observar de longe. Deixa ela encher o saco do Vitor.

Baixei os olhos, engolindo em seco. Meus sentimentos em relação ao casamento da Wanda eram confusos demais para serem organizados. Tentei disfarçar, mas só piorou:

- Ela vai casar já com a gravidez bem visível, não é?

Wis interrompeu o movimento das mãos. Virou-se lentamente para mim. O olhar sério me pegou de surpresa. Eu ainda não tinha visto aquela expressão nela.

- Você não sabe?

- Não sei o quê?

- Não acredito. Ainda não te contaram?

- Como assim, Wis? Você está me deixando preocupado.

- A Wanda perdeu o bebê.

Senti o ar rarear.

- Como é? Como foi isso?

- Um mês depois do anúncio. Foi um aborto espontâneo.

Eu fiquei em silêncio. Nenhuma resposta parecia adequada.

A imagem da mensagem que Wanda havia me enviado no Instagram voltou com força. Meu estômago se revirou. E se ela tivesse me procurado por isso? E se tivesse sido depois? A possibilidade me esmagou. Pela primeira vez naquela noite, me senti genuinamente pequeno. E ninguém tinha me contado.

- Me surpreende que você não soubesse – Wis continuou, agora com a voz mais baixa – Achei que vocês tivessem feito as pazes em Nova Iorque.

- Fizemos… eu acho – respondi, com dificuldade – Mas nos afastamos de novo.

Wis me observou por alguns segundos. Não havia julgamento explícito, apenas avaliação. Em seguida, voltou-se para a bancada e retomou o preparo da comida, como se tivesse entendido que aquele era um assunto que eu ainda não conseguia sustentar.

- Obrigado por ter me contado. Eu realmente não sabia – falei, ainda com certa relutância.

- Sinceramente, nunca entendi por que nossos pais insistem em nos isolar das coisas – disse ela, enquanto se movia para acender e pré-aquecer o forno – Depois que a Wanda voltou com o Vitor, você sumiu da nossa casa… e das nossas vidas. Mas sua mãe continuava indo lá em casa. Sempre evitava falar de você. E, quando falava, dizia apenas que você estava bem, estudando economia, sem tempo para mais nada.

- A Wanda me disse que tentou falar comigo – respondi – Mas minha mãe disse que eu não queria mais contato.

Wis virou-se novamente para mim, visivelmente mais atenta.

- Isso é verdade? Você pediu isso pra sua mãe?

- Não lembro – falei, após um breve silêncio – No dia em que soube que eles tinham voltado, eu fiquei doente. Acho que foi pneumonia.

- Credo! Não nos falaram isso…

- Quando melhorei, alguns dias depois, resolvi seguir em frente. A Wanda tinha voltado com o Vitor. Eu não ia ficar… orbitando aquilo.

- Ela ficou magoada, sabia? – disse Wis – Ela chorou quando você se afastou. Eu também. Só que a Wanda nunca quis enxergar por que você se afastou. Até hoje, ela não entende. Mas todo mundo ao redor entendeu. Não é?

Hesitei antes de responder.

- Já faz muito tempo, Wis. Ela sempre foi muito ligada ao Vitor. No fim, eles acabaram voltando um para o outro.

Ela me olhou com um certo escárnio e voltou à bancada.

- Você não conhece o Vitor como eu conheço. A Wanda abriu mão de muita coisa por alguém que não vai oferecer futuro nenhum.

- Você parece saber bastante do que aconteceu naquela época…

- Claro que sei. As decisões da Wanda afetaram todo mundo, não só ela.

- Como?

- A amizade da sua mãe com meus pais ficou estremecida. E eu e a Wendy perdemos você também. A gente adorava quando você estava lá em casa. De repente, tudo girava em torno do Vitor. Depois vieram o Gustavo, a Adriana…

Ela interrompeu a frase ao citar o nome da minha ex-namorada. Houve um leve ajuste em sua postura, quase imperceptível, mas suficiente para eu notar.

- Eu e a Wendy acabamos nos afastando da Wanda – continuou – Doeu, mas aconteceu. Quanto a minha irmã… não sei. Se sentia alguma coisa por você, arrependimento, culpa, qualquer coisa, isso acabou sendo compensado pelo namorado e pelo novo casal de amigos.

Após alguns segundos, acrescentou:

- Desculpa ter mencionado sua ex. Não era minha intenção provocar nada… nem trazer isso de volta.

- Tudo bem – respondi, com honestidade contida – Não é um assunto fácil, mas… eu aguento.

Depois de um bom tempo em silêncio, voltei a falar:

- Eu me sinto mal pela Wanda.

- Todos nós nos sentimos assim – respondeu ela – É o sentimento que se espera numa situação dessas.

- Eu sei… mas me sinto culpado. Não sei explicar direito.

- Que culpa você tem? – Wis retrucou, sem suavizar – Não foi você quem fez ela perder o bebê.

- Eu sei. Não é isso…

- Então o que é?

Os olhos dela se fixaram nos meus com intensidade. Não consegui sustentar o olhar. Permaneci calado. Wis pareceu aceitar o silêncio. Após alguns segundos, tentei mudar de assunto para aliviar o clima:

- Te conheço há tanto tempo, Wis… e é estranho pensar que essa é a primeira vez que a gente realmente conversa. Sempre achei que você se escondia de mim. Pensei que fosse medo.

Ela riu, recuperando o sorriso genuíno.

- De novo isso… Medo? De você? Nem de longe. Eu adorava quando você ia lá em casa. De verdade. Sempre quis me aproximar. Me preparava com assuntos: matemática, investimentos… até a minha coleção de carrinhos HotWheels. Eu ficava esperando uma brecha pra falar contigo, mas a Wanda sempre monopolizava sua atenção. E, quando não era ela, ainda tinha que disputar espaço com a Wendy. Não era fácil para mim, sendo a caçula. Mesmo assim, eu já te considerava meu amigo naquela época. E aqui, no seu apartamento, tenho ainda mais certeza disso.

- Eu sou seu amigo, Wis. Não duvide disso. Tenho um carinho enorme pela sua família… e por você também.

Ela assentiu, em silêncio, num gesto simples de gratidão.

- Você sabia que eu ainda tenho minha coleção de HotWheels? – comentou, rindo de si mesma – Já imaginou uma mulher como eu tendo uma coleção dessa?

- Nunca imaginei – respondi, com um meio sorriso – E acho isso… muito a sua cara.

Ela pareceu satisfeita com a resposta.

Após mais alguns minutos, anunciou:

- A tigela está pronta. Hora de levar ao forno.

Ficamos na sala conversando enquanto a macarronada assava. Eu estava genuinamente curioso sobre a Wis. Ela me contou que só ingressou na escola que eu estudava com Wanda no primeiro ano do ensino fundamental. Sempre foi boa em exatas e dizia odiar português. No início, preferia andar com meninos, mas quando eles começaram a dar em cima dela, resolveu se afastar. Passou longos períodos sozinha.

Nunca gostou muito de amizades femininas. Achava entediantes os assuntos recorrentes: fofocas, moda, meninos, tendências de redes sociais.

A escola, preocupada com seu isolamento, chamou os pais, e logo ela começou a fazer terapia com uma psicóloga. No início, resistiu bastante, mas naquele momento reconhecia o quanto aquele período havia sido importante. Ainda se consultava, embora com menos frequência.

- E namorados? – perguntei, relutantemente.

- Nunca namorei.

- Não consigo acreditar.

- Ninguém acredita – respondeu, com naturalidade – Mas eu não sou como Wanda ou Wendy. Não foi por falta de oportunidade. Eu não gosto de ser flertada. Sinto asco de quem insiste demais. E não acredito em príncipes encantados e nem que precise ficar com metade da cidade para adquirir “experiência”. Como minha mãe diz, eu não sou nada convencional.

Ela falava disso com evidente orgulho.

- Eu também não tive muitas namoradas – confessei – Na verdade, só tive uma: Adriana.

- Eu sei. Fiquei surpresa quando meu pai comentou que você estava namorando ela.

- Surpresa por quê?

- Ah, ela é meio louquinha. Ou pelo menos era. Faz muito tempo que não a vejo – Fez uma pausa, como se percebesse o deslize – Eu disse que não ia mais falar dela e aqui estou, falando de novo.

- Você me deixa pensativo quando fala assim da Adriana.

Ela me olhou com atenção.

- Você ainda gosta dela, não é?

- Ficamos muito tempo juntos. Ainda existem sentimentos.

- Por que vocês terminaram?

Não respondi de imediato. O silêncio a deixou inquieta.

- Tudo bem se não quiser falar – ela disse, com cuidado – Não quero ser invasiva.

Respirei fundo antes de falar:

- Parece que você, minha mãe, Wanda, todo mundo, enfim… todos tem uma visão diferente da Adriana que eu conheci. Ela não tinha nada de louca. Pelo contrário, sempre foi centrada, presente, apaixonada, organizada, profissional. Demonstrava isso todos os dias.

- Perdão, Bruno. Eu não quis te provocar.

- Não é isso, Wis. Quando eu terminar de explicar, você vai entender.

Ela assentiu.

- Nosso relacionamento estava muito bem. Wanda era coisa do passado. Até que tudo mudou no aniversário de sessenta anos do seu pai. Aquele em que você não estava.

- Lembro. Wendy te entregou meu recado?

- Entregou.

- Pelo menos isso… continue.

- Foi ali que descobri que Adriana já tinha namorado o Gustavo. Que ela conhecia Wanda e Vitor. E que minha mãe também já a conhecia – Fiz uma pausa – E ninguém achou que deveria me contar.

- É exatamente isso que te questionei mais cedo – disse Wis – Por que nossos pais tentam nos poupar das informações?

- Nunca pensei nisso com tanta clareza quanto hoje. E foi você quem me fez perceber isso.

- Eu tenho uma teoria. Mas depois te conto.

- Desde aquele aniversário, nada foi igual. Passaram a existir desconfianças, silêncios, verdades pela metade. Ela soube que eu já conhecia Wanda e ficou incomodada, embora nunca falasse. Mesmo assim, eu queria me casar com ela. Até que veio a viagem para Nova Iorque.

- E foi lá que tudo desandou?

- Descobri que ela se encontrou com o Gustavo enquanto eu estava fora.

- Meu Deus!

- Eu odeio esse cara, Wis. Ela sabia disso. E mesmo assim foi vê-lo. Só me contou mais de um ano depois, porque eu a pressionei. Disse que foi apenas uma conversa de encerramento, que ele fazia terapia… vai saber.

- E foi aí você terminou sem saber se era verdade?

- Sim. Mas, se fosse só isso, talvez eu tivesse agido diferente. O problema é que era um acúmulo de situações desde o aniversário do seu pai. Eu já não aguentava mais e… eu também…

- O quê?

Respirei fundo.

- Eu também fiz por onde esse relacionamento acabar.

- Como assim?

- Eu traí a Adriana. E acho que vou destruir tudo o que você admira em mim.

Ela ficou imóvel, olhando para frente.

- Eu fiquei com a Wanda em Nova Iorque – continuei – Me sinto muito mal por isso. Por Adriana. Por Wanda. Foi tudo culpa minha.

Wis permaneceu em silêncio. Esperei alguns segundos antes de falar novamente:

- Acho que estraguei a nossa noite.

Ela sorriu, cansada, e finalmente me olhou.

- Eu agradeço sua sinceridade. E agora vou te contar uma coisa…

Virei-me para ela, atento.

- Wanda vendeu a alma pra poder te encontrar em Nova Iorque.

Olhei para ela, atônito.

- De fato – eu falei – fiquei surpreso quando ela apareceu no hotel. Ela me disse que foi você quem entregou o endereço.

- Fui eu, sim. Ela disse que precisava de um encerramento contigo. Quando perguntei o motivo, respondeu que precisava ter certeza dos próprios sentimentos antes de seguir adiante com o Vitor. Eu fiquei desconfiada, mas ela conseguiu convencer a mim e a Wendy. Nossos pais não podiam saber.

- Entendo…

- Na verdade, eu tinha combinado com o papai que te surpreenderia quando você fosse me devolver meus fichários no apartamento. Mas precisei fingir um desencontro por causa da Wanda. Depois disse a ele que estava atolada com coisas da faculdade. Ele acreditou.

- Aquele pacote continha… fichários?

- Sim. Anotações minhas da época da escola. Não eram segredos, mas são coisas importantes pra mim. Eu queria tê-las comigo de novo.

- Entendi. Continue.

- Wanda queria passar todas as noites contigo. A ideia dela, verbalizada para mim e para minha irmã, era reviver a amizade. Talvez recuperá-la por completo. Fazer você entender que os sentimentos dela por você e pelo Vitor eram coisas distintas, que poderiam coexistir. Eu disse que isso não daria certo, mas ela não quis me ouvir. E, bem… o preço que ela me pagou foi justo. Como te disse, ela praticamente vendeu a alma pra te ver.

- O que ela te ofereceu?

- Não posso te dizer. É algo só nosso.

- Tudo bem.

- Na primeira noite, depois de te encontrar, ela voltou chorando para o meu apartamento. Eu fiquei assustada. Ela não queria me dizer o que tinha acontecido. Depois, acabou confessando que vocês tinham transado. E disse que não foi bom, que foi angustiante. Mas que, ainda assim, vocês trocaram juras de amor sinceras. E, quando caiu a ficha, ela se sentiu suja e muito mal pelo que tinha feito ao Vitor.

Baixei o olhar. A culpa voltou com força. Eu sabia que minha parcela era maior que a dela.

- Pela sua reação agora – continuou Wis – acho que Nova Iorque pode ter servido como um encerramento para vocês dois. Eu já tinha dito isso a ela e repito agora pra você. Trair não foi o certo. Vocês erraram muito feio. Adriana merece saber a verdade. E cabe a ela decidir se quer voltar pra você ou não. Isso, claro, se você ainda a quiser.

- Sabe o que é pior? – falei após um suspiro profundo – Quando terminei, Adriana jogou na minha cara se eu estava terminando por causa da Wanda. Eu desconfiava antes, mas naquele momento tive certeza de que ela sempre soube do meu interesse pela sua irmã. E não estava completamente errada, mas pra mim, isso já era passado. De todo modo, Adriana me bloqueou de tudo. Tentei contato várias vezes, mas não consegui. Eu só quero dizer a verdade pra ela.

- O quão decidido você está nessa procura por Adriana?

Não respondi.

- Às vezes não é fácil – ela disse, sem dureza – Wanda se perguntava muito como você pôde se afastar depois de tudo que viveram. Dizia que ia escapulir para te ver e jogar verdades na sua cara. Sabe quando ela fez isso? Nunca. Então, eu te entendo. Emoções nos limitam. Mas, se você quer mesmo a Adriana, precisa ir atrás.

- Sinceramente, ainda não sei o que quero.

- Então, descubra. Só não arraste ninguém junto enquanto faz isso – ela se levantou e foi até o forno – Acho que a macarronada já está no ponto. Eu calculei bem o tempo.

Como se fosse a dona do apartamento, Wis retirou a tigela com a macarronada do forno e a colocou sobre a mesa. Em seguida, organizou tudo com naturalidade, sem que eu precisasse indicar nada. Parecia conhecer a cozinha melhor do que eu mesmo.

Enquanto esperávamos esfriar, conversamos sobre amenidades. Quando chegou o momento, ela me serviu e quase não permitiu que eu retribuísse o gesto, fazendo questão de que eu provasse primeiro.

- Está excelente… – comentei, saboreando a comida – Tem um gosto familiar.

Wis sorriu, satisfeita.

- Foi sua mãe quem me ensinou essa receita.

- Sério? Faz sentido, então. Está muito parecida com a dela. E tão boa quanto… talvez até melhor.

- Obrigada. – respondeu, corando levemente antes de provar também – Dona Marluce me ensinou durante a pandemia. Ela ficou morando com a gente na segunda onda.

- Eu sei – disse – Ela até me comentou que uma de vocês tinha pegado covid.

- Foi a Wanda, depois de desobedecer o papai e ter saído com o Vitor. Demorou a se recuperar, mas ficou bem.

Depois de algumas colheradas, continuei:

- Não sabia que tinha sido ela. Ainda bem que se recuperou.

- Sua mãe não te contou que foi a Wanda? – Wis perguntou, depois de mais uma colherada.

- Acho que ela esperou eu perguntar – Fiquei em silêncio por um momento antes de continuar – Sabe, você comentou mais cedo sobre nossos pais evitarem certos assuntos… pensando bem, acho que eu também tenho minha parcela de culpa. Eu poderia ter perguntado qual de vocês tinha pegado covid. Poderia ter feito muitas perguntas ao longo dos anos. Mas não fiz.

- Por quê?

- Porque eu queria apagar a Wanda da minha vida. Qualquer coisa que me lembrasse dela. Fiquei muito magoado com a situação dela com o Vitor. Eu gostava de ir à casa de vocês. Eu me sentia ligado a ela, a você, à Wendy, aos seus pais… Eu me sentia parte da família. Mas…

- A Wanda tinha que estragar tudo, né? – ela interrompeu.

- Não é isso – Balancei a cabeça – Acho que fui imaturo também. Me fechei. Evitei tudo que envolvesse ela. Talvez seus pais e minha mãe tenham respeitado isso, mesmo discordando. Acho que não dei espaço para que eles me orientassem melhor. Fui orgulhoso.

- O que você faria diferente?

- Hum – pensei por alguns segundos – Eu não conseguiria segurar vela, isso eu sei. Mas teria desejado o melhor para eles e seguido em frente. Sem transformar tudo num drama. Sem deixar de ir à casa de vocês por causa disso.

- Se você tivesse dado abertura – disse Wis – provavelmente eles teriam sugerido terapia. É uma boa. Você devia experimentar.

- Você é a prova de que funciona, não é?

- Não sei – respondeu, com honestidade – Para mim, funcionou bastante. Mas por que você diz isso?

- Olha pra gente – Fiz um gesto discreto com a mão – Estamos no meu apartamento, comendo uma macarronada incrível feita por você. Temos, sei lá, uns sete anos de diferença. E estamos conversando pela primeira vez de verdade. Falando sobre passado, escolhas, culpa, sentimentos que eu nunca verbalizei pra ninguém. Em menos de vinte e quatro horas, você desmontou meu casulo mental.

Fiz uma pausa curta, sincera.

- Sendo honesto… acho que eu deveria estar assustado com você.

- Quem sabe eu não vim propositalmente arrancar seus segredos e contar pra Wanda. Ela é meu sangue… – ela disse, brincando, enquanto fazia uma careta exageradamente maquiavélica.

- Não tem nada do que eu disse que não diria pessoalmente a ela – respondi, dando de ombros, rindo da expressão.

- Sim, mas… – ela me olhou com curiosidade genuína – a terapia funcionou para mim. Por que você acha que funcionou?

- Porque você me escutou como uma… E porque você parece muito madura para alguém da sua idade. Não só intelectualmente. É como se tivesse se preparado emocionalmente para a vida adulta também.

- E você percebeu tudo isso em poucas horas? – perguntou, agora com aquele mesmo olhar divertido de antes, como se o que eu pensasse realmente importasse.

- Percebi. E acho impressionante termos demorado tanto tempo pra conversar assim.

- Bom… – ela hesitou – acho que você não queria saber de mim. Eu é que teria que procurar por você.

- Também não é exatamente assim.

- Você sabe que é – disse, sem dureza – mas não fiquei magoada. Você entrou nas nossas vidas por causa da Wanda. Seu vínculo era com ela. Não te culpei quando você se afastou. Só… fiquei triste. Eu era muito tímida, e isso piorou depois que você nunca mais apareceu. De alguma forma, eu te achava meu amigo.

Ela parou de falar de repente e olhou para a geladeira.

- Acho que me deu sede.

- Que falha a minha – comentei – Você preparou a comida, e eu nem me preocupei no que íamos beber.

Fui até a geladeira e peguei um suco de laranja industrializado. Para minha surpresa, ela aceitou. Enquanto eu enchia o copo, ela continuou:

- Perguntei ao papai por que você tinha sumido. Ele disse que você estava estudando e trabalhando demais, sem tempo pra nada. Eu falei que queria te mostrar o que eu sabia de matemática, de investimentos… achei que você ia gostar. Ele riu da minha ingenuidade e disse para eu continuar estudando, que quando eu estivesse na faculdade talvez a gente tivesse mais contato. Quem sabe até pudesse trabalhar com você. Aquilo me deu uma motivação enorme.

- Mas por que só agora a gente se encontrou? Pelo que sei, você já está na faculdade há quase três anos…

- Isso é “culpa” sua. – respondeu, fazendo aspas no ar.

- Minha?

- É. Você começou a namorar a Adriana. Não tinha muito espaço para eu me aproximar.

- Mas isso não faria diferença – retruquei - A Adriana… ela não impediria nossa amizade.

- Talvez – Wis respondeu, com cautela – mas eu nunca gostei dela.

Analisei sua expressão. Havia desconforto, não hostilidade.

- Antes você falou dela com certa reserva. Agora foi direta. Por quê?

- Não sei se é uma boa ideia falar disso…

- Por favor, Wis – toquei levemente sua mão. Não foi um gesto romântico. Foi quase um pedido.

Ela hesitou por um instante, como se ponderasse o peso do que diria.

- Eu te falei que achava ela meio… louquinha.

- Louquinha como? – interrompi, atento.

- Muito submissa às vontades do namorado. Houve uma época em que ela e o Gustavo passaram a frequentar bastante lá em casa. Eles e a Wanda com o Vitor acabaram formando uma espécie de dupla de casais. As conversas… – ela fez uma pausa – não eram nada agradáveis para mim. Eu me mantinha afastada. A Wendy também. E eu não gostava dos olhares que eles nos lançavam.

Engoli em seco.

- Eles chegaram a tentar alguma coisa com vocês?

- Não. Nunca passaram disso. Eram apenas olhares, mas só quando estávamos no mesmo ambiente. Eu fazia questão de deixar claro o meu desconforto. E havia sempre a presença intimidadora do papai e da mamãe. Eles não seriam insensatos a esse ponto.

- O que exatamente eles falavam? O que faziam?

- Só falavam de festas, bebidas e sexo. O tempo todo – ela percebeu minha reação ao termo e seguiu, firme – Cansei de ver comportamentos explícitos demais, em plena sala de estar. Não tinha nada de afeto ali. Era vulgaridade. Papai precisou intervir. Disse basta, e eles deixaram de frequentar nossa casa.

Respirei fundo.

- Pelo papai, a Wanda teria terminado o namoro naquela época. Mas ela já era maior de idade. Ele só pôde aconselhar. E ela não quis ouvir.

- Sinto muito que você tenha passado por isso – falei, sincero.

- Eu não tenho problema algum com intimidade entre um casal – ela respondeu, com calma – Quando eu confiar em alguém, também vou me entregar por completo. Mas o modo como elas se comportavam, o desrespeito com a casa, com meus pais, comigo e com a Wendy… isso foi demais. Ali, nós rompemos emocionalmente com a Wanda. Para sempre. Ou pelo menos enquanto ela estiver com o Vitor. Eu nunca vou esquecer os olhares que ele me dirigiu. E o Gustavo… – ela respirou fundo – ele era pior.

- O seu pai sabe de tudo isso?

- Sabe. Contei a ele. E ele foi até onde pôde. Nossa casa tem câmeras. Papai viu com os próprios olhos o que acontecia. Foi quando decidiu que nenhum deles pisaria mais lá. Se a Wanda quisesse continuar o namoro, que o fizesse fora de casa.

- E eles aceitaram?

- O Vitor tentou se redimir. Pediu perdão. Disseram que parecia sincero. O Gustavo e a Adriana simplesmente desapareceram. Só reapareceram anos depois, no aniversário do papai – ela me olhou de lado – Coincidência demais, não acha?

Assenti lentamente.

- Agora entendo a reação da minha mãe quando soube que eu namorava a Adriana…

- Sua mãe provavelmente soube de tudo isso – Wis respondeu – Ela e meus pais são muito próximos. Confiam um no outro. Para mim, foi um choque saber que você estava com a Adriana. O Bruno que eu conhecia… – ela hesitou – romântico, cuidadoso com a Wanda… não combinava com aquela imagem que eu tinha da Adriana. Nada fazia sentido para mim.

Ela abaixou o olhar.

- Perdão pelas palavras. Eu sei que você ainda tem sentimentos por ela.

- Tudo bem. Não se acanhe por isso.

- Para mim também foi uma surpresa saber que o papai a contratou para a PHX – Wis continuou – Ele sabia do comportamento dela na nossa casa e… eu questionei. Conversei com ele. Papai me garantiu que ela havia mudado, que se tornara uma pessoa confiável, consciente dos próprios erros e comprometida em ser alguém melhor. Ele é muito intuitivo. Dificilmente erra. Isso me conforta um pouco.

Ela me olhou com sinceridade.

- E eu acredito que você não se envolveria com alguém que não fosse assim. O problema é que eu nunca mais a vi depois disso. Não presenciei essa mudança. Por isso, é difícil falar bem dela.

- Como eu disse, eu não conheci essa Adriana – respondi – A mulher que eu namorei era diferente. Sempre correta, trabalhadora, organizada. Eu tinha… – corrigi-me – eu tenho muito orgulho da trajetória dela. Crescemos juntos dentro da PHX.

Pensei por um instante antes de continuar:

- Ela me contou muito pouco sobre o namoro com o Gustavo. Confesso que nunca insisti em saber. O que soube é que ele fazia coisas que a incomodavam. Ela tentou terminar, mas ele não aceitou. Disse que Wanda e Vitor intervieram para que ele aceitasse o fim. E assim, ela ficou livre dele. Pelo menos foi o que entendi.

- Não duvido que Wanda e Vitor tenham ajudado – Wis respondeu – mas duvido que tenha sido por motivos nobres.

- Nobre ou não, fizeram o que ela queria, não foi?

- Sim… – ela ponderou – mas acredito que isso também tenha sido uma forma de se redimirem com o papai. Imagine o problema que seria se o Gustavo continuasse insistindo. Pensando bem, o papai ter contratado Adriana pode ter sido, inclusive, uma forma de protegê-la.

- Inclusive, quando contei a ele que estávamos namorando, ele pareceu genuinamente feliz. E nos deu sua bênção.

Percebi um leve abatimento no semblante de Wis, como se aquela informação a incomodasse.

- Bom… – ela falou, com certa relutância – papai tem um apreço enorme por você. Ele jamais permitiria que você entrasse numa enrascada. Se aprovou o relacionamento, talvez ela realmente tenha evoluído. E vocês ficaram juntos tanto tempo… dificilmente algo assim se sustenta sem um alicerce verdadeiro.

- Mas as rachaduras existiam – respondi – E culminaram no nosso término.

- Rachaduras dos dois lados – ela pontuou – Não se esqueça disso.

- Não esqueço. Não me isento de culpa. Talvez a minha seja maior. Eu não sei exatamente o que ela fez com o Gustavo enquanto eu estava em Nova Iorque…

- Mas nós sabemos exatamente o que você fez lá, não sabemos? – ela me olhou firme.

Assenti em silêncio.

- Talvez o melhor fosse mesmo terminar – murmurei.

- Isso eu não posso afirmar – Wis estava calma – Não conheço muitos casos, nem sei dizer quando perdoar ou não. Cada relação é única. Mas uma coisa é certa: independentemente do que Adriana fez, isso não justifica o que você fez. Um erro não anula o outro.

Levantei-me instintivamente e fui até a geladeira, sem saber exatamente por quê. Talvez precisasse respirar. Voltei e me sentei, terminando o prato. Wis me observava com empatia.

- Todo mundo erra, Bruno. Minhas palavras podem ter soado duras, mas eu também erro. Sou hipócrita às vezes, não acha?

- Onde você errou?

- Quando negociei a alma de Wanda para ajudar vocês a se encontrarem nos EUA. Se eu não tivesse feito isso… talvez nada disso tivesse acontecido.

Sorri diante da lógica improvável.

- Se não fosse ali, teria sido em outro momento. Acho que estávamos destinados a isso.

- Talvez – ela disse, pensativa – A vida é estranha. Cheia de desvios. Quem sabe Nova Iorque não foi o encerramento que vocês precisavam?

- Ainda não foi – respondi, convicto – Mas teremos o nosso encerramento.

Ela apenas assentiu.

Depois de alguns segundos em silêncio, ela falou:

- Estou aprovada como cozinheira?

- Mais que aprovada. Estava delicioso.

Wis sorriu, contente, e se levantou para recolher os pratos, levando-os até a pia. Ela já ia começar a lavar quando tentei interrompê-la:

- Não precisa se preocupar, Wis. Eu lavo depois.

- Nada disso – respondeu, com leveza – Vou te mostrar que sou prendada…

O tom era brincalhão, quase sapeca.

- Então deixa eu te ajudar.

- Vai enxugando.

Ficamos assim por alguns minutos, funcionando como uma pequena linha de produção improvisada. A conversa seguiu naturalmente:

- Papai confia muito em você, sabia?

- Ele tem demonstrado isso ao longo dos anos.

- Sim, mas digo de um jeito mais íntimo mesmo. Ele não hesitou quando eu disse que viria embora contigo. Nem ele, nem minha mãe me mandaram mensagem até agora. Se eu estivesse com qualquer outra pessoa, eles já teriam ligado.

- Eles sabem que tenho respeito por vocês – respondi, com um meio sorriso - E isso não mudou, independentemente do que aconteceu entre eu e Wanda.

- Meus pais não podem nem imaginar aquilo…

Olhei para ela, atento.

- O quê exatamente?

- Wanda indo até Nova Iorque, te encontrando… o que vocês fizeram.

- Seria uma quebra grande de confiança, não é? – complementei.

- Sim. A decepção maior é saber que vocês traíram seus parceiros.

- Mas você acha que eles se importariam mais com isso?

A pergunta escapou antes que eu pudesse filtrá-la. Enquanto enxugava o último prato, senti o ar mudar. Wis virou-se para mim, os olhos mais atentos do que antes.

- Por que essa pergunta?

Engoli em seco, arrependido. Tentei improvisar:

- Não sei… talvez por me verem como filho. Eles devem nos olhar como irmãos. Pode ser justamente isso que tornaria tudo mais errado ainda do que apenas a traição.

Ela me observou por alguns segundos antes de responder:

- Primeiro, Bruno, eles nunca nos colocaram como irmãos. Segundo, mamãe já disse para a Wanda, e eu ouvi, que ela foi tola de escolher o Vitor em vez de você – Fez uma pausa breve – E terceiro… sua resposta não foi completa. Você quis perguntar isso nesse sentido mesmo?

Hesitei. Respirei fundo.

- Sim.

Wis sustentou meu olhar por mais um instante. Depois assentiu, lentamente, como quem aceita a honestidade, ainda que não concorde com tudo.

Depois de arrumar a cozinha, fomos para a sala de estar. Sentamos no sofá, ainda em silêncio. Foi ela quem o quebrou:

- Eu não gosto de meias verdades… e estou me sentindo muito confortável com você. Preciso te perguntar uma coisa: você não acha estranho o relacionamento dos nossos pais?

- Acho – respondi – Mas isso te incomoda de alguma forma?

- Não. De jeito nenhum. Ainda assim, acho estranho.

Ela fez uma breve pausa.

- Eu os vi juntos muito mais vezes do que você, provavelmente. Eles são leves, cúmplices. Existe algo bonito ali, de confiança e respeito mútuo.

- O problema é o julgamento das pessoas…

- Por que isso importa?

- Tenho medo deles se magoarem.

- Por quê?

- Por acharem que Dona Cecília é corna… e minha mãe, marmita.

Wis franziu levemente o cenho.

- Não deveríamos nos importar tanto com o que os outros pensam. Eles parecem felizes.

- Espera… você acha que existe algo mais entre eles?

Eu sabia da verdade, mas não estava pronto para dizê-la.

- E se existir, isso seria um problema para você?

- Eu só quero que minha mãe não se machuque. Ela é tudo que eu tenho. E, claro, também não quero que seus pais sofram. – Esperei um instante – Mas… considerando que exista algo, o que você pensa sobre isso?

- Não tenho certeza de que exista algo. Isso já foi assunto entre mim e minhas irmãs.

- E a que conclusão chegaram?

- Wanda tem certeza de que há algo entre os três. Eu e Wendy apenas desconfiamos.

- E se for verdade?

- Já conversamos sobre isso. O importante é que nossos pais sejam felizes. Eles nunca nos confirmaram nada, nem deram abertura para perguntas. Exigem respeito e nós damos. Talvez não falem por medo da nossa reação. Mas nenhuma de nós seria contra a felicidade deles. Isso é consenso entre nós.

- Eu entendo.

- Sua mãe deve ter mais medo de te contar do que os meus pais de nos contar.

- Por que acha isso?

- Pela diferença entre nós. Você tem medo que sua mãe se magoe. Nós só queremos que nossos pais sejam felizes. Talvez o silêncio exista… por sua causa.

- Minha?

- Sim. Sua.

- Mas eu jamais impediria minha mãe de viver o que quiser, mesmo que eu não concorde.

- Você não concordaria com um relacionamento a três baseado em verdade e cumplicidade?

Suspirei antes de responder

- Não é tão simples assim. Vou tentar explicar com um exemplo – olhei para ela – Pense no homem de quem você mais gostou na vida. Conseguiu imaginar?

Ela assentiu, atenta.

- Você aceitaria dividir um relacionamento com ele e outra mulher?

- Hoje, não. No futuro… quem sabe. Se surgisse alguém que eu gostasse e que gostasse de nós dois. Mas não procuro isso. Vivo o agora. Hoje, quem eu gosto, eu quero só para mim. Talvez, eu seja possessiva.

- Eu entendo. Talvez meu incômodo venha do fato de eu nunca ter vivido algo assim. Acho que só quem vive consegue compreender de verdade.

Ela refletiu por um instante.

- Então, supondo que tenhamos certeza absoluta de que existe um relacionamento a três entre nossos pais… como você espera reagir?

Disfarcei o peso da pergunta.

- Quero ter certeza de que minha mãe não vai se machucar. Fora isso, não há muito que eu possa fazer. A vida é dela.

- Como não te diz respeito? Você é filho dela. Vocês são uma família de dois.

- Eu sei… mas eu também tive minha intimidade. Tive uma namorada. Minha mãe não merece isso também? – Pensei um pouco antes de continuar – Se dependesse de mim, eu a faria a mulher mais feliz do mundo. Mas também entendo que ninguém se completa sozinho ou apenas com família. Existem muitas formas de vínculo na vida, algumas necessárias.

- Eu torço para que seja verdade, sinceramente – disse Wis, suavemente.

- Eu… espero conseguir lidar bem, se for.

Ela assentiu, em silêncio.

Ainda conversamos por mais algum tempo sobre acontecimentos dos últimos anos e lembranças que nos conectavam. No entanto, já passavam das 23h, e precisei levá-la para casa.

No carro, para minha surpresa, Wis conectou o painel ao seu celular. O papel de parede apareceu na tela: uma foto belíssima dela, no Natal, em Nova Iorque. Contive o impulso de elogiá-la. Em seguida, ela abriu o Spotify e colocou Don’t Let Me Down, dos Beatles.

- Escolha interessante de música. Gostei – comentei.

- Eu amo Beatles. É minha banda favorita.

- Sério? É a banda que eu mais gosto também.

Ela sorriu, sem tirar os olhos da tela.

- Eu sei.

- Claro que sabe… Deve ter visto a Wanda tentando me convencer de que as letras da Taylor Swift eram mais profundas que as dos Beatles.

- E agora é Billie Eilish – completou ela.

Rimos juntos.

Ficamos em silêncio por um tempo, apenas ouvindo a melodia preencher o carro. Então, Wis falou, como se retomasse um pensamento antigo:

- Uma vez eu vi, da minha janela, você deixando a Wanda em casa depois da faculdade. Depois que você se afastou, só o Vitor fazia isso. Todo santo dia. O carro da Wanda quase não era mais usado. Papai acabou vendendo – ela fez uma breve pausa – Acho que incomoda o Vitor aceitar que a Wanda tenha independência.

Não respondi. Foi estranho perceber o quanto o Vitor da escola – sempre tão entusiasmado com mulheres e discursos progressistas – havia mudado na vida adulta.

- Aliás – continuou Wis – esse foi outro motivo pra Wanda não ter te procurado. Quando eles voltaram, o Vitor morria de ciúmes de você. Detestava quando falávamos bem do nosso amigo Bruno – Ela sorriu de canto – Eu e Wendy fazíamos isso de propósito. Ele ficava furioso.

- Vocês não prestam – disse eu, rindo.

- Somos time Bruno.

Quando chegamos à casa duplex dela, percebi que tudo estava escuro. Três carros ocupavam a garagem.

- Parece que o Vitor vai dormir aqui hoje. Vejo o carro dele…

- Eu pensei que…

- Tanto tempo junto, não é, Bruno? – Wis me interrompeu com naturalidade – Era questão de tempo até o papai ceder. Ele acha que o Vitor melhorou bastante, embora, nas entrelinhas, eu sinta que ele preferia que ela não se casasse. Mas quem manda no coração? No fundo, acho que a Wanda sempre gostou mesmo do Vitor.

- Eu também acho – respondi com sinceridade, sem sentir um nó no estômago.

Ela me observou por um instante e assentiu, como se confirmasse algo para si mesma.

- Eu adorei a noite, Bruno. Obrigada. Amanhã nos vemos na PHX para continuar de onde paramos.

- Eu que agradeço. Vai ser um prazer dar sequência à mentoria e à consultoria dos seus investimentos. E… foi bom conversar depois do expediente. Estou me sentindo mais leve. Você me ajudou a tirar um peso das costas. Tenho algumas decisões importantes para tomar nas próximas semanas.

- Fico feliz por ter ajudado.

Ela abriu a porta. Não houve qualquer menção a beijo. Antes de descer, virou-se novamente para mim.

- Minha irmã não aproveitou, mas eu vou aproveitar sua amizade. As suas futuras namoradas que lidem com isso, porque não pretendo abrir mão de você. Tudo bem?

- Tudo bem. Combinado. Amigos!

Estendi a mão. Ela fez o mesmo. Selamos mais um acordo silencioso.

- Boa noite, Bruno.

- Boa noite, Wis.

Ela fechou a porta, deu dois passos em direção à casa, mas voltou e bateu levemente no vidro. Quando abaixei, falou:

- Prefiro que você me chame de Wis Nara.

- Sério? Me desculpa… passei o dia inteiro te chamando só de Wis.

- Tudo bem. Não precisa se desculpar. Só quis deixar claro.

- Achei que todas vocês odiassem o nome Nara.

- Pelo contrário. Eu adoro. Prefiro Wis Nara. A Wendy é indiferente. A Wanda, sim, odeia.

- Curioso.

- Ou talvez… seja só mais uma prova de que eu e Wanda somos bem diferentes.

Ela piscou para mim e seguiu em direção à casa. Evitei acompanhá-la com os olhos por tempo demais, mas não consegui ignorar o impacto que ela me causara. Wis tinha deixado marcas silenciosas em um dia que eu não esqueceria tão cedo.

De volta ao meu apartamento, fui tomado por uma sensação de vazio. Tudo parecia subitamente sem vida, distante daquela atmosfera vibrante que havia compartilhado com Wis poucas horas antes.

Quando me deitei, a insônia veio sem pedir licença. Talvez ainda estivesse elétrico demais por tudo o que tinha vivido naquele dia. Incapaz de dormir, peguei o celular e criei uma nova conta no Instagram. Publiquei apenas uma foto, a mesma do perfil, e sem legenda. Em seguida, comecei a adicionar pessoas que conhecia, incluindo Wanda, Adriana e Wis.

Os perfis de Wanda e Wis permaneciam como sempre. Wanda caprichava em cada postagem, cuidadosamente construída, a maioria solo. Wis, por outro lado, continuava sem nenhuma foto dela. Adriana havia deixado o perfil privado; precisei solicitar amizade.

Para Wanda, enviei apenas uma mensagem:

> Eu: Precisamos conversar. Quando podemos?

Não sei por quanto tempo esperei por uma resposta de Wanda ou pela aceitação de Adriana para que eu pudesse lhe escrever também. Nenhuma das duas reagiu a minha interação. Em algum momento, o cansaço venceu, e acabei adormecendo.

Nos dias seguintes, minha aproximação com Wis se intensificou de forma quase natural. Ela mal saía da minha sala e, em muitos momentos, assumia tarefas que Adriana costumava executar com competência. Nos intervalos, eu a ensinava a ler balanços, projetar resultados e calcular fluxo de caixa descontado. Não raro, isso despertava em mim uma sensação incômoda de déjà-vu.

À noite, eu a deixava em casa, mas não era incomum jantarmos juntos, às vezes no meu apartamento, outras em algum restaurante próximo.

Trajano parecia satisfeito com nossa proximidade. A barreira que havia se formado entre nós desde que eu descobrira o relacionamento a três envolvendo minha mãe começava, pouco a pouco, a se dissolver. Na presença de Wis, tanto ele quanto eu parecíamos resgatar a antiga amizade, marcada por confiança e companheirismo.

Minha mãe mantinha contato constante por mensagens, mas uma em especial chamou minha atenção:

> Mãe: Wis Nara não para de falar de você.

> Eu: ela está empolgada com a herança e com os investimentos que está estruturando… só isso.

> Mãe: só isso?

> Eu: sim, só isso.

Erica também percebeu alguma mudança, embora não a tenha verbalizado diretamente. Em uma ligação, comentou:

- Vou passar uns dias no Remo, certo? – ela disse – Ele já está solteiro novamente.

- Já? Foi rápido… Ele precisa de alguma coisa? – perguntei.

- Não, está tudo bem. E sabemos que você anda… ocupado. A gente se vê na balada, no sábado? Você prometeu, hein...

- Tá combinado sim.

Provavelmente Denis havia comentado, em tom reservado, sobre minha proximidade com Wis, o que levou Erica e Remo a me darem espaço. Ainda assim, eu não pretendia me afastar deles. Não cometeria o mesmo erro outra vez. No sábado combinado, eu os veria.

O que permanecia inalterado era minha situação com Adriana. Ela não aceitara minha solicitação no Instagram e meu número continuava bloqueado. Eu já considerava seriamente ir até sua casa para uma conversa definitiva. Ou então ir a sede da XP. Eu precisava dizer a verdade a ela.

Por fim, Wanda respondeu à minha mensagem de forma direta e fria:

> Wanda: NÃO

Aquilo me abateu, mas eu não tinha o direito de me sentir ofendido. Ela havia tentado conversar comigo no passado, e eu recusara. Era compreensível que agora fosse ela quem dissesse não. Ainda assim, eu não desistiria.

Em uma noite, quando fui deixar Wis em casa, decidi tocar nesse assunto.

- Preciso da sua ajuda, Wis Nara.

Ela me olhou de lado, atenta.

- Sobre o quê?

- A Wanda. Ela está me ignorando e eu preciso falar com ela. De verdade.

Ela permaneceu em silêncio por alguns segundos.

- Falar ou aliviar sua consciência?

A pergunta veio firme, sem acusação, mas sem suavidade.

- Os dois – respondi, sem hesitar – Mas principalmente, ficar em paz.

- Você vai machucá-la de novo?

- Não. Isso nunca mais.

Wis me observou com cuidado, como se me avaliasse mais uma vez.

- Quando?

- Sábado à tarde.

- Onde?

- Um lugar neutro. Público. Seguro.

Ela assentiu lentamente.

- Eu ajudo. Mas só se for assim: eu não vou forçar nada. Se ela quiser ir embora, ela vai. E você aceita.

- Concordo com os termos.

- Então está combinado.

Sábado à tarde, cheguei à praça no horário combinado. Vi duas mulheres de costas, conversando. Reconheci os gestos antes mesmo dos rostos.

Wis foi a primeira a me notar. Virou-se, encontrou meu olhar e fez um leve aceno, quase imperceptível. Wanda se virou logo depois. O rosto dela endureceu. Ela olhou para Wis.

- O que é isso?

- Uma conversa que vocês dois estão evitando – respondeu Wis, com calma.

- Você não tinha o direito.

- Eu sei. Mas ele pediu. Ele é meu amigo. E você é minha irmã.

Wanda deu um passo para trás.

- Eu vou embora.

Antes que pudesse se afastar, Wis segurou sua mão.

- Você está em paz, Wanda?

Wanda abaixou os olhos e não respondeu.

- Não está – Wis concluiu – Então escuta ele. Depois você decide. Ninguém vai te obrigar a nada.

Aproximei-me devagar, mantendo a distância. Não toquei nela.

- Prometo que não vou tentar te convencer de nada – eu disse – Só vou dizer a verdade.

As duas se olharam por um instante que pareceu longo demais.

- Tá bom – Wanda disse, por fim – Cinco minutos.

Wis sorriu com delicadeza, apertando as mãos da irmã como quem transfere coragem.

- Volto em meia hora.

Quando ela se afastou, o silêncio ficou pesado. Wanda cruzou os braços.

- O que você quer, Bruno?

Respirei fundo.

- Me desculpar.

Ela franziu a testa.

- Pelo quê?

Olhei diretamente para ela, que parecia incrédula.

- Por Nova Iorque.

Continua...

Espero que gostem. Desde já, ficarei grato com qualquer comentário, crítica ou elogio. Próximo capítulo em alguns dias.

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Comentários

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esse capitulo expos que o melhor para o bruno seja de fato a wis.

ele combinam em tudo. e um casal muito mais promissor.

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"Prefiro que você me chame de Wis Nara."

Aqui está nossa WN

excelente capitulo. como imaginamos wis chegando batendo com o pau na mesa o botando ordem na casa.

inclusive ser a mulher que vai direcionar o Bruno para se tornar um homem de verdade.

antes de se tornar um caro digno, ele vai ter que passar por conversas dificeis com wanda, adriana, sua mae e os pais das meninas.

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o trato que fez a wanda entregar a alma, foi ela deixar o Bruno para a wis.

por isso ela disse encerramento.

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Caro escrito, você informou no inicio do conto que tentará a publicação de dois episódios para apreçar o encerramento.

Começara com isso nessa semana ou apenas a partir da próxima? Se começar essa semana quando será o próximo capitulo?

Aguardo ansiosamente pelo retorno.

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Bom,parece que ficou claro que Wanda/Vitor e Gustavo Adriana faziam seco grupal,é isso mesmo? Isso ficou apenas sugestivo... E parece que Adriana gostava mesmo de Bruno enquanto namoravam,de verdade.

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Gustavo, vitor e adriana tinhamos certeza por causa do video, mas nao wanda.

agora infere-se consideravelmente que quem estava filmando era a wanda.

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