Júnior ajustou o nó da gravata, um sorriso discreto brincando nos lábios. Aos 24 anos, com um diploma fresco em Economia e a vida profissional recém-engranada, ele sentia um orgulho genuíno do caminho que estava trilhando. Havia acabado de comprar seu primeiro apartamento, um feito que o enchia de satisfação, e sua empresa de consultoria, embora pequena, começava a atrair clientes promissores. O daquele dia, em particular, representava um desafio interessante: uma clínica de estética em busca de um milagre.
Ao entrar na Clinica SUBLIME, o ar condicionado soprava um alívio bem-vindo do calor da tarde em Goiânia-GO. O ambiente era acolhedor, com toques de bom gosto que contrastavam, aqui e ali, com pequenos sinais de desgaste que o olho treinado de Júnior logo percebeu. Ele foi recebido por Ananda, uma jovem bonita que o guiou até a sala de Sheila.
Sheila, de seus quarenta e poucos anos, cumprimentou-o com uma energia que parecia lutar contra um cansaço persistente. Júnior expôs seu plano de ação, suas metodologias, enquanto ela, atenta, descrevia as dores do seu negócio. A conversa fluiu bem. Júnior sentiu que havia uma conexão, uma esperança na voz de Sheila. Após uma negociação tranquila, o contrato foi assinado, selando a parceria. Júnior sentiu o entusiasmo de um novo projeto, a certeza de que poderia fazer a diferença.
Para Sheila, aquele contrato representava mais que uma esperança, era uma aposta derradeira. Brasileira de origem, ela havia passado a maior parte de sua vida adulta em Portugal, construindo uma família e uma rotina. No entanto, a crise financeira que atingiu a Europa, especialmente Portugal, nos últimos anos, havia desfeito seus sonhos. Em 2012, com o país mergulhado em dificuldades e sem perspectivas, Sheila tomou a difícil decisão de retornar ao Brasil, buscando um recomeço.
Veio com os três filhos: Ananda, então com 19 anos, Eduardo, com 10, e o Afonso, de apenas 2 anos. Foi um salto no escuro, uma tentativa desesperada de reconstruir suas vidas. Com a pouca poupança que tinha e uma coragem imensa, Sheila investiu na SUBLIME. O negócio, que começou com promessa, agora enfrentava uma fase crítica. As contas apertavam, a clientela não era suficiente para cobrir os custos e a concorrência era feroz. A clínica, e consequentemente a família, sobrevivia em um fio. Eles moravam na casa ao lado da clínica, uma conveniência que agora era mais uma necessidade. Ananda, a filha mais velha, trabalhava no balcão da recepção, ajudando a mãe no que podia.
A porta de vidro da clínica SUBLIME se abriu com um empurrão decidido. Eduardo, um jovem de 18 anos, entrou. Seus olhos verdes eram marcantes, carregando uma expressão de autoconfiança e uma leve altivez. Ele vestia um boné virado para trás e uma camiseta estampada, exalando uma vibe casual e moderna. Ao ver Ananda no balcão da recepção, acenou com a cabeça de forma quase imperceptível e soltou um direto:
— E aí, Ananda.
Ananda mal tirou os olhos do celular, respondendo com um desinteressado:
— Oi, Dudu.
Sem dar muita atenção à presença de Júnior, que estava de pé ao lado da mesa de Sheila, Eduardo caminhou diretamente para a sala da mãe.
— Mãe, preciso de uma grana, vou pro Shopping com os meninos.
Sheila suspirou, um misto de calma e cansaço na voz.
— De novo, Eduardo? Achei que tinha te dado ontem.
— Acabou. É só pro lanche.
Sheila começou a abrir a bolsa, mas antes de pegar o dinheiro, percebeu o olhar de Júnior e decidiu fazer as apresentações.
— Ah, Eduardo, antes que eu me esqueça... este é o Júnior, nosso novo consultor. Júnior, este é meu filho, o Eduardo.
Eduardo voltou seus olhos verdes para Júnior. Sem um sorriso, fez apenas um aceno de cabeça discreto, mantendo uma expressão neutra e ligeiramente altiva.
— E aí.
Júnior, com um sorriso que tentava ser amigável, estendeu a mão para Eduardo.
— Prazer em te conhecer, Eduardo!
Eduardo observou a mão estendida por um breve instante antes de apertá-la. Seu aperto foi forte, firme, decidido, talvez um pouco mais do que o necessário. Seus olhos verdes fixaram os de Júnior em um momento intenso.
Júnior sentiu um arrepio percorrer sua espinha com a força do aperto. Disfarçando a surpresa, retirou a mão um pouco rápido demais e a esfregou sutilmente.
Sheila entregou algumas notas a Eduardo.
— Não volta tarde, viu? E vê se não gasta tudo de uma vez.
Eduardo pegou o dinheiro, colocando-o no bolso da calça. Acenou a cabeça para Sheila novamente, mas sequer olhou para Júnior ao se virar para a saída.
— Tô indo.
Eduardo saiu da clínica, e enquanto ele se afastava, Júnior não conseguiu evitar que seu olhar descesse. Nos pés de Eduardo, um par de havaianas brancas, simples, mas que de alguma forma destacavam-nos. Eles eram bem cuidados, com dedos alinhados e unhas aparadas. "Pés bonitos", pensou Júnior, sentindo um pequeno, mas inegável, arrepio de satisfação. Aqueles pés em havaianas brancas agradaram profundamente a Júnior. Havia algo mais em Eduardo do que a marra juvenil, e Júnior sentiu uma súbita e intensa curiosidade, um desejo de conhecer melhor aquele rapaz.
Sheila suspirou, olhando para a porta por onde Eduardo havia saído.
— Ai, Júnior... esse menino tem andado meio rebelde, sabe? Não sei o que fazer às vezes. Toda hora uma despesa nova, e essa marra dele...
Júnior, com um sorriso que tentava ser tranquilizador – embora ainda um pouco afetado pelo aperto de mão e pela nova observação –, respondeu:
— Ah, Sheila, isso é coisa da idade! Todo adolescente tem dessas fases de querer se impor. Mas ele parece ser um menino de ouro, viu? Cheio de personalidade! E educado.
Um pouco surpresa com o otimismo de Júnior, Sheila perguntou:
— Você acha?
— Tenho certeza! Dá pra ver o potencial nos olhos dele. Fica tranquila.
Um leve sorriso de alívio surgiu no rosto de Sheila.
— É, talvez você tenha razão.