Primo, eu ainda te amo! | Capítulo 07: Relicário

Um conto erótico de Th1ago-
Categoria: Gay
Contém 3093 palavras
Data: 23/12/2025 16:53:24

Acordei devagar, como se estivesse emergindo depois de muito tempo submerso. Primeiro veio o som. Baixo, cuidadoso, quase tímido. Uma melodia que parecia caminhar na ponta dos pés pelo quarto, respeitando o meu sono. Por alguns segundos, achei que fosse coisa da minha cabeça, um resto de sonho insistindo em ficar.

Mas não era.

Era um violão.

A cada acorde, a música se tornava um pouco mais nítida, mais real, como se me chamasse pelo nome em voz baixa, pedindo licença para me acordar. Continuei de olhos fechados, só ouvindo. Havia algo profundamente íntimo naquela melodia, algo que tocava um lugar dentro de mim que eu nem sabia que existia.

Quando finalmente abri os olhos, a manhã me recebeu com luz dourada. O sol atravessava a cortina entreaberta e espalhava faixas quentes pelo quarto, iluminando o ar, os móveis, o chão… como se tudo tivesse sido cuidadosamente preparado para aquele instante.

E então eu vi ele.

Caíque.

Sentado no sofá, no canto do quarto, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Como se sempre tivesse sido assim: ele ali, tocando violão pra mim logo cedo. O sol iluminava metade do rosto dele, desenhando sombras suaves no outro lado. Ele usava uma camiseta branca um pouco larga, caindo macia sobre os ombros, e uma calça de moletom cinza que deixava tudo nele ainda mais tranquilo, quase caseiro. O cabelo, bagunçado pelo sono, só deixava ele mais bonito de um jeito que eu não sabia explicar.

Ele dedilhava o violão com uma calma que me desmontava por dentro. Os dedos deslizavam pelas cordas com tanta leveza que parecia que a música não vinha do instrumento, mas da própria pele dele.

E então ele começou a cantar.

A voz saiu baixa, firme, e um arrepio subiu pela minha coluna logo no primeiro verso.

— Desde que você chegou…

A melodia se espalhou pelo quarto devagar, como se quisesse me acordar por inteiro, mas com cuidado, com carinho.

Eu fiquei ali, deitado, sem dizer nada. Só olhando. Cada vez que a luz batia nos fios do cabelo dele, clareando alguns tons, meu peito apertava de um jeito bom, quase dolorido.

— O meu coração se abriu,

Hoje eu sinto mais calor

E não sinto nem mais frio…

Ele levantou os olhos na minha direção naquele instante, como se tivesse sentido que eu já estava acordado. Nossos olhares se encontraram, e um sorriso pequeno surgiu no canto da boca dele. Aquele sorriso meio torto, meio tímido, que ele sempre dá quando tenta esconder a vergonha.

Eu não consegui responder. Só continuei olhando.

A música seguia, e cada verso parecia conversar com coisas que eu sentia há tempos, mas nunca tinha conseguido colocar em palavras.

— O que os olhos não veem, o coração pressente,

Mesmo na saudade,

Você não está ausente…

Eu sentia aquilo. Sentia tudo.

— Em cada beijo seu,

Em cada estrela do céu,

Em cada flor do campo,

Em cada letra no papel…

Quando ele cantou esse trecho, o olhar dele caiu nos meus lábios por um segundo. Só um segundo. Mas longo o suficiente para meu estômago se contrair num nó apertado.

A lembrança da noite anterior veio inteira. O selinho tímido. O beijo lento. O calor da respiração dele misturada à minha. O nariz encostando no meu. O abraço depois, firme, protetor, como se fosse a coisa mais natural do mundo dormirmos daquele jeito.

Caíque continuou tocando.

— Que cor terão seus olhos,

E a luz dos seus cabelos?

Eu não posso tocá-los… mas eu não vou esquecê-los…

Sentei devagar na cama, ainda meio tonto. Não de sono. Era outro tipo de tontura. Uma que vinha dele.

Quando ele tocou o último acorde, algo se acomodou dentro de mim. Uma certeza quente, suave, que me abraçou por dentro.

— Você… tá tocando isso pra mim? — perguntei. Minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia.

Ele sorriu. Um sorriso que me desmontou inteiro.

— Eu acordei cedo… — disse, ainda dedilhando, sem tirar os olhos de mim. — E você tava tão tranquilo dormindo que eu não quis te acordar. Aí fui tocando pra ver se você vinha vindo aos poucos.

Soltei uma risada fraca.

— Funcionou.

Ele mordeu o lábio, segurando o riso, e voltou o olhar para as cordas, mas eu sabia que ele ainda me sentia ali.

O quarto parecia maior com a música. E ao mesmo tempo, parecia que só existíamos nós dois ali dentro. O sol, o violão, a voz dele… tudo parecia ter sido colocado no lugar certo só para aquele momento existir exatamente daquele jeito.

Havia alguma coisa começando ali.

E, dessa vez, eu queria viver.

Com ele.

Me espreguicei um pouco na cama, ainda embalado pela voz dele, e perguntei:

— De quem é essa música?

Caíque parou de tocar por um instante. Os dedos ficaram suspensos no ar, como se ainda guardassem o último acorde. Ele sorriu de lado, daquele jeito que deixa as bochechas dele um pouco mais cheias.

— Nando Reis… — respondeu, girando o violão no colo. — Mas essa versão é estendida. A AnaVitória gravou num acústico. Ficou perfeita.

Pisquiei, tentando puxar algo da memória.

— Ana… o quê?

Ele arregalou os olhos, indignado de um jeito quase cômico.

— Você tá brincando comigo. Como assim você não conhece AnaVitória?

Levantei as mãos em defesa.

— Ué, lá onde eu morava o sertanejo reinava. Ou gostava, ou sofria todo dia.

Caíque riu alto, jogando a cabeça pra trás.

— Verdade. Eu até esqueci por um segundo. — Ele me olhou com brilho travesso. — Esqueci que você é o meu vaqueirinho.

Antes que eu pudesse responder, ele largou o violão no sofá, se levantou e veio até mim. Devagar. Seguro. Como se soubesse exatamente o efeito que causava.

Meu coração já batia acelerado só com o jeito que ele vinha.

— Vaqueirinho… — repetiu, mais baixo.

Quando percebi, ele já estava se inclinando. O beijo veio quente, cheio, urgente, mas ainda suave. Ele me empurrou de leve, e eu caí de costas na cama, rindo no meio do beijo, sentindo o peso gostoso do corpo dele sobre o meu.

Retribuí sem pensar. Minha mão subiu até a nuca dele, puxando, aprofundando o beijo. A respiração se misturou, quente, acelerada, quase uma confissão.

Quando ele se afastou um pouco, só o suficiente para me olhar nos olhos, senti meu coração bater tão forte que parecia que ia atravessar o peito.

— Isso é real? — perguntei quase sem voz. — Caíque… isso é real mesmo?

Ele sorriu. Um sorriso que veio como um abraço.

— É real. — respondeu firme. — Ou você já esqueceu de ontem à noite?

— Esquecer? — ri nervoso. — Eu lembro de tudo. Mas achei que você ia fingir que nada tinha acontecido.

Assim que falei, ele se afastou um pouco mais. O calor entre nós diminuiu, e o olhar dele mudou. Ficou sério. Profundo.

— Fingir? — repetiu. — É isso que você quer?

Meu estômago gelou.

— N-não… — gaguejei. — Não é isso. É só que… você tem aquela menina. Eu vi. Vi você beijando ela.

O silêncio pesou.

Caíque se afastou, sentou ao meu lado, passou a mão pelo cabelo. Quando falou, a voz saiu baixa, quase falhando.

— Alec… eu sempre tive meninas. Sempre. Foi o que eu cresci achando que devia querer. — Ele riu sem humor. — Mas aí você apareceu.

Meu peito travou.

Ele continuou, encarando o chão, os cotovelos nos joelhos.

— Só que… na real, começou mesmo antes de você chegar aqui em casa. — Ele levantou os olhos, e o jeito que ele me olhou parecia um segredo sendo revelado. — Toda vez que meus pais ligavam pro seu pai em vídeo chamada, você sempre aparecia no fundo da câmera. Sempre. Às vezes concentrado lendo, às vezes jogado no sofá com algum livro aberto, às vezes com aquele fone enorme. E eu não sei explicar, mas… eu ficava olhando.

Meu coração congelou na hora.

Ele sorriu de canto, tímido, quase envergonhado.

— Eu nem sabia o que eu sentia. Só ficava… curioso. Preso. Você sempre parecia tão… no seu mundo. Tão certinho, tão quieto, tão focado. Parecia coisa de filme. — Ele balançou a cabeça. — Aí quando você finalmente chegou aqui… tudo que eu achava que sabia sobre mim começou a bagunçar.

Eu fiquei olhando para ele, completamente sem ar.

— E aí eu comecei a perceber coisas — ele continuou, agora encarando minhas mãos. — Coisas que eu nunca tinha reparado em ninguém antes.

Ele virou o rosto para mim e começou a listar, como se estivesse tirando peso do peito:

— Tipo… o jeito que você acorda. — Ele sorriu um pouco maior. — Sempre meio perdido, piscando devagar, com o cabelo bagunçado só de um lado… e a voz rouca. Eu não sei explicar, mas aquilo me deixa… sei lá. Tonto.

Meu rosto queimou.

— Ou o jeito que você senta no sofá. — Ele inclinou a cabeça. — Sempre por cima da perna, abraçando o controle de videogame como se fosse um ursinho. E concentrado… Deus, como você fica concentrado. É tão… é tão bonito de ver.

Eu senti a garganta fechar.

— E quando você estuda então… — Ele riu, um riso apaixonado, rendido. — Você morde o lápis. Sempre do mesmo lado. Sempre. E fica balançando o pé pra frente e pra trás sem perceber. Às vezes até fala baixinho tentando decorar as coisas. Eu ficava só… olhando. Observando. Como um idiota.

Eu apertei a coberta entre os dedos, tremendo.

— E tem seu sotaque — ele continuou. — O jeito que você puxa o R… é muito fofo. Muito. Às vezes eu fico torcendo pra você falar alguma palavra com R só pra eu ouvir.

Minha respiração falhou completamente.

— E também tem o jeito que você defende as pessoas… — A voz dele ficou séria, profunda. — Quando você acha que alguém tá sendo injusto, você não pensa duas vezes. Vai direto, fala na lata, mesmo com medo. Eu já vi isso. E toda vez… eu penso: “Esse menino é… diferente. Ele é… lindo”.

Eu senti meus olhos arderem.

Ele respirou fundo, balançando a cabeça como se tivesse finalmente entendido o próprio coração.

— Alec… eu comecei a perceber você muito antes de perceber qualquer outra pessoa. — Ele tocou meu joelho. — E essa menina… — os olhos dele buscaram os meus — aquela coisa com ela… não significou nada. Nada. Eu tava tentando ser quem eu achava que devia ser.

Eu senti meu mundo inteiro parar.

— Desde que você chegou — ele disse, a voz quase um sussurro rouco — tudo em mim mudou. E eu não consegui mais… fingir que não mudou.

Ele ficou quieto, só respirando e olhando pra mim, sperando minha reação, como se o mundo dele estivesse inteiro nas minhas mãos.

Eu não sabia quando tinha começado a segurar a respiração, mas soltei tudo de uma vez, como se meu peito tivesse desabado.

Eu olhava pra ele… e ele olhava pra mim… e parecia que nada no mundo existia além daquele espaço apertado entre nossos joelhos encostados.

Minhas mãos tremiam por cima da coberta. Senti minha garganta arranhar quando tentei falar, e a voz saiu baixa, rouca, quase quebrada:

— C-Caíque…

Ele ergueu o rosto rápido, como se meu nome na minha própria voz fosse um chamado.

Eu engoli o nó que tinha se formado.

— Eu… eu nunca imaginei que você… que você pensava essas coisas de mim. — Senti meu lábio inferior tremer, odiei que ele fizesse isso. — Eu achava que… eu era só… o menino que apareceu aqui de mala e cuia. O perdido. O deslocado. O nerd que vocês teriam que aturar por alguns meses até tudo se ajeitar.

Caíque franziu a testa, como se a minha frase fosse absurda demais pra existir.

— Alec… — ele disse firme, um pouco mais perto. — Você nunca foi isso pra mim.

A respiração escapou de mim como um soluço, mas sem som. Eu senti a vista arder. Abaixei o olhar para esconder, mas ele tocou meu queixo com delicadeza, me obrigando a olhar de volta.

— Eu… — minha voz falhou, mas eu tentei de novo. — Eu também sinto coisas. Desde ontem… desde antes talvez. Mas foi tudo tão… rápido. E eu fiquei com medo. De você mudar de ideia. De achar que tinha sido só o momento. — Respirei fundo, como se confessasse um crime. — Eu não queria ser… passageiro.

O peito dele subiu e desceu fundo, como se minhas palavras tivessem acertado algum lugar sensível. Ele passou a mão pelos cabelos, claramente afetado.

— Ontem à noite — ele disse, a voz rouca, sincera — eu dormi pensando em você. E acordei pensando em você. E antes disso, eu já pensava. Eu só tentava não pensar. Entende?

Eu senti um sorriso involuntário puxar meu rosto. Um sorriso pequeno, inseguro… mas real.

Ele continuou:

— Nada do que aconteceu ontem foi… impulso. Foi verdade. E eu não… — ele hesitou, respirou, e falou do jeito mais honesto que já ouvi dele. — Eu não quero deixar isso pra trás. Só se você quiser.

Eu fiquei alguns segundos sem conseguir responder.

E então eu falei. Baixinho. Frágil. Quase sem voz.

— Eu não quero deixar pra trás.

Os ombros dele relaxaram, como se o mundo inteiro estivesse sendo devolvido pra ele. Um sorriso escapou, um sorriso iluminado, lindo e Caíque chegou mais perto. Tão perto que eu senti o cheiro do sabonete dele, o calor do corpo, a respiração batendo no meu pescoço.

Eu tremi.

— Então vem cá — ele sussurrou.

Ele me puxou pela cintura numa delicadeza que quase doeu de tão boa. Meu corpo foi sem resistência, ou talvez com vontade demais, e quando percebi, nossos rostos estavam a centímetros.

Eu senti meu coração disparar.

Caíque passou o polegar na minha bochecha, devagar, como se estivesse decorando meu rosto.

— Você é tão lindo… — ele murmurou, como se nem tivesse percebido que falou em voz alta.

Minhas pernas praticamente derreteram.

E então ele me beijou.

Não como o selinho de antes. Não como uma pergunta. Mas como uma resposta.

O beijo inteiro foi lento, quente, cuidadoso… como se ele tivesse esperado muito tempo por aquilo. As mãos dele subiram pelas minhas costas, me trazendo mais pra perto, e eu abracei o pescoço dele com tanta vontade que quase perdi o ar.

Meu coração batia tão forte que eu achei que ele fosse ouvir, e talvez ele tenha ouvido mesmo, porque sorriu no meio do beijo.

Quando nos separamos, ainda colados, ele encostou a testa na minha. Ficamos ali… respirando juntos. Sem pressa. Sem medo. Só… nós.

Eu abri os olhos devagar. Ele abriu também.

E nós rimos. Baixinho. Meio tímidos. Meio incrédulos.

Sem mais nada acontecer, sem pressa, sem exagero, Caíque deitou ao meu lado, puxando a coberta. Eu encostei minha cabeça no peito dele, sentindo a respiração quente, o coração firme e constante. Ele passou o braço ao redor da minha cintura, me envolvendo por completo.

A sensação era simples e gigantesca.

Algo bom estava começando e nenhum dos dois precisava dizer isso em voz alta.

Ainda ficamos abraçados por alguns segundos depois do beijo. Eu sentia o coração dele batendo perto do meu rosto, tão firme, tão certo, que por um instante achei que poderia adormecer ali mesmo.

Mas Caíque soltou um suspiro leve e virou um pouco o corpo, olhando para o teto. Eu fiz o mesmo, e sem pensar, nossas mãos se encontraram no meio do caminho. Só… encostaram. Natural. Quase inevitável. Os dedos dele se entrelaçaram nos meus, e eu senti aquele calor que começa na ponta dos dedos e sobe pelo braço inteiro.

Ficamos assim. Calados, olhando o teto branco iluminado pela luz suave da luminária do corredor. O silêncio não era estranho. Era bom. Como se estivéssemos respirando pela primeira vez no dia.

— Tá tudo tão… diferente agora — ele murmurou.

Eu apertei os dedos dele.

— É. Diferente bom.

Ele sorriu. Eu ouvi, mesmo sem olhar.

E então — claro — o universo decidiu atrapalhar.

A porta se abriu com força, batendo na parede.

— Caíqueeeeee! — uma voz feminina entrou no quarto antes mesmo de qualquer pessoa aparecer. — Adivinha quem vai passar a noite aqui?!

Nós dois demos um pulo tão sincronizado que nossas mãos se soltaram no mesmo segundo, como se tivessem queimado. Eu praticamente voei para o lado da cama. Caíque se sentou tão rápido que o colchão afundou e voltou.

E então ela entrou.

Julia.

A irmã mais velha dele.

Eu já tinha visto fotos na sala, mas pessoalmente ela era… diferente.

Alta, mais alta que Caíque, o que eu não esperava, com cabelo castanho escuro preso num coque bagunçado que parecia ter sido feito correndo. A franja caía num lado do rosto, destacando os olhos cor de mel que pareciam sempre alertas, sempre curiosos. Usava uma calça jeans clara, rasgada no joelho, salto blocado e uma camisa social por dentro da calça, como se tivesse vindo direto do trabalho.

E uma aliança dourada brilhava na mão esquerda.

Ela falava enquanto andava, gesticulando tanto que parecia duas pessoas ao mesmo tempo.

— JUJU?! — Caíque arregalou os olhos, a voz num tom quase agudo.

— Sim, meu amorzinho, euzinha! — ela abriu um sorriso enorme, jogando a bolsa no sofá do quarto. — Adivinha quem brigou com o noivo por causa da decoração da festa e decidiu que precisava de um tempo longe antes de cometer um assassinato emocional?

Ela riu sozinha da própria frase.

Eu ainda estava tentando regular minha respiração.

Ela olhou pra mim como se finalmente percebesse que havia outra pessoa no quarto.

— Oi… Alec, né? — Ela sorriu simpática.

Eu assenti, ainda tentando parecer natural… o que era impossível depois de quase morrer de susto.

— Isso! — ela bateu palmas. — Nossa, você é mais bonito pessoalmente. As fotos não fazem justiça.

Meu rosto pegou fogo na hora. Caíque tossiu, nervoso, e então… algo mudou nela.

Foi sutil, mas mudou.

O sorriso diminuiu devagar. Os olhos dela desceram do meu rosto para o de Caíque. Depois para a cama. Depois… para a distância curta entre nós, que não parecia tão inocente assim. Depois para a coberta bagunçada. Depois… para nossos braços ainda próximos demais.

E finalmente para nossas expressões, provavelmente iguais a de dois gatos que derrubaram um vaso e estão tentando fingir que não estavam nem na sala.

O tom de voz dela ficou mais lento, mais cuidadoso.

— Eu… atrapalhei alguma coisa?

Caíque engoliu seco.

Eu senti minhas orelhas queimarem tanto que achei que iam ficar vermelhas fluorescentes.

Ela estreitou os olhos… um sorriso curioso aparecendo no canto da boca.

— Uhum… — ela disse baixinho, como quem percebe uma pista valiosa. — Sei.

E aí cruzou os braços, apoiando o ombro no batente da porta, olhando a gente como quem está montando um quebra-cabeça que, sinceramente, não era tão difícil assim.

Eu prendi a respiração.

Caíque também.

E Júlia… apenas arqueou uma sobrancelha.

Foi ali que eu percebi:

ela sabia.

Ou pelo menos… estava muito, muito perto de descobrir.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive Th1ago a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários