Acordei com a luz do sol batendo direto no meu rosto, implacável, sem filtro. Por um segundo, aquele segundo de misericórdia antes da memória RAM do cérebro reiniciar, eu era apenas o Fernando. Um garoto de dezenove anos, cansado de um fim de semana agitado, com fome de café da manhã.
Mas então me mexi na cama. E o cheiro subiu.
Não era o cheiro do meu lençol, nem do meu desodorante. Era um cheiro fantasma, impregnado nos meus poros, grudado na raiz dos meus cabelos, talvez tatuado na minha alma. O cheiro dela. Suor, sexo, almíscar e aquele perfume de lavanda que agora tinha um subtexto obsceno.
As memórias da noite anterior me atingiram como uma marreta. O sofá. A escuridão. O som dos gemidos abafados. A resistência do músculo dela cedendo. O grito que ela engoliu. *"Sou sua puta."*
Sentei na cama, o coração disparando do zero a cem em um segundo. Olhei para as minhas mãos. Elas pareciam iguais às de ontem. As mesmas unhas curtas, os mesmos calos leves de academia. Mas eu sabia onde aquelas mãos tinham estado. Sabia a força que tinham exercido para segurar os quadris da minha mãe enquanto eu a marcava como propriedade.
Levantei e fui para o banheiro da suíte. O espelho me devolveu a imagem de um estranho. Meus olhos pareciam mais escuros, mais... velhos. Havia uma dureza na linha do maxilar que eu não lembrava de ter antes. Ou talvez fosse só a arrogância de quem descobriu que pode ter o que quiser, se tiver coragem de pegar.
Tomei um banho longo, esfregando a pele até ficar vermelha, tentando tirar o cheiro, não por nojo, mas por autopreservação. Se eu conseguia sentir, meu pai com certeza conseguiria. E embora ele tivesse "aprovado" com aquele sorriso cúmplice, eu sabia que estava pisando em um campo minado. O aviso dele — *"Rápido demais"* — ainda ecoava na minha cabeça.
Desliguei o chuveiro. Silêncio na casa. Aquele silêncio pesado de segunda-feira de manhã, mas carregado de uma eletricidade estática diferente.
Vesti uma bermuda e uma camiseta qualquer. Respirei fundo três vezes na frente da porta do quarto. *Aja normal. Você não fez nada de errado. Você fez o que tinha que ser feito.*
Abri a porta e desci as escadas.
A casa estava impecável. A sala de estar, palco da nossa loucura na noite anterior, estava perfeitamente arrumada. O sofá de couro brilhava, limpo, sem sinal dos fluidos, do suor ou da vergonha. As almofadas estavam alinhadas geometricamente. Minha mãe devia ter acordado de madrugada para limpar. Ou talvez nem tivesse dormido.
Cheguei à entrada da cozinha. O cheiro de café fresco e pão torrado era reconfortante, doméstico, uma mentira perfeita.
Meu pai estava sentado à cabeceira da mesa, como sempre. Vestia uma camisa social azul clara, mangas dobradas até o cotovelo, lendo notícias no tablet. Ele parecia fresco, descansado, o rei em seu castelo. Ele nem levantou os olhos quando entrei.
"Bom dia," murmurei, a voz saindo um pouco rouca.
"Dia," ele respondeu, sem tirar os olhos da tela. Mas vi o canto da boca dele repuxar num meio sorriso. Ele sabia. Ele estava monitorando cada passo.
Minha mãe estava no fogão, de costas para nós, mexendo em ovos mexidos na frigideira.
"Bom dia, mãe," falei, testando a palavra na minha boca. Ontem à noite, eu a tinha chamado de Ana. Chamar de "mãe" agora parecia... perverso. Um segredo sujo.
Ela travou por um milésimo de segundo. Os ombros dela tencionaram sob o roupão de seda bege que ela usava. Era um roupão longo, fechado até o pescoço, amarrado com força na cintura. Diferente dos pijamas mais leves que ela costumava usar no calor. Ela estava se escondendo. Se blindando.
"Bom dia, filho," ela respondeu, a voz baixa, controlada. Ela não se virou.
Puxei a cadeira ao lado do meu pai e me sentei. O barulho da madeira arrastando no piso pareceu um trovão.
"Ovos?" ela perguntou, ainda de costas.
"Por favor," respondi.
Ela desligou o fogo. Pegou a frigideira. E então se virou para vir até a mesa.
Foi aí que eu vi.
Não foi nada dramático. Nada que um estranho notasse. Mas eu não era um estranho. Eu era o autor da obra.
Ela caminhou da bancada até a mesa com uma rigidez sutil. Os passos eram curtos, cautelosos. Quando ela transferiu o peso de uma perna para a outra, vi uma micro expressão de desconforto cruzar o rosto dela, uma careta rápida que ela tentou mascarar mordendo o lábio inferior.
Ela estava mancando.
Não era um mancar de perna quebrada. Era um mancar "interno". O tipo de desconforto de quem tem algo sensível, dolorido e inflamado no centro do corpo.
Meu estômago deu um nó. Uma mistura violenta de culpa e um orgulho sádico. *Eu fiz isso.* Eu a tinha deixado assim. Eu a tinha aberto, forçado, preenchido até o limite, e o corpo dela ainda estava gritando a memória da minha invasão.
Ela colocou a travessa de ovos na mesa. A mão dela tremeu levemente ao soltar o objeto de cerâmica. Ela evitou olhar para mim. Evitou olhar para o meu pai. Os olhos dela estavam fixos na toalha de mesa, como se estivesse estudando o padrão do tecido com interesse científico.
Ela serviu o meu pai primeiro. Café. Ovos. Torradas. Movimentos automáticos, eficientes de esposa perfeita.
Depois ela veio até mim.
Ela se inclinou para colocar ovos no meu prato. O roupão se abriu um pouco no pescoço. Vi uma marca roxa, pequena, na base da garganta dela. Uma chupada que eu não lembrava de ter dado, mas que estava lá, pulsando como uma medalha de guerra.
"Obrigado," falei, olhando para o rosto dela.
Ela levantou os olhos por um instante. E o que eu vi me fez prender a respiração.
Não havia raiva. Não havia o nojo que eu temia. Havia... submissão. Uma deferência assustada. O tipo de olhar que uma presa dá ao predador quando percebe que a luta acabou e ela perdeu. Mas também havia um brilho febril, úmido. Ela não estava apenas dolorida. Ela estava *marcada*. E ela sabia que eu sabia.
"De nada," ela sussurrou.
Ela se afastou para sentar no lugar dela. E esse foi o momento mais difícil.
Ela segurou o encosto da cadeira. Hesitou. Olhou para o assento almofadado como se fosse um instrumento de tortura medieval.
Meu pai baixou o tablet. Ele estava olhando. Ele não perdeu o detalhe. Ele observou a esposa hesitar diante de uma simples cadeira de cozinha. O silêncio na mesa ficou ensurdecedor.
Ela respirou fundo, apoiou uma mão na mesa para se equilibrar, e se sentou.
O movimento foi lento, calculado. Ela desceu o corpo devagar, segurando o peso nos braços, tentando pousar as nádegas com a maior suavidade possível. Quando finalmente se acomodou, ela fechou os olhos com força por dois segundos e soltou um suspiro trêmulo pelo nariz.
Ouvimos. Eu ouvi. Meu pai ouviu. O som da dor. O som da minha posse.
Meu pai tomou um gole de café, fazendo um barulho alto de satisfação.
"Dormiu bem, querida?" ele perguntou, a voz casual, carregada de veneno doce.
Ana abriu os olhos. O rosto dela estava levemente pálido.
"Dormi," ela mentiu. "Só... um pouco cansada. O fim de semana foi intenso."
"Foi mesmo," meu pai concordou, passando manteiga na torrada. "Mas produtivo. Acho que resolvemos muitas pendências."
Ele olhou para mim.
"Não acha, Fernando?"
Engoli um pedaço de pão que parecia lixa na minha garganta.
"Acho," respondi, sustentando o olhar dele. "Resolvemos."
"Sua mãe parece um pouco... indisposta hoje," ele comentou, analisando-a como um médico sádico. "Talvez ela devesse descansar. Evitar esforços físicos."
"Estou bem, Ricardo," ela disse rápido demais, defensiva. "É só... dor muscular. Da viagem. Do carro."
"Do carro," ele repetiu, sorrindo. "Claro. O carro apertado."
Ele sabia que não era do carro. Ele sabia que era do sofá. Ele sabia que era do cu dela, que eu tinha arrombado horas antes. E ele estava se divertindo com o desconforto dela, transformando a dor dela em um jogo de poder na mesa do café.
Senti uma onda de proteção. Não de filho para mãe. De dono para propriedade. Ela era *minha* agora. Eu a tinha quebrado. Se alguém ia brincar com isso, tinha que ser eu.
"Deixa ela, pai," falei. Minha voz saiu mais firme do que eu pretendia.
A mesa congelou.
Minha mãe olhou para mim, assustada. Meu pai parou a torrada no meio do caminho para a boca. Ele virou a cabeça lentamente para mim.
"Como é?" ele perguntou, baixo.
"Ela disse que está bem," repeti, o coração batendo na garganta, mas sem recuar. "Não precisa ficar cutucando."
Houve um segundo de tensão absoluta. O tipo de tensão que precede um soco na cara. Eu tinha acabado de desafiar o macho alfa na própria mesa.
Mas o soco não veio.
Meu pai olhou para mim. Depois olhou para a Ana, encolhida na cadeira, segurando a xícara de café com as duas mãos como se fosse uma boia salva-vidas. E então ele olhou de volta para mim.
E sorriu. Um sorriso genuíno, de aprovação.
"Muito bem," ele disse. "Defendendo o que é seu. Gosto disso."
Ele voltou a comer, encerrando o assunto. Ele tinha me testado. E eu tinha passado.
O resto do café da manhã transcorreu em um silêncio tenso, apenas o som de talheres batendo na louça.
Eu comi, mas não senti o gosto de nada. Minha atenção estava toda nela.
Cada vez que ela se movia na cadeira, eu sentia um eco fantasma na minha virilha. Cada vez que ela fazia uma careta discreta ao cruzar as pernas, eu lembrava da sensação de estar dentro dela.
Era viciante. Ver a prova física do que eu tinha feito. Saber que, debaixo daquele roupão de seda caro, o corpo dela estava latejando, inchado, sensível, e que a causa de tudo isso era *eu*. Não meu pai. Eu.
Terminei de comer.
"Vou subir," falei, limpando a boca. "Tenho que... estudar."
"Vai lá," meu pai disse, sem tirar os olhos do tablet.
Levantei-me. Minha mãe continuou sentada, olhando para o prato intocado.
Quando passei por trás da cadeira dela, parei. Não consegui evitar.
Coloquei a mão no ombro dela. Apertei levemente.
Ela estremeceu. O corpo todo dela reagiu ao meu toque. Ela não se afastou. Ela se inclinou minimamente contra a minha mão, buscando o contato, buscando a autoridade.
Inclinei-me e sussurrei no ouvido dela, baixo demais para meu pai ouvir (ou talvez ele ouvisse e não importasse).
"Dói?" perguntei.
Ela virou o rosto apenas o suficiente para que eu visse o perfil dela. Os cílios tremiam.
"Dói," ela sussurrou de volta, a voz embargada.
"Bom," falei. "É pra doer. É pra você lembrar."
Tirei a mão e saí da cozinha, sentindo o olhar dela queimando nas minhas costas.
Subi as escadas com as pernas firmes, mas a mente em turbilhão.
Eu tinha acabado de marcar território na frente do meu pai. Tinha feito minha mãe admitir a dor e a submissão. Tinha consolidado minha posição.
Mas quando entrei no meu quarto e fechei a porta, encostei as costas na madeira fria e respirei fundo, tentando acalmar a tremedeira nas minhas mãos.
Eu estava jogando um jogo perigoso. Eu sabia disso. Meu pai estava me deixando ganhar por enquanto, mas ele era o dono do cassino. E a minha mãe... a minha mãe era a ficha de aposta mais valiosa e instável da mesa.
Olhei para o espelho do quarto de novo.
O garoto de dezenove anos tinha sumido de vez. O que olhava de volta para mim era alguém capaz de foder a própria mãe até ela não conseguir sentar, e sentir orgulho disso.
E o pior de tudo: eu mal podia esperar para fazer de novo.
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