Curte um romance fofo e apaixonante?
Oi, pessoal. Estou lançando o meu mais novo romance "Breaking News: Te Amo", que vai se passar no Rio de Janeiro. Segue a sinopse:
Na maior emissora de televisão do país, onde cada segundo é notícia e cada pauta pode mudar o rumo de uma carreira, Bruno Assis vê sua vida dar uma guinada inesperada. Jovem, tímido e recém-formado em Comunicação Social, ele nunca planejou muito - as coisas simplesmente foram acontecendo. E, para sua surpresa, uma delas foi conquistar o emprego dos sonhos na redação da prestigiada TV Mundo.
É nesse ambiente caótico e fascinante que Bruno conhece Miguel Torres, um jornalista experiente e admirado por todos, que carrega no currículo um passado inusitado: ele já foi integrante da famosa boyband "Axis". Entre reuniões de pauta, gravações e cafés apressados, um sentimento inesperado começa a surgir entre os dois.
Mas o amor floresce mesmo sob os holofotes? Entre segredos, pressões da mídia e dilemas do coração, Bruno e Miguel vão descobrir que, no jornalismo - e no amor - nem tudo é preto no branco.
Uma história sobre sonhos, visibilidade, e a coragem de amar sob os olhos do público.
***
BRUNO ASSIS
Eu odeio a minha vida. Não, de verdade, eu odeio a minha vida. Cá estou eu, às seis da manhã, tentando manter os olhos abertos. Desde que aquele desgraçado do meu pai foi embora, minha mãe afundou numa depressão profunda, e todas as despesas da casa caíram nas minhas costas e nas da minha irmã mais velha, a Raquel.
Sabe qual é a pior parte? De todas as áreas possíveis, eu tinha que escolher justo jornalismo.
Sério, onde o Bruno do passado estava com a cabeça, hein? O teto salarial de jornalista é uma piada. Só nascendo com o c... virado pra lua pra conseguir uma boa vaga e, quem sabe, chegar no patamar do Wilson Lonney — um dos maiores jornalistas do país. O cara ancora o Jornal da TV Mundo, líder absoluto de audiência no Brasil.
— Bruno Monteiro de Assis? — chamou uma moça de óculos, olhando em volta.
— Aqui! — levantei a mão com urgência e coloquei no rosto o sorriso mais falso que consegui.
Fiz três entrevistas naquela manhã e uma prova — que, diga-se de passagem, estava bem fácil. Além das entrevistas, precisei fazer um teste de câmera. Isso me deixou confuso, porque nem era pra vaga que eu queria. Odeio aparecer na TV, isso nunca fez parte dos meus planos. Eu só precisava de um emprego pra pagar as contas e, quem sabe, voltar a viver em paz.
— Obrigada, Bruno — agradeceu Giovanna, uma das produtoras de jornalismo. Ela aplicou o meu teste de vídeo. Tive que ler uma notícia de economia no teleprompter. Detesto esse tema. Na real, é justamente por causa da economia que estou no fundo do poço. — A dona Alessandra vai falar com você em breve. Pode esperar aqui. — A moça saiu e, graças a Deus, não ouviu meu estômago roncar.
— Que fome. — resmunguei. Não tinha tomado café da manhã.
A última etapa foi com a diretora de jornalismo da TV Mundo, Alessandra Garcia. Eu a conhecia de algumas palestras e de um congresso de comunicação. Uma mulher séria, cabelos loiros, óculos quadrados, e um sorriso que podia intimidar.
Ela começou explicando a vaga de repórter, e logo estranhei, porque eu tinha me candidatado para produtor.
— Senhora, eu apliquei pra produção e... — tentei esclarecer.
— E perder a chance de colocar esse teu rostinho de bebê na televisão? — interrompeu ela, analisando alguma coisa no computador. — Eu sabia que a gente se encontraria, Bruno. Lembro de você de alguns congressos. Inclusive, naquele evento na UFRJ, você foi o apresentador, certo?
— Isso, senhora. — confirmei. Na realidade, fui obrigado a apresentar porque a Janaína, que faria isso, teve uma crise de diarreia e passou a noite no banheiro.
— Eu lembro de você. Cara, eu te enxergo totalmente como repórter aqui na filial do Rio.
— Repórter? — repeti, meio sem acreditar.
— Bruno, você tem o rosto, a voz e a postura de um jornalista. Aposto que vai viralizar na sua primeira matéria — comentou Alessandra, cruzando os braços e sorrindo. — Por mim, você já começa essa semana. E, olha, o salário é o dobro do que pagamos para um produtor.
— Eu tô dentro? — respondi, animado. Não pela vaga em si... mas pelo salário, que era o dobro do que eu esperava.
— Sim. — Ela se levantou e estendeu a mão. — Seja bem-vindo, novo repórter da TV Mundo.
Pera aí... Ela disse repórter? Como assim? Meu Deus, eu não sei ser repórter! O que eu vou fazer, cara? Eu só queria um emprego, não um microfone na mão e uma câmera na cara!
Saí do prédio da TV Mundo meio tonto, com a cabeça girando. A primeira coisa que fiz foi procurar um local para comer. Havia um bar na frente da emissora. Nem pensei duas vezes: pedi uma coxinha daquelas bem oleosas, que deixam os dedos brilhando, e um refrigerante trincando de gelado. Preciso de gordura e açúcar pra raciocinar.
Tava ali, me afogando na coxinha, quando percebi dois jovens sentados na mesa do lado. Eles falavam meio alto, nem precisei me esforçar pra ouvir.
— A gente mal começou, Júnior! Aquele cretino acha que a gente é profissional? Eu ainda tô no último período da faculdade, pô! — reclamou a garota, visivelmente irritada.
— Calma, Sabrina. — O tal do Júnior tentou consolar. — Tu sabe que o chefe tava nervoso com a entrada ao vivo. — suspirou. — Tu acha que eu também não levo bronca? Levei uma mijada hoje porque errei o caminho pra pauta.
Será que eles também trabalham na TV Mundo? Aposto que sim. Mas, olha, Bruno. Foca, cara. Você não tá ali pra fazer amizade. Você precisa de dinheiro. Precisa salvar sua casa, sua família. Amigo não paga conta.
Terminei a primeira coxinha e pedi outra. Engoli sem nem mastigar direito. A vida não espera, muito menos o ônibus que me leva do Jardim Botânico até Laranjeiras. E, claro, o trânsito do Rio nunca decepciona.
Cheguei em casa e, como sempre, encontrei minha irmã, Raquel — ou melhor, Ruth, do jeito que eu gosto de chamar —, afogada nas dívidas da família. Ela é design de interiores, rala pra caramba, mas o salário não cobre nem metade das contas.
— Boa tarde, Ruth. — falei, entrando.
Ela estava tão imersa na planilha que só reagiu na segunda chamada.
— Nossa, Bru... — respondeu, ajeitando os óculos no rosto.
O nome dela é Raquel, sim. Mas eu nunca gostei. Desde que vi a reprise de Mulheres de Areia, cismei que ela é mais Ruth que Raquel. A Ruth era a gêmea boa, lembra? Já a Raquel. Enfim, melhor nem comentar. No começo ela ficou pistola com o apelido, mas hoje até gosta.
— Adivinha? — perguntei, tentando segurar um sorriso.
— Não sei, Bru. — Ela ergueu uma sobrancelha, meio desconfiada. — Tu não se meteu com o tráfico, né? — Revirei os olhos com o questionamento, mas respirei fundo e tentei deixar as coisas mais leves.
— Ainda não — respondi, rindo. — Vou deixar esse job pra último caso. — Brinquei. — Consegui a vaga.
— De produtor?! — Ela se levantou num pulo e me abraçou apertado.
— Melhor, Ruth. De repórter. Vou ganhar o dobro. Começo na segunda. — Contei, tentando soar mais empolgado do que realmente estava.
— Eu sabia! — Ela me apertou de novo, quase me esmagando. — Sabia que meu irmão ia virar o novo William Lonney! — comemorou, toda emocionada.
A Raquel... Ah, a Raquel é emoção pura. Chorou quando nosso pai foi embora, chorou quando a mãe foi diagnosticada com depressão, chorou no último episódio de Grey's Anatomy... E tá chorando agora, aqui, na minha frente, por causa do meu emprego novo.
Eu, diferente, sou do tipo que afasta. Não gosto de abraço, não sou de carinho. Nunca aprendi a ser assim. Cresci numa casa onde amor era coisa rara, meio protocolar. Meu pai, grande engenheiro, fugiu no primeiro rabo de saia que apareceu. Minha mãe, uma escritora premiada, sempre priorizou os livros, os lançamentos, os prêmios... E agora ela é só uma sombra do que foi um dia.
— Para de ser brega, Ruth. É só um emprego, tá? — falei, me soltando. — Agora preciso estourar meu cheque especial. Tenho que comprar um terno e umas camisas sociais. Tem como me emprestar uma grana?
Ela cruzou os braços, fingindo pensar, e depois abriu a carteira.
— Só vou emprestar porque, dessa vez, eu sei que vou receber de volta. — Me entregou um cartão vermelho. — Com sabedoria, Bruno.
— Sempre. — Tentei brincar, girando o cartão nos dedos, mas claro que deixei cair no chão. Minha vida é isso aí, uma mistura de trapalhada com tentativa de ser adulto.
Ela olhou pro relógio e arregalou os olhos.
— Meu Deus, vai dar três da tarde! A mamãe precisa tomar os remédios! — colocou a mão na cabeça. — E eu tô presa nessa planilha maldita... Leva lá pra ela, por favor? — pediu, fazendo aquela carinha triste que eu nunca consegui recusar.
Suspirei.
— Tá... Tá bom.
Minha mãe, Dona Leda Assis. Uma mulher que, lá atrás, bateu de frente com todo mundo pra ser escritora. Começou com livros infantis, depois ganhou espaço na literatura adulta, venceu prêmios, foi reconhecida. Hoje... Hoje ela é só uma mulher magra, pálida, loira, que vive mais nas lembranças do que no presente. Uma sombra do que já foi.
— Mãe, está na hora de tomar o remédio — avisei ao entrar no quarto.
Minha mãe encarava uma tela em branco. A depressão a mantinha em um eterno estado de “falta de criatividade”. Nos últimos anos, ela tentou de tudo: cerâmica, crochê, dobradura e, agora, dedicava-se à pintura em aquarela. Ela vivia dos royalties pagos pela editora, resultado de quase quarenta publicações. Um fato curioso: seus livros infantis eram os que mais faziam sucesso por aí. Ainda assim, ela nunca mais escreveu uma vírgula sequer e acabou ficando conhecida na mídia como a “escritora fantasma”.
— Já são 17h? — perguntou, olhando para o relógio, antes de deixar o pincel de lado.
— Sim — respondi, entregando-lhe as pílulas e um copo de água.
— Céus… minha novela começa em minutos — disse, tomando o remédio. — E onde você vai todo arrumado? Encontro com um gatinho novo?
— Não. Entrevista de emprego. Começo na semana que vem na TV Mundo, como repórter.
— TV Mundo? Meu filho vai trabalhar na maior emissora do país? — Seus olhos brilharam. — Espero que o Walter veja no que você se tornou: um homem lindo e digno.
Ela pegou o pincel novamente e começou a “atacar” o quadro em branco.
— Mãe… — chamei, mas sempre que ela se lembrava do meu pai, seu lado vingativo vinha à tona. — Bem, pelo menos o papai a tirou do bloqueio criativo — comentei, antes de deixá-la criar um quadro de um assassino esquartejando meu pai.
MIGUEL TORRES
Você sabe o que é levar um balde de água fria na cabeça? Eu sei. E não foi um balde qualquer, foi tipo aqueles de lavar quintal, lotado de água congelante. Eu nasci pra vida artística, disso ninguém podia duvidar. Minha mãe me colocou nesse universo desde que eu era praticamente um feijão no ventre. Me levava pra teste, pra propaganda, pra tudo. Aos dois anos, fiz meu primeiro comercial de fralda. Desde então, nunca mais parei.
Meu auge? Interpretar o filho da Glória Xícara na novela Conchavos da Paixão. Eu sei, chiquérrimo. Só que, pra ser bem sincero, eu não lembro de absolutamente nada da minha infância. É como se fosse a vida de outra pessoa que eu assisto de fora, meio embaçado.
Quando fiz quinze, veio a "grande" ideia da dona Kátia — minha empresária, produtora, contadora, psicóloga e mãe full time — me colocar numa boyband. "Axis", esse era o nome. Só quem viveu sabe. E, olha, que fase desgraçada. Adolescente, jogado num mundo cheio de gente de índole... duvidosa é pouco. Fomos explorados de todas as formas possíveis e imagináveis. Nosso salário? Trezentos reais. É... Na época parecia muito, mas na prática não pagava nem o táxi até o estúdio, mas ganhávamos muito com publicidade e foi o que me salvou.
A banda durou dois anos. Depois disso, o grupo acabou — a nossa e a da carreira. E junto com ela, os trabalhos que eu ainda conseguia. Mas, graças à cabeça da dona Kátia, que guardou uma graninha, consegui estudar, me formar em Comunicação Social e, com uns contatos, virei repórter na TV Mundo.
Hoje, alguns ainda me chamam de "Miguel do Axis", mas, oficialmente, sou Miguel Torres, repórter especialista em tragédia. Sim, esse é meu título, e nem é piada. Já levei dois prêmios pra casa por causa das minhas coberturas, o que faz a Alessandra, minha chefe, bater palminha e sorrir como se fosse ela quem tivesse ido pro meio do tiroteio.
Nunca entendi muito bem essa minha necessidade de agradar. Talvez seja o sorriso fácil, talvez a capacidade nata de fazer qualquer um gostar de mim — ou, se for preciso, me deixar ser gostado, o que dá na mesma. Tá no sangue, aprendi desde cedo. Manipular, encantar, convencer... vem natural.
O relógio marcava seis e pouquinho da manhã de uma terça-feira quando empurrei a porta de vidro da redação. O cheiro era sempre o mesmo: café requentado, tinta de impressora e aquele plástico meio queimado dos equipamentos novos. Meus passos ecoaram no piso azul — aquele azul que parece carpete de aeroporto, frio, impessoal.
Olhei em volta. As mesas brancas enfileiradas, os monitores piscando, os cabos embolados... cada canto dali era familiar. Cada rachadura na parede, cada cadeira que range mais do que devia.
E olha... não é o emprego dos meus sonhos. Já aceitei isso há muito tempo. Sempre me imaginei com um microfone na mão, sim, mas cantando, não correndo atrás de gente chorando em velório ou de policial cercando favela. Só que a vida... bem, ela tem um humor peculiar.
No fim, o que importa é que o salário pinga certinho, paga as contas, os remédios da dona Kátia e garante que ela tenha a vida que merece, depois de tudo que fez por mim, mesmo que atualmente a nossa relação não seja muito boa, afinal, muitas mágoas vieram dela.
Enquanto ajeitava meu crachá, percebi os estagiários chegando — cedo, bem mais cedo do que precisavam. Aquela carinha de quem acha que vai mudar o mundo. Um tropeçou no próprio cabo do notebook. Fingiu que nada aconteceu. Outro ficou arrumando o crachá no pescoço como se aquilo fosse dar superpoder. Ah... doce ilusão.
Dei um gole no café morno, ajeitei o fone no ouvido e suspirei. "Bem-vindos ao campo de batalha, meus queridos", pensei. Aqui não tem manual, não. Aprende na marra, no grito do editor, na pressão do deadline ou no vácuo das pautas que despencam na sua mesa.
Foi aí que ouvi:
— Torres, encontraram uma possível bomba no Grajaú — avisou Letícia, nossa pauteira, acompanhada de duas estagiárias que mais pareciam dois pintinhos assustados.
— Sério? — olhei pro relógio. — Que horário maravilhoso pra desovar uma bomba... — Peguei o papel da mão dela. — O Amarildo já chegou? Aquele atrasado...
— Tô aqui, seu pela saco! — respondeu ele, surgindo do nada, do jeito que só ele sabe fazer. A risada das estagiárias veio no automático.
Amarildo Assunção. Descrever esse homem é fácil: pensa num cara grande, forte, que você olha e tem certeza de que bate, mas que na verdade é um coração ambulante. O sotaque carioca dele chega a ser irritante — e olha que eu passei anos na fonoaudióloga tentando me livrar do meu. Mas é andar com esse desgraçado que, de repente, o meu "s" volta a chiar sem que eu perceba.
— Se prepara, macho — avisei. — Bomba à vista. Bora pegar os coletes no almoxarifado.
Íamos debatendo a pauta, andando pelo corredor, quando ele passou.
E, olha... eu não sou de me distrair fácil. Mas ele... Ele me desconcentrou. Um rapaz bonito, de óculos, expressão séria, cabelo perfeitamente alinhado com gel. Ombros largos, boca rosa — sim, eu reparei. Aquele tipo de pessoa que parece ter nascido pra ser protagonista de alguma série que eu maratonaria fácil.
— Bom dia — ele disse, numa voz que me atravessou feito corrente elétrica.
Respondi meio no automático, só que, quando ele passou, eu olhei. E não é que ele também olhou pra trás? Ficamos ali, encarando um ao outro por alguns segundos. O mundo deu uma microtravada.
"Quem é ele?", pensei. Não sei se a bomba era no Grajaú... ou dentro do meu peito.